sábado, 19 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12169: Os nossos seres, saberes e lazeres (58): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (5) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 21 de Setembro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 5.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.





7000 milhas através dos USA - 5


Pela manhã deixámos o “Hotel das Côcas”, como dizem os nossos familiares, que é o Hotel “Stanley”, onde diziam que apareciam “fantasmas” de noite, em Estes Parque, nas montanhas do Colorado, onde nada apareceu ao Tony e sua companheira e esposa, portanto sem qualquer preconceito, com a sua mente limpa, pensando somente no tráfego e no próximo destino, voltaram à estrada número 25, tomando o rumo do norte.

Depressa cruzaram a fronteira com o estado de Wyoming, que dizem ser um dos estados mais escassamente povoados, e a palavra Wyoming, no idioma indígena significa “terra de vastas planícies”, onde se pratica a pecuária, a agricultura, mineração e claro, o turismo, onde existem grandes áreas desertas, tanto na montanha como nas planícies, que são considerados parques, como o “Grand Teton National Park”, o “Yellowstone National Park” e outros, pois mais de 48% do território é propriedade do estado, e que são administrados pelo Serviço Nacional de Parques ou outras agências do governo.

Duas curiosidades, este território de fronteira, em 1869, foi o pioneiro onde as mulheres podiam ter direito a voto, e o resultado foi que em 1924, Wyoming foi o primeiro estado onde elegeram uma mulher para governador! Só o “Yellowstone National Park” e o “Grand Teton National Park”, recebem ao ano mais de quatro milhões de visitantes!

Visitaram o centro de boas-vindas, onde os informaram do percurso que desejavam, e quais os locais mais importantes de acordo com o que queriam ver. Havia diversas maneiras de cruzarem o estado, podia ser por estradas rápidas, ou atravessando planícies quase desertas, onde podia aparecer um letreiro a dizer que a próxima aldeia ou vila era a 100 milhas de distância!



Optaram por o letreiro a dizer que a próxima aldeia ou vila era 100 milhas de distância, portanto na cidade de Cheyenne, que é a capital do estado, encheram o tanque de gasolina, compraram fruta, água e gelo, o GPS indicando o próximo destino, e sem dar por nada estavam sozinhos na estrada, rumo ao norte. De vez em quando passavam algumas pessoas de moto, o que é sinal que a paisagem deve de ser linda, pois essas pessoas que viajam por aquelas paragens de moto, são como antigamente os cowboys, gostam da paisagem e da solidão. Levantavam sempre a mão quando por nós se cruzavam, que devia de ser a dizer, “alô, tem calma, desfruta da paisagem”, isto foi por milhas e milhas, sem qualquer povoação, abandonada ou não, não se via sinais de vida, só algumas caravanas ou motos, até que chegamos muito perto da povoação do célebre “Forte Laramie”, onde a população ainda não ultrapassa as 250 pessoas. As ruínas do forte situam-se a poucas milhas, e que era um importante local de paragem para quem viajava nos “Trails”, ou seja, caminhos que iam dar a Oregon, Califórnia e mesmo a Mormon, também servia de ponto de paragem e abastecimento aos militares que iam fazendo a expansão do território por estas planícies onde havia muitas aldeias e tribos de índios.

Visitámos este forte que está situado quase quando se cruza o “North Platte River”, um pouco na entrada do “Laramie River”, onde ainda se podem ver as camaratas dos militares, algumas divisões das casas dos oficiais que viviam com as suas famílias, as cavalariças dos cavalos junto ao rio, a parada e algumas peças de artilharia usadas na época.

Daí continuámos na estrada número 85, rumo ao norte, com o GPS a falhar de vez em quando com falta de sinal, a paisagem sendo sempre a mesma, de vez em quando surgiam diversas alterações no terreno, com o aparecimento das “Badlands”, que é um tipo de paisagem ruiniforme de características áridas e extensamente erosada pelo vento e pela água, existem desfiladeiros, ravinas, barrancos, canais e outras formas que são comuns nas terras baldias e que é difícil caminhar por elas, aqui e ali viam-se alguns búfalos, pequenas manadas, mas viam-se.


Depois de muitas milhas rumo ao norte, encontrámos um dos destinos que nos fizeram mover para estas paragens, que era a “Devils Tower National Monument”. Ao longe, umas milhas antes já se pode ver, dizem que é um vulcão cilindrico, extinto há milhões de anos, com 275 metros de altura. Está localizado na região nordeste do estado de Wyoming, nas “Black Hills”, próximo de Hulett e Sundance, no distrito de Crook, um pouco acima do rio “Belle Fourche”. A Torre do Diabo, é famosa por ter aparecido no filme de ficção científica “Encontros Imediatos de Terceiro Grau”, de Steven Spielberg. O presidente Theodore Roosevelt, declarou a Devils Tower com Monumento Nacional dos Estados Unidos em 1906. Muitas tribos de índios, referem-se à Devils Tower, com um local sagrado e de meditação, a nós mereceu-nos respeito e curiosidade, fazendo-nos pensar, como a terra que habitamos tem tantas maravilhas e tantos segredos.

Ainda era dia, o sol não ia muito alto, ainda havia tempo de rumar a outras paragens, pois este local foi o mais distante do estado da Flórida, por onde andámos, tanto para oeste como para norte. Junto de nós estava uma família que nos pediu para tirar uma foto juntos, com a Devils Tower ao fundo, o que fizemos, e também pedimos o mesmo, andavam na “estrada” ia para um mês, tinham vindo da povoação de Deadwood, em Dakota do Sul, que era o nosso próximo destino, eram oriundos da cidade de Montreal, no Canadá, quando souberam que éramos europeus, queriam falar francês, dizendo que os seus avós eram franceses, pensando que na europa todas as pessoas falavam francês, enfim, disseram-nos que tinham passado quase uma semana em Deadwood, acampados nas colinas, aconselhando-nos a cruzar as montanhas de “Black Hills”, e seguirmos o trajecto de montanha, pois o sol ainda ia alto, e havia grandes cascatas de água, e montanhas lindíssimas, com vales onde existia grandes lagos. Foi o que fizemos, com um roteiro desenhado por essa família, com a ajuda do GPS, que às vezes dava algumas falhas de sinal, atravessando montanhas, parando aqui e ali, não querendo abandonar alguns cenários, atravessámos a fronteira, entrando em Dakota do Sul.

Foi em 1858 que o governo americano criou o “Território de Dakota”, que incluia o que é actualmente os estados de Dakota do Norte e Dakota do Sul, que até então eram parte do “Território de Minnesota”. Era escassamente povoado até ao século XIX, quando as primeiras linhas do caminho de ferro começaram a atravessar o território e com elas vieram milhares de famílias que incentivaram a prática da agricultura na região, tornando as planícies da Dakota do Sul, nuns dos líderes nacionais na produção de trigo. Em 1889 o “Território de Dakota” foi dividido nas actuais Dakota do Sul e Dakota do Norte, e elevadas à categotia de estados. A parte oeste, onde atravessámos a fronteira, é a região de “Black Hills”, uma região montanhosa que é visitada por milhões de turistas, e onde abriga o “Monte Rushmore”, que falaremos mais à frente. O nome Dakota na língua “sioux”, significa “amigo”.

Continuando com a nossa rota, estava já a anoitecer, quando chegámos à povoação de Deadwood, em Dakota do Sul. É uma povoação diferente, está situada nas colinas das montanhas de “Black Hills”, tem uma história que vem de algumas centenas de anos, e não nos querendo alongar muito, dizem que o assentamento ilegal de Deadwood começou em 1870 no território concedido aos índios americanos no “Tratado de Laramie”, em 1868, que na opinião do Tony, registe-se que nada vale, já era deles. O tratado dava a posse garantida do “Black Hills” ao povo Lakota, e as disputas sobre as colinas continuaram, e tinham que continuar, pois outra vez na opinião do Tony, havia lá ouro, tendo atingido a Suprema Corte dos Estados Unidos, em diversas ocasiões. No entanto, em 1874, o coronel George Armstrong Custer, liderou uma expedição a essas montanhas, e anunciou a descoberta de ouro no “French Creek”, que era um ribeiro que por lá passava, muito perto da povoação do actual Custer, no estado de Dakota do Sul. O anúncio do coronel Custer desencadeou a corrida ao ouro na “Black Hills”, e deu origem à cidade sem lei de Deadwood, que rapidamente chegou a uma população de cerca de 5000 pessoas, onde antes existiam apenas umas dezenas. Com a nova população, cresceram estábulos, casas e barracas, vendendo tudo o que era necessário para os novos exploradores de ouro, salões de jogo, bares, vieram aquelas raparigas a quem chamam da “vida fácil”, o álcool corria nas gargantas, sendo tudo pago com “pepitas de ouro”, não havia lei, ou se havia não se respeitava, matava-se por uma pá, uma bacia de limpar a terra do ouro, ou por um burro de carga, enfim, era a lei do mais rápido.

Foi onde, no célebre “Salon N.º 10”, assassinaram o famoso cowboy, que também serviu de guia militar e explorador, “Wild Bill Hickok”, que usava uma grande faca e duas grandes pistolas, dizia-se que tinha lutado sozinho contra muitos ursos, matado muitos “peles- vermelhas”, tinha ganho umas dezenas de duelos, era forte e audaz, conhecia todo o território, em especial as “Black Hills”, e um dia um garoto, que se lembrava da sua cara por ter morto o pai, que o desafiou num duelo, lhe disferiu dois tiros nas costas, assim de repente, à queima-roupa, acabando com toda a sua audácia e rapidez, e dizem que está sepultado no cemitério, nas colinas de Deadwood, ao lado da sua também irreverente “Calamity Jane”.

Deadwood foi protagonista de uma longa série televisiva que apaixonou milhares de pessoas, hoje a sua população anda à volta de 1300 pessoas, as ruas e a estrutura da povoação mantêm-se, é considerada “Nacional Historic Landmark District”, em todos os bares e restaurantes existe casinos com máquinas de jogo, a bebida continua a correr, algumas raparigas ainda andam pela porta dos bares, principalmente à noite, há música e festas em tudo o que é esquina, é visitada todos os dias por centenas, talvez milhares de pessoas, principalmente motares que fazem desfile, a ver quem tem a sua moto mais bonita e mais bem limpa.

Dormimos aqui, depois de andar pela rua principal, junto de centenas de pessoas, de cerveja na mão.

Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12067: Os nossos seres, saberes e lazeres (57): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (4) (Tony Borié)

7 comentários:

admor disse...

Caro Tony,

Com que então o menino anda a meter-se numas belas cowboyadas.

É curioso que sempre senti mais simpatia pelos indios sioux do que qualquer outra raça, mesmo sem saber que queria dizer amigo.

Fizeste-me regressar aos meus 10/15 anos com a banda desenhada e os filmes de cowboys para me lembrar dos heróis desses tempos e dos fortes, dos índios e do exército.

Continuação de boa viagem e muita saúde.

Um grande abraço.

Adriano Moreira

admor disse...

Afinal fiz confusão a palavra Dakota em sioux é que quer dizer amigo.
Postos os pontos nos is, não me resta mais nada do que pedir ao Tony para continuar a mandar-nos as suas crónicas onde sempre se aprende alguma coisa para além de serem muito agradáveis de lêr.

Mais um grande abraço.

Adriano Moreira

Anónimo disse...

Joaquim L. Fernandes

Caro camarigo Tony

És um felizardo por poderes desfrutar das maravilhas de que nos falas e eu penso que bem o mereces. Continua pois a tua epopeia e vai dando-nos notícias.

Retenho a tua frase: ".../ a terra que habitamos tem tantas maravilhas e tantos segredos".
E eu acescento: Cabe-nos a nós hoje usufruir dessas maravilas, desvendar esses segredos, mas respeita-la como local sagrado e ser agradecidos pela dádiva divina.

Um abraço fraterno
J.L.F.

Anónimo disse...

E vamos falar de UMBIGOS!
Ricardo Santos/Berlin

Anónimo disse...

Amigo Tony: qualquer dia conheço tanto dessa "tua" terra que nem preciso ir turistar. Continua. boa viagem, boa saúde e aí vai um abraço.
Veríssimo Ferreira

Hélder Valério disse...

Caro Tony

Por mim, nada tenho contra relativamente a estes teus relatos da aventura que encetaste nessa viagem pela América.

Claro que poderá haver quem discorde, até porque, pelo menos na aparência, estes relatos não são de 'operações, emboscadas, assaltos, golpes-de-mão, flagelações, etc.' ocorridas na Guiné, afirmado espaço alvo deste local de memórias.

Poderá até haver também quem possa considerar haver algum 'narcisismo' nos relatos, que se fala muito de 'nós próprios, da nossa pessoa, do nosso umbigo'. Respeito isso mas prefiro retirar dos relatos do Tony algumas indicações que podem ser úteis.

As questões directamente relacionadas com a Guiné são relatadas pelo "Cifra", estas são do "Tony".

E deste modo aproveito para viajar pela América, onde nunca poderei ir, através dos 'olhos' do Tony que, aqui e ali, tem até conseguido fazer alguma ligação entre essa experiência vivida por ele, Tony, e a experiência em terras guineenses vividas pelo "Cifra".

E depois temos quase sempre algumas observações que nos fazem pensar. Por exemplo, logo no final do quinto parágrafo deste relato há uma expressão curiosa que é "...também servia de ponto de paragem e abastecimento aos militares que iam fazendo a expansão do território por estas planícies onde havia muitas aldeias e tribos de índios."
Pois é, "haviam".... e agora, foram todos 'civilizados'? Assimilados? Integrados? Dizimados?

Gosto destes relatos do Tony.

Abraço
Hélder S.

Tony Borie disse...

Olá Companheiros.
Obrigado pelos vossos comentários.
Todos, o Adriano, o Joaquim Fernandes, o Ricardo Santos, o Veríssimo, são comentários que vão, de uma maneira ou de outra, mais simpáticos ou menos simpáticos, de encontro às suas opiniões, o que é muito saudável e agradável, portanto mais uma vez obrigado.
Agora o comentário do Helder, é uma análise verdadeira da mensagem que tento transmitir, ou seja, o "Cifra" é o "Cifra", e o "Tony" é o "Tony". O "Cifra", foi aquele combatente, que era um razoável militar, mas sempre cheio de medo da guerra, e o "Tony", fala talvez demais de si, mas tenta dar aos seus amigos combatentes alguma alegria, desviá-los da amargura, que principalmente na nossa idade, por vezes somos contemplados no dia a dia.
O "Tony", faz o relato, portanto é um pouco "Umbigo", mas tem que ser, pois de outra maneira não podia explicar na primeira pessoa. Tudo o que diz é com a intenção de vos informar das coisas que vê, em outras palavras é "os vossos olhos", e tal como o Helder diz na sua análise, de vez em quando também lá vêm coisas que vão interessar a alguns de nós, e que se "encostam" ao perfil da vida que lá vivemos, por exemplo, o Helder, diz uma grande verdade, que o mundo infelizmente comprova, quando explica "pois é, haviam... e agora, foram todos Civilizados, ?. Assimilados?. Integrados?. Dizimados?". Eu vi, andei por lá e vi, é verdade, e lá está, é isso que tento explicar, passar a mensagem, onde entra um pouco de "umbigo", que tem que entrar.
Companheiros, estes relatos são com a intenção de vos proporcionar "bom tempo", divertir-vos, fazer-vos viajar por aqui, pois às vezes faz bem esquecer-mos a "guerra" por alguns momentos!
Olhem, vou até lá fora, porque está sol e o céu limpo e azul, e não tendo dores no corpo, creio que não haverá coisa mais linda!.
Um abraço, Tony Borie.