sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca >  CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "buirrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa  Soares, que teve morte imediata, aoaccionar uma mina A/C, à saúda de Nhabijões,  aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Sambasilate davam-lhe um valor estratégico...

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)













Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)




Guiné > Zona leste < Setor L1 > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa  dop agloemrado populacionalde Nhabijoes, a oeste de Bambadinca

Infografia: Blogue Luís Graça & camaradas da Guiné (2013)

1. Em homenagem (póstuma) ao sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12, morto; em homenagem ao Luis R. Moreira (da CCS/BART 2917), ao Joaquim Fernandes, ao António Fernando Marques, felizmente todos vivos e membros da nossa Tabanca Grande; ao Ussumane Baldé, ao Tenen Baldé, ao Sherifo Baldé, ao Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12, soldados do recrutamento local, provavelvelmente já falecidos); e ainda ao soldado cond da CCS/BART 2917, Ribeiro Silva... todos eles gravemente feridos em duas minas anticarro que explodiram no dia 13 de Janeiro de 1970, à saída de Nhabijões (um dos reordenamentos que era a menina dos olhos de Spínola).

Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele topónimo, Nhabijões. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 404, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até Bambadinca, até ao nosso aeródromo aonde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon.

Ainda hoje não sei explicar por que fui eu, além do condutor, o único do meu gr comb (, o 4º que estava de piquete,) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC), e na perna direita; a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc.

Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle.  Iam a Bambadinca, mas calmas, fazer compras... As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à  bolanha que confina com a margem esquerda do Rio Geba, tornavam impraticável o controle populacional, pelas autoridades administrativas e milçiatres.

Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Bedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" (sic) com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colaborava com o IN (desde o início da guerra, em 1963).

A partir de nvembro de 1969, um  gr comb da CCAÇ 12 passou a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projeto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

A CCAÇ 12 participaria diretamente neste projeto de "recuperação psicológica e promoção social" (sic)  da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelo alf mil op esp António Manuel Carlão, fur mil Joaquim A. M. Fernandes, 1º cabo at Virgilio S. A. Encarnação e sold arv Alfa Baldé que foram tirar o respetivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969;  e ainda 2 carpinteiros, ps 1º cabos aux enf Fernando Andrade de Sousa [, vive na Trofa], e Carlos Alberto Rentes dos Santos [, vive em Amarante].  E indiretamente,  criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase fez-se  a desmatação do terreno, a fabricação de blocos (de adobe) e a construção de cerca de 300 casas de habitação e 1 escola. Durante este período a CCAÇ 12 realizou  várias ações, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os 5 núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

A partir de janeiro de 1970 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projeto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à boa colaboração prestada às NT.

A partir de abril de 1970, o reordenamento em curso passou  a ser guarnecido por 1 gr comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 gr comb, durante vários dias.

A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas, cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começou  quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Setor L1 (em 8 de junho de 1970), após terminar a comissão do BCAÇ 2852.

A partir de julho de 1970, a CCAÇ 12 deixou de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12. Passei lá algumas "boas noites", com os gajos do PAIGC a comer e a beber nas nossas barbas,,, Nunca se atreveram a atacar-nos, à malta do destacamento à noite... mas no dia 13/1/1971 deixaram-nos dois "presentes envenenados", à saída no destacamento, na estrada (de terra batida) para Bambadinca, que ficava a escassos quilómetros... 

A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*) (**)... Estávamos com cerca de 20 meses de Guiné, e de intensa atividade operacional, desde que na segunda metade do mês de julho de 1969 tínhamos sido colocados em Bambadinca, como subunidade de intervenção ao serviço do comando do BCAÇ 2852 (até maio de 1970) e depois do BART 2917 (a partir de junho de 1970)... Éra previsível que,  a partir de fevereiro/março, começasse - para os quadros especialistas metropolitanos, pouco de mais de meia centena, que formavam a extinta CCAÇ 2590 e anova CCAÇ 12 - a tão desejada rendição individual.




Fonte: Excertos da História da Unidade - CCAÇ 12/CCAÇ 2590 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), cap II, pp. 44/45.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11077: A minha CCAÇ 12 (28): Dezembro de 1970: Flagelação ao pessoal e às máquinas da TECNIL, na nova estrada em construção, Bambadinca-Xime (Luís Graça)

(**) Vd. postes relacionados 

13 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10936: Efemérides (115): Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada (Luís Rodrigues Moreira)


22 de janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Meu querido camarada de infortúnio, António Marques:

Ficas a saber que o homem que te quis mandar para os anjinhos, a tí, a mim, e às nossas duas secções do 4º Gr Comb da CCAÇ 12, em 13/1/1971, foi o comandante do grupo de sapadores Mário Nancassá...

Toma boa nota do nomke, nunca se sabe se a gente ainda se vai encontrar, algures depois da morte...

O Mário Nancassá veio, até Nhabijões, acompnmahdo por mais 4 camaradas, entre eles o Mário Mendes, comandante de bigrupo... Vimos o rasto que eles deixaram, mas infelizmente não topámos a 2ª mina, traiçoeira...

A ironia é que a mesma malta da nossa CCAÇ 12, o teu/o nosso 4º pelotão, que foi pelos ares, vai vingar-se, quase dois anos depois, em dezembro de 1972, abatendo, com tiros de HK21, o Mário Mendes, em Madina Colhido, por onde passámos tantas vezes...

Quem vai à guerra, dá e leva...

Vd. mais aqui:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/10/guine-6374-p12142-guerra-vista-do-outro.html

Luís Graça disse...

J+a aqui escrevi algures:

O Fur mil Joaquim A. M. Fernandes foi destacado para as obras do reordenamento de Nhabijões, por ter conhecimentos de engenharia civil. (Aliás, ele é hoje engenheiro técnico, e, creio, mora no Barreiro).

Eu, que rodava pelos pelotões como "pião de nicas", sei que nessa época estava a substituí-lo no 4º Gr Comb.

Acabamos por cair os dois em minas A/C, no mesmo sítio, no mesmo dia, em duas viaturas diferentes (ele, num Unimog 411, eu numa GMC), com duas horas dediferença... Num dia 13, que não era sexta-feira...

Coincidências a mais ?

Anónimo disse...

Amigo Luís Graça

Muito grato por me informares que quem me quis mandar para os anjinhos foi Mário Nancassá.
Já muitas vezes tinha pensado qual o seu nome e etnia.

Um grande abraço amigo

António Marques