domingo, 14 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11838: Os filhos do vento (13): Em busca do pai tuga: um reportagem, 3 vídeos, 19 histórias, 19 rostos, 19 nomes à procura do apelido paterno... Hoje no "Público", domingo, dia 14. A não perder.


Capa da página do Público 'on lin', de hoje  > "Filhos do vento: guerra colonial; as histórias dos filhos que os portugueses deixaram para trás". Vale a pena compar a  edição a papel (1€60), ler, comentar e guardar a resportagem "Em busca do pai tuga" (Revista 2, pp. 10-19)  e depois ver os três vídeos disponíveis. (Motivo adicional para comprar a edição em papel: o nosso Jorge Cabral queixa-se de que é vítima de "idadismo"... Vd. Revista 2 > "Velhos ? Não. Somos todos contemporâneos", reportagem de Catarina Fernandes Martins, pp.26-27. De facto, este país já não é para velhos) (LG)


1. Como já fora  anunciado (*), saiu no jornal "Público", de hoje, domingo dia 14, na Revista 2, a reportagem dos enviados especiais à Guiné Bissau Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende sobre os "filhos do vento"... 19 histórias, 19 nomes, 19 dramas...de "restos de tugas"...

 "No tempo da guerra colonial havia quem lhes chamasse 'portugueses suaves', agora, há entre os ex-combatentes quem prefira 'filhos do vento'. A maioria dos filhos de ex-militares portugueses com mulheres guineenses guarda pedaços de história incompletos, com a ambição de que um dia esses poucos dados os venham a reunir aos pais.  A expressão que dá título a esta página foi usada pela primeira vez, para se referir aos filhos de ex-militares portugueses com mulheres guineenses, pelo ex-furriel José Saúde, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Três vídeos (cada um com cerca de 10 minutos casa) contam estas histórias dos "filhos de vento"...

Restos de tugas (11' 52'')


TESTEMUNHOS ( a recolher pelo Público)

"Este é um espaço de debate. Qualquer testemunho que inclua dados pessoais não será publicado. A identidade dos pais não é divulgada por motivos de reserva da vida privada. O envio de informações que julgue relevantes para a busca destes filhos de ex-militares portugueses deverá ser feito para o email filhosdovento@publico.pt"

9 comentários:

Anónimo disse...

Cherno Baldé:

12/7/2013

Caro amigo Luis Graca,

Obrigado pela informação [, sobre o dossiê do Público] e talvez com esta reportagem saibamos definitivamente se na realidade «são mais as vozes que as nozes«.

Um grande abraço e perdoa-me se vos meti em apuros.

O corporativismo e a solidariedade tuga funciona muito bem no vosso blogue.

Cherno Baldé

Luís Graça disse...

1. Cristina (Gomes): Li a reprotagem na vertical... Pareceu-me bem. Trabalho feito com inteligência, honestidade e preocupação de rigor. Temos também uma dívida (falo em nome coletivo... enquanto tuga) para com os "nossos filhos", deixados para trás...

Não se trata de diabolizar ninguém, nem de atribuir culpas nemk de especular com números... Era bom termos uma estimativa do nº de lusoguineeenses, filhos da guerra colonial: são 500 ? são 1000 ? sºão muitos mais ?

Há seres humanos que precisam da nossa ajuda, filhos de mulheres guineenses e de militares portugueses... Toda a gente tem pai e tem mãe...

Como ajudar ? Ver como é que os americanos lidaram com este problema...

2.Jorge (Cabral): Gostei dessa, do "idadismo"... Também já ouvio contar uma boca, em 1978, contra o sr. ex-diretor geral da saúde, e professor catedrático jubilado, Arnaldo Sampaio, pai de um futuro presidente da repúblcia, quando se reformou por limite de idade, aos 70 anos, e atreveu-se a aparecer na no seu antigo local de trabalho, no dia seguinte...

Comentário de um desbocado mas respeitável senhor da saúde pública, de tomates inchados:
- Mas o que é que o filho da puta do velho ainda está aqui a fazer ?

Eu não estava lá, mas mas contaram-me... E isto vem a propósito da menina que perguntou lá no bar da tua faculdade:
- Então o velho do [Direito] Penal já chegou ?

Decidademente temos uam guerra aqui a travar,contra todas as formas de discriminação... Li o artigo a correr...

Um abração. Luis

José Saúde disse...

Camarada e caro amigo Luís,

Sou, creio, o pioneiro, e quiçá aventureiro, do nosso blogue que tentou desmistificar o tabu do sexo feito pelos "tugas" ao longo de 11 anos de guerrilha na Guiné. Compreendo, tal como sempre o fiz, que não foi fácil trazer à opinião pública um tema tão melindroso. Por outro lado enalteço, literalmente, a gratidão da população que soube viver no quotidiano com as duas faces da guerra.

Coloquei-me, e coloco-me, ao lado de gentes humildes que, inesperadamente, se depararam com a inquestionável realidade de gerarem um filho no seu ventre que se pressupunha ter o rotulo de um ocasional encontro sexual. Éramos jovens. Não mediamos as consequências dessas desvairadas aventuras. A situação que se vivia era dúbia.
Nessa perspetiva, predispus-mo a lançar a temática "filhos do vento" como um eloquente grito de alerta para muitas crianças que por lá ficaram e jamais conheceram os seus verdadeiros progenitores. A mãe deu-lhe, apenas, o seu insofismável amor. Aquele espontâneo espermatozoide y que se cruzou no trilho ventral com o primo x, ditou a existência de um ser.

Lendo a reportagem da Catarina Gomes - revista do jornal O Público de 14 de julho- confesso, humildemente, que aqueles jovens de outrora, hoje homens e mulheres na casa do 40 anos, ainda sonham conhecer o pai que lhe terá sido ocultado ao longo da sua vivência humana.

Mas se casos existem em que a força da razão superou eventuais expetativas, outras situações relatadas na reportagem implicam cuidados redobrados quando se questionam nomes de militares que estiveram presentes no palanque da guerra guineense e as respetivas datas da estadia.

Não sou, e muito quero ser, "advogado do diabo" em causas alheias, porém, partilho a opinião do Luís Graça quando justamente refere: "Há seres humanos que precisam da nossa ajuda, filhos de mulheres guineenses e de militares portugueses".

Este o clique primordial para numa introspeção ao já nosso recantado ego, lembrando-nos SEMPRE que há gente que continua desesperadamente a lutar para conhecer a essência das suas raízes humanas.

Demos-lhes pois a oportunidade tão ansiada.

José Saúde

Luís Graça disse...

"Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo." (...)

São versos do célebre poema "Cântico Negro", de José Régio... Do lIvro "Poemas de Deus e do Diabo" (1925)...

Não se aplcam aqui a estes casos. São todoa/as filhos/as dos homens (ou, em linguagem de zoólogo, de machos e fêmeas de uma única espécie, o "Homo Sapiens Sapiens", porém de origens, geográficas, culturais diferentes: uns, portugueses, de Portugal, Europa, "caucasianos"; outras, guineenses, do grande conftinente africano, que foi a matriz, o ventre e o berço da humanidade...).

É fácil a indignação e falso o moralismo dos que vêm agora, 40/50 anos depois, dissecar, analisar à lupa, julgar e condenadar... Não, não há alinhamentos "corprorativos". há apenas a recusa, que é a trave mestra deste blogue, em vestir a toga do juiz...

Oiçaomos cada uma das histórias, com toda a atenção e empatia, a começar pelas vítimas... Aos progenitores (machos e fêmeas) é mais difícil pô-los a falar... Nunca (ou raramente) vamos consegui-lo em público... A Catarina Gomes, que é jornalista e é uma mulher de grande sensibilidade, não o conseguiu, a não ser num caso ou noutro em voz off... Percebe-se a delicadeza e as questões éticas que estão por detrás de um investigação deste tipo...

Mas não podemos esquecer, por outro lado, que este país (Portugal) estava cheio, até ao 25 de abril, de "filhos do vento"... Havia a infamante figura (jurídica) do "pai incógnito"... Foi preciso rever a Concordata e o Código Civil para que muitos portugueses passassem a ter pai e mãe... Felizmente que acabou uma certa hipocrisia burguesa...

Recorde-se que, antes do 25 de Abril, nascer fora do casamento era ser ilegítimo, obrigando muitas mulheres a suportaram sozinhas a educação das crianças.

O número de filhos de pais incógnitos era de suprior a 151 mil - diz um artigo do Expresso, de 23/5/2010

(...) "O peso da palavra era esmagador e de uma tremenda injustiça. A ilegitimidade era não reconhecer o filho e envergonhar-se de o ter tido", diz o pediatra Mário Cordeiro.

"Dos 151 889 portugueses com paternidade desconhecida, 108 195 t"m acima de 35 anos (mais de 70 por cento)"...

(...) Para o pediatra Mário Cordeiro, citado pelo EXpresso, "a verdade contada 'de forma calma e progressiva' pode mitigar a desilusão e a dor: p'Mas há sempre alguma dose de perplexidade e de sentimento de rejeição'.

'As pessoas aguentam muito. E o passado não é necessariamente o futuro. As crianças não estariam condenadas à partida, porque poderiam encontrar outras pessoas de referência que representariam a figura psicológica do pai', defende.

"Casos de rejeição de filiação são hoje mais raros, até por imposição legal, com a alteração ao Código Civil em 1976, que pretendeu salvaguardar os direitos fundamentais das crianças.

"Além da falta de obrigação legal de filiação, na década de 70 a ciência não dispunha dos meios atuais de determinação da paternidade." (...)


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/mais-de-150-mil-filhos-de-pai-incognito-em-portugal=f584511#ixzz2Z3TzOEhW

Luís Graça disse...

Zé Saúde:

O seu a seu dono... Defacto, parece que foste tu o primerio a usar a expressão "filhos do vento"... Que fique aqui registado para a história... Se precisares, passo-te um diploma (*)....

"Filhos do vento" é uma metáfora, uma expressão que nada tem de romãntico ou de desculpabilizador, como já vi escrito por aí, algures... "Children of dust", dizem os anglossaxónicos... "Filhos do pó" é até mais duro, ou depreciativo... Enfim, concordo que é um eufemismo, ajudando-nos a suportar melhor o "desconforto" destas situações...

By the way, sou a favor a atribuição da nacionalidade portuguesa a todos os "filhos do vento" bem como a "todos os nossos camaradas da Guiné"...

Se isso tivesse acontecido, ter-se-ia evitado algums das tragédias do pós-independência, como os julgamentos populares e os fuzilamentos ?

Não sei... Achoq ue fomos ingénuos em relação à "boa fé" dos dirigentes do PAIGC pós-Cabarl...

O PAIGC poderia não estar disposto a ter 27 mil estrangeiros, nascidos na Guiné, e que serviram a pátria do tuga...Repatriá-los para Portugfal ? E as suas famílias ? E as suas raízes ? E os seus poilões ? E os seus antepassados ?...

É fácil fazer mapas a regra a esquadro; é fácil (mas perigoso) usar a folha de Excel sem nenhuma "modelo de análsie"... Enfim, é grande a tentação de reduzir tudo (e sobretudo as pessoas) a números...

E a verdade é que os fulas, os manjacos, etc. nunca foram nem poderiam ser tugas de alma e coração...

_______________

(*) Vd. poste de 19 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8798: Memórias de Gabú (José Saúde) (3): “Filhos do vento”: reflexos de uma guerra que deixou marcas no tempo

Zé Teixeira disse...

Luis.
Mas dá imenso gosto e faz vibrar a alma ouvir " Eu sou português de Guiné" ou ter como toque do telem. o hino português e afirmar com convicção " eu gosto muito de ouvir o nosso hino", ou ouvir "eu fui soldado português, eu sou português" ou ainda, "eu gostava muito de me reencontrar com os camaradas brancos do meu pelotão de nativos, éramos uma família" e tantas outras afirmações. Até ex-combatentes (soldados) do PAIGC, falam desapaixonadamente e sem sobranceria de acontecimentos do outro lado da barreira nos ataques e emboscadas partilhadas em demos porrada e levamos porrada. Guerra é guerra, como disse o Braima Camará, um dos guarda costas do Nino
É fácil, hoje, falar com os ex-soldados portugueses, sobretudo no interior do país.Falar abertamente e frente a frente sobre o que a guerra que tanto nos fez sofrer. e continuou a faze-los sofrer no terreno. Os vencidos que ficaram no terreno e que por serem negros deixaram de ter a “mãe pátria” para os acolher. Torna-se agradável e afetuoso juntar ex-soldados portugueses. Falam abertamente dos tempos de “convívio” com camaradas portugueses. Falam com nostalgia e saudade mas não deixam que se ponha o seu nome na escrita porque a paz, a verdadeira paz, ainda não chegou. O estigma ainda continua e continuará

Os políticos dos dois países, nada têm feito para apagar os resíduos da guerra. Sim a guerra não acaba e nasce a paz quando as armas se calam ou se assinam os acordos de paz. A paz constrói-se no tempo curando as mazelas que ficaram e foram muitas, ou será que nós os que a viveram, não estamos ainda a senti-la no espírito e na carne!
Basta pensar no abandono a que fomos votados todos nós pelo poder político desde então.
E os milhares de portugueses negros combatentes que lá ficaram esquecidos pela mãe pátria que deixou de ser "mãe pátria" para ser razão para serem votados ao desprezo e a perseguições atrozes por parte dos "vencedores". Tiveram de se calar, se esconder, de fugir da sua terra, de rasgar os documentos de que tanto se orgulhavam, das fotografias que os comprometiam. Destruir a sua história pessoal e coletiva

Nós os soldados combatentes brancos, os que foram obrigados a fazer a guerra, com as nossas visitas de saudade, com as nossas idas aos locais que nos marcaram estamos a fazer a catarse e são cada vez mais a perder o medo e ganhar coragem para o fazer. Por seu lado , os ex-combatentes portugueses africanos guineenses recebem-nos com alegria que vão expandido ainda a medo, mas já se houve dizer com orgulho “eu fui soldado português”. E querem logo saber onde estivemos numa tentativa de encontrar um amigo, um camarada.
Logo se ouvem as suas estórias, quantas delas nossas conhecidas, mas não o seu nome escrito, isso ainda é cedo.
Com o passar do tempo foram-se apagando as barreiras que limitavam os campos de soldados ex-paigc e ex-tugas do exército português. As "paixões" têm vindo a desaparecer, talvez pelas desilusões que o tempo tem acarretado, mas há marcas que ficaram gravadas na carne como um BI identificativo. Marcas que deram origem a muita dor, sofrimento, fome e mortes no pós-guerra e ainda lá estão.

Os “filhos do vento” são mais uma parte da história da guerra. Não podemos tentar escamotear. São uma realidade que é preciso encarar de frente. Seria bom que os pais dos “filhos do vento” tivessem a coragem de se assumir para que se dê mais um passo na construção da paz. Creio que o tempo já curou muitas feridas, mas não deu respostas, aqueles jovens. Conheci três deles nestas minhas andanças e todos eles sonham encontrar o pai. Um disse-me abertamente: ”Não quero nada dele, apenas o nome”.
Zé teixeira

Rogerio Cardoso disse...

Caros camaradas
Alguns dos casos podem ser complicados, não quero dizer com isto que os "nossos filhos" não mereçam ter nome de pai. A vida tem grandes surpresas, estando eu á cerca de 3 anos ao portão da minha casa, acercou-se de mim um rapaz que me pediu uma informação, de qual o caminho mais perto para o local X, o que eu lhe indiquei. Entretanto perguntei se ele não era da Guiné, o que ele me respondeu afirmativamente. Local da Guiné, Bissorã, o que lhe respondi ter estado lá em 1964/65. Ele perguntou-me, conheceu um militar de nome "fulano".Sim, muito bem, entretanto puxou por uma foto de uma senhora, que dizia ser sua filha e que andava á procura do pai. Não tive duvidas que era sua filha, era a sua cara chapada, como se costuma dizer. Na altura em 64, o militar já era casado, tendo aquele devaneio e não tendo assumido o acto, embora não tendo a certeza se tivesse tido conhecimento da gravidez. O nosso camarada entretanto faleceu, á cerca de 1 ano. Gostava da vossa opinião, eu tenho a foto da senhora que deve de ter uns 47 anos, devo publicar ou não e dizer o nome do pai? Não irei desiludir a sua familia? O que acham que será o melhor?
Roger
Cart.643.AGUIAS NEGRAS

Anónimo disse...

Situação complexa tanto a nível social como psicológico.

Competirá apenas a cada um assumir ou não a paternidade, caso tenha conhecimento, e ainda sem complexos desejar ou fazer prova..hoje é fácil..consegue-se provar com total certeza ou não se se é filho(a).

É um assunto totalmente privado e é crime alguém divulgar nomes publicamente sem o prévio consentimento das partes.

Como muito bem disse o camarada L.Graça não se deve fazer juízos de valor de quem quer que seja.

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Concordo com o Luís e com o C.Martins.Não devemos,nem podemos fazer juízos de valor.Até porque existiram situações muito diferentes
e não aceito generalizações...Nem me interessa discutir o número de filhos dos militares portugueses.Lamento sim que em crianças tenham sido vitimas de uma educação assente no ódio e na xenofobia.Na minha tabanca não existiam "filhos do vento"...

Inteiramente à disposiçao para ajudar,embora enquanto Alfero de Destacamento e de Pelotão Nativo,não
tenha lidado com mais do que 12 militares metropolitanos.

Abraço.

J.Cabral