quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11795: Blogues da nossa blogosfera (65): Poema de Saudade sobre a Guiné, no Blogue da Lusofonia (Mário S. Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data e 26 de Junho de 2013:

Camarada Carlos
Leio sempre com atenção e interesse qualquer mensagem - nova ou velha, com erros ou lapsos - sobre a Guiné.

Hoje li uma do Cherno Baldé. Isto despertu-me a memoria para descrevesse a minha experiência num determinado dia, após a Independência - quando membros da polícia e militares se deslocaram até ao meu restaurante, expulsando todos os clientes e prendendo 4 empregados meus.
Um deles ia preso por engano... mas, à saída, onde estava eu de "mãos no ar", porque me estavam a apontar 4 armas, "Ó-ti-kalas-ó-ti-fodes" (kalashnikovs) eu falei em crioulo para ele, que dissesse que ele não tinha sido militar no nosso lado, porque assim tinha sido.
Foi a sorte dele. Largaram-no e os outros... nunca mais os vi. Foi em 1975.

Um dia destes vou alinhar todas as memórias sobre este episódio e enviar a tua consideração.
Para já, se vistares htpp://lusolink.blogspot.pt, encontrarás uma mensagem intitulada "POEMA DE SAUDADE, SOBRE A GUINÉ". Talvez gostes de ler. Se quiseres publicar... à vontade!!!
Ao mesmo tempo, se visitares http://www.lusoamericano.com/epaper/june_26_2013.pdf
 edição de hoje..."clicando em "comunidades" lá encontrarás cerca creio que 2 páginas (ainda não vi) da minha autoria, com fotos e comentários.
Abraço
Mário Oliveira



POEMA DE SAUDADE SOBRE A GUINÉ

Presados leitores:
Num momento de nostalgia e de profundo sentimento sobre o meu "passado"... fico, por vezes, divagando sobre o porquê das circunstâncias da vida, me "terem aqui nestas paragens longínquas do nosso "torrão Natal", chamado Portugal.

No entanto, apesar de eu adorar tudo o que seja de origem Portuguesa - incluindo a nacionalidade - tempos houve em que, factores diversos marcaram a minha percepção do que é ou não é uma Pátria.

De facto... há o território (local) onde a "nossa mãe" nos dá á luz... e, o local onde... os governantes ou os cidadãos - POVO - nos acolhem como parte da família local. Foi o meu caso, na Guiné... que, durante o serviço militar e após um convívio diário com muitos guineenses, me dei conta que, o ser humano poder "mais e melhor" no trato e respeito para com os povos de outros latitudes do planeta terra. No meu convívio, fui sempre muito respeitador e condescendente, angariando a amizade de vários guineenses que, antes de terminar a minha comissão de serviço - na messe de oficiais da Força Aérea, em Bissau - se aproximaram de mim, pedindo-me para que não regressasse a Portugal - na ocasião conhecido como "A Metrópole", por ser a sede do Império português  - porque, diziam eles, eu era para eles, "um filho da terra", significando que me consideravam quase como um "familiar" deles.

Francamente sensibilizou-me esta atitude, coisa que muitos não tiveram esse privilégio, comovido ao mesmo tempo, decidi procurar um local de trabalho - na indústria hoteleira - e ficar por ali, na procura de arranjar alguns tostões e, logo que possível, regressar a Portugal para casar com a que hoje é minha mulher.

Assim foi, acabando por regressar à Guiné, já casado, onde acabei por ficar bastante tempo, sempre debaixo da amizade que me foi dada desde o início.

No entanto, houve ocasiões, em que a situação mudou, com a chegada de alguns elementos que "me desconheciam" e, como tal, tive alguns confrontos "agudos" sobrevivendo - vencendo - qualquer "quezília", originada pelo desconhecido. Principalmente depois da independência.  
E, se bem que nem todos têm o mesmo acolhimento, o certo é que eu, fui recebido na Guiné com carinho e respeito, ao ponto de me terem passado a considerar como "filho da terra" - termo usado na Guiné ainda hoje - o que me sensibilizou imenso, durante a minha longa estadia (quase 15 anos).
Nem todos se poderão dar ao "luxo" de assim ser, porque nem todos tiveram a mesma atitude para com os "nativos", o que, obviamente, influência a percepção tida para com cada qual. ´
A "amizade" é "um bem invisível" mas palpável, sentido no dia-a-dia, que se reflecte na mais intima circunstância... nos mais diversos locais do país. Por exemplo... viajando de Bissau para Farim - quase fronteira com o Senegal - e, após travessia do rio, a bordo de uma "jangada"... procurando "direcção" para a fronteira... imediatamente fui reconhecido e ajudado. Alguém ali mencionou o meu nome, como conhecido de Bissau, com minha reputação do modo como lidava com a população. De imediato me guiaram até ao local de acesso directo à fronteira do Senegal, troço de caminho em péssimas condições, cerca de 30 km... levando cerca de 3 horas a percorrer, devido a estado lastimável em que se encontrava.
Aqui, neste momento, só quero expressar o meu próprio estado de espírito, em relação à minha presença na Guiné, durante aqueles longos anos, onde passei os melhores dias da minha vida. 

Sim, já sei que, para alguns, poderá ser uma história "tediosa" mas, o facto é que, sem uma ligação "ao passado" o presente e o futuro não tem o mesmo valor. Viver sem passado, é não viver. Cada minuto, cada hora e, cada dia que se vive, passa a passado no minuto seguinte! O impacto do passado serve de "molde" para o futuro.
Por vezes... o sucesso ou o fracasso, depende do modo como se aplicam "as lições" sobre os actos ou erros do passado. É pois neste sentido que, me inspirei na composição de um poema sobre a Guiné do qual apresento um "um trecho", servindo como elo de ligação aos momentos mais importantes da minha vida.
Obviamente, haverá leitores que nem têm a mínima ideia sobre  trecho de história, ligado ao período das colónias e, especialmente, ao período da guerra de descolonização. Compreendo perfeitamente  mas, o facto de desconhecerem, não significa que não devem "querer saber" porque... a 1ª e 2ª grande guerra já foi há muito mais tempo e, ainda hoje se fala dela. Por vezes, pelas piores razões mas, noutras, em celebração de certo eventos.
Mais uma vez, recordar o passado, é "viver o presente".

Aqui vai....

GUINÉ...

É para mim, o que foi e o que é...
Terra "mística" na minha diária "ré"...
Explicar melhor, não sei como é...
Onde vivi muito tempo, sempre com fé...
Em situações - algumas - de finca-pé...
Chegando ao fim... porque até...
Não valia a pena... remar contra a maré!...

É...
Quisera eu lá voltar, à Guiné...
Quisera eu lá viver, na Guiné
Quisera eu lá vegetar, na Guiné
Quisera eu lá passar os últimos dias... na Guiné
Quisera eu lá "dormir o sono eterno", na Guiné!

É...
Na Guiné... passei os melhores dias da minha vida
Na Guiné... a esperança nunca estava perdida...
Na Guiné... as tristezas, transformavam-se em alegrias
Na Guiné... o não ter pão, criava ansiedade,
Na Guine... o dinheiro não era equidade
Na Guiné... o maior bem... era a amizade.

Obrigado Povo da Guiné!!!

Continua...
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11692: Blogues da nossa blogosfera (64): "Pieces of my life" - Portugal, África e Estados Unidos da América (Tony Borié)

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