segunda-feira, 1 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2013:

Queridos amigos,
A Nova História da Expansão Portuguesa foi um ambicioso projeto coordenado por Joel Serrão e Oliveira Marques, 12 volumes que abarcaram as origens, a expansão, a colonização atlântica, o império oriental, o império luso-brasileiro, o império africano e o seu final.
Este volume de onde se extrai a recensão em apreço tem a ver com uma Guiné que já não depende de Cabo Verde, que substituiu o comércio negreiro por uma exploração agrícola baseada sobretudo no amendoim; uma Guiné com inúmeros conflitos de tal sorte que foi necessário esperar pelo primeiro governador da República para derrubar as muralhas à volta da fortaleza de Bissau.
Enfim, uma fonte informativa que poderá pesar na curiosidade de quem pretende ir mais longe sobre a história da Guiné.

Um abraço do
Mário


A Guiné, entre a Monarquia, a República e a Ditadura

Beja Santos

“Império Africano 1890-1930”, com coordenação do Prof. Oliveira Marques (Editorial Estampa, 2001), é um dos 12 volumes da Nova História da Expansão Portuguesa, projeto que foi dirigido por Joel Serrão e Oliveira Marques.

As condições internacionais ditadas pela Conferência de Berlim exigiram às nações imperiais uma política de conquista territorial e de delimitação de fronteiras. Se é facto que na substância há uma continuidade entre a Monarquia e a República e entre esta e a Ditadura, há matizes políticos dignos de realce. A República esforçou-se por uma política de autonomia colonial, visou-se a descentralização, criou o regime dos altos-comissários, prosseguiu com maior solidez uma campanha contra o regime de trabalho indígena, mas com resultados mais aparentes do que palpáveis. A cultura colonial imiscuiu-se em múltiplas preparações profissionais, caso da Escola do Exército, da Escola Naval, do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, Escola de Medicina Tropical, Escola Colonial, mesmo os estudos superiores de Direito e de Agronomia foram influenciados. Quase no termo da República, a Agência Geral das Colónias e o seu boletim surgem como fontes de divulgação cultural e científica, num universo editorial de importância irrecusável. Basta pensar em Fernanda de Castro e o seu best-seller “Mariazinha em África”.

A Guiné conheceu transformações enormes: separou-se de Cabo Verde, foram definidas as suas fronteiras, a exploração agrícola substituiu o comércio negreiro. A grande falta são os colonizadores, a província desligada de Cabo Verde assenta numa orgânica administrativa que seria uma quase ficção caso não houvessem efetivos militares. Todas as divisões administrativas acabavam por ser ineficazes, os administradores não possuíam meios para as percorrer, não podiam garantir a lei nem arrecadar os tributos. Foi preciso esperar pela pacificação para desenvolverem as comunicações, cujo expoente foi dado pela abertura da estrada Bafatá-Bambadinca, ao tempo do administrador de Geba Calvet Magalhães. Foram tempos de grande agitação, estes 40 anos que levaram à afirmação da soberania portuguesa. Só a chegada de tropas e o seu envolvimento direto, na última década do século XIX, permitiram sortidas eficazes e submissões com apresamento de armas. Carlos Pereira, o primeiro governador nomeado pelo regime republicano, determinou o derrube das muralhas e assim se estabeleceu o relacionamento entre os temíveis Papéis e a população de Bissau, até então acantonada na fortaleza.

Deve-se a Teixeira Pinto a estratégia ofensiva que conduziu à pacificação na área continental, até 1916. Submeter os grumetes, foi o seu primeiro objetivo, sem o qual Bissau permaneceria na agitação. Como ele escreveu: “Os grumetes são papéis batizados, tendo parentes na ilha e estão ligados aos cabo-verdianos, hão de opor uma resistência enorme à ocupação da ilha – o que é necessário fazer, custe o que custar, pois é deprimente para nós que no primeiro posto da província onde vão vapores estrangeiros nós só dominemos dentro dos muros da praça. Dizem que a ilha de Bissau há de ser o meu cemitério mas, apesar disso, hei de tentar a ocupação porque prefiro lá morrer a deixar manter a humilhação porque o Governo passa todas as vezes que os estrangeiros passam na praça e perguntam porque se não pode ir ao interior da ilha".

A despeito de inúmeras conspirações, e lavado à prisão Abdul Indjai, inicia-se um período de um certo desenvolvimentismo. Era escasso o povoamento de europeus, o número de não indígenas em 1924 não seria superior a 500 pessoas distribuídas por Bolama, Bissau, Cacheu, Farim e Bafatá. A presença francesa e alemã tinha grande significado e os sírios, chegados depois da proclamação da República, passaram a ser os comerciantes do interior. Entra-se pois na ocupação territorial, vivia-se já um período de paz, fora ultrapassada a época em que se pensara dar concessões a companhias majestáticas, ideia que fizera o seu curso no final do século XIX, na Guiné não tivera nenhum sucesso. O amendoim, que no final do século XIX, estava no topo das exportações, com a República encontrou novos produtos concorrentes: a borracha, o coconote, a cera e os couros, mas foram produtos que não aguentaram a concorrência mundial. Uma parte substancial dos produtos importados não existia em Portugal: vejam-se as nozes de cola, o tabaco e os tecidos.

Finda a I Guerra Mundial, a Alemanha voltou a ser um parceiro ativo, grande comprador de coconote, mancarra, óleo de palma, cera, borracha e arroz. Uma economia tão pobre iria ditar a pequenez das receitas mesmo com um montante por palhota, os emolumentos e a carga aduaneira.

Este documento sobre a Guiné foi escrito por Célia Reis que apresenta uma boa bibliografia, onde ela destaca a investigação de René Pélissier, bastante enquadradora do período em questão, já que ele investigou os acontecimentos entre 1841 e 1936.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11773: Notas de leitura (495): A Guiné que vou encontrando na Feira da Ladra (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

"assim se estabeleceu o relacionamento entre os temíveis Papéis e a população de Bissau, até então acantonada na fortaleza".

Provavelmente ainda hoje um Papel, no seu habitat (tchon) natural, e que viva tribalmente, deve ser de um trato muito complicado com estranhos.

Haja paciência!!!

Será que nos reconditos do Biombo já sabem que são de um país com o nome de Guiné-Bissau?