quarta-feira, 26 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11767: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (17): Jovens politicamente atentos

1. Mensagem do dia 24 de Junho de 2013, do nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67):

Cartas de Amor e Guerra

Nota prévia:
[A publicação de vastos excertos da minha correspondência de guerra tem, como único objectivo, o de dar a conhecer alguma coisa da vida mais pessoal de UM soldado, EU neste caso, enquanto combatente numa certa guerra e num determinado tempo histórico, com os seus amores, amizades, ideias políticas, formação cultural e religiosa, etc.
Não serve, hoje, para travar qualquer batalha, muito menos de cariz político-ideológico. Porventura, também terá algum interesse para possíveis investigadores que queiram caracterizar certo tipo de combatentes, não mais do que isso.
Actualmente, como é natural, sou uma outra pessoa, tenha conservado ou não algo da minha maneira de ser e de pensar de então. Não apago nada, antes tenho orgulho do “eu” que ressalta desta correspondência de amor e guerra, mas seria abusivo que quem me lesse me pensasse, hoje, a “figura” esparramada no conteúdo desta correspondência de há mais de 46 anos.
O mesmo digo sobre o que se passa com a parceira destas cartas, a minha querida namorada / companheira de então e até hoje.]

Manuel Joaquim


CARTAS DE AMOR E GUERRA

17. Jovens politicamente atentos

Bissorã, 1966 > Praça com monumento a Raimundo Serrão, Governador da Guiné (1949 – 1953) e Estação dos Correios. 
Foto retirada, com a devida vénia, de “Rumo a Fulacunda”, blogue de Henrique Cabral (fur mil CCaç 1420) 

Bissorã, Nov.-17-1965
Agradavelmente, minha querida, li a tua última carta mais pelo espírito de contemporização consciente que demonstras perante certos pequenos conflitos que surgem entre nós do que por qualquer outro motivo.
(… … …)
Tanto tu como eu devemos andar com os nervos à flor da pele. O mais pequenino desentendimento pode provocar uma “explosão” (…). Mas nada de grave acontecerá.
Já cá recebi os cigarros. Agradecido por não teres deixado fugir a oportunidade de me presenteares, (…).

(…), isto cá vai correndo. (…), continuo sem me ressentir fisicamente do esforço que me é exigido.
A temperatura é tolerável. Embora durante o dia faça um calor de rachar, respira-se agradavelmente logo que desaparece o sol. E as noites chegam a ser bastante frescas. Estamos na época do cacimbo. Até Maio não chove. Por mais incrível que pareça, já bati o queixo com frio por duas vezes. Mas isto só sucede em operações no mato.
Às vezes somos obrigados a estar horas seguidas na mais completa imobilidade e, se isto sucede quando estamos molhados - atravessar pântanos com água pelo pescoço é um martírio – então o friozinho aparece renitente. (…) pouco tempo depois de o sol nascer, o calor começa então a apertar numa progressão de espantar.
(… … …)
A diferença horária é, no respeitante à Metrópole, de uma hora mais cedo durante a hora de inverno de aí e de duas horas na de verão. As noites são praticamente iguais aos dias. Pelas 5.30h da manhã começa a amanhecer e anoitece pelas 17.30h. Tanto o amanhecer como o anoitecer são bastante rápidos (mais ou menos meia hora).

Já há tempos te disse que Bissorã é uma vilazinha sede de concelho. Antes de rebentar a insurreição dizem que tinha uma vida bastante movimentada. Agora está um pouco paralisada. Deve ter uns dois mil e tal habitantes. Praticamente, a população é negra como não podia deixar de o ser. Há cá alguns comerciantes brancos mas não são portugueses, são emigrantes libaneses. Estes, com alguns caboverdeanos, são a elite cá da terra. Estão aqui duas companhias aquarteladas. Os sargentos vivem em casas particulares. Aquela onde estou é bastante boa e espaçosa. Se me esquecesse de que à volta existe a floresta cheia de guerrilheiros (à volta da vila, não da casa) pensaria que estava hospedado numa boa pensão. É que até as refeições são servidas num pequeno restaurante. Não temos messe. (…).

Centro de Bissorã, nos inícios da década de 1970. A marca (O), à esquerda - baixa da foto, identifica a casa onde habitei durante um ano (Out./65 – Out./66)
Foto do cap mil Carlos Oliveira, cmdt. CCaç 13, retirada com a devida vénia do website leoesnegros.com.sapo.pt/ de Carlos Fortunato, fur mil CCaç 13.

As operações fazem-se, normalmente, de noite (…) prolongando-se pelas primeiras horas da manhã. Regressamos completamente arrasados de cansaço. É que além da tensão psíquica há sempre uma caminhada (…), pelo meio da selva e dos pântanos, a abrir caminho. Depois descansa-se.

Já tive a sorte de em 15 dias fazer uma só operação. Foi aquela sequência de dias de sorna! Levantamo-nos quando queremos, ninguém nos chateia e chegam-se a passar dias a dormir, comer, ler, ouvir música e, como não podia deixar de ser, a escrever.

Não imaginas o cansaço que se apodera de nós depois de uma operação. Para fazeres uma ideia digo-te que, uma vez, ainda na operação mas já no regresso a Bissorã, sofremos um ataque. Está claro que a primeira coisa a fazer é atirarmo-nos para o chão e procurar um abrigo qualquer. Pois, nesta altura, um soldado da minha secção, com as balas a assobiarem por cima de nós, adormeceu! Dei por isto quando senti ressonar a meu lado. Tínhamos passado toda a noite a andar!

Ao regressarmos, o chuveiro e a cama são uma obsessão. Mais nada lembra. Acontece às vezes chegar correio nesta altura. Os olhos abrem-se a custo, olha-se para a carta, põe-se em cima da mesa-de-cabeceira e dá-se meia volta para “o reino de Morfeu”.

Ainda hoje presenciei um facto destes. Um camarada chega do mato, lava-se, estira-se na cama. Chega correio da mulher. Apesar de já há alguns dias andar preocupado com a falta de carta (…), só aconteceu isto: abre o sobrescrito, tira a carta e … o envelope cai para o chão, as folhas ficam-lhe em cima do peito e o rapaz cai num profundo sono. (… … …).

(…), penso que te dei uma ideia mais exacta do que é a nossa vida por aqui. Surgem bons momentos que amenizam a dor que, lá bem no fundo, habita estes corpos lançados abruptamente numa guerra estúpida. Relembram-se peripécias passadas, contam-se anedotas, joga-se, procura-se por todos os meios esquecer, tentar esquecer a posição actual em que nos encontramos.

Bissorã, 1966 > O “restaurante” do Sr. Maximiano e da D. Maria ou a célebre tasca / messe de sargentos. Comia-se bem (pelo menos no meu tempo).
© Rumo a Fulacunda, blogue de Henrique Cabral (fur mil CCaç 1420)

E já que estou a falar dos meios de passar o tempo, lembro-te que há uma falta imensa de notícias da Metrópole. Não no aspecto pessoal mas no geral. E vou fazer-te um pedido. Talvez, de vez em quando, o possas satisfazer. Era nem mais nem menos que o envio de jornais e revistas. (…). Aqui, um jornal de há quinze dias lê-se com a mesma sofreguidão com que aí se lê o diário da tarde ao sair do prelo.

Quando estiveres disposta a fazê-lo e tiveres possibilidade, manda-me o “Diário de Lisboa” [*] ou o “República”[*] ou os dois, de dias diferentes, e a revista “Seara Nova”[*]. Se em qualquer outro jornal, ou mesmo nesses, achares um assunto que julgues interessar-me podias recortá-lo e mandar-mo numa carta.

Esse tal “Manifesto da Oposição Democrática”? Não tens possibilidades de o recortar de algum jornal? Gostava de o ler. A revista “Seara Nova” é mensal. Quanto a qualquer outra revista peço-te que não gastes dinheiro de propósito para ma enviares. (…). Que dizes? (…). Desculpa todo o trabalho que com este pedido te possa vir a dar. (…), esse teu possível gesto contribuiria para amenizar um pouco as agruras desta vida. (…).

Meu amor, por hoje fico-me por aqui (…). Uma carta diferente (…). Com ela poderás acompanhar-me melhor. E imaginarás mais facilmente o ambiente em que vou passando estes longos dias à espera de te ir cair nos braços, respirar fundo e gritar-te:
- É agora, minha querida! Estou livre! Vamos para a frente! Construamos o nosso mundo!

Ajuda-me a suportar todo este Inferno!
Todo teu, apaixonadamente, beijo-te e abraço-te. Até sempre!
M.

[*] [Os “Diário de Lisboa” e “República” (jornais diários) e a revista mensal “Seara Nova” estavam ligados à oposição política ao Governo e ao regime do Estado Novo, declaradamente os dois últimos. Em 1965, era Oliveira Salazar o chefe do Governo. Marcelo Caetano suceder-lhe-ia em Setembro de1968.]


Vale de Figueira, 24 – Nov. 1965 
(… … …). 
Satisfazendo o teu pedido, segue o Manifesto da Oposição. Deu que falar pelo país inteiro, alarmado com a liberdade da sua publicação em todos os jornais diários. O que não quer dizer que não tivesse havido prisões, originadas pela simulada liberdade de imprensa (…). Ao tomarmos conhecimento do seu conteúdo fica-se de boca aberta, apalermado. Como foi possível ter passado à célebre censura portuguesa? Mas a verdade é que passou. Mais para fazerem crer ao nosso povo que goza de completa liberdade e que o governo actual, pacífico e sempre atento às necessidades e aspirações desse mesmo povo, o escuta para depois decidir se deve atendê-lo. 
São eleições livres, como apregoam à boca cheia … e a publicação deste Manifesto não foi mais do que uma armadilha atirada ao povo. Pretexto para justificarem essa afirmação de liberdade, verídica quanto a eles, asquerosamente vergonhosa e mentirosa quanto a nós. 
Alguns dos candidatos pelo círculo de Braga (…) já lhes caíram nas garras e pagam essa liberdade nas masmorras de Caxias. Foram os únicos que levaram por diante, até onde lhes foi permitido e possível, as suas manifestações. Conservaram-se em acção, firmes nos seus propósitos até à última hora. Por fim, sem auxílio dos outros círculos que foram ficando pelo caminho, a única alternativa que lhes restava era também desistir. (…). 
E cá continuamos na mesma, senão pior ainda. A situação que se respira na metrópole é bastante difícil. (…). O descontentamento é geral. (… … …). 
Agora, ponto final nestes assuntos e vamos falar de nós. 

(…), fiquei imensamente satisfeita com a tua última carta, a que escreveste aí em 17 do corrente. Uma tranquilidade tão grande, confiança, alegria quase invulgar para os que se encontram em tais situações. Até o trabalho me corre melhor, (…). 
(… … …). 
Agora, meu amorzito, pelas tuas indicações sobre a tua situação (…), “controlo” mais acertadamente as tuas actividades. Sei que enquanto estou na minha repartição, tu tens umas horas de folguedo, de liberdade. Enquanto durmo, tu te debates, tu estás jogando a tua vida. E como todos, esse jogo é incerto. Tanto se pode ganhar como perder. (…) nós cremos que a sorte nos favorecerá e o prémio desse jogo será a tua sobrevivência, a tua saída, ileso, desse inferno. (… … …). 

Os jornais e revistas que me pedes e outras que tenho, enviar-tos-ei logo que possível. Já tinha pensado nisso. Só o que me não ocorreu é que poderia recortar os assuntos que te pudessem interessar e mandá-los por carta. Como tenciono, agora, mandar-te uma encomenda em caixote, aproveito para te mandar algumas revistas e jornais. 
(… ……). 
Recebe os mais ternos e carinhosos beijos e abraços da tua N.


Na imagem supra: 
“Manifesto à Nação" > cabeçalho de um doc. político extenso (mais de 5000 palavras), publicado no “Diário de Lisboa” de 15 de outubro de 1965.
Fonte: Fundação Mário Soares > Imprensa diária > Fundo DRR-Documentos Ruella Ramos.

Na imagem abaixo:
“Manifesto à Nação” > Excerto deste doc. onde se fala da política ultramarina então seguida pelo governo português.


[Dizem ainda os signatários deste “Manifesto à Nação” que na campanha eleitoral para as eleições legislativas teriam de aludir ao “Caso do Relatório da ONU contra Portugal”. E sobre este assunto declaram:]

"O país tomou conhecimento através de uma nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros - que diga-se de passagem ilustra bem os métodos habituais do regime para quem a opinião pública interna não conta – da existência de um relatório elaborado pelo Secretariado da ONU a pedido do Comité de Descolonização, e no qual ao que se diz, além de se citarem “tendenciosamente textos oficiais”, de “erros de facto” e de “insinuações”, se fazia “pela primeira vez” um comentário analítico de modificações na composição do governo português. 
Através da nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros não se fica a conhecer mais do que brevíssimos tópicos do Relatório da ONU e da resposta do governo português. No entanto, há um facto inacreditável que avulta sem contestação: é que o governo português exige, em nome da justiça, uma ampla divulgação do seu documento igual à que obtivera, ao que parece, o texto das Nações Unidas. Está certo: deseja-se que o mundo possa conhecer e aquilatar das razões do Governo mas, paradoxalmente, nega-se, do mesmo passo, esse direito ao Povo Português – que pareceria dever ser o primeiro dos interessados em conhecer e meditar os documentos em presença! 
Quer dizer: a uma avidez de publicidade no exterior corresponde uma cruel e desprestigiante negação da mesma publicidade no plano interno. Com a diferença: é que, segundo os jornais portugueses depois informaram, a ONU corrigiu o erro publicando a defesa do Governo enquanto o nosso Povo continua na ignorância - sem saber em que consistiu o ataque que nos foi feito e, bem assim, as razões de defesa invocadas”.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11732: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (16): Aerogramas e insuficiência das mensagens

7 comentários:

Tony Borie disse...

Olá Manuel Joaquim.
As tuas cartas de amor e guerra, começam a ser o que eu sempre pensei que seriam, algumas verdades da guerra que vivemos, pois tirando essa parte de um amor lindíssimo, de outros tempos, começa a entrar, entre outras coisas, a apresentação de documentos importantes, como cópias de manifestos, de um governo absoleto e mentiroso, que me matou uma filha, dava liberdade e poder de acção aos seus "capangas", me arrancou da minha aldeia, me colocou uma farda amarela, da cor do desespero, e umas botas pretas, da cor dos defuntos, nos pés, me embarcou no porão dum barco de carga, (Ana Mafalda), e me fez passar dois anos de medo e angústia, em defesa da mãe Pátria, que sempre me escorraçou, pois não era minha mãe verdadeira, que se prolongaram com a minha chegada à Europa, e terminaram com a minha fuga para a emigração.
Alguém disse uma vez, "Não importa o que o teu País te faz, o importante é o que tu fazes pelo teu País", sim, eu dei o meu melhor pelo meu país, talvez de uma maneira não muito própria, mas eu não sabia mais, fiz aquilo para que fui treinado. Continuo a adorar e a sonhar com Portugal, mas só o Portugal terreno, o das pessoas, do povo, do sol, da minha aldeia, daquele cantinho quase rodeado de mar e quase no fim da Europa.
Um bem hajas Manuel, e por favor continua.
Tony Borie.
Olha, se tiveres um minuto, dá uma vista de olhos no meu pequenino blogue,

http://tonisaborie.wordpress.com

pois lá vou colocando bocados da juventude, e de pessoas portuguesas, que tiveram que emigrar, pois a mãe Pátria, às vezes não era mãe!

Um abraço.

Rogerio Cardoso disse...

Caro amigo Manuel Joaquim
Gostei de lêr esta tua carta, era de facto o que eu sentia e contava para a minha mulher, que ficou grávida, quando eu embarquei em Março de 64, claro que tinha de ter mais cuidado na redação, pois tinha que esconder algumas cenas reais. Como já trocámos umas palavras quanto á nossa permanência em Bissorã, chegá-mos á conclusão que ainda estivemos uns dias juntos, pois eu fui ferido a 27 de Outubro de 65, e tu foste nessa operação como tropa maçarica, pois tinham chegado havia pouco tempo. As fotos recordam-me momentos bons, como a casa do Maximiano e da sua esposa, a D.Maria, que era uma santa de senhora. Um abraço e continua com essas cartas fantásticas, que nos fazem recordar as nossas. Agora uma confidência, a minha mulher guardou toda a coorrespondência, que está bem guardada, assim como a dos meus pais, que entretanto já partiram. Rogerio Cardoso, Cart-643-AGUIAS NEGRAS

Bispo1419 disse...

É verdade, meu caro Rogério, dois dias após a chegada a Bissorã, foi a "minha" tropa experimentar a guerra, devidamente apoiada pelos "velhinhos" da 643, contigo incluído.
Como me não devia lembrar? Foi a 1ª vez que senti a guerra mesmo a sério, que me senti em verdadeiro perigo. E no rescaldo do combate lá partiste tu para Bissau, evacuado, com ferimentos graves numa perna. Nem tivemos tempo de nos conhecermos pessoalmente.
Lembro-me de, ao chegar a Bissorã e ao saber que o ferido evacuado tinha sido o furriel mec.-auto da 643, o qual se tinha oferecido para a acção, ter pensado qualquer coisa do género: " mas que sortudo, este ganda maluco!"
(Relembro aos leitores que o Rogério sofreu o impacto de uma granada de RPG (?)que, fazendo ricochete numa árvore o foi atingir numa coxa, sem explodir!)
Um abraço, "águia negra"!

Manuel Joaquim

Anónimo disse...

Caríssimo Manuel Joaquim. Penso que arriscaste muito em andar a ler esse material explosiva que pediste à tua actual esposa. Na época era tabu.
Descobri que afinal nos devemos ter cruzado em Bissorã,(eu, tu e o Rogério) onde estive uma semana, prái em fins de Setembro ou inicios de Outº de 1965. Lembro-me perfeitamente dos "Águias Negras" de Mansabá, que foram os últimos com farda amarela. Ainda hoje e anualmente encontro um amigo (numa reunião anual de Ex-Combatentes na Guiné do concelho de Ponte de Sôr) o Manel de Mora e recordamos esses saudosos tempos.
Um abraço do
Veríssimo Ferreira
CCAÇ 1422

JD disse...

Viva Manuel Joaquim!
Eu era rapaz imberbe por essa altura. Mas, mais tarde, no meu tempo, ainda era tabú abordar questões políticas. Havia desinteresse e desconfiança.
Conheci em Canquelifá um alferes cuja correspondência era violada pela "extinta". Pelo que me lembro, ele, como o pai, mantinham alguma curiosidade por sistemas alternativos de governo. Era pecado!
Ainda assim, como registo de contradições, eu assinava o C.F. que me chegou sempre, onde militavam os perigosos trotskistas Cardia e Barreto, entre outros.
Espingardava-se muito naquele jornal côr-de-rosa.
Um abraço
JD

Luís Graça disse...

Manuel Joaquim:

1. Aqui tens uma entrada do CEPP/ISCSP, para enquadrar melhorar o teu perigoso "recorte de imprensa", chegado pelo correio da tua amada...

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Eleições de 1965 (7 Novembro)


Novas eleições para deputados ocorreram em 7 de Novembro de 1965, pouco depois de Américo Tomás ter sido eleito presidente num colégio eleitoral (25 de Julho) e já depois de ter sido assassinado o general Humberto Delgado (13 de Fevereiro).

Surgem candidaturas da oposição em Lisboa, Porto, Leiria, Viseu e Braga. Em Lisboa, 67,7% a favor da União Nacional. No Porto, 64%.

Manifesto da oposição democrática defende autodeterminação do Ultramar (14 de Outubro). GAPs lançam bomba contra instalações da polícia (Novembro). O governo tinha sido remodelado em 19 de Març o, surgindo, como novos ministros, Silva Cunha, no Ultramar; Corrêa de Oliveira, na economia, e Mota Veiga, como Ministro de Estado.

A nova oposição

Mas, na oposição já não predominavam os antigos republicanos, esses que tinham levado o país a participar na Grande Guerra de 1914-1918 para a defesa do Império Ultramarino e que se tinham revoltado contra Salazar por causa do Acto Colonial de 1930 ter destruído o conceito de nação una. Em Outubro de 1964 tinha sido criada a Acção Socialista Portuguesa liderada por Mário Soares e próxima da Internacional Socialista. Assim, em 15 de Outubro de 1965, a oposição, num manifesto, já defendeu a auto-determinação das então províncias ultramarinas, contra os anteriores programas de Norton de Matos, defensor da nação una, e de Cunha Leal, o feroz crítico do Acto Colonial do salazarismo.

http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/eleicoes_portuguesas/1965.htm
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2. Eu, nessa altura, já tinha 18 anos e fiz a minha estreia numa atividade cívica...Aproveitando a semiabertura política (, tolerada em período eleitoral), eu e um grupo muito restrito e semiclandestino de lourinhanenses, com o saudoso Joaquim Catanho de Menezes (1926-1985) à frente, estivemos envolvidos na campanha eleitoral, a favor dos candidatos da chamada "oposição democrática" do distrito de Lisboa... Recordo-me bem desse "manifesto eleitoral" que foi uma bomba!... Passa a haver um novo chavão, no nosso vocabulário, "autodeterminação" que ninguém sabia muito bem o que queria dizer e sobretudo como se poderia aplicar nas terras distantes do império... em guerra.

As listas da oposição acabaram por ser retiradas, face ao clima altamente intimidatório (e depois repressivo) que se criou. A União Nacional lá elegeu os seus 120 deputados da Nação... E eu, em meados de 1968, quase três anos depois, lá vou com a trouxa às costas, para o RI 5, Caldas da Rainha, aprender a ser soldado... Um ano depois, a 24 de maio de 1969, lá estou a caminho da Guiné, no T/T Niassa...

Rogerio Cardoso disse...

Caro Manuel Joaquim
A granada que me atingiu, era chamada PANCEROVKA P-27 HEAT 120 M/M,de fabrico Checo, o maior calibre de uma granada foguete. A granada não bateu em arvore , foi directamente a mim, porque eu vi ser lançada a uma distância relativamente perto. Houve uma sim que explodiu e feriu um camarada, salvo erro um estilhaço levou-lhe uma vista, mas não tenho a certeza depois destes anos passados. De qualquer modo fui um sortudo, e era um ganda maluco como dizes, estava sempre a sair, tinha-mos um grupo que eram os LORDES, que dáva-mos água pela barba ao PAIGC, daí o meu entusiasmo e do resto da rapaziada.
Um abraço, e temos de combinar um encontro para nos conheçer-mos melhor. Olha quem fala muito em ti, é um moço da minha criação, embora um pouco mais novo, que foi teu camarada na comp. é o Bastos, que nós por cá lhe damos o nome de Horta.
Rogerio Cardoso