terça-feira, 25 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revolta de um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de Abbaro Candé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações de Demburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)

1. Excerto de mensagem de Cherno Baldé, com data de 16 do corrente:

(...) Juntamente envio dois textos e algumas imagens de Bissau, para publicação no blogue da TG, se assim o entenderem. 

O primeiro texto, sobre os acontecimentos de Cuntima, em Novembro de 1976, é uma promessa antiga mas que só agora foi possível concretizar, o segundo é um 'fait divers' popularizado na época colonial e o resto são imagens sobre a actualidade da cidade de Bissau. (...)

Entretanto, a 21, o Cherno envia-nos outra mensagem, nestes termos:

Junto envio a versão final do texto sobre os acontecimentos de Cuntima, Nov 1976. A última que enviei não contem as alterações do texto que de resto não são significativas.

Um abraço amigo e aceitem os meus agradecimentos pela publicação do meu aniversário [, em 20 de junho,]  que, no fundo, mesmo se não é exacto, sempre nos comove a simpatia vinda de terceiros.


Li o texto sobre os acontecimentos de Cuntima (referentes a novembro de 1976), e fiquei sem fôlego. É mais um caso da violência de Estado, praticada por homens do PAIGC, e mais concretamente por um dos heróis do PAIGC, Quemo Mané, comandante das FARP, dois anos depois da "transferência" de soberania das mãos da antiga potência colonizadora para os novos senhores de Bissau.

No Arquivo Amílcar Cabral, no sítio Casa Comum, projeto desenvolvido pela Fundação Mário Soares,  há uma foto de Quemo Mané, disponível aqui, para além de outros documentos com referência a ele  É uma foto expressiva (e só não a  reproduzo diretamente, porque  tenho de pedir autorização para o fazer). Quemo Mané  tinha fama se ser um homem temperamental e violento. É um histórico da guerrilha: ele e Arafan Mané, são considerados os que "dispararam os primeiros tiros contra um quartel do exército colonial", em 1963, na região de Quínara.

O texto de denúncia,  escrito e enviado pelo Cherno Baldé (e há  muito prometido!), preocupou-me: por um lado, é inegável o seu interesse para o nosso blogue, e para a nossa memória comum, dos portugueses e dos guineenses que fizeram a guerra colonial; por outro, o Cherno Baldé vive em Bissau, tem mulher e quatro filhos e eu não tenho a certeza de que ele fica seguro, dando a cara... Foram estas minhas apreensões que  lhe transmiti, logo no dia 19:

(...)  É impressionante o teu relato dos trágicos acontecimentos de Cuntima, em novembro de 1976. Diz-me se o comandante do PAIGC ainda está vivo, bem como outros intervenientes que identificas E se podemos publicar o poste, em teu nome, na tua série, com toda a segurança... Presumo que tenhas as várias versões dos acontecimentos, de um lado e do outro... Onde estavas nessa época ? Em Bafatá ?...

Ainda há tempo alguém de Contuboel, que fez tropa no nosso lado,  me contou coisas (horríveis) do tempo, pós independência, em Bambadinca: ele assistiu, por exemplo, ao julgamento popular e à execução de um cipaio do meu tempo... Falou-me também da morte horrorosa e indigna de um régulo da região (...) . É importante falar deste período negro da história da Guiné-Bissau, com depoimento sérios, autênticos, honestos como o teu... Vejo que os fulas estão a perder o medo de falar. Ainda é preciso muita coragem.... Tenho grande admiração por ti e por todas vítimas do terror e da violência de Estado (...)


Ao que ele me respondeu, da seguinte maneira, corajosa e desassombrada:

(...) O Quemo Mané já não se encontra entre os vivos, pois de outro modo teríamos ouvido falar dele no decurso dos acontecimentos que sacudiram a Guine ultimamente. Comparados com o Quemo Mané, o terror da guerrilha, todas as figuras que protagonizaram acontecimentos militares na Guiné, depois de Nino Vieira -  os Ansumanes, os Tagmes, os Verissimos, os Zamoras e Antónios - são figuras de segundo ou terceiro plano, no contexto da guerra de libertação.

Mas é claro que sempre haverá riscos porque o partido existe sempre, os amigos e companheiros, a família, etc.,  o que não deve constituir motivo suficiente para impedir a publicação de acontecimentos que foram públicos e do conhecimento geral da população. Exceptuando o Quemo, no texto não aparecem nomes reais, e no texto que te envio agora, acrescentei um parágrafo nas notas finais, onde aparecem os nomes dos protagonistas. Procedam conforme acharem melhor, por mim tanto faz, eu já vivi o suficiente para não continuar fechado no medo de possíveis represálias. As versões podem variar mas o acontecimento é factual e como tal é relevante.

Acontece que o trabalho de escrever e publicar está sempre acompanhado de riscos de erros e de interpretação. Depois da publicação do poste sobre o Capitão Carvalho,  recebi uma mensagem no facebook de uma ex-esposa que, ao mesmo tempo, queria encorajar-me e refutar factos que eu vi com os meus olhos, mesmo se era criança. Afinal o homem ainda está bem vivo e em Portugal.


Um abraço amigo, 
Cherno Baldé. (...)

A minha resposta só poderia ser esta:

Grande Cherno, mereces todo o nosso apoio, apreço e solidariedade. O nosso blogue é muito conhecido e considerado. 
Um abração, amigo e irmão. 
Luís.

Estamos então em condições de publicar hoje, num único poste, o notável e inédito documento que ele nos pede para publicar no nosso blogue (que também é dele, e de todos os guineenses, homens e mulheres de boa vontade, que querem construir connosco as pontes do futuro sem destruir os vestígios dos bons e dos maus momentos do nosso passado comum).  Embora extenso, é importante que se publique na íntegra, num só poste, para manter a unidade de leitura. Naturalmente, estamos abertos à publicação de outros testemunhos, de outras fontes, que contestem, ou corrijam, ou complementem, ou melhorem esta versão que contem as recordações de Demburri Seidi quando jovem, em Cuntima, novembro de 1976.



Guiné > Colina do Norte >  Mapa 1/50 mil (1956) > Posição relativa de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal.

Info: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


2. Cuntima, Novembro de 1976 > A revolta das milícias

Texto © Cherno Baldé (2013)

Introdução

A tradição africana diz que um lobo sem dentes, na floresta, é um lobo morto. Tudo o que acontece na vida tem as suas causas e consequências porque a ponta inicial de um fio leva, necessariamente, à sua ponta final. Se o caminho recto leva o viajante esclarecido ao objetivo almejado, os erros e a perfídia de uns podem conduzir a perdição inglória d’outros.

No prefácio do seu livro sobre Gêngis Khan e a invasão Mongol do séc. XIII, o romancista soviético V. G. Yan diz que “a obrigação moral de um cidadão que testemunhou acontecimentos extraordinários é de os transmitir e revelar aos demais cidadãos de forma escrita ou então se não está instruído na arte de registar palavras épicas num papel com a ponta deslizante de uma pena, então que transmita as suas recordações a quem o possa fazer, para que sejam impressas em superfícies consistentes à intenção das gerações vindouras. E quem não procede assim é semelhante ao homem avarento que colocou toda a sua riqueza num alforge e a enterrou num lugar desértico, quando as mãos frias da morte já estavam a acariciar-lhe a face”.

Ultrapassado o período de medo, de dúvidas e de incerteza quanto a pertinência de o fazer, é este o sentimento que nos anima ao tentarmos transmitir os acontecimentos de Cuntima, na certeza de que os caros leitores compreenderão as nossas limitações pessoais e humanas para revelar em toda a sua dimensão esta tragédia humana, mesmo se, no contexto global, não representa um caso de excepcional grandeza.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Cuntima > Aspeto geral da povoação ao tempo da CART 3331 (1970/72). Na sua maioria a população era de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga. Foto do álbum do ex-1º cabo Vitor Silva.

Foto: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Contextualização

Em finais de 1976, a Guiné-Bissau, por um lado, ainda está a saborear os festejos do 2º aniversário da sua independência, conquistada a ferro e fogo pelo PAIGC, na sequência de uma guerra sangrenta que parecia não ter fim (1), com graves consequências humanas e sócio-económicas dos dois lados da barricada. 

Mas, por outro lado, ainda não se recompôs do choque psicológico causado pela mudança abrupta da situação que conduziu o país de uma guerra brutal e sem quartel, para uma paz podre e sem garantias de protecção das partes saídas de um confronto fatricída, pese embora a existência de um acordo de paz fictício que, se serviu para salvar a face, a honra e a dignidade de Portugal, como país colonizador, trará tudo menos a desejada paz entre os Guineenses.

No nordeste, em chão fula, ainda o espírito das populações procurava compreender e medir a dimensão real do drama ligado aos últimos acontecimentos e da reviravolta da situação onde, de repente, os antigos turras assumiam, para certas pessoas, a insuportável figura de heróis nacionais, de grandes patriotas e de combatentes de liberdade da pátria, reclamando para si o mais que discutível estatuto de melhores filhos da nação e, por essa via, privar aos outros os mais elementares direitos de liberdade, de justiça e de cidadania.

Neste panorama ainda incerto de mudanças e de inversão de valores, os antigos soldados nativos do exército colonial em geral e as ex-milícias em particular faziam figura de infortunados. Desarmados pelos seus antigos patrões, privados dos seus direitos, feridos no seu orgulho de homens e de combatentes e sem os meios de sustento a que estavam habituados, pareciam náufragos espalhados na vastidão do oceano das suas (des)ilusões. Perseguidos e desorientados, uma boa parte tinha sido obrigada a refugiar-se no Senegal, na região fronteiriça do Casamança, de onde muitos seriam presos e recambiados de novo para a Guiné no quadro de um acordo que permitia, ao vizinho do norte, liderado pelo pragmático presidente L. S. Senghor, grande poeta e humanista, participar na disputadíssima predação dos recursos haliêuticos nacionais.

Para o partido vencedor, que tivera o tempo necessário para pensar e delinear a sua linha de acção, o objectivo a atingir estava bem definido: Marcar posição, assentar alicerces, alargar e consolidar as estruturas do novo poder saído da luta. E era importante fazê-lo, sobretudo, nas zonas onde as populações não tinham aderido à luta, através de medidas de choque para marcar os espírítos e, desta forma, evitar o surgimento de contestações organizadas. 

O relato que se segue,  faz parte desta estratégia de terror e de intimidação deliberada a populações indefesas e executada com mestria e sangue frio, bem à maneira da guerrilha que assumiu o poder na Guiné em 1974, com o beneplácito do exército português. Muitos dirão que não, cada um suas razões, cada um seus argumentos.

Em Cuntima, pequeno aglomerado fronteiriço que tinha sobrevivido à guerra de fronteiras de 1973, nada fazia prever que nos dias seguintes seria o palco de acontecimentos que iriam marcar o período pós-colonial e perturbar a pacata vida da aldeia e suas gentes. A região vivia a despedida da época das chuvas e nas áreas alagadas de cultura de arroz, as premissas de uma boa colheita que se avizinhava já se faziam sentir pelo cheiro aromático do arroz novo e pela cor amarelada dos campos a perder de vista nas extensas planícies de terras baixas, rodeadas de verdes cinturas de palmeiras dendém. Com o fim da guerra as aldeias tinham sido repovoadas, todas as bolanhas tinham sido recuperadas e parecia não haver limites para criar a prosperidade tão almejada e recuperar o tempo perdido. Mas, nem todos pensavam assim, helás!

Dia 14 de Novembro - o ataque ao quartel

Ódio, coragem e perfídia

Na noite do dia 14 de Novembro de 1976, um grupo constituido maioritariamente por ex-milicias, cegos de raiva e de ódio, mas muito mal equipados, cujo material bélico se resumia em catanas de uso doméstico, facas de mato e algumas granadas, apostando no efeito surpresa, decide atacar e neutralizar o destacamento militar do PAIGC colocado em Cuntima.

Ao entrarem na aldeia, uma parte dirige-se para a casa de Sissão Seidi, uma decisão que será fatal a este pacífico aldeão que era colega de alguns dos elementos do grupo. Põem-no ao corrente das suas intenções, isto é,  atacar e neutralizar os homens do PAIGC e, de seguida, com as armas que iriam recuperar, liquidar todos os que, na aldeia e seus arredores, colaboravam com o partido.

Quando o grupo deixa a casa para dirigir-se ao seu alvo, o Sissão vai a casa do Comité da tabanca e, em segredo, conta-lhe tudo o que tinha ouvido dos assaltantes. O Comité apercebe-se de toda a gravidade da situação e sabe que não pode perder tempo, rapidamente, decide passar para o outro lado da fronteira, situada mesmo ao lado, levando consigo a sua família, mas antes de partir informa o incrédulo Sissão de que só voltaria em caso de derrota dos assaltantes.

O grupo aproximou-se em silêncio, encoberto pela escuridão da noite, consegue eliminar a sentinela e penetrar no interior do quartel, apanhando de surpresa os seus ocupantes. Os guerrilheiros do PAIGC reagem bem à investida, refeitos da surpresa inicial e melhor armados, obrigam os assaltantes a bater em retirada de uma forma dispersa e desorganizada. De acordo com a testemunha, o ataque teria durado cerca de 3 horas o que, manifestamente, parece exagerado, tendo em conta a disparidade das forças em presença.

O dia começa a amanhecer e os primeiros raios de sol começam a pintar de amarelo o horizonte claro do fim da época chuvosa. E, nas horas que se seguiram à retirada, alguns elementos do grupo assaltante entram, de novo, na morança de um antigo colega, também ex-militar, impelidos talvez pelo desejo de implicar o maior número de pessoas e convencem-no, desavergonhadamente, que já tinham feito o essencial do serviço, mas que, sem munições suficientes, não conseguiram limpar todos, pelo que, se ele tivesse uma catana bem afiada e um pouco de coragem,  podia ir dar o golpe de misericórdia aos feridos que estavam amontoados no quartel. Sem pensar duas vezes e empurrado pelo ódio que nutria pelos novos senhores, o homem não hesitou e com uma catana nas mãos correu para o local indicado, sem saber que se tratava de uma armadilha para o perder.

Quando chega ao quartel, encontra os guerrilheiros a porta da entrada, armados até aos dentes. O que fazer? Recuar? Tarde demais, ele precisa pensar rapidamente numa saida. Com as akas [, Kalashnikov,] apontadas, perguntam-lhe o que procurava ali aquela hora. O homem responde que vinha a procura de ajuda para socorrer um filho que tinha sido mordido por um cão vadio. Parece uma saída razoável, mas não será. Os guerrilheiros estão apressados, pedem a sua identificação e informam-lhe que no momento não tinham tempo para o ajudar, mas que voltasse mais tarde, juntamente com o seu filho.

No rescaldo do ataque das milicias

Medo e horror em Cuntima

Na manhã do dia 15 de Novembro, os guerrilheiros mandam convocar o Comité da Tabanca para o por ao corrente do que sucedera durante a madrugada. O enviado encontra a morança vazia de gente. Mas, na tarde do mesmo dia, informado sobre o falhanço do ataque e a debandada das milícias, conforme prometera, o Comité regressa com a sua família a Cuntima. O Comandante do destacamento dá-lhe ordem de prisão imediata, por comportamento suspeito. Inquirido sobre as razões que tinham motivado a sua fuga precipitada na noite anterior, confessa que tinha sido informado pelo seu vizinho, Sissão Seidi, mas que, lamentavelmente, não pudera prevenir as autoridades porque os assaltantes eram numerosos e bem armados. Disse ainda que fora obrigado a fugir devido a ameaça de morte que pendia sobre a sua cabeça e que regressara após a confirmação de que o perigo tinha sido afastado. Ordenaram-lhe para os conduzir a casa do tal Sissão Seidi, onde os dois seriam presos e amarrados à moda do PAIGC, isto é,  mãos para trás e o peito bombeado à frente, estilo peito de pomba.

Na manhã do dia 16 de Novembro chegou em Cuntima o responsável militar da zona norte, o famigerado Comandante Quemo Mané, que assume a direcção das operações e manda convocar toda a população de Cuntima e seus arredores. Querem o máximo de gente e para se certificar que todos estavam presentes, guerrilheiros armados passam revista em todas as casas e sitios passíveis de albergar um ser vivo, querem todos, mulheres, velhos e crianças.

Os dois prisioneiros são colocados no meio da assembleia reunida. O Homem de cabelos grisalhos, toda a gente o conhecia, era o Comité da tabanca, espécie de cipaio reformulado na nova nomenclatura, colaborador activo da ordem instituida, mesmo sendo de etnia fula, ele estava ciente de que a sua prisão não preocupava ninguém para além do círculo restrito da sua familia, mas o caso do Sissão incomodava os espiritos dos pacatos camponeses de Cuntima. 

Que diabo o teria arrastado para as malhas do partido, ele que sempre fora um camponês simples, honesto e trabalhador, distante das lides políticas e das intrigas que esta engendra nos homens mais ambiciosos. Não servira na tropa colonial apesar dos benesses, do ronco e da fama que o estatuto augurava no meio social fula. Toda a sua família estava presente, a mãe, duas esposas, os filhos e o irmão mais velho. Com voz trémula, explicou tintim por tintim como os assaltantes o tinham acordado durante a noite, os seus intentos e as ameaças proferidas. O Comité da aldeia também repetiu a sua versão e as palavras trocadas com Sissão naquela fatídica noite,  bem como os motivos que o impediram de alertar os homens do destacamento.

Não foi preciso ouvir mais e, se calhar nem era preciso, o Comandante levantou-se e, com a frieza de quem estava habituado a tomar decisões graves, disse que,  pelos comprovados actos de rebeldia e traição à Pátria, os dois homens deviam ser fuzilados e imediatamente.

Ao ouvir as palavras “pá mata!” da boca do Chefe militar, a assistência ficou literalmente congelada. A rapidez e a dureza da decisão tinham surpreendido tudo e todos, mas quem conhecia o Comandante Quemo Mané durante a luta, sabia que com ele tudo era simples, rápido e demolidor como o turbilhão de vento em dia de tornado tropical. A semelhança da grande maioria dos Comandantes do PAIGC, apesar de rotundo analfabeto (2), subira na hierarquia militar por mérito próprio, distinguindo-se pela sua coragem, brutalidade e violência extremas, uma inteligência fora do comum e pelos sucessos acumulados nas operações que dirigia.

Deram ordens para que todos fossem presenciar o acto no centro da aldeia, mas antes de os levarem, um grupo de homens do partido dirige-se ao local onde estava o Comandante a fim de interceder a favor do Comité da aldeia, provavelmente, pela lealdade e serviços prestados no passado. Assim, no local da execução da sentença, só compareceu o assustado Sissão, diante de uma dupla de homens armados com metralhadoras de fitas metálicas, contendo perto de uma centena de balas. O caso não era para menos.

Tudo estava a postos, os dois guerrilheiros com as armas apontadas, o Sissão à frente,  com as mãos amarradas e olhos fixos nos seus carrascos, a população em pé, envolta em silêncio e no céu o Deus dos homens a registar mais uma crueldade humana. O Comandante da zona que ficara retido pelos colegas do partido para deliberar sobre a sorte do Comité, ao entrar no recinto, grita para os dois executantes:
- O que estão a espera, acabem com eleǃ

Os tiros sucedem-se ensurdecedores, o corpo de Sissão é projectado para trás com o impacto das balas das metralhadoras que continuaram a cuspir fogo até transformar o corpo num autêntico manto de retalhos. A poeira e o cheiro acre da pólvora invadiram o recinto. De seguida, um dos guerrilheiros pega no corpo inerte do defunto Sissão, tendo-o arrastado até ao pé da família, diz a estes:
- Aqui está o corpo do vosso cão, agora podem levá-lo, se quiserem!

Da multidão, ninguém proferiu uma única palavra, ninguém teve a coragem de sussurar a mais pequena lamentação, os guerrilheiros atentos ao menor gesto de indignação. Perguntaram se havia alguém que estivesse descontente com o que acabara de assistir. Como ninguém respondia, foram autorizados a dispersar-se no preciso momento em que se ouviam os gritos de desespero vindos da concessão de Sissão Seidi, cujos familiares a muito custo tinham conseguido conter a dor pela perda do seu ente querido.

Na tarde do mesmo dia, o Comissário Político da zona convocou todas as mulheres cujos maridos estavam ausentes, refugiados algures no Senegal, e que, eventualmente, podiam ter feito parte do grupo assaltante e intimou-os a deixar Cuntima para se juntarem aos seus maridos, pois que não tolerariam mais a presença de pessoas que viviam na aldeia, mas, ao mesmo tempo, passavam informações para fora. Mais que intimação,  era uma ordem que ninguém podia ignorar. As mulheres partiram levando consigo os filhos para um destino incerto.

Na manhã do dia 17 de Novembro, foram buscar o homem da catana para as averiguações que se impunham. O homem foi amarrado ao estilo peito de pomba e a população foi novamente convocada para mais um julgamento público. Perguntaram-lhe porque não voltara com o filho conforme tinham combinado, o homem confessou que na verdade ele tinha sido enganado pelos assaltantes e que a sua verdadeira intenção era liguidar os homens do PAIGC aos quais ele odiava com todas as suas forças e que,  mesmo depois de morto,  continuaria a odiar. De certa forma, a coragem deste homem desesperado tinha compensado a humilhação pública da população de Cuntima.

Levaram o homem ao mesmo sitio do dia anterior, a cabeça e o rosto encapuchados com um chapéu (sumbia) e para o executar, estavam novamente os homens das metralhadoras. O homem pediu para ver o seu filho mais novo. Retiraram-lhe o chapéu que cobria o seu rosto e,  durante alguns segundos,  olhou para o filho, depois pediu para que o cobrissem de novo e em voz alta, para que todos pudessem ouvir, disse que estava pronto para morrer. 

Acto continuo, o comandante deu ordens de fogo e a cena repetiu-se de novo. Como ninguém reagia e olhando para a multidão silenciosa, o Comandante aproveitou para informar a população aterrorizada de Cuntima que para ele e para o seu glorioso partido não custava nada e não constituía qualquer problema riscar a aldeia e a sua população rebelde do mapa da Guiné-Bissau. Com esta mensagem curta e clara,  tinham dado por encerrado o capitulo da revolta das milícias em Cuntima, mostrando assim a determinação do partido em impor a sua ordem.

A operação de procura dos assaltantes continuou nos dias que se seguiram. Durante as buscas, encontraram um dos assaltantes, gravemente ferido, a quem entregaram aos pais e que viria a sucumbir, poucas horas depois, dos seus ferimentos e, provavelmente, por falta de assistência mêdica. Como dizem os árabes, quem não consegue defender, com as armas, o seu ponto d’água, perdê-lo-á; quem não ataca o inimigo com todas as suas forças, sofrerá a humilhação da derrota com todas as suas amargas consequências.

Actos desesperados e suicídas,  como este, tiveram lugar em outros lugares do território, no período que se seguiu à proclamação da independência, sobretudo junto à linha da fronteira com o Senegal. Actos isolados e mal preparados que estavam condenados ao fracasso e cuja autoria, sistematicamente e sem uma explicação plausível, era atribuída à FLING, fazendo reviver velhos fantasmas do passado, aumentar o grau de crispação das novas autoridades e, em consequência, multiplicar a violência de represálias cegas, perseguições arbitrárias e execuções sumárias que marcaram a vida desta jovem nação que, para muitos, constituía um modelo exemplar de uma luta popular bem sucedida, contra o colonialismo em África e no mundo.

Bissau, 12 de Junho de 2013

Recordações de Demburri Seidi (3), tradução e texto de Cherno Baldé.
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Notas de C.B.:

(1) Na minha infância, povoada pelo espectro da guerra e das fugas constantes de um lado para o outro, quantas vezes não perguntara, a mim mesmo, se a minha vida estaria condenada a ser vivida assim no meio de uma guerra sem fim. Pela experiência dos mais velhos, sabiamos que no passado nem sempre tinha sido assim e sofriamos a bem sofrer,  com a guerra que nos minava a vida pelo medo de morrer em cada minuto, vivendo no improviso e na incerteza do momento, em abrigos imundos, quentes e húmdos, onde todos os ruídos eram ampliados ao máximo, rastreados e identificados a tempo, não fossem silvos de uma granada de obus a caminho ou de uma bala perdida na noite escura.

Para afugentar uma aldeia inteira, qual manada de bovinos na planície, bastava ouvir gritar na noite: “Aí estão eles!”. Não era preciso perguntar, toda a gente sabia quem eram “eles”. Uma vez, um dos meus tios ouviu o grito durante a noite e fugiu nu, como tinha nascido, e foi a mulher que lhe cobriu as vergonhas, no caminho, com o seu pano de cima.

(2) A propósito conta-se uma pitoresca estória sobre o Comandante, que aconteceu no período pós-independência. No término de uma aula rotineira, um Professor dá aos seus alunos um TPC (trabalho para casa) em que pede para citar exemplos de alguns animais voadores. Em casa, o filho pediu o apoio do Comandante, seu pai, para a conclusão do mesmo.
─ Isto é muito fácil ─ diz o pai ─ ponha os nomes de peixe e lagarto.

Na escola, durante a correção dos trabalhos o Professor pergunta ao seu aluno:
─ Quem te ajudou a fazer o trabalho?
─ O meu pai ─   responde o aluno, com uma ponta de orgulho.
─ O teu pai é um burro ao quadrado ─ diz o Prof.

A criança não diz nada e em casa conta tudo ao pai. No dia seguinte, o Comandante vai a escola armado com uma pistola e pergunta ao Professor:
─ O peixe voa ou não voa?
─ Voa ─ responde o Professor ─ mas debaixo d’água.

O Comandante pergunta de novo:
─ O lagarto voa ou não voa?
 ─ Voa ─ responde o pobre professor, com a voz a tremer ─ mas debaixo d’água.
─ Afinal quem é o burro ao quadrado? O burro ao quadrado é o professor que não sabe o que diz e a quem o diz ─ responde este.

Devagarinho, o Comandante coloca a pistola na cintura das calças e diz ao professor:
─ Agora continua a dar as tuas aulas e não te metas com antigos combatentes se não queres levar com uma bala na tua cabeça de burro ao quadrado ─  acrescentou antes de sair.

Um provérbio árabe diz: "Não menospreze uma criança frágil, pode ser que seja filho de um leão".

(3) Em 1974, Demburri Seidi (nome fictício) fez parte de um grupo de jovens que fugiu para juntar-se às fileiras do PAIGC, no mato. Após a independência, fez preparação militar em Canchungo, mas rapidamente chega a conclusão que, com o fim da guerra e sem instrução escolar, as suas hipóteses de subir na hierarquia militar eram praticamente nulas.

 Aconselhado por pessoas amigas, decide trocar a farda pelos estudos, colecciona alguns livros e escolhe a localidade de Cuntima, que dista a poucas horas da aldeia dos pais, para a sua formação escolar. E, sem querer, vai testemunhar os trágicos acontecimentos que se seguiram ao ataque de Cuntima (4) que acabamos de descrever e que marcaram a sua vida e sobre os quais, ainda hoje, não consegue falar sem que os seus olhos se encham de lágrimas.

(4) Comandante do destacamento de Cuntima - Capitão Madiu Kim;
Responsável da segurança – Sana Queita;
Comité da tabanca  ─ Samba Seidi;
Fuzilados ─ Soarê Seidi =Sissão Seidi; e Abbaro Candé = Homem da catana.
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11730: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (44): A mulher mandinga e o soldado português

49 comentários:

Henrique Cerqueira disse...

Cherno Baldé.
Li de "enfiada" ou seja rapidamente da primeira vês e de seguida repeti a leitura mais pausadamente.E porquê?Porque todos esses acontecimentos foram narrados por cá em Portugal,mas sempre havia alguém que desvalorizava ou ainda ,empolava as situações e como tal nós (eu) acabava por não acreditar em tudo que se ia dizendo e como consequência ia esquecendo esses terríveis acontecimentos que se estavam(ou estão?)a acontecer na Guiné.Na terra que quando éramos os colonizadores nós os militares nem uma bofetada podíamos dar a um prisioneiro (e ainda bem )e nos pós dependência os próprios irmãos matavam os seus opositores de forma tão ignóbil.
Cherno estou a comentar o teu relato com um aperto no peito que até dói,mas dói mesmo.Se calhar nem o deveria fazer agora porque comentários a quente deixa-nos um pouco sem argumentos.
Deixo-te um grande abraço pela tua coragem em narrares esta situação e pelas tuas palavras ao dizeres que já viveste o suficiente para teres mêdo de contar as atrocidades de alguns dos teus "irmãos" da Guiné.
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Estamos perante mais uma actuação do PAIGC "para gastos de casa". Isto é, em vez de considerar que os "traidores" guineenses que tinham lutado do lado dos colonialistas eram portugueses, assumiu-os como guineenses e, portanto, vencidos de uma guerra civil ou colaboracionistas, sobre os quais tinha todos os direitos.
É notório que esta atitude permitiu ao PAIGC, tomar as rédeas do poder e disfarçar a sua incapacidade de reconstruir o país desenvolvendo-o e assim, recorrendo a demonstrações de força, a cargo de militantes seus de muita dureza, mas pouca inteligência e cultura, aterrorizar as populações que não se vergassem perante as suas exigências e, principalmente, vaidades. Estes exemplos proliferaram por toda o continente na sequência das independências, ganhas ou concedidas e, às vezes para meu desespero, eram bem previsíveis.
Era a África daquele tempo.
Hoje não sei como será, mas não deve ser muito melhor.
Um Ab.
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

A chamada guerra de "libertação" (ou colonial) na Guiné também foi uma guerra civil (que se prolongou para lá de 1974)...

Do lado da potência colonial, combateram fulas, manjacos e outros, incluindo caboverdianos, tropas do recrutamento local... Do lado do PAIGC, balantas, mandingas, beafadas, nalus, caboverdianos, e outros...

Desde cedo, o PAIGC (com o aval do seu fundador) começou a usar o "terror" como forma de "justiça revolucionária" (o 1º Congresso, em Cassacá, em 1964, é disso um exemplo)...

A morte de Amilcar Cabral, em 1973, foi depois "vingada" com cento e tal (talvez cerca de 200) fuzilamentos, levados a cabo nas "áreas libertadas" (por ex., no Boé)... Sabe-se que houve gente inocente que foi fuzilada...

Depois veio a "independência" e os ajustes de contas com os "colaboracionistas" e mais tarde as lutas intestinas, fracturantes, crueis, sangrentas... É avelha história: o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente...

Sabemos que, no 1º caso, as grandes vítimas foram os "cães do colonialismo", sobretudo os fulas da zona leste (, régulos, cipaios, milícias, soldados e graduados ao serviço de Portugal, no exército e na marinha)...

Tudo isto é sabido, mas tem-nos faltado depoimentos, testemunhos, relatos, como este, com a riqueza de informação, a autenticidade e a qualidade literária deste... Detalhados, circunstanciados, contextualizados, com nomes, números, datas...

Espero que este impressionante relato do Cherno Baldé abra a porta para que, de um lado e do outro (!), consigamos finalmente falar destes acontecimentos trágicos que ainda são tabu, sem puxarmos da G3 ou da Kalash...

O terror foi usado antes, durante e depois da guerra... Afinal, o que é a guerra ? "A continuação da política de Estado por outros meios"... A "legitimação" do terror... O terror, puro e simples...

Guerra que, neste caso, afinal ainda não acabou... Porque ainda não fizemos o luto de todas as suas vítimas!

Soarê Seidi e Abbaro Candé podem finalmente ser enterrados, debaixo do poilão da sua tabanca, em Cuntima, porque alguém evocou os seus nomes, alguém pronunciou os seus nomes, os resgatou da desonra, da ignomínia, da desumanidade, do esquecimento!

Obrigado, Cherno Baldé, obrigado Demburri Seidi (, mesmo escondido, compreensivelmente escondido, sob um pseudónimo!).

Tony Borie disse...

Olá Cherno.
Levantei-me há minutos, ainda não tomei o meu café e a minha medicina, fiquei preso à cadeira com este texto, li e reli.
Não sei o que dizer.
Será que existe um Deus, "alguém lá em cima", como dizia a minha "catequista" quando era criança?.
Será este o preço a pagar, para o nascimento e o crescimento de um jovem país?.
A história diz-nos, que crueldades, injustiças, actos desprezíveis, pessoas humanas agindo como animais irracionais, arrogância, mortes em conjunto e prolongadas, entre outras "selvajarias" fizeram-se sempre.
Até dizem, que às vezes mais, antes e depois das guerras, que nas próprias guerras, pois aí, enfrentavam-se duas ou mais forças, mas "armadas", e antes ou depois, em geral uma parte quase sempre estava "desarmada".
Tal como o Henrique Cerqueira diz, deixo-te um abraço pela tua coragem em narrares esta situação, que me faz pensar que este mundo, às vezes é muito injusto para com alguns.
Tony Borie.

Tony Borie disse...

Olá companheiros.
Volto de novo, agora depois de ver o comentário do companheiro Luis, onde explica e muito bem, um pouco da história do que foi, o após independência deste jovem País, pois este texto do Cherno é raro, e merece algum destaque.
Este texto, explica um pouco, o que é um povo desarmado, à mercê de um governo, onde os seus quadros, tinham pouca, ou talvez nenhuma formação para exercer cargos de comando, a não ser lutar, lutar, matar, matar, e o mais cruel e visível, para exemplo e intimidação dos vencidos.
Ninguém pode prever o futuro, mas eu entendo, que o desarmamento da população, dos povos, é uma atitude, que torna quem está nesse momento no poder, lhe dá azo a poder praticar atitudes do "quero, posso e mando".
O povo estando armado, não com armas de guerra, essas deviam ser exclusivamente dos governos e usadas por pessoas treinadas, tanto mental, como fisicamente, mas com armas de defesa pessoal, isso daria azo a que qualquer governo ou entidade policial ou militar, ou até mesmo o vulgar "ladrão", pensasse duas vezes, antes de intentar ou atacar as simples pessoas, o povo.
O uso de arma pessoal de defesa, criaria respeito em todos, sim respeito, que infelizmente é o que existe menos, pelo menos nos tempos que correm.
Há um ditado que diz:
"A PESSOA ARMADA, TEM VIDA MAIS LONGA"!
Desculpem lá ter-me desviado um pouco do assunto, mas é a minha simples e modesta opinião, a opinião de um combatente, como todos nós fomos.
Um abraço, Tony Borie.

Anónimo disse...

Meu Caro Luís
É por isso mesmo que, quando vejo incensar o Amílcar como um grande dirigente fico com dúvidas. Se não tivesse sido assassinado pelos seus seria um "dirigente" africano como os outros? Não creio que. No fundo Cabo Verde desligou-se da Metrópole "à boleia e às cavalitas" dos guineenses. E o A. Cabral hoje seria um respeitável dirigente cabo-verdeano. Claro que não é fácil liderar em África e muito menos naquele tempo em que era necessário levar para o combate e sofrimento alguns milhares de guineenses e evitar que desistissem da "luta". Por isso o PAIGC tinha aquela "disciplina revolucionária" que lhe conhecemos.
O resto já sabemos...
Foi assim e não há nada a fazer muito menos culpabilizarmo-nos por isso.No fundo o PAIGC deveria ter outra atitude, mas não a soube ter e isso só ao partido diz respeito.
Um Ab.
António J. P. Costa

Torcato Mendonca disse...

Ora Vivam,boa tarde

Acabei por atrasar a saída e ler o que o Cherno Baldé escreveu. Valeu a pena. Por vezes comento ou escrevo nas minhas estórias e parece que detesto o In que encontrei na Guiné. Não é isso. Deve-se antes ao conhecimento do Paigc (o IN de outrora), á sua forma de actuar nesse tempo e, principalmente, no dito periodo pós independência; não só claro!
Quando me "alistei" no blogue, talvez Maio de 2006, disse que a guerra há muito tempo tinha acabado para mim, nunca esqueceria o comportamento de quem contra mim combatera e não sabia perdoar. Tinham sido fuzilados amigos meus...o comportamento de muitos dos homens do poder, entregue pela Potencia Colonizadora,era, para mim, detestável.Eu sabia muito do que, ao longo desses anos, se passara.
Não vou alongar-me mais e disso, desses crimes falar. Só um ponto: sempre tratei os inimigos capturados com o devido respeito. Era Militar e isso era minha obrigação, como seria,caso estivesse lá na dita pós independência onde, o tratamento para com "eles" seria estritamente militar.Só!

O escrito que acabei de ler e reler é de um Homem com Coragem, dignidade e sentido Patriótico. O meu respeito para com ele, Cherno Baldé Guineense. Um desejo,se me o permites,- que a tua Pátria se construa rapidamente com Homens como tu. Os tempos estão adversos e a minha, o meu País, também maus tempos atravessa.

Por uma Guiné e Portugal melhores!

Abraço-te e a todos os camaradas aqui deste espaço de afectos,fraternidade e plural na diversidade de pensamento.

Ab,T.

Luís Graça disse...

Cherno:

Também há dias ouvi dois relatos de execuções públicas, em Bambadinca, no pós-independência. As vítimas forma um cipaio e um régulo. Em dois momentos diferentes e em sítios diferentes, mas na zona leste (região de Bafatá)

O autor do relato é um antigo camarada nosso, guineense, com quase seis anos de tropa. Foi 1º cabo. Vive hoje em Portugal e tem inclusivamente a nacionalidade portuguesa. É fula, da zona leste. Por razões óbvias, não o vou identificar. Mas assistiu
pelo menos à execução pública de um cipaio.

Bambadinca foi um lugar de terror, nessa altura. Um dos lugares eleitos pelos vencedores para mostrar, aos vencidos, os fulas, "colaboracionistas", quem mandava doravante na Guiné-Bissau. Foi aqui que foram executados, com centenas de pessoas a assistir, alguns homens que o PAIGC chamava, com desprezo, "cães dos colonistas"...

Um eles foi o ta.l cipaio, da polícia administrativa de Bambadinca. Muito provavelmente fula. Não sei o seu nome, mas devia ser do meu tempo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Não quis pedir muitos pormenores, até porque o meu interlocutor ainda hoje se emociona ao relatar estes acontecimentos. Um dia, com a "cabeça mais fria", voltaremos a falar do assunto...

Muito provavelmente também deviam pender, sobre o cipaio, acusações graves, relacionadas com a repressão policial e militar do início da guerra, ou mesmo antes. Nessa altura, c. 1963, ter-se-ão passado coisas sinistras, em Bambadinca.

Doze anos depois, muito provavelmente logo em 1975, o tal cipaio é conduzido a Bambadinca, em camião fechado, e de olhos vendados. A sua família foi convocada para assistir á execução, a cargo de um secção.

Não sei o sítio exato onde se realizou esta macabra cerimónia pública... Provavelmente no recinto do antigo quartel e posto administrativo de Bambadinca. Por razões de simbolismo.

O corpo do cipaio caiu, inerte, crivado de balas. Um capitão (?) das FARP aproximou-se do cadáver, pôs-lhe a bota em cima da cabeça e deu-lhe o chamado "tiro de misericórdia"... A seguir terá comentado para a multidão, aterrorizada:
- Agora ficam a saber quem manda aqui!

Felizmente que a pedagogia do terror não funciona eternamente... E haverá sempre homens e mulheres, de coragem, que estão dispostos a lutar e a morrer pela liberdade e pela justiça... Contra os antigos e contra os novos carrascos...

manuel maia disse...

CARO CHERNO,

Antes de mais um grande abraço de parabéns pelo texto muito bem escrito e pela coragem evidenciada em postá-lo...

Sorvi as linhas, uma a uma por constatar que vinham ao encontro de factos similares de que tive conhecimento,ocorridos em Bissum/Naga logo após a independência da tua Guiné Bissau que também considero minha não por questões colonialistas, mas porque amo esse território onde vivi vinte e cinco meses da minha juventude entre jun72 e jul 74.

Tal como diz o Henrique Cerqueira, ex - furriel do meu batalhão, por cá houve sempre gente intelectualmente desonesta que passava uma esponja pelos horrorosos crimes (como aqueles que de forma desassombrada aqui narras)numa perfeita sintonia com a barbárie, a troco duma fidelidade canina às internacionais revanchistas,e num desprezo total pela vida humana...

O problema começou com o abandono gizado pelas "elites" militares ( custa-me imenso chamar elites a gente do estofo dum otelo,vasco lourenço,rosa Coutinho ,gentalha da extinta 5ª divisão, entre outros cujos nomes não me ocorrem momentaneamente,mas que foram muitos (propositadamente escrevo-os com letra pequena porque são safardanas do pior...)bem como políticas que descolonizaram da pior forma ( entregando os territórios aos representantes das estepes, ignorando acordos como o de Alvor, por exemplo, para conseguirem os "bons ofícios" da vermelhitude soviética enquanto se empanturravam de benesses...)

Essa gentalha dita portuguesa mas que traiu a Pátria, que despudoradamente diz amar ( como há dias o velho sacripanta soares afirmou... estranha forma de amar, esta...)deveria ser levada ao tribunal de Haia para ser julgada por crimes contra a humanidade...

Obrigado pela tua coragem neste documento desassombrado.

Um enorme abraço amigo.

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Cherno

Um abraço forte pela tua coragem, a tua humanidade, o sentir extremado, sempre criativamente inteligente pelo teu povo fula, pelos povos da tua Guiné.
Minha Guiné, meu desespero, minha tristeza,minha vida, meu mundo!

Toda a admiração do

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Li com a atenção que o texto merece e com igual preocupação. Sei que o seu autor se encontra entre toda essa gente, boa e má como a que existe em todo o lado, mas alguma carregada de ódio que no caso pode mesmo apelidar-se de morte.

Louvo a coragem do relato frio e desassombrado dos acontecimentos que, estou certo, e se posso ter certezas esta é uma delas, mesmo sem as ter presenciado, este é apenas um de muitos relatos de muitas outras gotas rubras que sobre aquele chão caíram.

Tristes de todos os homens que a troco de míseras lentilhas, se calhar nem isso, se deixam emprenhar por conversas e ideais, apoiando-os e caminhando sem rumo, ajudam e conduzem aos órgãos de decisão aqueles que apenas deles pretendem tirar partido como o fazem em relação às situações para benefícios pessoais.

Sabe-se que uma classe instruída e com capacidade de movimentação é difícil de controlar, daí o desenvolvimento custar tanto, não só em dinheiro, mas em tempo que ultrapassa gerações. É necessária muita força e determinação, força e determinação essas que o tempo e o cansaço se encarregam de extinguir com a passagem dos anos.

Que surjam novos jovens com ideias e ideais com interesse colectivo, sem interesses pessoais desmedidos de riqueza e bem estar individual, que tornem os países em verdadeiros lugares de vida, é um sonho velho e a utopia dos meus dias.

Para o Cherno o meu obrigado pelo seu relato e o meu singelo abraço de solidariedade por tudo que já viu e viveu.
BS

JD disse...

Viva Cherno!

Grande testemunho sobre uma nação minada pela violência, em busca de um norte catalizador.

Retratas muito bem a violência e a ternura, a ambivalência da justiça considerada pelos que foram militares portuguese, cotejada com a que os guerrilheiros tinham cultivado ao longo dos anos da luta.
O Luís e o António P.Costa (no 1º.comentário) fazem sintéticas avaliações sobre a alienação da bárbara justiça de guerra no seio dos revoltosos, bem diferente das injustiças coloniais.

O PAIGC parecia desprezar o sacrificio dos seus militantes guerrilheiros, e o poder exercia-se sob o manto do medo, como parece ter submetido o próprio Cabral.

Tu não viveste já o suficiente, ainda tens muita lucidez para, juntamente com outros homens bons, contribuires para melhorar o futuro da Guiné. Oxalá, as circunstâncias venham a permiti-lo.

Um grande abraço

JD

Luís Graça disse...

Há uma excessiva "idealização" dos líderes (revolucionários, messiânicos, religiosos, políticos, militares, etc.), sobretudo depois da sua morte...

Cabral não era exceção. Mandela não é(era) exceção. Cabral não era o PAIGC, "tout court"! Mandela não é(era) o ANC, "tout court"... Não se tome o todo pela parte!... E a prova disso foi a mão pesada da "justiça revolucionária" em Cassacá, em 1964, e noutros momentos da luta de guerrilha na Guiné...

Quantos simpatizantes, militantes, combatentes e dirigentes não terão sido passados pelas armas ? E depois quem somos nós, europeus, para nos arvorarmos em acusadores e juízes ? Mesmo assim, é bom que haja um Tribunal de Haia, sob a égide das Nações Unidas!... Mesmo sabendo que muitos ditadores e responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade irão continuar a morrer na cama...

Felizmente que evitámos uma guerra civil no verão quente de 1975... Nós, os portugueses. Senão estaríamos hoje ainda a chorar a morte de irmãos, vizinhos, companheiros, tal como em muitas outars partes do mundo, incluindo Angola, Guiné-Bissau, Timor, etc.... Tal como aconteceu na guerra civil espanhola de 1936/39, ou nas nossas lutas liberais de 1828/34... Há uma diferença: os espanhóis parece que ainda não fizeram o luto...

Não caiamos, pois, na tentação do paternalismo e da proclamação da superioridade civilizacional da Europa... O nosso século XX foi um teatro de horrores!

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam, Guiné-Bissau!

José Eduardo Alves disse...

José Eduardo Alves
Já fui 5 vezes á Guiné, e ainda este ano estive no Quartel de Bambadica em visita, foi no meu gip um ex militar que fez lá serviço militar, pedimos autorização para visitar fomos autorisados e acompanhados e quando dei por mim estava a falar politicamente e os meus colegas afastaram se de mim com medo, será que eles estavão mesmo com medo, eu falo e digo a verdade a culpa foi de portugal por ter entregado a Guiné a um grupo armado e desarmou a pupolação, eu já disse isto e o Luis Graça disse ó Alves não se pode por o fogo ao capim, um dia eu perguntei a um Moçambicano quem vai ganhar as eleições, ele respondeu não devemos escolher um presidente burro porque ele com medo manda matar os outros

Henrique Cerqueira disse...

Camarada Manuel Maia
Estou em total acordo com as tuas palavras,foste ainda mais longe do que eu consegui esta manhã.
Eu tenho a plena consciência que em qualquer ambiente de guerra se cometem atrocidades tanto conscientemente como inconscientemente (se é possível assim classificar). No entanto eu quando vim embora em Julho de 74 ainda vinha convencido que o povo da Guiné iria ganhar muito com a independência.Mas o que se verifica hoje em dia é que essa Independência está a ter um preço demasiado alto e o pior ainda é que o povo da Guiné continua a viver sobre o "Jugo" do medo.Senão leia-se o blogue do ALI.
Eu acredito sinceramente que é muito melhor a Independência que o colonialismo,mas quando será que este povo martirizado da Guiné sente o sabor da LIBERDADE ? Penso que já me estou a estender ao comprido é que não entendo lá muito do politicamente correto.Mas que se lixe a mim dói-me é ver que para isto seria melhor que o Amílcar se tivesse dedicado á agricultura que era essa a sua formação.
Ó Cherno desculpa lá sò estou a falar com o coração junto da boca.E até me sinto um pouco culpado destes comentários pois que o estou a fazer sentadinho no sofá e é mais fácil deitar o veneno cá para fora.
Só mais uma coisa.Nunca pensei que viria a sentir tanto os problemas da Guiné como o venho sentindo agora que já estou na chamada "curva ascendente da vida".
Mais um grande abraço para o Cherno e para os meus camaradas do blogue e um especial para o Manuel Maia ,meu camarada de Batalhão.
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Camaradas
No final da guerra também eu ainda admiti que o povo da Guiné poderia ganhar com a independência. Claro que era num sistema de partido único - o que é mau - mas os tempos eram outros. Em toda a África as coisas tinham corrido mal, mas... ali podia ser que fosse diferente. Era um partido velho com muito tempo de luta violenta e podia ser que tivesse uma certa maturidade.
Afinal enganei-me, ou por outra o PAIGC não fugiu à regra dos outros. Não me surpreende nada o que se verificou e verifica hoje naquela terra, mas isso não são contas do meu rosário que já é bastante complexo.
Já tive ocasião de dizer um ex-guerrilheiro que quem não tem competência não se estabelece e (acima de tudo)não usa golpes baixos para se manter à superfície e que, além disso, é necessário ter respeito por todos os mortos e feridos e por todo o sofrimento (pelos mais diversos modos) a que aquele povo que o PAIGC controlava foi sujeito.
Mas, no fim de tudo, de que é que estávamos à espera? Uma força política que declara a independência e não sabe localizar onde o fez será merecedora de atenção?
Estão admirados destes fuzilamentos selváticos? Por mim, não!
Os tiranetes sempre existirão e ai de quem lhes cair nas mãos!...
Pode ser até que se trate de uma etapa obrigatória da evolução de todos os povos... É só analisar a História dos povos velhos do mundo e tirarmos as conclusões objectivas.
Um Ab. do
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

Camaradas:

O tema dos julgamentos revolucionários e das execuções sumárias dos "cães dos colonialistas" (sic), na Guiné pós-independência, é (e continuará a ser) extremamente doloroso e emotivo, para todos nós...

Mas, atenção, cuidado com o risco da demagogia, do discurso fácil, das diatribes panfletária... Em suma, cuidoado com o risco de se abrir a Caixa de Pandora... E sabemos qual o seu reverso, a insana procura de bodes expiatórios...

A verdade dos factos, toda verdade, sempre teve (e tem) verso e reverso... Nenhum de nós, aqui, que eu saiba, já veio a terreiro defender a pena capital, legal ou não... ´É por isso que "o poilão de Bambadinca" (onde o PAIGC fez um número indeterminado de execuções...) nos causa, ainda hoje, calafrios e revolta...

Afinal, fomos o primeiro país do mundo a abolir a pena de morte, e isso é motivo de orgulho para todos nós, portugueses (em 1852, para crimes políticos; em 1867, para todos os crimes, excepto os militares; em 1911, para todos, incluindo os militares; em 1916, é readmitida a pena de morte para traição em tempo de guerra; e só em 1976, com a nova Constituição da República Portuguesa, é que há a "abolição total")...

No teatro de guerra da Flandres, em 1917 ou 1918, ainda terá havido uma execução de um militar português, ao abrigo da legislação de exceção. Li isso algures, mas não sei se esse facto está devidamente documentado...

No TO da Guiné, durante a guerra colonial, do lado do PAIGC sabemos que houve fuzilamentos. E do nosso lado ? Há um manto de silêncio sobre este tema... No meu tempo (1969/71), tive conhecimento, em Bissau, dos casos de um capitão e de um furriel, a contas com a justiça militar, por alegados crimes de violação e assassínio de bajudas, e de tortura e liquidação de prisioneiros... Mas ouvi histórias (verosímeis), da boca dos meus insuspeitos soldados fulas (da CCAÇ 12), do terror, em Bambadinca, em 1963, levado a cabo pela administrativa contra os balantas... No tempo, justamente em que "um balanta a menos, era um turra a menos"...

Compreende-se que, num blogue de combatentes portugueses, não hajas condições (psicológicas, morais, éticas...) para se escrever, olhos nos olhos, com serenidade, sobre este(s) tema(s)...

Nenhum de nós, é a favor da pena de morte, revolucionária ou não... Por isso, a execução sumária de guineenses que estiveram ao serviço das nossas tropas (desde os milícias aos militares do recrutamento local) tem sido veementemente denunciada e repudiada no nosso blogue desde o início... Para tudo há explicações, mas para isto não há justificação.

Que fique clara a nossa posição!

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas

1 - O Quemo Mané, faleceu em 1985 em Moscovo e os seus restos mortais foram trasladados para a Guiné-Bissau.
Está sepultado na sua aldeia natal numa tabanca para os lados de S João, sector de Tite.

3 - Já conhecia esta triste situação que o Cherno trouxe à luz da ribalta do blogue e quem de nós não sabe das centenas de fuzilamentos dos nossos camaradas e não só após a independência que não foram efectivados pelo Quemo Mané e mesmo durante a guerra no seio do PAIGC.
Creio que cada um de nós tem conhecimento de fuzilamentos de camaradas dos locais onde estivemos.
Do Sector de Farim foram vários fuzilados e de Companhias Africanas e não só, aliás tenho fotos publicadas no meu site de camaradas que foram fuzilados.

4 - Se querem saber mais, basta ir a " Bissau II " diga-se Rossio e falarem com ex-camaradas guineenses.

5 - Quanto ao comentário do Manuel Maia quando diz: " O problema começou com o abandono gizado pelas "elites" militares ( custa-me imenso chamar elites a gente do estofo dum otelo, vasco lourenço,rosa Coutinho,gentalha da extinta 5ª divisão, entre outros cujos nomes não me ocorrem momentaneamente, mas que foram muitos ( propositadamente escrevo-os com letra pequena porque são safardanas do pior...) bem como políticas que descolonizaram da pior forma ( entregando os territórios aos representantes das estepes, ignorando acordos como o de Alvor, por exemplo, para conseguirem os "bons ofícios" da vermelhitude soviética enquanto se empanturravam de benesses...) ", independentemente da ideologia de cada um, que respeito muito, embora não seja advogado constituído das pessoas que invoca ou dos seus familiares, sempre digo que se não fosse esses homens, com certeza que o Manel hoje não tinha a liberdade para se exceder na linguagem com insultos a essas pessoas.
Muitas vezes se invoca aqui no blogue para haver contenção, mas pelos vistos...

6 - Quanto à descolonização, havia muito pano para mangas e já muitos rios de tinta sobre o tema correram sob as pontes, mas gostaria de ver o Manel a resolver a situação na época e no contexto em que se verificou..
É fácil falar de bancada...

Um abraço a todos
Carlos Silva

Luís Graça disse...

Errata: Onde se lê

(...) Mas ouvi histórias (verosímeis), da boca dos meus insuspeitos soldados fulas (da CCAÇ 12), do terror, em Bambadinca, em 1963, levado a cabo pela administrativa contra os balantas... No tempo, justamente em que "um balanta a menos, era um turra a menos" (...)

Deve ler-se:

(...) leavdo a cabo pela POLÍCIA administrativa contra os balantas (...)

MANUEL MAIA disse...

CAMARIGOS,


LONGO VAI JÁ O ROL DE COMENTÁRIOS A PROPÓSITO DO ESCRITO DE CHERNO QUE DUMA FORMA DESASSOMBRADA CHAMOU OS BOIS PELOS NOMES...

MAS APESAR DE JÁ TER FEITO O MEU, NÃO POSSO CALAR-ME DEPOIS DA SAÍDA A TERREIRO DO CARLOS SILVA E DA SUA "REPREENSÃO" AO QUE ESCREVI...

GOSTARIA DE REAFIRMAR QUE NÃO DEVO NADA A ESSA GENTALHA QUE REFERI...
IMPUTAR-LHES A RESPONSABILIDADE DUMA LIBERDADE DE QUE USUFRUO COMO QUALQUER CIDADÃO E PRETENDER QUE FIQUE REFÉM DESSA PRETENSA "DÍVIDA" NÃO ME PARECE,CARLOS SILVA,"CONSELHO" QUE SE DÊ...
PASSAR UMA ESPONJA PELOS CRIMES QUE A "DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR" GEROU SÓ PORQUE ACONTECEU NUM PERÍODO CONTURBADO ( GRAÇAS AOS POLÍTICOS TRAIDORES...)TAMBÉM NÃO ME PARECE QUE SEJA A SOLUÇÃO...

HÁ MUITOS MILHARES DE VÍTIMAS INOCENTES GERADOS PELA TAL DESCOLONIZAÇÃO A RECLAMAREM O TRIBUNAL INTERNACIONAL DE HAIA...

FOI MUITO O SANGUE DERRAMADO DE FORMA ASQUEROSA MERCÊ DE COMPORTAMENTOS INDIGNOS POR PARTE DAQUELES QUE TINHAM O DEVER DE GERIR A SITUAÇÃO E NÃO DE ADULTERAR O QUE FORA ESTIPULADO VIA NEGOCIAL.

ISTO NÃO É FALAR DE BANCADA, MAS TÃO SÓ NÃO CONSEGUIR CALAR A RAIVA E O NOJO QUE SINTO CÁ DENTRO CONTRA PERSONAGENS DESSE TIPO QUE DESTRUIRAM UM PAÍS ALICERÇADO EM MUITAS CENTÚRIAS,PARA ALÉM DE CONTRIBUIREM COM AS SUAS ATITUDES IGNÓBEIS, PARA O DESTINO FINAL DE TANTOS MILHARES DE CIDADÃOS AFRICANOS QUE ESTIVERAM DO LADO PORTUGUÊS NOS CONFLITOS...

A RAIVA INCONTIDA CONTRA OS MATADORES (GUINÉUS) E AQUELES PORTUGUESES(?) QUE CONTRIBUIRAM PARA ESSES CRIMES ATRAVÉS DO ABANDONO À SUA SORTE NAS PESSOAS DESSES MILITARES,MILÍCIAS E ATÉ CRIANÇAS FAXINAS,NÃO PODE DESAPARECER ENQUANTO CIRANDAREM SEM UM MÍNIMO DE VERGONHA PELOS AREÓPAGOS E NÃO FOREM SUJEITOS A JULGAMENTO...

TENHO ESPERANÇA QUE UM DIA SURJA UM QUALQUER BALTAZAR GARZÓN VOLTADO PARA OS CRIMES CONTRA A HUMANIDADE PERPETRADOS NA ANTIGA ÁFRICA PORTUGUESA...

POR OUTRO LADO NÃO POSSO CONCORDAR COM "MORDAÇAS"...

UM ABRAÇO PARA TODOS.

Anónimo disse...

Meu caro Cherno

Louvo a tua coragem,ainda mais sabendo dos riscos que podes correr,incluindo a tua família.

A tua história pungente e dolorosa é só mais uma a juntar a tantas outras,infelizmente.

Sei de situações que foram muito mais graves,digo mais graves,porque não foram só a morte de duas pessoas, mas de autênticos massacres e em condições horríveis de torturas.

Nós antigos colonizadores também não saímos lá muito bem nesta "fita" e não me estou a referir só à época da guerra,provavelmente até foi a mais contida,pudera era necessário conquistar os corações dos colonizados.

É sempre odioso fazer comparações, mas a bem da verdade,nós era mais no recato das prisões da pide,que sendo absolutamente condenável, nunca atingiu o despudor de facínoras julgando-se detentores do poder sobre a vida e a morte de seres humanos..só porque sim.

Sendo absolutamente contra qualquer tipo de censura..peço humildemente a alguns camaradas que tenham mais contenção ao carregar no teclado..é que apesar de ser agnóstico..não resisto a citar.."quem estiver completamente inocente que atire a primeira pedra".

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Caro camarada Manuel Maia

Tem calma, pá...

Olha eu fui dos entreguei..a Guiné.
Naquela altura eu só queria era vir-me embora..

Podes "bater" em mim..estás à vontade.

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

PS

A bem da minha "consciência" pesada..diga-se..procurei saber se algum dos meus soldados sofreu represálias ou foi morto..
As informações que tive foram tranquilizadoras..ninguém.
A "merda" é que continuo com a "dita" pesada..para que conste.

Não quero que ninguém venha para aqui desculpabilizar-me..bláa..blá...não tinha ..coiso e tal..porque isso não me serve de nada.

SINTO-ME CULPADO E JÁ NÃO POSSO REMEDIAR NADA..puta que pariu a minha triste sina.

C.Martins

Bispo1419 disse...

Também quero entrar na discussão.
Isto de falar depois dos outros, ajuda. Peço desculpa por ter caído na tentação de me aproveitar de comentários anteriores sobre este "post" do Cherno Baldé:

- Luís Graça disse: "Não caiamos pois na tentação do paternalismo e da proclamação da superioridade civilizacional da Europa ... O nosso séc. XX foi um teatro de horrores!"
É verdade, Luís, mas também o séc. XIX, o séc. XVIII e ... ... um nunca mais acabar até ao princípio dos séculos.

- António J. P. Costa disse: "Pode ser até que se trate de uma etapa obrigatória da evolução de todos os povos ... É só analisar a História dos povos velhos do mundo e tirarmos as conclusões objectivas."
Povos velhos e povos novos, acrescento eu. Comece-se pela História deste Portugal, velho de quase nove séculos, que sobre violência interna nos tem muito a contar.

Pois é, qualquer país se formou (forma) aproveitando, politica e socialmente, situações propícias para a implantação de um poder nacionalista num certo espaço territorial. Historicamente, foram raras as situações em que essa implantação sucedeu sem usar de violência para derrotar o poder político então vigente. E as represálias sobre os vencidos foram (são) comuns a esses conflitos.

Sejamos pragmáticos com a História, o país Guiné-Bissau nasceu assim. Houve vencedores e vencidos e as represálias dos vencedores sobre os vencidos pressentiam-se na sua "cartilha" comportamental, no uso, pelo PAIGC, da violência interna para dirimir conflitos.
Por medo, por represália ou vingança, o novo poder quis esmagar os guineenses seus antigos adversários políticos e militares, super fragilizados, ex-mandaretes da flibusteira política internacional. Política em que Portugal se enredou por não querer, a seu tempo, tentar pelo menos resolver uma situação que só um cego político não via.
Fanfarrâo, sem cheta para o "negócio", captou o apoio de uma parte importante da população guineense arvorando-se senhor de uma força que não tinha e sem qualquer hipótese de vir a ter, fazendo promessas que só um "lunático" poderia sinceramente fazer. Como o poder de Lisboa não era lunático, como se sabe hoje, pois conhecia bem as dificuldades da situação na Guiné e a impossibilidade de as resolver a seu contento, usou para com a população guineense o "conto do vigário". Este seu embuste ruiu estrondosamente com o 25/Abril/1974.

Mas, mesmo assim, poderia ter nascido um país escorreito, sem grandes e gravosos problemas "físicos e psíquicos"?
Poderia mas os seus pais (PAIGC e o "novo" Portugal) portaram-se muito mal. Isto digo eu hoje. Na altura, como cidadão português consciente da situação política interna e externa, vi o "parto difícil" do "bebé" mas acreditava que ele iria crescer com saúde, bem cuidado e apoiado, tornando-se mais uma bela figura na futura cena política internacional.

(Continua)

Bispo1419 disse...

Pois é, não foi assim e é pena. Mas o "bebé" de 1974 ainda não morreu, apesar de muita gente ter andado a preparar-lhe o "funeral". Embora muito fragilizado, já está com quase quarenta anos. Está cheio de mazelas, muito sofrido, em resultado de muitas lutas dos seus "órgãos internos".

A História dos países, a de Portugal também, está cheia de "culpados" e de "inocentes"; está cheia de "heróis", de "santos", de "patriotas" que, aos olhos de hoje e de alguns, foram "vilões", "diabos", "traidores", "facínoras". E o contrário disto é aplicado do mesmo modo por outros "alguns". Onde está a "verdade"?

Infelizmente, a verdade histórica é relativa e tende a fixar-se nas palavras dos vencedores. "Dos fracos não reza a História", não é o que se diz? E é muitas vezes bem verdade mas os "fracos" não devem desistir de expressar a sua verdade.

Este "post" referente aos trágicos acontecimentos de Cuntima em 1976 faz parte da história dos fracos e muitos outros factos daquela época da Guiné poderiam figurar nesta mesma história. Será ainda possível antes de morrerem todos os seus protagonistas? Será ainda possível fixar alguma da verdade histórica dos "fracos" na guerra colonial da Guiné?

Quanto à Guiné-Bissau e à luta do seu povo pela independência, hoje já é possível saberem-se coisas e conhecerem-se factos que nos ajudam a compreender melhor o que se passou e como se passou, tanto na altura da independência como depois, e até hoje. Mas a razão desses factos deve ser procurada situando-os no seu devido tempo e nas circunstâncias em que sucederam.

Culpar, de toda a desgraça sofrida, a colonização feita pelos portugueses não é, hoje, sério. É que muitos dos culpados do que se passou e passa na vida política e económica da Guiné-Bissau não foram os antigos "colonizadores" nem mesmo as variadas e contraditórias pressões politico-económicas internacionais que se seguiram à independência, embora não seja nada desprezível alguma sua (má) ação. Foram, sim, os dirigentes políticos e militares do novo país, não todos mas uma boa parte deles, a começar no tempo do primeiro governo que se instalou em Bissau, em 1974. O descalabro sócio-político e económico começou logo aí.
Porém, como diz o Ant.J.P.da Costa, isso não são contas do meu rosário.

Respeito muito a Guiné-Bissau e os seus problemas só podem ser resolvidos por todos os seus cidadãos e pelas suas autoridades reconhecidas. Os outros poderão ajudar, se essa ajuda lhes for pedida.
E, neste caso,só espero que a ajuda externa contribua para o país renascer com vigor, para poder dar a volta por cima. Gente para aplicar bem essa ajuda, há-a por lá. Haja liberdade de acção e sentido patriótico. Libertem-se as latentes forças produtivas do seu belo povo para "construir na pátria imortal a paz e o progresso" (um belo objectivo inscrito no seu Hino Nacional).

E termino com estas motivadoras palavras do Luís Graça, lidas acima:

"Felizmente que a filosofia do terror não funciona eternamente ... E haverá sempre homens e mulheres, de coragem, que estão dispostos a lutar e a morrer pela liberdade e pela justiça ... Contra os antigos e contra os novos carrascos".

Saudações para todo o "pessoal" desta Tabanca Grande.
Um abraço para o Luís Graça e outro para o António J. P. Costa, meus fornecedores "ideológicos" neste meu coment.
Outro abraço, e bem grande, para um guineense de gema que és tu, meu caro Cherno Baldé.
Que sejas muito feliz!

Manuel Joaquim

Cherno Balde disse...

Caros amigos,

»Pode ser até que se trate de uma etapa obrigatória da evolução de todos os povos ... É só analisar a História dos povos velhos do mundo e tirarmos as conclusões objectivas.»" A.P. Costa.

»Sejamos pragmáticos com a História, o país Guiné-Bissau nasceu assim. Houve vencedores e vencidos e as represálias dos vencedores sobre os vencidos pressentiam-se na sua "cartilha" comportamental, no uso, pelo PAIGC, da violência interna para dirimir conflitos». M. Joaquim.

»...Para tudo há explicações, mas para isto não há justificação».L. Graca.

Caros amigos ex_combatentes,

Muito obrigado pelo feed_back ao pequeno texto que se foi relativamente facil de traduzir e trabalhar, demorou mais de dois anos para sair da boca do Demburri seidi que testemunhou estes acontecimentos em 1976, em parte pelo medo que ainda o habita e, tambem, por manifesta dificuldade de falar sobre esta justica revolucionaria praticada contra os «fracos«.

Para quem nao sabe, eu venho de longe e, como tal, durante muitos anos, acreditava no que o Manuel Joaquim na esteira do A. P. Costa chama de »...conclusao objectiva», ver citacao acima.

Inclusive acreditava piamente que as vitimas do comunismo da era Stalinista se justificavam plenamente em nome da necessidade suprema do progresso dos povos. Hoje sei, felizmente, que estava redondamente enganado.

Eu, pessoalmente, estou tanto revoltado contra a pratica criminosa do PAIGC como a pratica, nao menos criminosa e insensata, das chefias do MFA que, aparentemente, nao so nao tinham o controlo da situacao, mas tambem nao quiseram ter em conta a posicao da JSN, no processo da descolonizacao. Se calhar ja era tarde demais, nao sei, mas se a solucao era politica e nao militar, como se dizia, nao se compreende que sejam os militares a ditar as linhas basilares da orientacao estrategica a seguir num momento e sobre assuntos cruciais da historia de Portugal e das suas extensoes territoriais em Africa.

De qualquer modo e para nao me alongar muito, vou ao encontro do Luis Graca para dizer que, de facto, para tudo pode haver explicacoes...mas nao ha justificacao para o que aconteceu na Guine. no pos_independencia.

Nao consigo esquecer uma frase que o Marcelino da Mata proferiu numa das suas raras interevencoes publicas, mais ou menos nesses termos: Nos eramos muitos, provavelmente muito mais numerosos que as FARP e, se nos permitissem, podiamos impor uma solucao negociada que condizisse a um refendum nacional sobre o territorio.

Se havia o perigo do deflagrar de uma nova guerra, de qualquer modo, no fim haveria, presumo, maior respeito e contencao entre os adversarios e nao a humilhacao que foi a sina de todos quantos estavam do lado Portugues. Revejam as palavras de Abbaro Cande que preferia a morte a humilhacao a que estavam sujeitos, todos os dias.

Espero nao ter posto mais lenha no fogo. Mantenhas.

Um abraco amigo a todos,

Cherno Balde

Cherno disse...

PS: Errata-

Onde esta escrito »condizisse a um refendum...» queria-se escrever Conduzisse a um referendum.
Com as minhas sinceras desculpas.

Cherno

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Reparem no efeito de um post que nos conta algo que não poderíamos ter feito nada para evitar. O efeito foi catártico e a reacção do Manuel Maia (com letra maiúscula e tudo) foi uma autêntica explosão de algo que estava mesmo para rebentar. Olha se o Cherno no falasse do assunto ele não poderia explodir!...
Para o Luís quero dizer que só um soldado português foi fuzilado por deserção durante a I Guerra Mundial. Chamava-se Ferreira de Almeida, era do Porto e ali tinha trabalhado par uma família alemã. Desertou com uma pistola e um mapa e isso deve ter-lhe sido fatal: deserção armado e com material classificado terá sido agravante.
Sobre a temática em apreço continuo certo de que o PAIGC é o único culpado do sucedido.
Mesmo que tenha havido "pressões", "abandonos", "traições", "elites" militares" "vermelhitude soviética" há uma coisa que é verdade: foi o PAIGC que puxou o gatilho e matou quem entendeu que deveria morrer. Não creio que os executantes estejam culpabilizados com isso, tal é a sua boçalidade. Por isso só posso lamentar.
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

eduardo francisco da cruz estrela
12:54


Infelizmente, Luis, a guerra não acabou e nunca mais vai acabar.
A Vida tem sido uma guerra atrás doutra. Enquanto o Homem não respeitar o seu semelhante e continuar a espezinhar a torto e a direito para poder usufruir de privilégios que só a força lhe transmite, será assim. Aproveito para esclarecer que a minha C Caç 14 era toda ela constituida por Mandingas. Acho que tanto do lado do PAIGC como do lado do exército Português, havia combatentes de todas as etnias origens e côr de pele.
A Guerra, todas elas, levam a situações de terror e barbárie.

Viva a paz o respeito e a solidariedade.
Abaixo os que desgovernam e exploram as sociedades onde estão inseridos

Um abraço fraterno

Eduardo Estrela

Luís Graça disse...

Querido Manuel Maia, nosso "bardo do Cantanhez", poeta talentoso e estimado na nossa Tabanca Grande:

Dois pedidos:

(i) Não uses as maiúsculas nos teus comentários (é uma das nossas regras básicas, editoriais);

(ii) Evita a "fulanização" da História (, o que para a um historiador como tu ou para um sociólogo eu como nunca fica bem): a descolonização tem pais, tem filhos, tem netos, tem bisnetos, mas também tem avós e bisavós...

Se a gente entra por aí, a desancar no A, no B e no C, corremos o risco de perder a razão (e o coração). E então os nossos camaradas que se recusaram a combater logo em 26 de abril de 1974 ? E os que fecharam a porta do império e fizeram as pazes com o inimigo de ontem ? E os que decidiram, como Spínola, em "africanizar a guerra", anos antes, por "exaustão demográfica" da metrópole ? E os que, logo em finais de abril de 1974, gritavam, nas ruas da baixa de Lisboa, "Nem mais um soldado para as colónias" ? (Alguns eram adolescentes imberbes, que pertencem hoje à geração, cínica e despudorada, do poder...)

Não cometamos haraquiri coletivo... A História há-de julgar-nos, a todos, com tempo e vagar... A merda que a nossa geração fez, essa, já correu pela grande "cloaca do mundo e da históira" e já deixou de cheirar mal... Há aqui um conflito de interesses ou de papéis: como atores sociais da guerra colonial (e da descolonização), fomos/somos parte do problema... Eu não ponho o rabo de fora, mesmo que a guerra para mim tenha acabado em março de 1971 (pensava eu!)...

Abraços, muitos e fraternos. Luis

Anónimo disse...

CHERNO

Parabens (mais uma vez) pela abordagem directa de mais um tema, que, não sendo tabu, anda nas entrelinhas. E, além disso, por via de um testemunho... directo.
Mas, este tema e a forma como foi aqui trazido, pode ser-te perigoso, assim, escrito, à luz do dia, visível na terra onde aconteceu.
(Por isso deixaste o autor ficou na sombra).
Os meus cumprimentos
Alberto Branquinho

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas
Manuel da Maia

1 - Eu não repreendi fosse quem fosse, apenas limitei-me e reitero em dizer que que se não fosse essas pessoas que tu apelidas de " gentalha" e outros mimos, tu não terias hoje a liberdade para os insultar publicamente, é que a liberdade de expressão consagrada constitucionalmente, não é uma liberdade absoluta, tem limites.
Portanto não é um caso de ficar refém.

2 - Compreender a tua indignação e revolta da qual também partilho e tenho dado provas no terreno, não falo de bancada, é uma situação diferente da tua postura que reitero e acima refiro e com a qual não estou redondamente de acordo contigo.

3 - Não vou entrar mais em polémicas, DESCOLONIZAÇÃO, apenas reitero que é fácil falar de bancada após a situação passada e decorridos 5, 10, 20, 30, 40 e mais anos.
Tomar decisões naquela altura e naquele contexto é muito diferente do que opinar nos dias de hoje.
Eu regressei em Junho/71 e assisti pessoalmente desde as 7H30 a todas as movimentações do 25 de Abril em Lisboa e muitas outras cenas que se verificaram e só ouvia gritar nas ruas " nem mais um soldado para a guerra do Ultramar " e os que estavam lá nessa altura queriam era regressar e queriam lá saber dos guineenses, porque se quisessem, teriam lá ficado.
Isto para dizer que embora possa não estar de acordo com o processo de descolonização, não mando "bitaites" porque não estive no seio das negociações e nem tinha competência para tal.

4 - Para concluir, como já referi independentemente da ideologia ou club partidário que cada um perfilhe e que respeito muito, sempre digo e reitero, que prefiro um pós 25 de Abril de 1974 do que o antes dessa data, pois pois sou contemporâneo desses tempos e para mim a diferença é como se costuma dizer da " água para o vinho " ou da "noite para o dia", apesar da crise sócio-económica pela qual estamos a atravessar.
O resto amigo/os são tretas e blás blás e não estou aqui para dizer amens ou para bajular seja quem for
Tenho dito
Carlos Silva

João José disse...

Caro Luís Graça & Camaradas da Guiné

Achei excelente o texto corajoso do Cherno Baldé e presumo que, muito verídico.
Ao longo da vida o que mais me incomoda é que, sabendo que todos cometemos erros, não os assumamos, que isso aconteça na adolescência, ainda percebo, mas que continue pela vida fora, considero inaceitável.
Mas não é menos aceitável pretender que a história poderá ser feita quando há a preocupação de apagar testemunhos ou opiniões, que, obviamente, estarão sujeitas ao contraditório. Que alguém escreva mostrando a sua indignação, o seu ponto de vista, parece-me absolutamente natural. Já o facto de ser criticado, faz-me lembrar o tempo da PIDE, em que tinhamos que medir muito bem o que diziamos.
Não me parece que seja esse o melhor modo de progredirmos e alcançarmos "um Mundo melhor".
Sei bem que esta página tem condicionalismos, mas se o objetivo não for o de trazer a lume verdades, factos, opiniões, mesmo que sejam pesados para alguns, então não aprenderemos com os erros cometidos e não poderão ser corrigidos, além de que, continuaremos a ser enganados e a ter consideração por pessoas que não a merecem. O crime continuará a compensar, e, num país assim, não haverá lugar para os novos e é melhor que emigrem.
Não pretendam que pertença a esse grupo.
Se o que está em causa é a honra de pessoas, então, defendam-nas se for caso disso. A vida de todos nós e a das futuras gerações, hoje como ontem, está em causa, muitos morreram porque não tivemos Homens à altura, hoje, emigrarão porque continuamos a não tê-los.
Parabéns ao blogue porque ainda é a única página em que vamos podendo afirmar umas verdades que nos estão atravessadas mas que bem gostaríamos que não passassem ao esquecimento ou fossem adulteradas.
Será que é pedir muito?
Um grande abraço a todos, e, em especial, ao Cherno Baldé.
João Martins

Anónimo disse...

Obrigado Cherno!

Infelizmente, episódios como este ,aconteceram às dezenas.

Os camaradas africanos,que aqui moram,contaram-me e alguns são ainda mais dramáticos.

Abraço Grande.

J.Cabral

João Martins disse...

Caro Carlos Silva

Depois de ter lido o que escrevestes, deixa-me responder e peço-te que não apagues.
Cheguei a estar preso pela PIDE porque sempre gostei de dizer o que pensava, e só não estive mais tempo porque preferiram que fosse combater.
Mas tenho uma característica, penso nos outros, no seu bem-estar e na sua felicidade.
Em certa medida, desculpo os elementos da PIDE, por duas razões, a primeira, é que sempre os achei uns broncos, a segunda, é que já se perfilavam os interesses das duas grandes potências que tinham as suas redes montadas e infiltradas em partidos políticos, evidentemente que, atuando na clandestinidade.
Por outro lado, registo a tua afirmação de que preferes a situação atual à antiga, e pergunto se por acaso ficaste sem emprego, sem casa, sem dinheiro para comer e sustentar a família, a dormir na rua, ou, se como muitos já fazem, se te pensas em suicidar?
Não só espero que não seja o teu caso, como não acredito que seja, pela simples razão de que é fácil concluir que não estás mal na vida. O que não compreendo é que não penses nesses casos dramáticos que ocorrem diariamente.
Provavelmente não tens formação em economia e não tens consciência da gravidade e da responsabilidade dos nossos atuais políticos e governantes, porque se tivesses, muito provavelmente pensarias de outro modo.
Grande abraço,
João Martins

Anónimo disse...

Já li, e tal como alguns outros camaradas também já fiz uma segunda leitura.
Penso ser meu dever dar os Parabéns ao Cherno Baldé
Também já li todos comentários.
Pela minha parte não vou fazer qualquer comentário.
Deixo essa tarefa para os Sociólogos, que tem aqui muita matéria prima gratuita,
ou alguém de direito.
Não gosto de meter foice em seara alheia...!
Eu não sei qual é número máximo de comentários para um mesmo Post ..mas o Luís graça deve saber...! Será que vai haver um novo record ?
Já faz tempo que não aparecia algo que despertasse tanto interesse quer ao nível
do relato quer ao nível destes extensos e ricos comentários.
Embora não acredite que algum dos comentadores tenha sido apanhado de surpresa, é na verdade impressionante a maneira como cada um de nós reage aos acontecimentos volvidos que são mais de 40 anos (no meu caso são 46)
Um abraço para todos
Artur Cart 730

Bispo1419 disse...

Olá, Carlos Silva!
Lá te espero, amanhã ao almoço, na Bataria da Laje.
Olha, desta vez irei sair da ementa social, vou comer sardinhas.
Quem me diria, em menino, que ...

Com uma sardinha a dividir por nós, três irmãos, e sempre em guerra para não ficar com a parte da cabeça ... Belos tempos, de fartura (que bela broa, áspera mas amiga para o estômago - para quê o pão de trigo?), de pouco dinheiro e muito trabalho (de sol a sol, pelo menos!), de sono justo no palheiro embrulhado em lençóis de palha, de sola dos pés bem curtida para poder substituir outras solas, de calças remendadas, num patchwork muito original, seguras com suspensório a tiracolo! Naquela altura ainda não sabia da "pevide", do "olho espião", da liberdade total de acusar falsamente alguém de comunista ou de inimigo do Governo, por vingança pessoal ou para lhe tirar o lugar no emprego. Que belos tempos! «Tudo pela Nação, nada contra a Nação!»
Um grande abraço

Manuel Joaquim

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas
Meu Caro João Martins

1 - Com certeza que não leste bem o que eu escrevi, bem como não me conheces, caso contrário, não escreverias o que escreveste para formulares um juízo de valor errado conforme formulaste acerca da minha pessoa.

2 - Conheço bem a realidade do nosso país quer do antes quer do depois e do actualmente e como tal estou perfeitamente habilitado para debater esta situação e não preciso de insultar seja quem for para expressar o que me vai na alma, quer seja de indignação, de revolta com a situação actual e como disse atrás, posso não concordar conforme foi processada a descolonização, bem como não estou, assim como a grande maioria dos portugueses não está de acordo, com a situação do nosso país, até porque também estou a ser expoliado/confiscado.
Mas quando digo prefiro a situação actual à anterior ao 25 de Abril é porque quer tu queiras quer não, a grande maioria da nossa população vive muito melhor do que nessa altura e não conheço o teu passado, assim como tu não conheces o meu, porque caso contrário repito, não terias escrito o que escreveste, porque o fizeste de cor e sem qualquer fundamento.

3 - Conheço muito bem as dificuldades que tu invocas, porque antes do 25 de Abril eu e minha família, assim como a grande maioria do povo português passou por elas e nesta altura do campeonato também dou o meu contributo para atenuar as dificuldades quer através do confisco a que estamos sujeitos quer na medida do possível incluindo o apoio aos nossos camaradas guineenses o que a maioria da rapaziada que escreve aqui no blogue não o faz em concreto, apenas vem para aqui com blás, blás de solidariedade moral.
Obra, apoio ???
Como dizem os guineenses "ká tem" "nega"
Para me conheceres melhor sobre o que digo quanto a este aspecto, faz uma pesquisa na net e para conheceres a minha pessoa no seu todo, passado e presente posso fazê-lo por mail e de certo chegarás a uma conclusão que tiveste uma melhor vida do que a minha, apesar de teres estado preso pela PIDE que felizmente eu não estive.
Recebe um abraço
Carlos Silva

Carlos Silva disse...

Olá Manel Joaquim

Deste uns toques na situação anterior e no passado da maioria dos portugueses dessa época...
Um abraço e até amanhã
Carlos Silva

JD disse...

Viva Carlos Silva,
Talvez que os epítetos que o Manuel Maia, o nosso bardo do Cantanhês, lançou sobre alguns dos miltares de Abril, possam configurar crítica política sobre aqueles intervenientes na história. E todos podemos ter entendimentos sobre os acontecimentos. Como admito que o M.M. não os conhece, levo as suas manifestações à conta da indignação política, e não à ofensa pessoal, o insulto.
Não estou a tomar posição pelo "antes" contra o "pós" 25 de Abril, mas desde já me afirmo contra ambos. E declaro que a nossa negligência cívica será a principal responsável pelo estado do País.
Abraços fraternos
JD

manuel maia disse...

Camarigos,

Aqueles que me conhecem de há uns anos,aqui no blogue,sabem que tenho dificuldades de visão e que me é extremamente difícil escrever em minúsculas porque desta forma não consigo acompanhar o que que escrevo...

Vou fazer um supremo esforço expressando-me como vocês gostam (devo informar-vos apesar de ter a certeza que o sabeis, que ao fazê-lo em maiúsculas não tenho, nem nunca tive, intenção de desrespeitar quem quer que seja nem de "gritar" como já vi escrito...)

Quando culpabilizo o poder político/militar português pelos crimes ocorridos no pós independência, faço-o na qualidade de cidadão que nada deve aos partidos políticos,pejados de gente acéfala que lhes presta vassalagem e não consegue pensar pela própria cabeça,mas de quem analisa com o distanciamento que a isenção de quem lhes não presta vassalagem pode permitir...

Pactuar com imoralidades não é do meu feitio, daí esta frontalidade que muitos de vós conheceis, faz tempo.

Historicamente não há dúvidas quanto ao comportamento do poder político emergente do pós golpe militar de 25 de abril de 74...

Estabelecer um paralelismo culposo entre os que premiram o gatilho (PAIGC) e os que fingiram não ver e assobiaram para o lado,(poder militar português) no caso vertente os nomes que referi e muitos outros, é obviamente lógico e claro...

Tentar passar uma esponja pela co-autoria destes crimes hediondos, pretender esconder os seus nomes por muito que custe a muitos,
não me peçam para o fazer...

Não referi ideologias nem apontei "clubes" partidários quando escrevi o texto em questão, por isso, Carlos Silva, não vou tecer comentários ao antes do 25 e depois do dito( que trazes à colação...) porque isso levaria a muitos rios de tinta e "resmas de páginas" para além de que contrariava os estatutos do blog...

Sobre as tretas, os blá blás os "améns" ou as bajulações, devo dizer-te que penso de igual forma...


Resta-me agradecer ao Luís por me ter permitido durante este tempo usufruir do seu espaço e deixar um abraço a todos.

P.S. Gostaria,uma vez mais,de agradecer ao Cherno a coragem evidenciada por não deixar de colocar alguns nomes de criminosos na mesa, e pedir humildemente desculpa aos milícias e faxinas, algures no etéreo, pela chacina de que foram vítimas através dos gatilhos da vingança do PAIGC e do asqueroso e ignóbil comportamento do poder político/militar português de então.





Anónimo disse...

Não devo conhecer o Manuel Maia, pois, de outro modo, não consideraria a letra maiúscula como elemento a referi no meu comentário.
Ficam aqui as minhas desculpas.
Quanto ao conteúdo dos meus comentários não tenho nada a retirar.
Um Ab.
António J. P. Costa

Tony Borie disse...

Olá Companheiros.
Não, não é novo comentário, é um apelo.
Algum de vocês sabe se existe uma página na internete, respeitante ao arquivo da antiga polícia de estado, que tinha o nome de PIDE/DGS?.
Se souberem, por favor digam-me e divulguem, pois eu passado tantos anos, gostava de ver a minha ficha, e saber o que é que esses "fdp", diziam de mim e da minha família.
E já agora, expliquem como lá posso entrar.
Um abraço, Tony Borie.

Anónimo disse...

Camarada Borié
A doc. relativa à PVDE/PIDE/DGS está Torre do Tombo. Não sei se eles permitem uma consulta on-line ainda que ao próprio. Sei que permitem consulta presencial
Um Ab.
António Costa

Tony Borie disse...

Olá Antonio Costa.
Obrigado, vou tentar tudo o que me for possível em "Torre do Tombo".
Um abraço, Tony Borie.

Henrique Cerqueira disse...

Meu Camarada Manuel Maia
Eu na realidade nunca tinha entendido o porquê de escreveres em maiúsculas.
Mas seja lá pelo motivo que for escreves como ó caraças e em relação ao tema da "polémica"se insultas ou não os tais políticos da descolonização eu só tenho a te dizer que faço minhas as tuas palavras.No entanto eu acho que alguma malta se preocupou em demasia com esses senhores e muito POUCO com a situação narrada pelo Cherno. É clarinho como a água que às vezes nos sentimos tão confortáveis neste espaço de tertúlia que quando manifestamos a nossa opinião até pensamos que estamos todos numa boa ("amizade") e até com alguma liberdade que antes não tinha-mos e até porque a nossa "Lauta Idade" nos vai permitindo sermos um pouco menos politicamente correctos.Mas, pôrra à aqui malta que está sempre em "guerra".
Defendo o respeito total e incondicional por todo o ser humano ,mas em verdade vos digo essa "cambada" que nos tem governado se calhar até não merecem assim tanto respeito.
Prontos vou acabar e ao meu CAMARADA MANUEL MAIA camarada de Batalhão o meu muito grande abraço de camaradagem e apoio.
Ai de ti Maia se deixas de continuar a ser como eras até aqui e já agora enquanto não tratas dos "farois"escreve com os "máximos acesos".
Henrique Cerqueira

João Martins disse...

Caro Carlos Silva
Começo por te pedir desculpa se alguma afirmação minha te tenha sido menos favorável.
Acontece que não te conheço, e, ao criticares o Manuel Maia pela sua "impetuosidade", senti que estavamos a voltar ao "antigamente", não sei nem discuto as suas opiniões, não sei nem procuro saber se tem ou não razão no que afirma. "Cada cabeça sua sentensa", e, até no futebol, com as imagens ao "ralenti", surgem as mais variadas opiniões, ora, isso não pode levar-nos a criticar a pessoa que as profere, mesmo, quando percebemos que há interesses envolvidos. Devemos ter o discernimento suficiente para filtrar esses pontos de vista.
Apenas te posso dizer que gosto de perceber o que todos os outros pensam, e essa é uma importante razão para vir ao blogue com muita frequência.
Por favor, deixem as pessoas expressarem livremente o que pensam, mesmo que, por vezes, não sejam justas e se excedam. Isto não pretende ser uma crítica, é apenas um pedido. E era apenas esta a minha intensão.
Carlos Silva, podes acreditar que as tuas palavras me tornaram um teu amigo, e desculpa a minha reação.
Um grande abraço a todos sem excepção,
João Martins

Carlos Silva disse...

Amigos & Camaradas
Meu Caro João Martins

1 - Peço desculpa a todos por voltar a este tema, que faço em virtude do nosso amigo e camarada João Martins ter a humildade de reconhecer o erro de análise que fez em relação à minha pessoa, pois eu também teria/tenho a mesma postura quando erro, pelo que é de louvar a atitude do João Martins.

2 – Respondendo ao João, devo informar que critiquei e reitero esta minha postura apenas e só quanto ao aspecto dos insultos que o Manuel Maia em resposta à minha crítica também reitera, apesar do Luís lhe pedir para não “fulanizar” e o José Dinis presumir que ele não quis ofender e agora o João aplicar o termo “impetuosidade” o que tudo isto tem um significado diferente do que o nosso camarada e amigo Manuel manifestou deliberada e conscientemente.

3 – Ora se se reconhece ao Manuel Maia a liberdade absoluta de insultar, que não tem, pois já referi que a liberdade tem limites, porque é que eu não tenho a liberdade de criticá-lo manifestando a minha opinião sem qualquer insulto?
Não é meu timbre vir para o blogue insultar seja quem for.
As pessoas em geral, os camaradas em particular, podem ser anti-abrilistas, abrilistas, salazaristas ou anti, partidários de A B C, a favor ou contra a descolonização, com as quais posso ou não estar de acordo, mas eu respeito a sua opinião.
Portanto, meu caro João Martins, também sobre nós impende o dever de ter o discernimento suficiente para filtrar o que é a diferença de opiniões e o dever de respeitá-las, e o que atinge as raias do insulto.
Afinal para que serve o apelo aqui feito reiteradamente à boa camaradagem etc etc ?
Nós não precisamos de socorrer-nos à via do insulto a pessoas concretas para se perceber o que os outros pensam.
Pois Meu Caro João, presumo que se alguém da tua família ou do teu círculo de amigos fosse insultado tu reagirias, logo também temos de reagir noutras situações que em nosso entender achamos que são incorrectas.
Muito mais haveria para dizer, mas por mim dou o assunto por finalizado, exceptuando…. ter de socorrer-me ao direito de resposta.
Um abraço para todos os bloguistas
Carlos Silva

manuel maia disse...

Caríssimos,

Julguei, pelos vistos erradamente, que o assunto estava encerrado até me aperceber hoje que afinal o Carlos Silva em resposta ao C.Martins continua a reiterar ( para usar a expressão de que tanto gosta...)o seu protesto contra o que considera ser insulto da minha parte contra os "fazedores" de revoluções que na minha perspectiva ( devo dizer que não estou só nesta postura de critica acerba...)tiveram uma actuação altamente culposa no processo que reputo de criminoso e que redundaria nos pelotões de fuzilamento de militares portugueses de origem africana ( logo seus camaradas de armas...)nos milícias e até nas crianças a quem chamávamos faxinas...

Todos nós, camarigos, tivemos faxinas e sabermos que foram fuzilados revolta o mais calmo dos mortais ,devo dizer-vos mesmo que a mim me enoja...

Enojam-me os que premiram o gatilho e enojam-me os que lhes deram cobertura.

Digo-vos mais, sinto vergonha por esse gesto hediondo apesar de o não ter cometido...

Isso é que é revoltante em vez de prestar loas a uns quantos traidores e criminosos ditos fazedores de revoluções...

Não lhes devo nada, antes pelo contrário, se hoje estão com boas reformas sem nunca terem conhecido trabalho, também a mim e muitos outros milhares de ex-combatentes o devem quando conseguiam que um ano valesse dois para futuras promoções, enquanto se faziam encher de medalhas na maioria dos casos obtidas por outrem, distantes do mato que abominavam...

Isso sim, é crime.


Esse é que é o cerne da questão, o crime monstruoso de que foram vítimas militares, milícias e faxinas no território que foi português e a quem as chefias político/militares lusitanas de forma ignóbil ignoraram tornando-se cúmplices dos actos...

Mas ao que parece, o "criminoso" sou eu que "chamo os bois pelos nomes"..

Por isso mesmo, não vou retirar uma vírgula ao que disse, e gostaria de reafirmar que não ataquei o camarada Carlos Silva para merecer esta sua invectiva como os "blás ,blás da solidariedade moral e a falta de obra ( obra ká tem nega...) e os "bitaites"...

Quanto à "repreensão" de que falei, Carlos Silva, não reparaste que está escrita entre comas, caso contrário não "tomarias a nuvem por Juno"...

Agora sim, devo dizer que NÃO DAREI MAIS PARA ESTE PEDITÓRIO"...

Um grande abraço a todos os que o quiserem receber.

mm