domingo, 23 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11752: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (39): 40.º episódio: Memórias avulsas (21): De lá para cá e vice-versa

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 17 de Junho de 2013, enviou-nos mais umas peripécias d"Os melhores 40 meses da sua vida", desta vez as suas andanças de lá para cá e vice-versa.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

21 - O ANTES DA GUINÉ - DE LÁ PARA CÁ E VICE-VERSA

Até que um dia...
Recebido o correio que vi logo ser Militar, disse para comigo: Queres ver que já me estão a convidar para um passeio até ao Ultramar?

Mas não... tal só veio a acontecer quando já tinha 20 meses cá no burgo (e até andava já, feito pavão, com as divisas amarelas e deixara de ser "O NOSSO" cabo miliciano, para ser "MEU" Furriel).
Agora estavam apenas a solicitar-me que fosse até à Amadora.

Ali chegado nem comida me deram e voltam-me a pedir:
- Queres ir até Lamego?

Hesitei, qu'era um bocado longe mas perante a insistência e os modos simpáticos, acedi.
Ali passei umas belas férias... passeei por cima do Douro revoltoso apenas agarrado a uma corda e desci da Sé de Lamego cá para baixo agarrado a outra mas esta tinha uma roldana que deslizava num cabo d'aço.
Neste último caso havia apenas de ir agitando os pés para que ao fim da descida não partisse as lajes que ornamentavam o solo...

Dali entenderam que precisavam de mim, em Tancos, foi bom que e, se por acaso viesse a pretender trabalhar em qualquer pedreira, ali colhi os conhecimentos e a própria carteira profissional de minas e armadilhas. Recordo até, com alguma emoção, convenhamos, aquele dia em que cá em baixo, junto ao Castelo de Almourol, fui experimentar um pedaço de massa explosiva, a que chamavam farinheira. Colocada que foi, debaixo dum pedregulho de todo o tamanho, a que juntei depois um detonador, mais um cordão com 50 metros que trouxe até cá ao alto e liguei a uma caixinha com alavanca que pressionei.

O estardalhaço do rebentamento foi impressionante, levantei a cabeçorra e é nessa altura que vejo aquele monstro redondo com mais dum metro de diâmetro, a dirigir-se, precisamente para local onde me encontrava. Eu sabia que causava tal reacção nas mulheres, pois que todas tentavam sempre fugir para onde eu estava, mas com pedras, tal nunca me passara pela tola.
Contudo nada de grave aconteceu, ninguém se aleijou e mais uma vez acreditei no dito: "ao menino e ao borracho..."

Depois... fui atenciosamente aconselhado a ir para Abrantes, onde monitor fui dum pelotão de recrutas acabados de chegar.
A eles me dediquei e ministrei tudo o que havia aprendido.

Tomar a seguir e novos recrutas.

Regresso a Abrantes e de novo para Tomar, sempre a ensinar só que agora, aos meus futuros camaradas para a guerra da Guiné, ou seja a preparar a minha saudosa CCAÇ 1422.

Pelo meio deste andar de cá para lá e vice-versa, houve ainda oportunidade e que ninguém sabe porque aconteceu, de ter estado um mês, completamente sem nada fazer, no GC Trem Auto, ali na Av. Berna, Lisboa.

É aquando da última permanência em Tomar, que entretanto fui promovido a Furriel Miliciano, mas a notícia saiu na OS de Abrantes donde voz amiga me avisou. Confirmei depois e nessa noite decidi fazer uma surpresa, aparecendo na Messe dos Sargentos, divisas acabadas de sair do forno no bolso e a fim de que me fossem implantadas por um dos Sargentos-Ajudantes, que por sinal nos acompanhou como chefe da Secretaria, que outra coisa até nem poderia ser, dadas a sua idade e físico já bastante abarrigado.

- Ó Nosso cabo, então não sabe que não pode entrar aqui onde estão os homens?

Passei por cima da provocação... disse-lhes ao que ia... recebido melhor que bem, mas avisaram-me do hábito, de ter de pagar uma rodada aos presentes e duas ao padrinho.

Aqueles SORJAS eram no fundo boas gentes, mas tinham de parecer beras, o que psicologicamente resultava.

Dois meses mais tarde, embarquei no NIASSA e foi assim que na Metrópole deixou de estar cá o JE.
Parti cantarolando baixinho para os meus familiares: "Adeus até ao meu regresso"

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11716: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (38): 39.º episódio: Memórias avulsas (20): Tavira - O antes da guerra

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Estas memórias do nosso camarada Veríssimo não são semelhantes as muitas das nossas?

Claro que há diferenças. As particulares. Mas, as gerais, são praticamente comuns.

Desta vez, sabendo como o Veríssimo é especialista em petiscos e como costuma 'publicitar' as coisinhas que vai cozinhando (e bebendo), apenas fiquei com a sensação de falta por não nos ter esclarecido o que é que efectivamente pagou na Messe de Sargentos pois parece que não se ficou só pela rodada da bebida...

Abraço
Hélder S.

Tony Borie disse...

Olá Veríssimo.
Gostei da maneira divertida como explicas todas aquelas "peripécias", para contornares todos os obstáculos até seres, o "NOSSO FURRIEL", e ficares pronto a embarcar, em defesa da mãe Pátria!.
Um abraço, Tony Borie.