segunda-feira, 10 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)




Guiné > Região do  Oio > CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) > Fotos do cap inf Cravidão e do seu pessoal [A CCAÇ 1585 foi mobilizada pelo RI 2, Abrantes; partiu para o TO da Guiné em julho de 1966 e regressou em maio de 1968].

Fotos: © Claudina Cravidão  (2013). Todos os direitos reservados

1. Duas mensagens enviadas pelo meu amigo, meu conterrâneo e antigo combatente (alf mil mil paraquedista, Angola, 1970/72),. Jaime Bonifácio Marques da Silva [, professor de educação física, hoje reformado, vive em Fafe, onde foi vereador da cultura]:

(i) 16 de maio de 2013: 

Caro Luís: Conheces o percurso militar do Cap José Jerónimo  da Silva Cravidão? Morreu na Guiné e era da CCAÇ 1585.

A viúva, dr.ª Claudina Cravidão que é minha colega de curso e amiga,  falou-me da homenagem que os camaradas lhe prestaram em Elvas.  Ele deixou duas filhas.

Falei-lhe do vosso Blogye e, parece-me, que ela já o encontrou. Vê se consegues conhecer as circunstâncias da sua morte em combate. (...)

(ii) 30 de maio de 2013:

Caro Luís: Reenvio o email da Claudina Cravidão. Penso que ela vai contactar-te. Se pensarem prestar alguma homenagem ao Cap Cravidão, diz-me. Gostaria de participar pela amizade que tenho à Claudina.

No próximo domingo já irei para o Seixal, [Lourinhã]. Será mais fácil, depois, falarmos sobre este assunto. Abraço amizade para ti e a Alice cá do pessoal do Norte. Jaime

2. Mensagem, de 28 de maio passado,  de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCaç 1585, morto em combate em 4 de Junho de 1967 [, era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho  destes anos todos; fazemos questão de o lembrar, hoje,  dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemora justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais] (*)


Jaime,  muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e,  quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.

No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele [, Cravidão.] a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos, assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.

Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e,  o que  sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que  não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava,  sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam.  Sei que  os homens o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não carne para canhão.

Mas,  depois de muito pensar, achei q não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário Linhas de Elvas, penso que as datas devem lá estar. A última a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário Linhas de Elvas a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial O Falcão, em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.

Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir, assim como um alferes com quem ele se dava bem e o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama (base pesada de turras). Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e,  já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele.Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. Quando fico mais em baixo,  digo para mim mesma «não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram» e tu faz  o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo,mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive em, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas,porque  as muitas outras que  possuo, são pessoais e essas não se publicam. Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima,pois também há muita gente que me chama Dina -é a terminação dos nossos nomes.). Beijinhos.









Linhas de Elvas, 31 de dezembro de 2012

O Falcão, outubro de 1967. 

[Recortes de imprensa: Cortesia da dra, Claudina Cravidão]


3. Comentário de L.G. [, mail enviado em 1 de junho ao Jaime, com conhecimento à Claudina Cravidão]:

Jaime:

Obrigado, por tudo o que tens feito pelos nossos camaradas da Guiné, pelo Cravidão e pela Claudina, enfim, pelo nosso "dever de memória e de gratidão"... Eu estava justamente a pensar como deveria responder-lhe, à Claudina, com a delicadeza que o assunto merece, quando abri a caixa de correio hoje de manhã [, 1 de junho]...

Queria também convidá-la a integrar o nosso blogue para, através dela e da nossa Tabanca Grande (9 anos de vida, 11500 postes, 620 membros registados, c. 5 milhões de visitas, atualmente - e nos últimos a nos - com 3 mil visitas em média por dia), manter viva a memória do nosso camarada Cravidão e dos demais camaradas que lutaram (e cerca de  3 mil morreram) na Guiné (1961/74). Vou fazer isso mais logo, ao fim do dia. E falar-lhe um pouco mais sobre a "missão" e a "natureza" do nosso blogue...

Hoje não vou à Lourinhã. De qualquer modo, é só para te dizer que recebi as 3 fotos que a Claudina mandou. Chegaram bem, e têm legendas. Não sei se ela mandou texto em anexo...Se sim, não chegou, só a mensagem.

Vamos pensar em fazer um ou mais postes de homenagem ao cap Cravidão, se ela concordar (penso que seja essa a sua vontade).  Fiquei muito sensibilizado com as palavras dela, que li na sua última mensagem. Gostava de as poder publicar, se ela me autorizar [, depreendo que sim, das tuas palavras e e das palavras dela]. Naturalmente que quero também associar o teu nome, meu irmão, amigo e camarada Jaime, a esta singela homenagem.

Quanto ao endereço (correto) do nosso mail é:

luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (sem cedilha no graca nem acento na guiné...)

Um xicoração, um Alfa Bravo (ABraço). Luís (**)

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3 comentários:

Luís Graça disse...

... Em 21 de maio tinha escrito ao Jaime o seguinte:

(...) Quanto ao malogrado cap inf José Jerónimo (e não António) da Silva Cravidão... Ele consta da nossa lista dos 24 capitães mortos na Guiné (10 em combate). Mas não tenho pormenores, no caso dele. Aliás, da sua antiga companhia, a CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/67) não tenho lamentavelmente nenhum representante. Era uma companhia independente, mobilizada pelo RI 2.

Transmite à viúva (e tua amiga) as nossas saudações e o nosso pesar pela morte deste nosso camarada, presumivelmente na temível região do Oio (ele estava colocado em Farim). Ela tem as "janelas" do nosso blogue à sua disposição para publicar fotos e outros documentos sobre a vida do marido, em especial no tempo (curto) passado na Guiné, onde encontrou a morte em combate.

Vou-te sugerir a publicação de mais um poste, com o teu nome (já que funcionas como "elemento de ligação" com a família). Dou um jeito aos "recortes" que me mandaste. Agora gostava de saber onde e quando foi publicado este texto (Revista ? Jornal ? Se sim, diz-me a data).

Há aqui uma referência a um fur mil Joaquim Pedrosa, que eu suspeito que seja um velho amigo meu, das finanças, infelizmente já falecido, mas que esteve na Guiné, nessa altura... Depois do 25 de Abril, em Lisboa, eu falava pouco ou nada da guerra colonial. Mas ele mostrou-me uma vez um livro da 1ª classe apreendido na região do Morés aos guerrilheiros do PAIGC... Vou ver se contacto a Fernanda Pedrosa, viúva, que vive em Oeiras...

Olha, pede à tua amiga fotos do capitão na Guiné... e vê se as digitalizas. Enfim, podemos fazer uma homenagem a este camarada (de quem, se bem me lembro, já me tinhas falado). Um abração para ti. Um bj para a Dina. Luis

Luís Graça disse...

... E a propósito do 10 de junho, comemorado hoje em Elvas... De entre as persoanalidades, civis e militares, condecoradas hojem estão dois camaradas nossos, ligados à nossa Tabanca Grande, o Mário Beja Santos e o João Paulo Dinis. Registo com apreço e satisfação. LG

José Marcelino Martins disse...

Ordem da Liberdade


João Paulo Baptista Diniz (Oficial)


Ordens de Mérito Civil:

Ordem do Mérito

Dr. Mário António Gonçalves Beja dos Santos (Grande-Oficial)