quarta-feira, 3 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11336: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (13): Um batizado muçulmano

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XIII) (*)


 [, Foto à esquerda: a Anabela em Catesse, janeiro de 2012, crédito fotográfico: Pepito]


10 de Março de 2012

Ontem foi o batizado do Arnold Abdulai Djaló, o bebé que vi nascer. A Dra. Sónia, a médica alemã que tinha ido observar a Mariatu, telefonou durante a viagem para Bissau a saber como estava a decorrer o parto e foi-lhe dito que já tinha nascido um menino. Ela pediu para lhe darem o nome do seu marido. E assim foi. O menino chama-se Arnold (nome do marido da médica) Abdulai (nome de um irmão da Mariatu já falecido) Djaló (apelido da família do pai). Desta vez não perdi pitada e fotografei todo o batizado. Só me retirei quando degolaram a cabra, o que foi muito rápido.

A determinada altura, o sr. João Manuel (nome português de um habitante local que fez tropa no exército português) apresentou-me no terreiro dos homens e resolveram dar-me um nome guineense: Adama Queta. Bom, foi quase um segundo batismo mas não me raparam o cabelo, nem me lavaram a cabeça com a água onde mergulham folhas de mangueira, de figueira e cola.


[ Foto à direita: um batizado muçulmano, Iemberém, 6 de desembro de 2009. Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]


Ontem chegou também o Pepito com o Claúdio, o Professor Turco e o Marco, italianos ligados ao Projeto EcoCantanhez. À tarde houve uma reunião com os guias turísticos e não percebi bem se também estavam os guardas do Parque. A reunião decorreu em crioulo e só consegui entender o sentido global do tema em debate. Hoje haverá nova reunião com os guias na qual irei participar. 

Temos cá, como turistas, um casal formado por uma guineense bastante clara e um italiano que vive em Bissau há 3 anos (namorados – penso que ele é representante da UE) e um casal americano que chegou de surpresa e veio de bicicleta desde Buba, uma terra que fica aqui a uns quantos quilómetros.

Por causa de todas estas pessoas, na 5ª feira estive grande parte do dia com a Satu na cozinha e fizemos bananas fritas, crepes de laranja (pela primeira vez; a Satu gostou muito e os clientes também) e tarte de limão. Como sempre acontece nas formações, de tudo o que vou ensinando à Satu sei que no futuro só fará três ou quatro receitas. Tenho sempre pena de que assim seja pois para mim a diversidade é importante. Para já sei que fará o Bolo de Laranja, a Tarte de Coco e Bananada Odile, talvez as Laranjas da Guiné à moda da Rosinda e … vamos ver se os Crepes de Laranja e a Tarte de Limão. Quem sabe a Salada de Repolho e Cenoura, a Sopa Juliana …. Só o tempo o dirá!

Agora vou começar a preparar a viagem que farei com 3 formandas à Gâmbia, a um projeto de ecoturismo. Bom, o mais difícil é preparar uma visita de estudo sem fazer a mínima ideia do que vamos ver e encontrar. Ainda não consegui que me dessem qualquer informação e não posso pesquisar pois não tenho Internet. O meu trabalho tem sido feito sem impressora (o Pepito já trouxe uma mas agora não temos eletricidade), sem viatura, sem Internet e agora sem eletricidade com menos possibilidades de carregar a bateria do computador.

Com um caderno B5 e outro material de escritório que trouxe de Portugal vou fazendo o que posso. A maioria das vezes faço as coisas no computador, para ficar com uma cópia, e depois passo à mão para as folhas do caderno (que está a acabar mas aqui há cadernos à venda!). E como a Judith [, francesa,] vai estar fora o fim-de-semana, o que me impedirá de carregar a bateria do computador no seu painel solar, o melhor é ficar-me por aqui pois já só tenho carga para mais 3 horas até à próxima 3ª feira!

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11301: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (12): As mulheres, as mães...também aqui elas são, na maioria das vezes, o garante do sustento da família

10 comentários:

Luís Graça disse...

Olá, Anabela! Espero que tenhas tido uma "boa e santa" Páscoa, entre as gentes dos mais variados credos, etnias e origens... em Auroville, Índia.

Estive no "mato", em Candoz, onde também não há Net... e ainda por cima me esqueci do portátil na Lourinhã... Quem pagou as favas foi o blogue. Com o Carlos Vinhal também de "férias", foi difícil atualizar o blogue todos os dias... (ASWproveitava quando ia ao Porto: andei "cá e lá"...).

Tudo isto para te dizer quanto eu entendo a tua sabedoria e experiência: se não há eletricidade, nem computador nem Net em Iemberém, recorremos aos velhos cadernos e aos velhos lápis da nossa infância... Eu fiz o mesmo em Candoz.

Percebo como aí, em Iemberém, um painel solar pode ser o bem mais precioso... e desejado. A tua experiência é também uma lição de vida...

Quanto ao batismo do catraio da filha do padeiro... Não sei se a cerimónia que descreves é equivalente ao nosso batismo cristão. Creio bem que não. Mas é também um rito de passagem. Já há tempos alguém (jukgo que foi o João Graça) aqui explicou o significado de se rapar o cabelo (exceto no cocoruto)da criancinha (vd. foto do JG).

Talvez o Cherno Baldé, o nosso especialista em Islão, e em usos e costumes da sua terra, nos queira e possa explicar melhor o sentido dessa cerimónia... E como se chama em crioulo e em fula.

Luís Graça disse...

Sobre esta cerimónia, ver o "site" A Voz Muçulmana na Internet


http://www.religiaodedeus.net/huquq_al_awlad2.html

Anónimo disse...

Grande Anabela!
Só uma alma de África saberia (d)escrever assim - claro e simples.

SNogueira


Luís Graça disse...

Adama Queta: nome bonito!... Mas também ficavas bem com o cabelo rapado, só com um tufo no meio da pinha para Deus te poder agarrar, com força e segurança, em caso de... emergência. Aliás, tu usa-lo curto, curtíssimo! Não sei como o Altíssimo pode desempenhar a sua função, em caso de perigo...

Qual será o significado da lavagem da cabeça com "a água onde mergulham folhas de mangueira, de figueira e cola" (, como de resto se vê na foto do João Graça) ?

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

Venho um pouco atrasado sobre este assunto de baptizado muçulmano que me apanhou, diga-se de passagem, com alguma surpresa, porque há coisas que, as vezes, por força dos habitos e da rotina nem nos preocupamos em procurar explicações.

Mas, ontem falando com alguns "Chernos" cá da zona, meus conterrâneos, sobre esta matéria, a conclusão que retenho é que se trata de um rito de passagem, como diz o Luis Graça, ou ainda de introdução na sociedade por tratar-se do nome de um ser novo, recém-nascido e que, como se sabe, em muitas sociedades humanas é carregado de um grande simbolismo acompanhado, muitas vezes, de um emaranhado de misticismo e de preconceitos (é o que pode explicar as folhas e a cola introduzidas num cabaz de água, em outros sitios os elementos podem variar).

Com este ritual a sociedade reconhece, aceita e recebe um novo membro no seu seio, apadrinhado por pessoas cuja idóneidade e conduta moral é reconhecida.

A cerimónia é feita uma semana após o nascimento o que corresponde a um ciclo de 7 dias, o que, em tempos quando nada era feito sem consultar os astrólogos (pratica cultural tipicamente Ásiatica), podia ter um significado ligado ao movimento das estrelas ou coisa parecida (agora estou a especular).

A julgar pela forma e os elementos que entram na cerimónia (corte dos cabelos e lavar com água), tudo leva a pensar que as suas origens estão intimamente ligadas a religião islâmica com remanescências da tradição judaica.

Para finalizar, penso que aqui o baptismo muçulmano não terá nada a ver com a purificação ou perdão de pecados originais (Baptismo Cristão).

A Dona Anabela até aqui mostrou ser boa observadora e pode-se mesmo dizer que as notas até aqui apresentadas são em geral irrepreensiveis, embora tenham um pendor mais feminino que masculino facto que se explica, julgo eu, pelo meio socio-cultural dos habitantes e os limites ou barreiras sociais (acantonamento)com que ela, involuntariamente, ficou confrontada.

Um grande abraço a todos,

Cherno Baldé

PS: O tufo no meio da cabeça pode-se explicar, também, pelo cuidado e atenção que é dado aquele ponto central do cráneo cujos constituintes ósseos em geral são bastante frágeis e maleáveis a nascença.

Anónimo disse...

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