quarta-feira, 20 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11281: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VII): Bafatá, uma piscina para três mil...


Foto s/ nº > Reprodução de foto publicada numa revista lou brochura  da época... A piscina de Bafatá e ao fundo, do lado esquerdo,  o estabelecimento comercial da Casa Gouveia


Foto s/ nº > Diz o Abílio, legenda em cima da própria foto: "Três mil soldados para uma piscina" (...fora os civis). Ao fundo vê-se a estátua  ddo governador João Augusto de Oliveira Muzanty (1906-1909), e o estabelecimento local da Casa Gouveia.[, salvo erro] [LG]


Foto s/ nº > O Abílio descansando na psicina de Bafatá, que tinha o nome de Guerra Ribeiro, e foi inaugurada em 1962 . [Este Guerra Ribeiro deve ter sido o administrador da circunscrição ou concelho de Bafatá, na época. Também terá sido, antes ou depois,  administrador de Bissau: o seu nome estará ligado á construção do bairro da Ajuda. ]




Foto s/ nº > O Abílio, com um camarada não identificado


Foto s/ nº > O Abílio, no cais fluvial de Bafatá, no Rio Geba Estreito, que era navegável até aqui...

Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/71) > "Na piscina em Bafatá. Bons tempos!... Ainda conseguíamos pirar-nos de Contuboel e passar uns bons momentos em Bafatá. Perto da piscina havia um restaurante [, A Transmontana, seguramente,] muito bom".


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa
companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*) Na época a cidade de Bafatá era, a seguir a Bissau,  porventura a maior, a mais bonita, moderna e limpa da província da Guiné. [Ver aqui fotos posteriores, do Humberto Reis, de 1996].


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6 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Conselho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades politicas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro-de-Ajuda, o unico Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau construido na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Conselho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades politicas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro-de-Ajuda, o unico Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau construido na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Antº Rosinha disse...

Sempre houve chefes de Posto , ou Administradores coloniais que deixaram marcas como este Guerra Ribeiro que talvez o nosso Cherno só já conheceu de ouvir falar.

Mas, não sei se existiu mesmo uma lei colonial ou não que se contava:

"Nas Repartições do Estado, não podem entrar nem cães, nem pretos descalços".

Mas o trabalho obrigatório como o bairro da Ajuda já fora da Chapa-Bissau (moderno), esse trabalho teve mais ou menos o mesmo processo do trabalho criticado políticamente pelos movimentos PAIGC, MPLA...que era os "contratados" em Angola.

Também lá em Angola eram os Chefes de posto ou Administradores que como Guerra Ribeiro, arrebanhavam, convocavam, obrigavam, "contratavam" os jovens das tabancas a prestaren trabalhos temporários, que eram sempre remunerados e com normas.

E como diz o Cherno, a "disciplina colonial", também eu digo sempre, que os velhos régulos "gostavam" dos chefes de posto.

Mas não é fácil de explicar, quem poderia explicar bem era um Luís Cabral, um Nino, e mesmo Amílcar Cabral.

Os que politicavam antes da guerra, diziam que se se produz tanta riqueza para o branco com trabalho obrigatório,quando fôr a trabalhar para nós...imagine-se.

Ainda trabalhei com guineenses na Tecnil que conheceram esse muito afamado Guerra Ribeiro, para o povo era tão afamado como Spínola.

Sempre que ouvia falar nele era no tom como aqui se fala do Salazar, quando se diz agora só "dois salazares".

A minha vida em Angola foi trabalhar com "contratados", e só soube analizar o que isso era depois de trabalhar 13 anos na Guiné com "voluntários".

E cá, com brasileiros, guineenses, moldavos e ucranianos.

Cumprimentos

Bispo1419 disse...

Olá, Cherno!

Essa da obrigatoriedade dos "pés calçados" não era coisa inédita, a medida já vigorava em Portugal. Julgo que o governo de Salazar, lá pela década de (19)50, tinha proibido os pés descalços nas vilas e cidades, em ambiente urbano. O administrador de Bafatá foi, como se costuma dizer, mais papista que o Papa, não atendendo às condições específicas do tempo e do lugar.

Quando eu era criança, na minha aldeia e arredores, o normal era mulheres e crianças andarem descalços mas sempre vi os homens calçados fora de casa. No entanto, para entrar na vila de Pombal, sede do concelho, era obrigatório ir-se calçado, a falha estava sujeita a multa. E por isso havia muitas mulheres que compravam calçado para ser usado nas idas à vila, o que permitiu que também o começassem a usar nas cerimónias comunitárias.

Na década de (19)60 ainda fui testemunha desta situação:
Em 1962/63 dei aulas nos arredores de Pombal. A escola ficava no fim do caminho que entrava pela floresta de pinhal que se seguia até ao mar, a uns 30 Kms.
A certa altura dei conta de frequentes ajuntamentos, pequenos e grandes, perto da escola à saída da floresta. Qual a razão desses ajuntamentos?
Era só uma, a de se calçarem. E não eram só as mulheres, também os homens enfiavam os pés nas botas que traziam dependuradas ao pescoço pelos atacadores.
Era ali, às portas da "civilização" governamental que se preparavam para nela entrarem. Quem fosse apanhado a infringir a lei sofria uma multa, lembro-me de ouvir falar em 2$50.
Não, não era açoitado (e isso não sei!) mas, quem não pagasse a multa não se livrava dumas horas no calabouço da GNR.
Ainda me lembro de ouvir contar, aos mais velhos, casos caricatos. Uns deles humilhantes e outros hilariantes pelas vicissitudes do
jogo do gato (das botas) e do rato (descalço).

Muitas felicidades, meu caro Cherno, para ti e para toda a tua família.
Um grande abraço do
Manuel Joaquim

Manuel Carvalho disse...

Caros camaradas

Tal como diz o Manuel Joaquim quando eu era criança também na minha zona era proibido andar descalço nas Vilas e Cidades.
E mais há estradas em Portugal construídas nesse tempo em que pelo menos parte da mão de obra era fornecida obrigatoriamente pelas populações onde a estrada passava.As pessoas eram convocadas pela autoridade local e cada família tinha de dar uns tantos dias por semana conforme eles decidiam.Não estou a dizer que está bem ou mal, estou só a falar de factos que aconteceram em Portugal nesse tempo.

Um abraço

Manuel Carvalho

José Marcelino Martins disse...

Sobre o tema do calçado, também em Leiria, onde nasci e residi até cerca dos 10 anos, era obrigatório o uso de calçado.
Mas havia mais.
Era proibida a mendicidade.
O Governo Civil tinha atribuído à PSP a missão de "angariar associados" para contribuir para a ajuda aos mais necessitados. Os que concordassem pagar as quotas tinham, pregado na porta, uma estrela de seis pontas, para "alertar" os pedintes que ali residia um contribuinte, pelo que não devia ser incomodada.
Resultado: a falta desse sinal pregado na porta, era um indicio discriminatório, pelo que praticamente todos os habitantes contribuíam.