terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11156: Do Ninho D'Águia até África (54): Ano e meio já lá vai (Tony Borié)

1. Quinquagésimo quarto episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA - 54


Os últimos meses de presença em cenário de guerra foram passados quase como todos os combatentes que cumpriram vinte e quatro meses de estadia na então província da Guiné, mais ou menos naqueles anos, portanto é quase um reviver de acontecimentos, as porporções do conflito estavam a aumentar de dia para dia, já era difícil viajar de uma povoação para outra sem haver contacto com os guerrilheiros ou com qualquer das suas armadilhas, colocavam minas e fornilhos nas principais vias de comunicação, utilizavam os seus corredores de abastecimento durante a noite, tinham as suas “casas mato”, na verdade os guerrilheiros já tinham alguma experiência em guerrilha e sabiam o terreno que pisavam.
O Cifra ia sobrevivendo, já tinha o seu calendário em papel quadriculado, onde todos os dias colocava uma cruzinha, a caminho de se completar. Já não eram tantos assim os dias que lhe faltavam para um possível abandono do mesmo cenário e regresso a Portugal.


Todos os dias pela manhã, ao colocar uma cruzinha no referido quadrado, considerava uma conquista. Não era bem uma conquista, era uma reconquista, era uma satisfação interior que não cabia dentro dele. Passavam dias, semanas e meses, e lá ia sobrevivendo, preenchendo os referidos quadrados do seu calendário. Não sai do aquartelamento, a não ser por motivos de ordem maior, tirando claro, as suas idas quase todos os dias, à vila e à tabanca com casas cobertas de colmo, que existia próximo do aquartelamento, onde estavam pessoas que já considerava família. Tirando isso, procura todas as desculpas possíveis para não se deslocar na distribuição do tal material classificado que era o novo código de cifra, que era renovado todos os meses, e tinha que ser distribuido por mão própria a todas as unidades que se encontravam em diferentes zonas de combate, a palavra “sobrevivência”, agora sim, era muito importante para o Cifra.


O movimento de militares aumentou na área, quase que triplicou em alguns dias, são centenas de militares em constante movimento, com as viaturas ocupando todos os espaços. É uma barafunda. Com a chegada de novos militares já ninguém se conhece. No dormitório colocaram mais do dobro das camas, neste momento existe dois andares de camas, muito chegadas umas às outras, com roupa camuflada, alguma molhada, a secar, colocada em cima dos mosquiteiros e em outros locais, dos militares que vão chegando das patrulhas. Os militares caminham por um labirinto de camas, como andassem dentro de um submarino, logo à entrada do dormitório está sempre uma caixa com uns resto de munições, que não auxiliam nada a quem quer passar, mas ninguém se importa com isso, e sempre que passa por lá um militar, dá-lhe um empurrão com a perna, mas alguém volta a colocá-la no lugar inicial, pois o militar que dorme na cama ao lado quer mais espaço. Em alguns dias de calor infernal, o cheiro a suor e outras coisas é insuportável, e alguns vêm dormir na rua, encostados ao dormitório, onde alguns dias por mês, alguém, muitas vezes até é o Cifra, vai buscar um balde, onde com um pouco de criolina e água, pincelam, com uma vassoura feita de ramos de alguns arbustos, em volta do dormitório. Na área ao fundo do aquartelamento, onde existem os tais furos de água quente, muito quente, a cheirar a enxofre ou coisa parecida, é um pandemónio. As couves e alfaces, que o Cifra tinha plantado, desapareceram. A área agora, está cheia de bidons, uns com água, outros vazios e amolgados, ao sol quente, abafado e húmido.


O Cifra ia escrevendo o seu diário, mas as palavras que completavam as frases eram sempre as mesmas, ataques ao aquartelamento, emboscadas, feridos, mortes, só mudava as datas, às vezes ficava desesperado e gritava:
- Merda, tirem-me daqui, pois estou a ficar doido.

Alguns diziam:
- O Cifra, ou está sobre influência, ou já está “apanhado”!
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 23 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11141: Do Ninho D'Águia até África (53): Comando de Agrupamento 16 (Tony Borié)

1 comentário:

Anónimo disse...

http://achatcialisgenerique.lo.gs/ cialis achat
http://commandercialisfer.lo.gs/ cialis generique
http://prezzocialisgenericoit.net/ vendita cialis
http://preciocialisgenericoespana.net/ comprar cialis