terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11116: In Memoriam (140): Major General Jaime Neves, falecido no Hospital Militar Principal de Lisboa em 27 de Janeiro de 2013 (José Martins)

1. Apesar de o Major General Jaime Neves nunca ter passado pela Guiné, era justa uma pequena homenagem do nosso Blogue a este valoroso militar que se distinguiu nas suas campanhas na Índia, Angola e Moçambique, sendo posteriormente um dos "Homens de Abril".

Este é mais um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Martins [foto à direita] a quem ficamos gratos por mais esta incumbência.

O editor



Foto e referência retirada da página da Associação de Comandos


Major General Jaime Neves

Na realidade, infeliz realidade, completa-se no próximo dia 27 de Fevereiro de 2013, o trigésimo dia da morte do nosso camarada de armas, Jaime Neves, que foi um distinto militar do nosso exército, partilhando com muitos combatentes as agruras duma guerra que não escolheram fazer.

Para conseguir alinhar algumas palavras sobre este Oficial General, optei por procurar algo, sobre o mesmo, nas diversas páginas disponíveis na internete.

Curiosamente poucos dados biográficos encontrei sobre a pessoa que, não tendo palmilhado as mesmas matas e bolanhas, não deixou de ser uma figura que, em conjunto com outras, fez parte do Movimento das Forças Armadas, em Abril de 1974.

De seu nome completo, Jaime Alberto Gonçalves das Neves, nasceu em São Martinho da Anta, Vila Real, a 28 de Maio de 1936, não mencionando a sua filiação. Fala que seu pai era polícia e a sua mão doméstica, sendo filho único.

O Capitão Jaime Neves após ter sido condecorado com a Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe, que lhe foi conferida em Ordem do Exército nº 4 – II Série – 1968. 
Foto: Correio da Manhã, com a devida vénia.

Completado o Curso Liceal em Vila Real, em 1953, entra para a Escola do Exército, actual Academia Militar. Terminado o curso em 1957, e com a patente de Alferes, parte para Moçambique para a cidade de Tete.

Em Março de 1958 vai para a Índia que, desde 1954 com a ocupação dos enclaves de Dadrá e Nagar Haveli, um enclave de Damão, era o destino de muitos militares. É a sua experiência asiática.

Regressa a Moçambique em 1960, já com o posto de Tenente ao qual tinha sido promovido no ano anterior, tendo ficado na Beira até Dezembro de 1961.

Regressa à metrópole e é colocado no Batalhão de Caçadores nº 10, em Chaves, onde vai dar instrução aos elementos da futura Companhia de Caçadores nº 365. Foi, no entanto, mobilizado para o Batalhão de Caçadores nº 381, formado em Chaves, para ir para Angola, onde chega a 03 de Dezembro de 1962, que se vai instalar em Úcua, Norte de Angola, ficando a ocupar o cargo de oficial de reabastecimentos.

Algum tempo depois é-lhe confiado o comando da Companhia de Caçadores nº 365, também mobilizada em Chaves, chegada a Angola em 13 de Julho de 1962 e cuja unidade já conhecia, por lhe ter dado instrução no BC 10 de Chaves. É aí que inicia a sua prova de fogo, comandando os seus homens com disciplina, coragem e abnegação.

Regressado em Janeiro de 1965, decide ingressar no Regimento de Artilharia de Queluz, onde inicia uma das maiores provas: o curso de comando.

Em 1966 regressa a Angola onde comanda a 2ª Companhia de Comandos, cujos resultados impressionam e as operações sucedem-se, combatendo a guerrilha.

A Companhia de Comandos é enviada para Moçambique, para a região de Tete, em Maio de 1966, dado o agravamento da situação militar. É no Norte da província que o Capitão Jaime Neves e os seus homens travam duros combates com a Frelimo.

Dado que nos baseamos em documentos dispersos e não no processo pessoal de Jaime Neves, há alguns factos de que nos apercebemos, mas que a documentação consultada, não refere em pormenor.

Sabe-se que, além de ter estado na Índia, fez duas comissões em Angola e mais duas em Moçambique, onde, já Major, se encontra em 1973.

Presente nos anos de 1974 e 1975 no Movimento das Forças Armadas, comanda como Tenente-Coronel graduado em Coronel o Regimento de Comandos.

Major General Jaime Neves, data desconhecida. 
Foto: UTW, com a devida vénia

Pela observação das poucas fotografias encontradas, supomos que conseguimos identificar as seguintes condecorações:

• Medalha de Valor Militar;
• Medalha Cruz de Guerra, 1ª Classe;
• Medalhas de Serviços Distintos;
• Medalha de Mérito Militar (?)
• Medalha de Comportamento Exemplar;
• 2 Medalhas Comemorativas das Campanhas (Angola e Moçambique);
• Medalhas das Campanhas de Serviços Especiais (Índia)

Em 1995, no dia 13 de Julho, foi agraciado pelo então Presidente da Republica com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, tinha o posto de Coronel

Já na situação de reforma, “As chefias militares consideraram que o seu "mérito e os serviços prestados à Pátria" justificam a "promoção por distinção".[6] A promoção a Major-General foi confirmada pelo Presidente da República Portuguesa, Prof. Aníbal Cavaco Silva, a 14 de Abril de 2009”.

Veio a falecer no Hospital Militar Principal, em Lisboa no dia 27 de Janeiro de 2013, tendo as exéquias sido celebradas na capela da Academia Militar, nos Paços da Rainha e no Cemitério do Alto de São João, a que estiveram presentes muitos “Antigos e Actuais Comandos”.

José Marcelino Martins
18 de Fevereiro de 2013
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11110: In Memoriam (139): Cor inf Carlos Alberto da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973): Trasladação dos seus restos mortais, no próximo dia 26, 3ª feira, às 11h00, no Cemitério de Sesimbra, para o talhão da Liga dos Combatentes (Carlos Jorge Pereira)

8 comentários:

antonio graça de abreu disse...


Quando da morte do Jaime Neves, pensei que o blogue estava distraído. Nem ai nem ui, nada escrito sobre a sua morte. O senhor, militar de direita (?), passava ao lado de éne almas boas que escrevem neste nosso fantástico e inebriante blogue.
Jaime Neves regressou pela pena do Zé Martins. Apenas um acto honesto de justiça.

Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Graça disse...

Obrigado, Zé, por mais uma vez (e já são dezenas e dezenas de vezes) teres respondido à chamada, isto é, neste caso teres aceite o meu pedido (e desafio) de recolher informação paar uma notícia necrológica sobre o maj gen Jaime Neves. Fizeste-o com discrição, empenho, competência, e rapidez na tua qualidade de colaborador permanente, não editor, do blogue...Escuso de lembrar que o blogue não é um portal noticioso; e além disso, se é de todos nós, tem de ser feito todos os dias por nós, os seus 606 grã-tabanqueiros...

Um abração. LG

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PS - Há dois dias atrás tinha-te mandado a seguinte mensagem (que torno pública):

Zé: Queres fazer um apontamento para o dia 27, um mês depois da morte do Jaime Neves ?... Tu foste o único que te referiste à triste efeméride, na página da Tabanca Grande, no Facebook... Na montra do nosso blogue (coluna do lado esquerdo), eu fiz logo uma pequena notícia (Lembrete) sobre a morte do nosso camarada, e sobre o seu enterro, data e local... Esteve dois dias "on line"...

Embora não tenha sido combatente da Guiné, o Jaime Neves merecia maior visibilidade, até por que tinha aqui vários amigos (o Mário Dias, o Amílcar Mendes, e outros comandos). Lamento não se ter publicado nada. Eu não posso estar em todas, se tivesse recebido algum texto (do Mário Dias, do Amílcar Mendes...) sobre o Jaime Neves teria publicado, eu ou o Carlos Vinhal. Mas ainda vamos a tempo de reparar a injustiça. Talvez o Mário ou o Amilcar possam escrever meia dúzia de linhas sobre o homem, o combatente, o comando e o amigo. Nós não somos jornalistas, lamento. Daqui vai também o meu abraço solidário para o Mário e o Amílcar que eu prezo muito. Agradeço ao Mário Dias o reparo. Luís
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PS - Sobre o Jaime Neves temos apenas 3 referências:

Terça-feira, Fevereiro 19, 2013 3:32:00 PM

Anónimo disse...

Gostaria de transcrever as declarações do General Ramalho Eanes, o militar que foi o proponente da promoção a titulo excepcional a Major-General, em 2009:

«... Ele era um homem de esperança e de ação. Imagino que deva ter partido com essa esperança e com alguma angústia também. ... »
E adiantava a notícia sobre o seu funeral:
Entre as centenas de pessoas que prestaram, esta segunda-feira, homenagem ao falecido major-general Jaime Neves destacaram-se dezenas de boinas "vermelho-magenta" de antigos combatentes e militares dos Comandos, na capela da Academia Milita, no Paço da Rainha, em Lisboa.

"Foi um combatente extraordinário. Não em insubordinação ao Estado, mas por identificação com aquilo que é o sentimento nacional, a nossa unidade distintiva enquanto Povo, feita de cultura, de passado, de presente. Quando concluiu que a continuação política da guerra era um erro crasso, rebela-se contra o regime e tem uma participação ativa no 25 de abril e uma participação excecionalmente ativa no 25 de novembro", descreveu à Lusa o antigo presidente da República, general Ramalho Eanes.

Num espaço que foi pequeno para tantas pessoas, aglomeraram-se muitas figuras das Forças Armadas e do Estado, assim como populares e até funcionários da empresa de segurança privada 2045, fundada por Jaime Neves e o capitão-"comando" Sousa Gonçalves em 1990, também envergando as características boinas.

"Ele era um homem de esperança e de ação. Imagino que deva ter partido com essa esperança e com alguma angústia também. Morreu um homem a quem devemos, todos nós, muito", concluiu, emocionado, Ramalho Eanes.
E a notícia coinuava:

"No 25 de Novembro de 1975, Jaime Neves, cuja biografia tem o título de "Homem de Guerra e Boémio", liderava o regimento de Comandos da Amadora, uma das unidades militares que se insurgiu contra a denominada Esquerda militar radical e levou à conclusão do Período Revolucionário Em Curso (PREC).

"Neves, natural de Vila Real e colega de Eanes, Melo Antunes, Loureiro dos Santos e Almeida Bruno na Escola do Exército, morreu domingo, com 76 anos, depois de cinco missões de serviço em África e na Índia, merecendo a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, Lealdade e Mérito, em 1995, pelo então presidente da República, Mário Soares."

De facto Jaime Neves foi um grande Homem e um grande Militar e eu tenho muita honra por ter sido seu Amigo, nas horas boas e menos boas do pós 25 de Abril. Paz à sua Alma!

Cor. Manuel Bernardo

Anónimo disse...

... legenda para a foto com «data desconhecida»:
- CTC (Carregueira), 29 de Junho de 2012 - celebração do 50º aniversário da formação dos primeiros GrCmds (RMA).

Cpts,
JCAS
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Anónimo disse...

... quanto à biografia, encontra-se desde 27Jan2013 disponível, no sítio
ultramar.terraweb.biz/MajorGeneralJaimeNeves/Biografia_JaimeNeves.pdf

(nota: o biografado não nasceu em São Martinho da Anta - onde seus pais residiam -, mas sim no Hospital de Vila Real)

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Cpts,
JCAS

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José Marcelino Martins disse...

A Medalha dos promovidos por feitos distintos em campanha foi criada em 28 de Maio de 1946 e destina-se a galardoar os militares que, pelas excepcionais virtudes militares ou dotes de comando, direcção ou chefia demonstrados em campanha ou em circunstâncias com ela directamente relacionadas, tenham sido promovidos por distinção.

Originalmente foi criada como uma insígnia, em 2/12/1919, pelo decreto n.º 6264, consistindo de fita simples, com a designação de Insígnia de Promovidos por Distinção.
Desenho

O seu desenho consiste do seguinte:

Anverso: estrela de cinco pontas, cinzeladas, cada uma terminada por uma esfera armilar pequena; ao centro, um disco carregado de um emblema nacional rodeado de listel circular com a legenda «PROMOÇÃO POR DISTINÇÃO», em letras de tipo elzevir, maiúsculas;
Reverso: idêntico ao anverso, mas tendo ao centro um disco com a legenda «MORRER MAS DEVAGAR», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, em três linhas sobrepostas. Cercando a legenda, duas vergônteas de louro, frutadas e cruzadas nos topos proximais.

A fita é constituída por 3 partes iguais, sendo a do meio vermelha e as laterais negras. A mesma fita recebe, ao centro, uma estrela dourada quando a promoção é a oficial-general, uma estrela prateada quando é feita a oficial e de cobre quando aos restantes postos (sargentos e praças).

in Wikipédia

José Marcelino Martins disse...

A naturalidade de Jaime Neves, no texto acima, foi "obtida" na reportagem do CM, que se encontra plasmada no portal UTW, daí ter sido referida.

Na realidade para um Homem da estatura de Jaime Neves, as referências ao mesmo, são muito poucas.

Será que a Associação de Comandos nos vai dar a conhecer a Folha de Serviços desta Camarada de Armas?

João Carlos Abreu dos Santos disse...

...
José Martins, prezado veterano da Guiné,

A citada "reportagem do CM", destinou-se a promover um livro, o qual contém algumas imprecisões, de entre elas se destacando o "local de nascimento" do biografado; (para além de umas quantas "lendas e narrativas", próprias de um trabalho daquela natureza e com objectivos de relançar mitos da revolução).
Relativamente à data que indicou, acima, não está no citado livro nem é correcta: correcta, é 24 de Março.
Quanto à "folha de serviços" do MGen 'cmd' Jaime Neves: se endereçar um pedido, nesse sentido, à ACmds, decerto lhe responderão; no entanto, garanto-lhe que, tudo quanto interessa ao conhecimento público, sobre o cv castrense do biografado, encontra-se factualmente e qb resumido no pdf supra mencionado.

Queira aceitar os melhores cumprimentos,
do
Abreu dos Santos
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