sábado, 16 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11102: Blogoterapia (223): Agradeço as manifestações de pesar que me foram dirigidas a propósito do falecimento da minha mãe (Carlos Vinhal)

Ano de 1948 > Maria Henriqueta, Carlos pai e Carlos filho.

1. Triângulo desfeito

É assim a vida de (quase) todos os casais. Casamento, nascimento do(s) filho(s), foto oficial de família e inúmeros acontecimentos, bons e maus, para alguns mais maus do que bons, até que a lei da vida (ou da morte) selecciona o supostamente mais fraco deixando ao outro a hipótese de viver mais uns anos.

Decorria o ano de 1981 quando o meu pai faleceu, vítima de insuficiência cardíaca. A minha mãe, então com 58 anos, encarou heroicamente a partida do seu eterno namorado. Dizia-lhe eu, às vezes, por que não refazia a sua vida, mas quem amou um único homem desde os 16 anos jamais conseguiria, mesmo fingindo, viver outro romance.

Sem darmos conta passaram-se 32 anos e de repente a minha mãe está muito velhinha, não só na idade mas também porque o seu estado de saúde físico se começa a debilitar a olhos vistos. Felizmente para mim e para ela o seu estado mental manteve-se praticamente normal até ao último minuto de vida. Ainda no sábado, poucas horas antes de falecer, conversou comigo e com a Dina. Protestou pelas muitas horas passadas no dia anterior na urgência do Pedro Hispano. Quem espera desespera.
Conversamos sobre roupa, sobre o seu estado de saúde e coisas triviais para a ajudar a ocupar o tempo. Até lhe comprei umas meias quentinhas e uns miminhos para durante a semana aconchegar o estômago no intervalo das refeições. Viemos embora ficando ela à mesa a tomar a sua cevadinha quentinha.

Domingo de manhã o telefone tocou, e quando verifiquei que era do Lar, estava longe de imaginar que era para me darem a notícia do seu falecimento*. Talvez eu não "quisesse" ter visto o mais óbvio, a minha mãe estava mesmo no fim.


2. Agradecimento

Tentei agradecer individualmente a cada amigo que de alguma maneira se me dirigiu com as suas condolências, confortando-me nesta hora, muito, mas mesmo muito difícil. Se a algum não agradeci pessoalmente, peço mil desculpas. Fica aqui um agradecimento sincero a todos.

Sei que muita gente não teve conhecimento do falecimento da minha mãe. Outros não puderam comparecer porque era dia de trabalho, havia ponte de carnaval, etc. Sei que mesmo os ausentes estiveram comigo. Muito obrigado também.
Quero ainda deixar aqui um agradecimento muito especial aos camaradas que se deslocaram de mais longe para estarem comigo no momento em que a minha mãe desceu à terra. Por uma questão de ética não vou enunciar nomes, mas os destinatários reconhecem-se neste agradecimento.
Não posso esquecer os de mais perto que me fizeram companhia nos dois dias em que a minha mãe esteve em câmara ardente na Capela do Corpo Santo. Conversaram comigo e ajudaram a minorar a sensação de perda mais sentida naquelas primeiras horas. Nestas alturas se reconhece o valor dos amigos.

Disse-me o Luís que a vida continua, concordo, mas hoje sinto-me muito mais velho.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

30 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11027: Blogoterapia (222): Agradecendo os vossos mimos, as guloseimas (para a alma), em dia de aniversário com capicua... (Luís Graça)

6 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Caro Carlos

A grande questão, nestes acontecimentos, não é o sentimo-nos mais velhos.

A questão é que parece que vivemos numa casa "sem tecto"!

Abraço.

Henrique Cerqueira disse...

Carlos Vinhal
Nem imaginas como estou tão próximo do teu sentimento,há bem pouco tempo passei por toda essa situação em primeiro com a minha mãezinha e posteriormente com o meu paisão.Sou filho único e penso que tal como o Carlos .Então não há como dividir todo esse sentimento de perda.
Um grande abraço do Henrique e da Ni.
Henrique Cerqueira

Hélder Valério disse...

Caro amigo Carlos

Não seriam necessários os agradecimentos, mas compreende-se que seja a melhor forma de mostrar reconhecimento pela solidariedade.

Retive a frase que escreveste e que diz que "Talvez eu não "quisesse" ter visto o mais óbvio, a minha mãe estava mesmo no fim." como sendo a 'chave' para a reacção que afinal é bem comum a muitos de nós. Comigo também foi assim.

Levanta a cabeça e segue em frente. O passado deverá servir como 'farol' mas é preciso 'fazer o caminho'.

Um grande abraço.
Hélder S.

Tony Borie disse...

Olá Carlos.
A vida, está aqui, neste momento, o nosso dever é fazê-la continuar, e com tristeza ou sem ela, como combatentes que fomos, temos que seguir em frente.
Algumas pessoas, para nós nunca morrem, e como alguém já disse, só mudam de lugar, mas no nosso coração ficam para sempre.
Um abraço.
Tony Borie.

José Botelho Colaço disse...

O Hélder diz comigo também foi assim e comigo também quando no início da noite de 09-11-1980 cheguei a casa da minha irmã para ver a mãe ela se abraçou a mim e me disse estas ultimas palavras, é a morte meu filho ela anda aí mas não vem ai tanto sofrer e só vi ou acreditei quando passado uns momentos a minha irmã que tinha ficado a tratar dela vem à cozinha banhada em lágrimas sem conseguir dizer qualquer palavra.
Fica a pergunta incómoda será aquele momento em que não estamos cegos, mas a mente parada.

Um abraço.
Colaço.

Anónimo disse...

Meu Caro Carlos,
apesar de não nos conhecermos pessoalmente junto-me, nesta tua hora de muita dor e pranto, a todos os Camarigos que te prestam as mais sentidas condolências pelo falecimento da tua querida e saudosa Mãe. Recebe um fraterno Abraço. Manuel Amante