sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11098: In Memoriam (138): Cadi Baldé (c. 1984-2013), mãe da pequena Alicinha do Cantanhez (Luís Graça / Alice Carneiro)


Iemberém, 5 de março de 2010... A Cadi, com a Alicinha, que tinha nascido há mês e meio, a 17 de janeiro


Iemberém, 15 de maio de 2011... A cadi e a Alicinha



Farim do Cantanhez, novembro de 2011



São Domingos, 15 de março de 2012... Já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal


Bissau,  A Cadi, depois de sair do hospital de Cumura... Debilitada, doente... Aqui com a filhota.


Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi (*)

Fotos: © Pepito (2011/2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]


Morreu a Cadi


Morreu a Cadi, 
a mãe da Alicinha do Cantanhez... 
Morreu na sua tabanca, 
Farim do Cantanhez,
e vai ser enterrada no quintal do seu pai, Abdu Injai.

A notícia chegou-nos através do António Baldé,

pai da Alicinha,
com a voz embargada pela comoção...
Ele tencionava regressar à Guiné,
dentro em breve, 
à sua casa em Caboxanque,
na margem esquerda do  Rio Cumbijã.
E tinha um sonho,
tornar-se o maior apicultor do Cantanhez.
Ele queria reconstruir a sua vida 
com a Cadi, a sua quarta esposa,
e a Alicinha, a seu lado,
mais o seu filho, rapaz, 
que estuda em Portugal.

Esse sonho desfez-se

pela força do macaréu da morte.
A vida vale pouco, 
e muito menos na Guiné,
mesmo para quem é crente e temente a Deus.

A Cadi apareceu nas nossas vidas,
há cerca de 5 anos,
em Iemberém, em março de 2008.
Era filha de um ex-guerrilheiro nalu, Adbu Indjai, 
inválido de guerra,
que perdeu uma perna lá para os lados do Xitole.
Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda, a Cadi.
Tinha a graça de uma gazela
apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria.


Estava grávida, em março de 2008. 
Soubemos depois que tivera um menino,
a que pôs o nome de Nuno, Nuninho,
por homenagem ao Nuno Rubim e à  Júlia . 

Vida curta, curtíssima,
 a morte o levou aos 4 meses.
Vítima de paludismo
e de falta de cuidados médicos.

... Mais tarde virá a Alicinha.
Em dezembro de 2009, 
o João, por um feliz acaso, encontrou-a, grávida, 
na consulta médica, em Iemberém.
Não sabia que era a mesma miúda 
para quem levava umas roupinhas, 
um telemóvel 
e algum dinheiro, 
lembranças de Portugal...
-Nome do menino ou menina ? 
- Si for menino, será Luís... 
Si for minina, será Alice. 
- Estranho, são os nomes dos meus pais... - 
lá pensou o João, 
para com os botões da sua bata branca...

Mês e meio depois, 
a  17 de Janeiro de 2009
nascia a Alicinha,
robusta e saudável!..
Um hino à vida, 
à esperança!

Bissau é um mau lugar 
para uma jovem mãe e a sua menina, 
uma cidade demasiado palúdica, 
colérica e buliçosa 
para dois seres que merecem 
o direito à vida, ao amor, à felicidade.
Bissau vai matar-te, Cadi!

Depois do nascimento da Alicinha, 
ficou tacitamente assumido
que a Alice de Candoz, 
a Alice Carneiro,
seria a madrinha daquele pequeno ser, 
e que a iria ajudar pela vida fora... 
De tempos a tempos
a madrinha ia recebendo notícias, 
diretamente da mãe, 
ou através do Pepito. 
Por sua vez, ia-lhe mandando pelo correio, 
para a caixa postal da AD,
peças de vestuário, 
calçado 
e brinquedos, 
em caixas até 2 kg, 
de franquia reduzida...

Alice descobre, através do Pepito, 
o pai da Alicinha, o António Baldé, 
a trabalhar, ali para a zona de Cascais, 
como segurança numa empresa de construção civil. 
O Baldé tinha vindo para Portugal 
em 2003 para aprender apicultura.
Mostrou-nos, há tempos, orgulhoso,
o seu diploma de apicultor.
Natural de Contuboel,
serviu quase 6 anos
o exército dos tugas.

Não conhece a filha,
fala com ela,
ao telefone.
A Cadi mostrava-lhe fotos do pai.
E o Baldé, de 67 anos, feliz, 
mesmo desempregado, 
encheu a casa de fotos
da Alicinha e da Cadi.
Seriam o seu amparo na velhice.

A tímida gazela nalu já não salta 
pela orla da bolanha de Caboxanque.
Nem alegra, com a sua graciosidade,
as ruas de Iemberém,
com a Alicinha às costas.
Um manto de silêncio cobre Farim do Cantanhez
e as suas matas em redor.
Morreu a Cadi, 
morreu a Cadi,
sussurra o dari.

Alfragide
Luis Graça  & Alice Carneiro, 15 de fevereiro de 2013
______________

Nota do editor:

(*) Postes relacionados com a Cadi e a Alicinha do Cantanhez

3 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)



5 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...

19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau

11 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa) 


(...) Falando nas visitas ….. a Cadi, mãe da Alicinha,  afilhada da Alice Carneiro, veio visitar-me. É tão bonita e elegante a Cadi! Como aliás muitas das mulheres guineenses. E que bem que se vestem, muitas vezes até quando andam a trabalhar mas sobretudo quando saem da sua tabaca e em dias de festa.

A Cadi já fala razoavelmente português. O seu marido [, António Baldé, fula de Contuboel, com casa em Caboxanque, futuro apicultor,] está em Lisboa e há 2 anos que não vem cá. Ela mora em Farim de Cantanhez, uma tabanca que fica aqui a uns 10 km. É uma pena ela não viver em Iemberém, poderia ajudá-la a preparar-se para ir para Portugal ter com o seu marido. Mas o mais preocupante é que ela anda doente. Diz-me que sente calor na barriga, diz-me que é do estômago, que tem a tensão baixa mas …. não vomita, quis comer pão com queijo. Depois ouvi-a tossir e fiquei a pensar se não será algum problema pulmonar. Ela veio hoje a Iemberém, a pé, para tentar arranjar transporte para ir a Bissau ao médico. (...)


6 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11064: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (5): Em Catesse, com o Pepito... Pela primeira vez tive medo!...Medo de não conseguir corresponder ao tanto que a população espera de todos nós!

(...) Voltemos ainda à minha chegada a Iemberém. Como referi, contávamos almoçar aqui mas houve uma mudança de planos. Depois de despejar a minha bagagem na casa que me foi atribuída, seguimos em direcção a Catesse. Passámos em Farim de Cantanhez, tabanca onde vive a Alicinha , que fazia exatamente 2 anos nesse dia. Lá deixei os presentes que a sua madrinha [, a Alice Carneiro, ] tinha enviado e cantei-lhe os parabéns. É linda a pequena Alice, aliás como muitas das mulheres daqui. E vaidosas. É um gosto vê-las arranjadas. (...)

(**) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

17 comentários:

Anónimo disse...

Camaradas

Lamento profundamente a morte da Cadi.
Qual terá sido a causa da morte ?
Que descanse em Paz...

Luís Borrega

Tony Borie disse...

A Cadi, parecia uma pessoa ainda nova, até mostrava um sorriso com alguma esperança.
Qual seria a causa da sua morte prematura?
Segundo reparo era uma mãe cuidadosa, pois a sua filha é um pequenino modelo.
Que a sua alma, descanse em Paz.
Tony Borie

Torcato Mendonca disse...

É triste.
Continua-se a morrer assim, certamente por falta de tratamentos adequados.
A Guiné e as gentes das Tabancas têm um lugar especial nos meus afectos.

Falo ou escrevo sobre a Guiné e metade do meu pensamento está no SNS do nosso País. Aqui também se morre porque as pessoas têm carências económicas. Cada vez mais se assim continuarmos.

Isto,aqui, está fora do prometido.

Para que entre os nossos Povos haja mais igualdade, fraternidade e liberdade.Num futuro breve e urgente.

Que a Cadi descanse em Paz no Céu dos Nalus e que a Alicinha se crie bem.

Luís Graça um abraço para ti e um beijo á tua Alice. T.

Henrique Cerqueira disse...

Aos familiares de Cadi em especial seu pai o nosso grande abraço de fraternidade.
Henrique e Dulcinea

José Marcelino Martins disse...

A Cadi e a Alicinha já são "velhas amigas" neste espaço, e as "meninas dos olhos" na nossa Alice [Carneiro].

Como não somos donos da vida, resta-nos aceitar a vida, tal como se vai apresentando no dia a dia, não deixando de lamentar factos que alteram substancialmente a vida dos que ficam.

Que os bons Irãs da Guiné transportem a Cadi até ao paraíso.

Nós, e em especial a família Graça, sentirá esta ausência, pelo que lhes envio um abraço.

Luís Graça disse...

É verdade, Zé Martins, ficámos inconsoláveis. A Alice sempre se assumiu como madrinha da filha da Cadi. E de tempos a tempos telefonavam-se. Não teve sorte na vida, esta miúda nalu. Oor várias vezes, enfrentou a morte. O Ninthe Camatchol não a protegeu.

Em 2012, o seu estado de saúde agravou-se. Passou pelo hospital de Comura (, que pertence ás missões católicas). Estamos gratos ao Zé Teixeira, e ao seu filho, o dr. Tiago Teixeira, por tudo o que fizeram pela Cadi e pela Alicinha. O Tiago trabalhou como voluntário no hospital da Comura. Igualmente gratos ao Pepito que levou a Cadi a um hospital no Senegal, em Ziguinchor, para fazer análises... Não sei de que morreu ela, mas desconfio... Estamos preocupados com a saúde (e o futuro) da Alicinha, se bem que o avô tenha dito ao pai, António Baldé, que ela está bem...

O que me/nos choca é a morte, na Guiné, ser tão "banal e natural", atingindo brutal e injustamente os mais novos... como no tempo dos nossos avós. A minha avó materna morreu tuberculosa, em 1922, com a idade da Cadi...

Luís Graça disse...

As dez principais causas de morte na Guiné-Bissau...

Deaths (%)

1 Influenza & Pneumonia
3,517 (15.35)

2 Malaria
3,196 (13.95)

3 Diarrhoeal diseases
2,766 (12.07)

4 HIV/AIDS
1,218 (5.32)

5 Stroke
1,186 (5.18)

6 Low Birth Weight
972 (4.24)

7 Coronary Heart Disease
960 (4.19)

8 Birth Trauma
767 (3.35)

9 Meningitis
660 (2.88)

10 Maternal Conditions
658 (2.87)

(...)

http://www.worldlifeexpectancy.com/country-health-profile/guinea-bissau

Luís Graça disse...

São números terríveis, meus amigos... E que não podemos ignorar... LG

_____________

http://redevihsidanoticias.cidadaosdomundo.org/?p=33958


(…) Por ocasião do dia mundial de luta contra esta epidemia, assinalado no passado dia 1 de Dezembro, o secretário executivo do SNLS [Secretariado Nacional de Luta contra Sida] estimou em 50 mil os guineenses afectados com o VIH /Sida e explicou que 24 mil pessoas vivem com o VIH/Sida (PvVIH), sendo que 7,2 mil são adultos e 1,8 mil crianças estariam em Tratamento Anti-retroviral (TARV).

De acordo com João José Silva Monteiro “Huco”, ao nível do seguimento clínico, mais de 9 mil PvVIH que ainda não cumprem o critério de inclusão ao tratamento anti-retroviral estão a beneficiar de cuidados clínicos regulares quer para o tratamento das infecções oportunistas, quer para a realização de exames de seguimento biológicos.

“Huco” Monteiro destacou que somente 62 por cento das pessoas que iniciam o TARV sobrevivem aos 12 meses de tratamento. João José Silva Monteiro considerou que a epidemia do tipo generalizada, com a circulação simultânea dos dois tipos de Vírus (VIH1 e VIH2) e uma prevalência de pessoas infectadas que varia entre 3.3 por cento na população geral e 5.8 nas pessoas maiores de 15 anos, é o principal argumento para responder o chamado à luta.

Neste particular, a epidemia caminha a um ritmo acelerado entre os grupos expostos a maior risco de infeção pelo VIH / Sida, tendo a prevalência de pessoas infetadas no seio dos profissionais de sexo, extremamente elevada (39 por cento a nível nacional e 54,6 por cento em Bissau).

João José Silva Monteiro afirmou que à semelhança de outros Países, também verifica-se a tendência à feminização da epidemia com a prevalência de pessoas infectada três vezes maior entre as mulheres (6.3 por cento) do que os homens (2.2 por cento).

“Esse fato deve engajar uma maior mobilização para redução das vulnerabilidades das mulheres para a obtenção de “ zero transmissão vertical “ e assegura-se uma nova geração sem Sida, num país onde a taxa de transmissão do VIH / Sida de mãe para filho a 6 (seis) semanas é de 14 por cento em 2010,” frisou.

O secretário executivo do SNLS disse que no momento em que a tendência geral é a estabilização e inversão da epidemia, a Guiné-Bissau ainda observa o aumento da incidência do VIH / Sida.

No seu relatório anual de 2012, a ONU/ Sida estima que os novos casos do VIH /Sida no país aumentaram em 25 por cento no último ano.

Fonte: Gazeta de Notícias, 11.12.12

José Teixeira disse...

Abril de 2011. Atravessamos o Cantanhez até Farim do Cantanhez, onde a Tabanca Pequena ia lançar o projeto de um fontanário.Fomos recebidos em festa. À frente daquela juventude estava uma linda jovem com uma criança ao colo. só pode ser a Cadi e a Alicinha, pensei. Era mesmo. Pude por algum tempo brincar com a pequenina e conversar com a Cadi. falava relativamente bem o português. Mais tarde soube da sua doença pela madrinha (sempre preocupada)e encaminhei-a para o hospital da Cumura, de onde saiu para "convalescer" mas creio firmemente que a sua doença já tinha o rótulo da morte. Ficou na consulta externa que nunca frequentou. Não voltou a Cumura como seria desejável. A irmã Valéria aguardava-a, mas vir do Cantanhez a Bissau não é fácil. Infelizmente, como tantas outras jovens, com direito a viver, apagou-se.Como eu gostava de voltar a ver-te...

José teixeira

Carlos Vinhal disse...

Lamento o falecimento desta nossa amiga guineense, a Cadi, cuja filhota, a Alicinha, é afilhada adoptiva da Alice Carneiro (esposa do nosso Luís).
Na Guiné-Bissau continua a morrer-se cedo, muito cedo mesmo. Com vinte e oito/vinte e nove anos é proibido morrer.
Segundo a tradição africana, a Alicinha será tratada com todo o carinho, o pior é superar a parte material, a que dá acesso às condições mínimas de vida.
Que a Cadi descanse em paz, segundo as suas e as nossas crenças, e que a Alicinha tenha, um dia, melhor oportunidade de vida.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...

A morte, qualquer morte, é sempre de lamentar. E ainda bem que na tabanca
grande tanta gente assim pensa.
Mas não deixa de ser estranho (ou talvez não) que, tendo o major-general Jaime Neves falecido no passado dia 27 de Janeiro, nem a notícia ou um simples comentário aqui surgiu.
Mário Dias

Hélder Valério disse...

Caros amigos

É sempre triste a notícia da morte.
E mais ainda quando se trata de alguém a quem se criou laços de afectividade.
E ainda mais quando 'projectamos' nessa ligação a nossa esperança de poder contribuir para 'um mundo melhor'.
Resta a 'Alicinha'. Pois que se centrem nela essas esperanças.

Por outro lado, não será de menor importância que se perceba bem, com esse exemplo, como as menores condições de vida e assistenciais podem influir negativamente no desenvolvimento da saúde e bem estar de um povo.
Para cautelas em causa própria...

Agora outra coisa, o parêntesis no comentário do Mário Dias parece indiciar um processo de intenções e acho isso injusto.

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

Lamento profundamente a morte da Cadi ainda tão jovem.
Que Deus e os amigos ajudem a Alicinha.
Filomena

Anónimo disse...

Em primeiro lugar o meu profundo lamento e pesar pela morte da Cadi.

Camaradas
Não levem a mal mas vou tentar explicar em linguagem simples e o mais racionalmente possível o que é a situação na área da saúde nos chamados países do dito 3.º mundo e mais concretamente na Guiné.

A idade média de vida é inferior a 40 anos tanto para homens como para mulheres.
Praticamente toda a população é anémica e se fossem vistos pelos padrões europeus quase todos necessitavam de uma transfusão de sangue.,com maior prevalência nas mulheres devido a quando estão na idade fértil perderem sangue mensalmente.

Quase toda a população sofre de sub-nutrição crónica.

Morre-se devido a causas simples como por exemplo no pós-parto devido à perda de sangue, ou a simples infecções que com um antibiótico resolveria o problema, ou uma simples diarreia que um soro polielectrolítico, se houvesse, evitaria a morte

Ah...quase não há diabéticos e hipertensos, assim como quase ninguém tem cancro a não ser aqueles que aparecem em idades jovens.(adivinhem porquê)

Morre-se de tétano,e de raiva.

A mortalidade infantil é elevadíssima.

As estatísticas apresentadas pelo Luís Graça julgo que pecam por defeito, pela simples razão de que nem cá são correctas quanto mais na Guiné.

A rede pública de saúde (hospitais, centros de saúde..postos..etc) seria para dar vontade de rir à gargalhada se não fosse tão trágico,porque apenas têm o nome.

Não quero ser exaustivo..termino só contando esta história..
Imaginem um "ministro de..da treta" roubar o gerador do hospital porque o dele avariou...foi mesmo verdade, acreditem..

Cada um que tire as suas conclusões

C.Martins

Luís Graça disse...

Zé Teixeira: É gente sem voz, os nossos pobres amigos guineenses... Em nome da Alice, e do meu próprio (e da família da Cadi, mesmo sem "procuração") peço-te que agradeças à irmã Valéria e ao hospital de Cumura (e não Comura...) tudo o que o puderam fazer pela pobre Cadi...

Um xicoração. Luis

Anónimo disse...

Pelo que me é dado vêr, mais uma morte prematura aconteceu na Guiné.
É lamentável que isto aconteça.
Que descanse em paz.

Adriano Moreira

Anónimo disse...

Luís, acabei de receber o teu e-mail e estou em estado de choque. Nunca percebi de que mal padecia a Cadi mas depois de ir para o Senegal e para o hospital de Comura nunca pensei que o desfecho fosse este. Não imaginas como lamento esta notícia. E cuidado com a menina que pouco depois da mãe adoecer também ela andava doentita. Nunca me esqueço delas até porque no dia em que a Alicinha fez 2 anos (dia da minha chegada a Cantanhez) também eu ganhei uma "afilhada" em Catesse que tem o meu nome. As nossas "afilhadas" têm exactamente 2 anos de diferença. E não esqueço a visita que recebi da Cádi, da sua mãe (lindíssima mulher também), da Alicinha e do Ansumané (irmão mais novo da Cadi). Para sempre ficarão também no meu coração. Um grande abraço para ti e para a Alice.
Anabela Pires