sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11040: A Cilinha em Gadamael, em fevereiro de 1974... Ia havendo levantamento militar, por causa do heli da senhora... (C. Martins, o último artilheiro de Gadamael, 1973/74)



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Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados.


1. Do nosso leitor (e camarada) C. Martins, ex-comandante do último Pel Art de Gadamael (1973/74), comentário ao poste P10993


A Sra. Supico Pinto por acaso até foi a Gadamael,  em fevereiro de 1974

Era para pernoitar no aquartelamento, mas não pernoitou... É que começou a correr o boato que no dia seguinte viria um heli para levar a Sra, o que quase levou a um levantamento militar.

Regressou no mesmo dia a Cacine e julgo que a Bissau.

No final da tarde fomos flagelados mas Sra.já estaria provavelmente no remanso de Bissau.

Porquê do quase levantamento militar ? Explicação simples: as evacuações eram feitas em sintex ou zebro para Cacine e daí em heli, para Bissau...Se não vinha heli a Gadamael para evacuações, era o que faltava vir um para levar a Sra.! (*)

Confesso que fui um dos autores morais... da coisa.

Quanto a conjuntos musicais e outras "variedades", nunca tivemos direito a nada disso... Ora,  era suficiente o arraial que tínhamos quase diariamente.

C. Martins
_______________

Nota do editor:


(*) Em 1969, o custo do heli AL III era de quinze contos (!) por hora... mais do que o vencimento mensal de dois alferes milicianos juntos..."O heli é uma arma cara (15 contos por hora). Mas é indispensável neste tipo de guerra" (...Relatório da Op Lança Afiada, 8-19 de março de 1969).

11 comentários:

armando pires disse...

Um abraço a C. Martins do
armando pires

antonio graça de abreu disse...

No meu Diário da Guiné, em

Cufar, 28 de Fevereiro de 1974


"Mais uma história de guerra. D. Cecília Supico Pinto, a “generala Cilinha” do Movimento Nacional Feminino anda de visita à Guiné, a dar coragem e conforto moral aos briosos militares que defendem a integridade do império. No seu peregrinar por este sagrado solo pátrio desembarcou segunda-feira passada em Cacine, de helicóptero, às nove da manhã. Às onze o aquartelamento foi atacado com trinta e seis foguetões, uma flagelação que se prolongou por hora e meia. Só se registaram alguns estragos em tabancas, mas dizem-me que a Cilinha mostrou alguma coragem, aguentou-se muito bem, aninhada como toda a gente no fundo de uma vala."

Abraço,

António Graça de Abreu

Antonio Melo disse...

Caro camarada Antonio Graça de Abreu tu sabes porque porque se aguentou a Cilinha aninhada na vala como os herois, porque os foguetoes nao traziao SPM e assim demonstrou que era tam corasoja como eu porque na hora da verdade eramos todos humanos
um abraço
Antonio Melo

Luís Graça disse...

Obrigado ao nosso AGA, pela oportunidade da citação... É, de resto, a única referência à Sra. Dona Cecília Supico Pinto, diminutivo Cilinha, que eu encontro no seu (dele) Diário da Guiné... Vejo agora que, no final da guerra, em fevereiro de 1974, a senhora já era tratada por "generala"...

Já agora uma curiosidade: o MNF - Movimento Nacional Feminino é uma iniciativa especificamente portuguesa, ou inspira-se direta ou indiretamente em movimentos estrangeiros similares ?

Anónimo disse...

Caro Camarada C. Martins,
Cordiais saudações.
Quando estava lá (em Gadamael), sempre 'rezava" para não ser da comissão liquidante. Coube-te a ti, esse "triste fado", ser o último Artilheiro.
Eh...mas ainda estamos por aqui.
forte abraço
Vasco Pires

Anónimo disse...

Quero esclarecer que os helis não iam a gadamael por ordem expressa do Com.chefe.
Também quero salientar que o tempo que levavam a vir de Bissau era mais ou menos o mesmo que se levava em sintex até Cacine,por isso o tempo que se perdia nas evacuações era identico e não se corria o risco de perder um heli mais a tripulação a enfermeira e ferido(s).
Sobre o caso em concreto,não sei se foi só boato ou foi decidido não concretizar o acto devido à reacção espontânea do "maralhal" onde eu fui um dos principais intervenientes..o que foi certo é que a Sra. Supico Pinto (provavelmente sem culpa nenhuma) teve que fazer um recuo estratégico para Cacine, escoltada pelos "fuzos" de Cacine..tudo acabou em bem.
Retribuo os alfas bravos aos camaradas.

C.Martins

Júlio disse...
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Anónimo disse...

Olá Camaradas
Por mim, conheci (SET68) apenas uma senhora do MNF. A Sr.ª D. Mariana Mayer de Brito que estava à frente do posto de turismo de Bissau. Além disso, dirigia "O Movimento" a nível local. Era uma velha conhecida do "meu Cap." dos velhos tempos da Índia, onde ele tinha estado preso depois de 17DEC61. Do MNF não tenho boas nem más recordações. Já a velha Hermínia Silva - que também colaborou com o MNF - dizia que "Quando as mulheres pensam em prendas para os homens, ou sai máquina para rapar os queixos ou gravata às pintinhas". As "prendas" eram fraquinhas. Lembram-se dos 8 livros a cada homem que eram os excedentes da publicação dos "Livros RTP" ou do disco LP do Natal de 71(?)? Isto para não falar em coisas mais inúteis e frouxas em anos anteriores. A distribuição dos aerogramas era feita pelo MNF juntamente com outras entidades o que prova que o movimento não era uma instituição fundamental. Em todos os conflitos há sempre uma participação mais ou menos discreta ou institucionalizada das mulheres.
Creio que o MNF nunca foi uma instituição com grande popularidade e implantação nas mulheres portuguesas. Cumpriu o seu papel histórico, mas não fundamental e creio que as autoridades do regime (militares e civis) toleravam a sua actividade.
Um Ab.
António J. P. Costa

Carlos Vinhal disse...

Pede-se ao camarada (?) Júlio o favor de repetir o seu comentário uma vez que o que fez estava a ocupar espaço tal que era preciso correr a página para o ler na íntegra. Já agora, se possível, identifique a unidade em que esteve na Guiné.
Abraço
Carlos Vinhal
Co-editor

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Ainda sobre o MNF sugiro que ouçam as palavras de Hermínia Silva no disco do Natal de 71. São espantosamente reais mesmo para a "época". Tentem também lembrar-se do que receberam do Movimento (como então se dizia) e do seu valor e utilidade. Às vezes eram muito menos do que lembranças que, frequentemente chegavam atrasadas. Sabiam que as senhoras do MNF estão muito relacionadas com o "caso dos chouriços" ocorrido durante a invasão da Índia?
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".

Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152