terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)


Capa e contracapa do livro de J. L. Pio de Abreu, Como tornar-se doente mental, 18ª ed, Lisboa, Dom Quixote, 2008. (Prémio Città delle Rose, 2006).


“Se não mentir a si próprio, descobrirá que é uma pessoa com limites e deixará de querer ir a todas, como fazem os fóbicos. Também não será dono da verdade nem tão importante como são os paranóicos. Não será o mais perfeito, o que fica para os obsessivos, nem tão brilhante ou poderoso como os histriónicos e psicopatas. Não será uma pessoa muito especial, como os esquizofrénicos, nem um génio, como os maníaco-depressivos. Será apenas uma pessoa comum que aceita os desafios e os paradoxos da vida, faz o possível para, em cada momento, dar o que pode e actuar em conjunto com os outros. No entanto, tem de assumir a responsabilidade completa pelas suas acções. Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade. Fizemos das fraquezas forças e, uns com os outros, construímos coisas admiráveis. Convenhamos entretanto que tudo isto é muito complicado, pouco gratificante e difícil de fazer. Fácil, fácil, é mesmo tornar-se doente mental.” (pp. 155/156). (Negritos nossos).


[José Luís Pio de Abreu foi alf mil médico, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto,1971/73]
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11081: (Ex)citações (211): Ainda o P11033 (Vasco Pires)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Peço desculpa ao autor de usar a edição de 2008... Todos os anos há uma ou mais edições novas... Em 2013 já há a edição 20 e tal... É um "best-seller", o que é raro neste domínio das ciências de saúde. O grande mérito é do autor que fala das coisas complexas da "alma" humana, em linguagem acessível e bem humorada, sem perda de rigor científico... Aconselho a compra do livrinho (c. 13/14 €) na próxima feira do livro... Não tenho o prazer de conhecer o autor, pessoalmente...

antonio graça de abreu disse...

Com o meu Diário da Guiné eu parece que estou em todas, 72/73.

Eis o que escrevi em Teixeira Pinto, 22 de Julho de 1972

"Fui ontem jantar com os dois alferes médicos no único tasco onde se pode comer cá na terra. Um bife duro, batatas mal fritas, um ovo estrelado, 45 escudos.
Os dois médicos são gente interessante, inteligentes, cabeças abertas para o mundo. Conversámos sobre a guerra, sobre as nossas vidas. O Bagulho tem trinta e tal anos, é já cirurgião em Lisboa, esteve detido em Caxias quando da crise académica de 1962. O Pio de Abreu ainda não tem trinta anos, é de Coimbra e faz parte daquele grupo de quarenta e nove estudantes da Universidade que em 1969, na sequência das greves e desacatos na academia coimbrã, foram alistados coercivamente no exército.
Nenhum tem hoje qualquer actividade política nem de contestação do regime, mas carneiros não somos. É pena, para mim -- não para eles, -- estarem em fim de comissão, só mais dois meses para o Bagulho.
São óptimos médicos segundo a opinião de toda a gente. Dão consulta à população, com intérprete, tratam das milhentas doenças que afligem este povo manjaco e são os médicos militares, cuidam da tropa aqui estacionada e prestam assistência aos feridos em combate que chegam a Canchungo vindos directamente do mato.
Têm uma casa grande apenas habitada por eles, fora do quartel, na avenida principal em frente ao hospital. Uma casa bonita com uma sala de estar confortável, com móveis e tudo".


Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Já li e recomendo.
Breve vou reler..."degustando"!

Anónimo disse...

António Graça e Abreu, apresentas nesta página do teu diário, gente com «coimbra e tarimba».

Foram tempos do caraças.

Foram dois anos que não foram anos nem bissextos nem comuns.

Naquele tempo não se sabia o que fazer com a guerra, hoje não se sabe o que fazer com a paz.

Cumprimentos

Antº Rosinha

Mário Bravo disse...

Tive o grande prazer dee conhecer o Colega Bagulho ( já falecido ) em Teixeira Pinto. Era Filho do Almirante Tierno Bagulho. Aprendi como se pode fazer muita coisa, como médico, com o mínimo de condições. Era um excelente Cirurgião e colaborei em várias cirurgias efectuadas no Hospital de T. Pinto, em precárias condições, mas com sucesso, devido à grande qualidade do Bagulho. Não conheci o Pio Abreu e só ouvi falar dele , por parte do Bagulho. Viviamos numa casa fora do quartel e ao lado do cinema Canchungo e em frente ao Hospital. O Bagulho tinha sempre a boa disposição de quem vive de consciência tranquila.