segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10754: Notas de leitura (436): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
O Sargento-Mor Paraquedista Manuel Godinho Rebocho tem uma versão muito peculiar das razões subjacentes ao 25 de Abril. Houve para ali como que uma luta surda de classes entre oficiais do conforto, gente do quadro permanente, e oficiais milicianos com provas dadas no terreno, na génese de uma guerra corporativa que foi ultrapassada pelo turbilhão das frentes da Guiné e Moçambique, as duas fações coligaram-se para apoiar a solução política anunciada por Spínola.
Tudo quando se passou ao 25 de Abril tem o rastilho dessa luta surda de classes onde se moveu e saiu triunfante a malta emocionalmente impreparada para as guerras de África e genericamente responsável por tudo quanto ali se passou.
Por favor, leiam “Elites Militares e a Guerra de África” para fundamentarem a vossa opinião sobre o 25 de Abril até agora desconhecido.

Um abraço do
Mário


A “milicianização” da guerra (3)

Beja Santos

Chegámos a um ponto crucial das teses enunciadas pelo doutor Rebocho na sua prova de doutoramento que vieram a ser publicadas com o título “Elites Militares e a Guerra de África”. Os postulados são os seguintes. Estamos a caminhar a passos largos para os acontecimentos do 25 de Abril. Ele dá-nos o contexto: a partir de 1973, a guerra tornou-se mais violenta do que nunca; os oficiais do quadro permanente afastaram-se do teatro de operações, confinaram-se à gestão militar, a ministrar instrução, entregues à burocracia nas repartições. Os capitães milicianos tornaram-se na matéria-prima essencial, eles e os alferes milicianos, sobretudo, mas há que contar também com os furriéis milicianos. Por esta altura, o quadro especial de oficiais já não pode ser ignorado. Estala uma tensão profunda entre os operacionais que se mostram mais abertos à descolonização e os oficiais do quadro permanente a favor da presença portuguesa em África. E cita Dinis de Almeida: “A iminência de uma derrota na Guiné, criara condições para uma melhor implantação e influência do MFA que encontrava no estrato miliciano alguns dos seus mais sólidos aderentes (aí já se chegara mesmo ao ponto de entregar quase em exclusivo aos oficiais milicianos o comando das companhias operacionais).”. E documenta com a ira dos colonos da faixa central de Moçambique, profundamente desorientados com a morte da mulher de um fazendeiro europeu, em Vila Manica, distrito de Vila Pery. A comunidade branca apedrejou a messe de oficiais, esta comunidade branca, segundo o doutor Rebocho, era o alvo das seguintes quadras: "Vai para o mato,/ Chico malandro./ Por tua causa,/ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ Estou farto deles,/ Da chicalhada./ Só mandam vir,/ E não fazem nada./ E não fazem nada./ E não fazem nada”.

E seguem-se os números: “Ao apreciar a lista de antiguidades dos oficiais do Exército do quadro permanente, reportada a 1 de Janeiro de 1974, verifica-se que existiam 1566 capitães de carreira, dos quais 938 da Escola do Exército e destes 471 eram de Infantaria, 183 de Artilharia e 105 de Cavalaria, os restantes eram de Armas e serviços não combatentes. Além destes, existiam 74 capitães do QEO, o que perfazia 833 capitães cujas funções deveriam ser as de comandante de companhia. No início de 1974, existiam no conjunto dos três teatros de operações, 410 companhias operacionais (…). Os capitães das armas combatentes eram mais do dobro das companhias existentes na guerra de África. Se todos os capitães comandassem companhias, função para efetivamente existem, e se permanecessem na Metrópole durante o mesmo período de tempo que no comando de companhias em África, todas elas poderiam ser comandadas por capitães de carreira. Mas não seria de exigir tão grande esforço, consideremos apenas metade, o mesmo é dizer que metade das companhias operacionais em África deveriam ser comandadas por capitães de carreira, o que não aconteceu. Ao contrário, formavam-se anualmente 260 capitães milicianos, ou 520 durante os 2 anos de uma comissão normal”.

E assim chegamos ao 25 de Abril, o último ato, segundo o autor do Decreto-Lei nº 353/73, de 13 de Julho, que criara condições para o ingresso dos capitães milicianos no quadro permanente. Revogada a legislação, as movimentações de caráter corporativo entraram numa espécie de luta entre os puros (os do quadro permanente) e os espúrios (milicianos). Spínola irá aparecer como o protetor dos milicianos e Costa Gomes o dos do quadro permanente. O manto diáfano das manifestações era a procura de uma solução política para a guerra de África. E depois o autor disserta sobre as particularidades dessas movimentações, matéria largamente conhecida mas que leva o doutor Rebocho a uma nova espiral de descobertas: o golpe de Estado militar teve à frente Andrade Moura, proveniente dos milicianos, e não Salgueiro da Maia, do quadro permanente. E está ali bem escrito, para que o leitor não entre em equívocos: “O capitão oriundo de miliciano, Andrade Moura, e o sargento Silva Brás, foram os homens decisivos do golpe militar, sem o contributo dos quais tudo se teria desmoronado”. Andrade Moura deu esclarecimentos sibilinos ao doutor Rebocho: “A arma de cavalaria não estava com a Comissão Coordenadora do MFA, mas com Spínola”. Costa Gomes, vem escrito, teve um procedimento caviloso, nem o Cardeal Richelieu se lembraria disto: “Costa Gomes sabia que, pelo menos por algum tempo, o poder ficaria nas mãos dos militares. Com a nomeação de uma Comissão totalmente fiel, preferiu liderar as forças armadas através do cargo de CEMGFA, lugar que reservou para si. Foram estes dois momentos, a nomeação da Comissão e a do CEMGFA, passados na noite de 25 para 26 de Abril, que derrotaram Spínola, provocando todos os acontecimentos seguintes, e definindo não só o futuro de Portugal, como dos territórios africanos”. Como não podia deixar de ser o golpe Palma Carlos, o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro foram altamente condicionados pelas tensões existentes entre os que acreditavam nas teses de Spínola e os que se escudavam atrás de Costa Gomes.

Chegou a hora das conclusões, depois de tanta investigação científica. Fica-se a saber o seguinte: a formação dos quadros combatentes à base de milicianos (oficiais e sargentos) constitui o maior erro praticado na condução da guerra de África, as autoridades tinham sido prevenidas e até andou por Portugal o Marechal Montgomery que alertou para a obrigação dos generais portugueses comandarem tropas; aquela guerra para ser ganha, ou ter um destino diferente da que teve, requeria oficiais com capacidades pessoais, com inteligências específicas (caso da inteligência emocional) e não só os conhecimentos adquiridos no curso para oficial; os oficiais do quadro permanente afastaram-se da guerra, muitos deles por falta de vocação e motivação profissional.

Tudo somado e conjugado, chegámos ao ponto alto da tese: “Acontecimentos motivados não por razão de ordem social, mas pelas qualidades do desempenho da guerra de África, o que determinou que os oficiais operacionais, do quadro e milicianos, seguissem o general António de Spínola, enquanto os oficiais ‘básicos’ seguiram o general Costa Gomes. As designações de esquerdistas, comunistas, moderados, direitistas e fascistas, não correspondiam assim, em minha opinião, aos comportamentos substantivos dos militares. Conforme demonstrei, os conflitos intramilitares tiveram basicamente as suas origens nas vocações e motivações que determinaram a qualidade do respetivo desempenho e o comportamento demonstrado, por sua vez derivado dos erros do processo de formação militar”.

O doutor Rebocho despede-se do leitor com o desejo que a sua investigação suscite novos trabalhos e possa contribuir para conhecer melhor a instituição militar e ajudar à elevação da sua eficácia e da sua dignidade, através de processos de seleção, recrutamento e formação consequentes com os valores que devem presidir à existência e continuidade das Forças Armadas.
____________

Notas de CV:

Vd. postes anteriores desta recensão de:

26 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10727: Notas de leitura (432): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (1) (Mário Beja Santos)
e
30 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10740: Notas de leitura (433): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (2) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10752: Notas de leitura (435): "Amílcar Cabral Revolutionary leadership and people's war", por Patrick Chabal (2) (Francisco Henriques da Silva)

16 comentários:

antonio graça de abreu disse...


Lê-se no Diário de Notícias de 21.06.2008:

"Vasco Lourenço vai agora pedir uma tomada de posição ao Exército e à Academia Militar, que "conden[a] por permitir que uma tese destas, sem suporte científico, seja aprovada".

Este ponto surge como pilar central da crítica do coronel Morais da Silva, cujo passado militar o fez sentir-se "enlameado" com a tese - que leu para "desmontar" os argumentos do autor. "Caracterizar um universo de centenas de capitães QP (...) a partir do desempenho de dois elementos desse universo mostra que o autor nada conhece sobre Teoria da Amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica", escreveu aquele oficial.

Lembrando que Vasco Lourenço foi "comandante das forças que anularam a sublevação de 25 de Novembro de 1975, iniciada pelas tropas pára-quedistas e em que [Manuel Rebocho] participou", Morais da Silva adiantou: "O que o autor faz nesta tese relativamente a este oficial é (...) insuportável num doutoramento!"

Agora digo eu. Leiam também o que João Tunes escreve sobre este livro e o doutor sargento mor Manuel Rebocho no seu blogue Água Lisa.

Já agora, a propósito de doutores, graus académicos, doutoramentos, sobre o que se vai passando em algumas universidades portuguesas (oh, Relvas, oh Relvas...) este vosso
AGA também é professor universitário e dá aulas de Mestrado
na honesta e decente Universidade de Aveiro. Sei pouco, não quero saber muito, mas há temas que não me são estranhos.

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

"Vai para o mato,/ Chico malandro./ Por tua causa,/ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ Estou farto deles,/ Da chicalhada./ Só mandam vir,/ E não fazem nada./ E não fazem nada./ E não fazem nada”.

Os colonos moçambicanos sempre se gabavam que eram mais eruditos do que aqueles colonos ficámos a meio caminho, Angola.

Em Angola não fazíamos versos até porque tirando aquele início da UPA terrorista em 61, civís andávamos por todo o território bastante tranquilamente.

Mas que mandávamos bocas também mandávamos, mas eram menos literárias.

Mas hoje já está na altura de ver leituras da guerra com mais realidade e "menos guerra".

Em memória de todos os que morreram,brancos e pretos, nossos aliados, a guerra resumida entre milicianos e profissionais apenas, é muito reduzida, pouco mais é que uma guerra-de-joaquim-furtado.

Luís Graça disse...

Rosinha, já que se evocou aqui (mal, segundo as regras deste blogue...) os "tchicos", que são igualmente fihos de Deus e nossos camaradas (e as todas generalizações são sempre abusivas...), e já que tu próprio, sempre oportuno, foste buscar (ou reforçar) a questão das similitudes e das diferenças entre "tugas" de Angola e de Moçambique (ainda há dias estuve com o Mia Couto...), toma lá mais esta... Neste caso, esta "canção do Niassa", o "Fado das Comparações":

(...) Que estranha forma de vida!
Que estranha comparação!
Vive-se em Lourenço Marques, (Bis)
Cá arrisca-se o coirão!

Vida boa, vida airada!
Boites, é só festança!
Lá não se fala em matança, (Bis)
Nem turras; há só borgadas.

Niassa, pura olvidança!
Guerra, como és ignorada!
Conversa que é evitada, (Bis)
P'los que vivem n'abastança!

Falar na nossa desdita
Fica mal e aborrece!
E como lembrar irrita, (Bis)
Toda a gente a desconhece!

Ao passar pela cidade,
Com tanta tranquilidade,
Deu-me [pr'a] comparar
Meninas com mini-saias!
Mandai-as p'ras nossas praias
P'ra manobra de atacar!

Hippies com carros GT's,
Mandai-os para as Berliets,
Tirai-lhes as modas finas,
Melenudos efeminados
Eram bem utilizados
P'ra fazer rebentar minas!

Bem como essas tais meninas
Que, apesar de enfezadinhas,
Mas com ar da sua graça
Serviriam muito a jeito
Para aliviar a dor do peito,
Cá da malta do Niassa.

Mas não, só por pirraça,
Hão-de lá continuar!
E nós temos de lerpar,
Invertem-se as posições!
E trocam-se as situações!
Continuamos a aguentar!

Nós, sem sermos desejados,
Ficamos cá apanhados
Aos urros, num desvario!
Eles, os daqui naturais,
Gastando dinheiro aos pais
Vão p'ra p... que os pariu!

Acabe-se com a tradição!
Entre-se em mobilização!
Utilize-se a manada!
Dentro de poucas semanas,
Como quem come bananas,
Estará a Guerra acabada.


Comentário de J.M. A. Santos: "Este é um fado que compara algumas coisas que se passavam. Não é um fado para ofender, e era cantado em ambientes muito particulares e com público esclarecido! De resto, como todo o cancioneiro, sobressai sempre o aspecto humorístico com que todos os
temas são abordados".

Comentário de L.G.: Canção que tudo indica foi inspirado no fado Estranha forma de vida (Letra e música: Afredo Duarte e Amália Rodrigues).

Reconheço nesta canção sarcástica sobre a privilegiada condição dos colonos moçambicanos e dos seus flhos e filhas uma das maiores contradições daquela guerra onde dificilmente se podia convencer um soldado da metrópole que estava a defender o chão sagrado da Pátria...

Noutro registo, era o mesmo tipo de crítica que nós fazíamos na Guiné - nós, os operacionais, a carne para canhão - aos privilegiados da guerra do ar condicionado, instalados no relativo conforto e na precária segurança de Bissau... Recorde-se que na Guiné não havia colonos brancos, a única empresa que se podia chamar colonialista era a Casa Gouveia, ligada à CUF - Companhia União Fabril, mas que ficou praticamente inactiva com o início da guerra).

A palavra lerpar era utilizada pelas nossas tropas, da Guiné a Moçambique, com o mesmo sentido de perda: morrer, ser ferido, perder qualquer coisa, apanhar um castigo, ser escalado, etc.

Fonte: Blogue Luís Graça %& Camaradas da Guiné, I Série > 11 de maio de 2004 > 11 Maio 2004
Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (1)


http://blogueforanada.blogspot.pt/2004/05/blogantologias-xi-guerra-colonial.html

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, de facto na Guiné não havia "brancos" eram mais os libaneses e caboverdeanos, de maneira que dificilmente aparece a grande questão "das costas dos brancos que vim práqui defender".

Porque uma das características da Guerra do Ultramar foi a dicotomia tropa/civis.

Uma nuance (olha só o vocábulo)que bem analisada, ajudava a esclarecer não apenas muitas questões da guerra, mas mais ainda, explicava muitas das nossas históricas limitações lusas.

Essa "divisão" foi magistralmente usada pelos Amilcar e todos os Estudantes do Império que alinharam com o IN e por muitos "Ché" à boca de sino que militavam nas nossas casernas.

A Guerra devia ter terminado quando do acidente da cadeira, talvez já estivesse alcançado o objectivo.

Um abraço

JD disse...

Em Fevereiro de 70 uma Companhia de Infantaria demandou o leste da Guiné para fazer a intervenção num sector. Era comandada por um jovem capitão QP de porte atlético, filho de oficial, que saíu para o mato 2, no máximo 3 vezes. Ao 3º. mês, sem que tivesse revelado sintomas de doença, foi evacuado para a metrópole.
Por volta do 6º. mês de comissão, ã Companhia entrou em regime de quadrícula, numa região onde se transfigurara a fisionomia da guerra, e a actividade operacional continuou intensa. Por essa altura chegara o segundo capitão, também do QP, não tão jovem, mas pela primeira vez a comandar uma companhia operacional.
Foi uma nódoa. Nunca saíu para o mato, apenas em meia-dúzia de colunas que não conseguiu evitar, e de muito baixa perigosidade. Foi responsável por numerosos equívocos, fomentou divisões e intrigas, nunca reuniu o pessoal para transmitir instruções, ou transmitir alguma discipina ou moral. Era sibilino, e procurava explorar eventuais quesílias ou rivalidades. Associou-se a dois sargentos para o saque descarado aos géneros alimentares e aos carburantes adquiridos na Casa Gouveia, sem a mínima preocupação pela saúde e segurança dos comandados, pois apesar de chegar a não ter viaturas a andar, os mapas mostravam elevados consumos que justificavam a despeza. As flagelações eram bem-vindas, porque abrigados não corriam riscos, os milicianos chegavam para as situações, e proporcionavam o reforço de stok's para o negócio. Nunca ofereceu uma cerveja quando a Cª. era brindada com reabastecimentos que não tinham sido destruídos. A falta de estruturas de fiscalização e auditoria, facilitava o bom curso do "negócio", ou roubalheira.
Devia supor-se que a admissão e a frequência aos cursos da Academia Militar, incluíria testes psicológicos relativos à vocação e à motivação dos alunos destinados às armas de guerra, porém, dada a fraca prestação dos dois capitães que referi, pode inferir-se que essa prática, ou não se realizava, ou seria bastante viciada, pelo que foram dois exemplos de capitães que não revelaram, nem vocação, nem motivação, para o desempenho daquelas funções.
Também o sr Comandante do Bart, do qual dependeu a referida C.Caç. não revelava especial queda para a função, pois pude aperceber-me de algumas porradas absolutamente extraordinárias com que brindou alguns militares, e quando soavam os silvos do IN, normalmente ineficazes, comportava-se cobardemente, atirando-se para a vala de qualquer maneira, chegando a ser pisado por militares que ali se deslocavam para tomar posições, com as consequentes mazelas de rídiculo, que faziam sucesso na gíria local.
A obra em presença refere-se às élites da instituição militar no ambiente de guerra desde o recrutamento, nomeadamente sobre a selecção, a formação, o desempenho, a competência, a liderança, e o cotejo dessas práticas. E tê-lo-á feito com tanta certeza, que não se inibiu à citação de nomes, para o bem, como para o mal. É um produto da Roma Editora.
JD

JD disse...

In "A Última Missão":
"É que, na Guiné de então, a Glória estava pré-determinada e as honrarias contemplavam normalmente apenas um círculo restrito junto do General Comandante-Chefe. Depois, o marketing e os círculos de amigos fizeram o resto. E apareceram as lendas, que progressivamente têm vindo a tomar o lugar da História".
Terá alguma coisa a ver com a matéria tratada?
JD

Anónimo disse...

Caro camarada JD

O que relatas,foi,é,e será comum em todos os exércitos de todas as nações.
A condição humana tem muita coisa boa mas também há muito "filho da puta",aliás,infelizmente,acontece em todas as actividades...não é só na tropa.
Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Caro JD
Refere a má experiência com 2 capitães, um dos quais acusa de roubalheira.
Vai daí "dada a fraca prestação dos dois capitães que referi, pode inferir-se que essa prática [testes psicológicos relativos à vocação e à motivação dos alunos destinados às armas de guerra], ou não se realizava, ou seria bastante viciada, pelo que foram dois exemplos de capitães que não revelaram, nem vocação, nem motivação, para o desempenho daquelas funções". Safa!Fobia?

J.Antunes
ex-alferes Guiné

JD disse...

Caro C. Martins,
Concordo com a referência a gente perniciosa em todos os sectores de actividade, o que não generaliza, mas que é frequentemente elemento corrosivo da comunidade. O que não concordo, é com o tradicional conformismo, com a apatia para lidar com essas situações, talvez fundada no medo, em rede de oportunismos e ligações poderosas, ou na incompetência comodista do deixa andar, mesmo quando o líder parece ser incontestável.

Caro J. Antunes,
Não tenho qualquer fobis pelos militares, e considero muitos deles como pessoas competentes, sérias, e patriotas. Trata-se apenas de não esconder o sol com a peneira, pois foram inúmeros os casos de incompetência, de perseguição, de retaliação, numa escala que não foi determinada, e numa estrutura com laivos frequentes de caciquismo, que não são escola de virtudes. Qual é a competência e a ética de quem ordena o levantamento de um campo de minas submerso na bolanha? Como aceitar, que um oficial expulso das FA em processo de dolo, seja depois reintegrado sem a prova da inocência e com promoção ao posto imediato?

Abraços fraternos
JD

antonio graça de abreu disse...

À atenção do JD, José Manuel Dinis, nosso camarada de armas, que tem o mau gosto (está no seu pleníssimo direito!) de não gostar de mim, reescrevo as palavras do coronel Morais e Silva:

"Caracterizar um universo de centenas de capitães QP (...) a partir do desempenho de dois elementos desse universo mostra que o autor nada conhece sobre Teoria da Amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica".


São questões sérias, fundamentais
que têm a ver com a dignidade de todos nós.

Abraço,

António Graça de Abreu

JD disse...

À maria-vai-com-as-outras (1) em saltinhos provocantes e cheios de graça, ornada de mestranças com valor histórico, sempre direi que ainda alinhavo algumas letras e consigo ler os escritos mais simples,à minha maneira, é certo, mas é como me governo, enquanto não tiver alguém a providenciar pela minha assistência.
E li, no livro, que foram citados muitos militares por algumas razões boas ou más. Mais aqueles dois que referi na tal Companhia, mais um comandante do Bart, mais o senhor Comandante-Chefe que não instituíu um serviço de fiscalização e auditoria, mais dois que refiri no comentário anterior, perfazem n + 6, o que já começa a ser uma multidão para resolver ou comprometer o resultado de uma guerra. Mas há muitos outros autores, alguns generais, que ainda se referem a outros que não aparecem aqui citados.
Por acaso tenho a virtude de não confundir a núvem por Juno, pelo que me surpreendeu a réplica de um camarada de arma que desconheço, mas certamente desembaraçado para me ajudar em preciosa e perigosa contagem de cabeças, o que muito agradeço e dispenso. Então não era de vocações e modelos formativos que tratávamos e que conduziram a uma conjuntura de milicianização da guerra?
Cita ainda aquele n/camarada atento, o senhor Cor. Morais e Silva, mas eu tenho em meu poder o relatório do senhor Cor. Morais da Silva com a seguinte conclusão sobre a sua amostragem: "de 1963 a 1971 pelo menos um terço do stock de capitães QP (Inf, Art, Cav) comandou companhias de combate" e "a partir de 1972 tal esforço deixou de ser possível pelas razões já carreadas". Consta ainda do mesmo relatório uma amostragem percentual, de onde se extrai que em 1974 eram só 20,3% os "Capitães QP em companhias de combate versus stock capitães QP".
Agora não me perguntem onde estavam os restantes 79,7% dos capitães QP, que isso eu não sei. Mas sei que o obscurantismo não contribui para a apreciação séria e digna dos acontecimentos que nos afectam, ou afectaram. Apesar de já não se poder resolver nada sobre aquela guerra, e de não me mover qualquer motivação persecutória.
(1) designação popular de quem não tem autonomia e segue um grupo com exibicionismo.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Já que a conversa se afastou (um pouco) do âmbito do Blog, vou lançar mais uma acha para a fogueira. Quem é que ganhou com a guerra ou melhor, a quem interessava a guerra?!! Alguém imagina quantos coronéis, abrangendo aqui tudo o que vai de major para cima, faziam comissões atrás de comissões no então chamado ultramar, instalados no “ar condicionado” com as benesses que o cargo conferia, muitas vezes desempenhando funções alheias ao serviço militar, mas com os vencimentos colocados a bom recato na capital?!
Abraço grande aos tabanqueiros.
Henrique Matos

Anónimo disse...

Henrique Matos
Coisas sérias é para levar a sério.
O teu comentário é ignóbil porque produto de uma imaginação doentia que, sem fundamento, ofende centenas de homens sérios.
Lamentável é que os editores permitam que comprometas as regras do blogue de forma abjecta.
Não mereces acolhimento neste blogue ou então sou eu que estou a mais.
Os editores que decidam.
Basta de canalhadas.

J.Antunes
ex-alferes Guiné

JD disse...

Caro J. Antunes,
O camarada Henrique Matos é do tipo probo, e muito poucas vezes se manifesta no blogue, mas é alegre e comunicativo nos encontros. A verdade é que cada um teve as suas próprias experiências, e ele terá bases de sustentação para o que afirma. Mas, pricipalmente, para o que questiona: a quem interessava a guerra, e a resposta vai assentar, não só em alguns (muitos?) militares, mas, também em civis, individualmente considerados, ou em empresas de interesses diversos.
Já faleceu o prometedor escritor José Martins Garcia, autor de "Lugar de Massacre", um livro já aqui recenceado, naturalmente com base na sua experiência militar na Guiné, que exorbitará numa paródia apaixonante. Ainda se encontrarão exemplares em alfarrabistas, e foi editado pela Afrodite (um sêlo de prestígio), Circulo de Leitores e Edições Salamandra. Até parece ignóbil, mas é só um romance. E quanta realidade lá pode conter?
Um abraço
JD

Anónimo disse...

Caro J. Antunes,

O Henrique Mato é uma pessoa séria. O seu contributo para este blogue não pode ser posto em causa.

Por vezes a escrita não sai com clarividência e a éticas pretendidas. Nesta intervenção, acredito, o Henrique não teve intenção de ofender quem quer que seja.

O blogue, dentro das suas regras, tem lugar para todos.

Cumprimentos,
José Câmara

João José disse...

Camaradas
No dia 19 de Dezembro de 67 cheguei à Guiné, segui para Bissum no mesmo dia para participar nas operações Bolo Rei e Cavalo Orgulhoso, e, antes do Natal, sofremos vários ataques. Tive muito medo, mas, com o tempo, fui dominando-o.
Tive entretanto a oportunidade de constatar que a vida dos poucos oficiais do quadro que conheci na Guiné foi bem diferente da vida dos milicianos, alguns, terão mesmo aproveitado algumas saídas para o mato, para, através de relatórios, se evidenciarem de modo a serem mais rapidamente promovidos. Também sou de opinião que os das patentes mais elevadas, arriscavam muito menos e ganhavam muito mais. Não admira pois, que uns tantos se oferecessem para fazer mais comissões, porquanto, regra geral, levavam uma boa vida...
Quanto a defender o solo pátrio, não concordo com o que se afirma. A guerra de há muito que é global, e com um forte apetite pelo domínio dos poços de petróleo de que o nosso País era rico, e de que o porto de Sines, a Metrópole e a Europa eram destinos previstos.
Mas não se iludam nem se esqueçam de que a guerra continua, e esta dependência das instituições financeiras internacionais,dos mercados e de outros interesses internacionais que procuram adquirir "património dos Estados endividados a preço de saldo" através de uma política de empobrecimento, é causa de muitas falências, de muito desemprego e de muitos suicídios. Salvo melhor opinião, penso que continua a haver portugueses que colocam os seus interesses pessoais acima dos do País, e que, a ignorância generalizada e a muita mentira de que temos sido alvo, desde meados do Séc. XX, tem-nos trazido de derrota em derrota. Receio que, quando o povo se aperceber da realidade económica e financeira em que nos encontramos seja tarde demais.
João Martins
Ex-alferes Mil.Art.(BAC 1)