segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10534: Blogoterapia (218): Voltei ao Éden (Felismina Costa)

Sintra - Foto retirada de http://atracoessintra.no.sapo.pt/, com a devida vénia

Voltei ao Éden

Por Felismina Mealha

A manhã nublada envolvia a serra num místico turbilhão de nuvens voláteis, que ora se posicionavam à direita, ora à esquerda…
Estou sentada no parque em frente!
Sozinha!
Os bancos do parque, todos ocupados, quando há pouco cheguei, apenas aquele em que me sento, apresentam agora, uma volumetria colorida, no azul dos jeans e da camisola de cores contrastantes, que cobrem o rectângulo humano, que de caneta na mão, desenha sobre um bloco, que firma sobre a perna traçada, as palavras que chegam através da influência panorâmica.
Fujo de mim e observo…

As folhas caem das árvores, em tons de castanho e ouro e passeiam-se pelo chão… preguiçosamente.

À minha rectaguarda, os carros circulam a pouca velocidade, condicionados pelo semáforo próximo.

De vez enquando, pequenos grupos passam falando, à procura do almoço…

Olho o candeeiro de ferro forjado, sobre o muro, de desenho airoso, que espera a noite para mostrar a sua beleza e utilidade.
Numa das floreiras, frente aos meus olhos, floresce mimosa uma planta, no tom das flores da romãzeira, e, as casas apalaçadas, no sopé da serra, estão fechadas e caladas com medo de acordar recordações.

Como que dopada, permaneço sem pressa nem objectivos imediatos. Com a estação ferroviária a dois passos, encetarei a viagem de regresso quando me apetecer. O dia… é meu!

Agora, quero sentir o vento!
Paira uma atmosfera mole, preguiçosa, tal como me sinto.
Uma brisa, ofendida com as minhas palavras, soprou mais ligeira e eu sorri…

Olho o chão, de calçada portuguesa, desenhando uma geometria ondulante a que as folhas dos plátanos emprestam um doce enfeite…
Fotografo-as para as olhar no Inverno!
Uma pomba branca passeia-se indiferente e decidida. Gostei de ver a sua coragem, expressa na atitude.

Ao fundo do parque, um monumento, encimado por uma esfera armilar, lembra os que caíram pela Pátria, e eu, que sempre me tocam essas honras, lembrei-me dos que sobreviveram e continuam a ser ignorados e passam por nós, anónimos, com o brilho da sua heroicidade, apenas no seu coração e na sua memória…

Mais carregadas, as nuvens cobriram o sol, que aparecia a espaços…
No topo da serra, um pouco a sudoeste, uma das muralhas da Pena, sobressai por entre a vegetação.

Alguns transeuntes, de livros e telemóveis na mão, ocupam alguns bancos, tranquilamente, e eu vou deixar o espaço que observei, agradada e agradecida.
Num comboio longo, que circula sobre carris, vou-me deixar levar, mirando da janela o espaço abrangente, que transformarei em crónica deste dia e tempo.

Felismina-mealha
10 de Outubro de 2012
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10457: Blogoterapia (218): Obrigado pelo acolhimento nesta Grande Tabanca, que abriga as alegrias e as dores de uma geração, batizada com suor, sangue e mosquitos, nas águas escuras dos deltas dos rios da Guiné (Vasco Pires, Brasil)

4 comentários:

Tony Borie disse...

Por uns momentos sentí o cheiro a flores, vi as pessoas, algumas novas à procura do passado, a montanha, verdejante e com algum nevoeiro e até recordei os soldados que a pátria defenderam, que neste caso, fomos nós antigos combatentes!.
Obrigado, por estes bons momentos, Felismina.
Um abraço fraterno do Tony Borie.

Rui Silva disse...

Bonito Felismina!!
O nosso problema passa muito por ignorarmos (ao não contemplar) a naturaza que nos rodeia tão bela e rica.
Melhor que um ansiolítco.
Passe bem Felismina.
Um abraço
Rui Silva

Cesar Dias disse...

Olá Felismina
Também eu gostaria de voltar mais vezes ao Éden, foi nessa serra que passei parte da minha adolescência.
Marcou-me bem fundo, é para mim a serra mais bonita, das que conheço claro, e sinto muita alegria sempre que posso voltar.
Gostei muito de lêr o seu regresso ao Édem, tão fresco como a nossa Vila.
Um abraço
César Dias

Anónimo disse...

Olá Vizinha
Nós vivemos numa terra cheia de classe.
Não é por nos gabar, mas vivemos... Se não é a maior, tá logo a seguir.
Um Ab.
António J. P. Costa