domingo, 16 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10391: (Ex)citações (195): Considero que todos os ex-combatentes do ultramar são Heróis (António Melo)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo (ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, 1972/74), com data de hoje 16 de Setembro de 2012, a propósito do livro "Heróis do Ultramar", de autoria do jornalista Nuno Castro, divulgado no poste P10389:

Camaradas e amigos ex-combatentes
Aqui me encontro de novo a comentar algo com que estou em desacordo.

Ao ler hoje no nosso blog o pedido de divulgaçao do livro escrito por Nuno Castro, com o titulo heróis do ultramar que escrevo com letra minúscula de propósito porque me repugna o título e não penso lê-lo.

No pouco que li escrito pela sra Maria Teresa Almeida que pede a sua divulgação, e que conste que isto não é nada contra a senhora mas sim pelo que escreve, nem sequer pela sua divulgação pelo nosso blog, pois tudo o que se escreve merece ser divulgado, mas sim porque eu com a minha fraca opnião considero que todos os ex-combatentes do ultramar são HERÓIS e passo a explicar.

Para mim todos são heróis todos aqueles que saídos do seu ambiente familiar e levados para uma guerra de interesses e que não sabiam se voltariam a ver os seus entes queridos (pais, esposas, filhos, oitros familiares) como aconteceu com milhares dos nossos camaradas.

Todos aqueles que carregaram com seus camaradas às costas, uns mortos outros feridos; todos os que tiveram que cavar seus abrigos; os que carregaram água para nos banharmos; os que foram apanhar lenha para que se cozinhar; os que rotos e sujos tiveram que trabalhar a abrir as picadas para nos movimentarmos; os que carregaram material de guerra para nos defendermos, às vezes exaustos de dor pelo peso; os que dormiram em qualquer lado menos numa cama; os que molhados de barro e água, cansados e tinham que caminhar (recordo-me do título de um filme que é caminha ou rebenta); os que tinham que trabalhar fora dia e noite para que ao outro dia estivesse operacional um camião ou qualquer outro meio de transporte para sair; os que muitas vezes doentes tiveram que sair para qualquer missão e se calavam para serem solidários com os camaradas ou porque pensavam: - com o aspecto que tenho não me vão fazer prisioneiro, mas estava verdadeiramente e a sua honra e coragem era heróica; os que para salvar um camarada da morte, como os médicos e os enfermeiros, sem meios, tiveram que fazer intervenções cirúrgicas em qualquer lado no mato e muitas vezes correndo perigo da sua própria vida; os jovens oficiais e sargentos que tão jovens como nós, nos tinham que conduzir e muitas vezes corrigir; também os que se destacaram na frente de combate aos que se referem no citado livro, todos foram heróis por isso discordo do titulo que ressalta uns quantos.


2. Comentário de CV:

Caro camarada António.
Não pondo em causa a justeza da tua apreciação, apenas venho esclarecer-te do seguinte:

A senhora D. Maria Teresa Almeida, funcionária da Liga dos Combatentes e senhora que dedicou toda a sua vida ao serviço do combatentes do ultramar, e nos considera a todos de igual modo quer nos conheça quer não, apenas pediu para divulgar o livro já que nele eram entrevistados camaradas da nossa tertúlia. Eu, que editei o poste, é que pesquisei na internete a sinopse do livro assim como a sua capa. Se lesses bem verias lá a indicação da sua procedência, no caso o site da Fnac.

Não ires ler o livro é uma opção pessoal que se respeita, mas não pode ser baseada nos argumentos que referes. Julgo que as entrevistas são uma amostragem, que foram ouvidos aqueles militares como poderiam ter sido outros quaiquer, dos tais que tu muito bem referes e que como milhares e milhares de camaradas (eu e tu incluídos) serão verdadeiros HERÓIS anónimos que nunca constarão da História.

Muito obrigado pela tua opinião que, como vês, mereceu a nossa melhor atenção.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10371: (Ex)citações (194): O então cap mil Jorge Saraiva Parracho foi o meu primeiro comandante de companhia, a CCAÇ 462, em Chaves e em Ingoré, 1963/64 (José Marques Ferreira)

15 comentários:

1º. Cabo BIC G-3 disse...

Buba, Aldeia Formosa, Cacine, Guileje, Gadamael, Buba, 1968/69. Cada ex-combatente, por aquilo que passou em 22 meses ou o tempo que esteve no TO, tem o pleno direito de se expressar da forma que a sua consciência dita, face à realidade que viveu nesse período. Nunca me considerei herói de nada. Nunca tive um camarada que se expressasse nesse sentido. Todos cumpríamos com as nossas obrigações militares (como voluntários e numa guerra forçada por um regime fascista) e ajudávamo-nos uns aos outros no mais puro sentido de camaradagem , humanismo e espírito de coragem. Depois de ler o post da senhora da Liga dos Combatentes (que não conheço), estou de acordo com o texto do camarada António Melo, no que toca a separar "heróis" (que todos fomos) dos que andavam por lá a ajudar os "heróis" e que arriscavam tanto o "pelo" como eles. Este tema deveria ser tratado com um pouco mais de respeito por todos os que arriscaram a sua vida, principalmente os que foram "obrigados" a entrar numa guerra inqualificável, tendo muitos de nós mulher, filhos, irmãos, pais à espera do nosso regresso, nomeadamente para todos os camaradas que andavam no mato, na linha de fogo e que diária ou periodicamente, estavam sujeitos a bombardeamentos aos seus aquartelamentos ou emboscadas às colunas em que seguiam. Separar "heróis" dos "não heróis", não traduz a realidade por que passámos no TO e, por isso, nunca lerei, também, esse livro. Simplesmente porque não fui "herói"...

jpscandeias disse...

O título poderia ser "Todos Fomos Heróis" mas seria só o título porque de facto não fomos todos Heróis. Penso que o livro deve ser lido até para que o possamos avaliar, cada um de sua forma e, obviamente tendo em conta a vivência de cada um. O contexto em que cada um foi para a guerra, talvez um dia alguém faça esse estudo, seria uma boa tese para uma licenciatura ou doutoramento. Eu, na naquela época 1971, 1974, várias vezes me questionei sobre quem tinha mais coragem os que iam para as frentes de combate, e este “frente” de combate tem muito que se lhe diga pois eram tão díspares, para uns quase férias, para outros quase o inferno, a maioria o purgatório, refiro-me a Guiné, o que conheci. A conclusão a que chegava, naquela época, hoje já não faz parte dos meus pensamentos, era que teria de ter muito mais coragem, e por isso não o fiz, para pegar na trouxa e dar o “salto” para o estrangeiro sem data previsível de regresso. Conheci de tudo, os que o fizeram e regressaram e cumpriram o serviço militar e também os não regressaram. Penso que o livro não se debruça sobre esse tema da justiça ou injustiça da guerra. Devo reconhecer que por onde andei desde março de 1972 a maio de 1974, Companhia de Cavalaria 3404, Companhia de Caçadores 12, CIM-Bolama não conheci nem um herói, conheci companheiros de armas bons, médios e péssimos como em tudo na vida. Até conheci “Chicos” bons mas eram a exceção à regra. Cada um de nós tem e teve a sua história de vida de que faz parte a passagem, com mais ou menos mazelas, pelo teatro operacional. Recordo-me como achava ridículo a palavra teatro para definir o campo de batalha e sorria. Pensava para com os meus botões, isto não passa de um teatro. A mim me coube o papel de figurante.

João silva ex-furriel mil at.inf

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
Na realidade lêr este ou aquele livro não é obrigação de ninguem.O fato de sêr ou não sêr publicitado pelo nosso "redator chefe"segundo os seus próprios critérios.Tambem não vejo nenhum mal nisso.Até porque em nota de redator o Luís explicou o facto.
Mas Camaradas considerar todos Herois...Isso já é esticar um pouco a corda não???Senão veja-se a maior parte das fotos publicadas nos ultimos postes referentes aos cobras de Guilege.Acham que aquilo é de uma grande "heroicidade?"Talvês porque devem ter sido obrigados aquele grupinho com empregados de dragonas e tudo.
Abraços Henrique Cerqueira

Antonio Melo disse...

Amigo Henrique tu que passaste pelo mesmo que todos nos, e sabes o que era aquilo na Guine e pricipalmente guilege no julgues os cobras por estas fotos porque esses camaradas foram dos que mais sofreram pois dia sim dia sim tinham festa com direito a fogo e honra lhes seja feta,e tu sabes muito bem o que foi partires para uma aventura que a nos nada nos dizia

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Neste coisa de "heróis" quase que apetece parodiar com a frase do Vasco Santana, "chapéus há muitos" dizendo então "heróis há muitos"....

É evidente que colocadas as coisas sob determinada perspectiva é bem verdade que todos aqueles que estiveram em 'comissão de serviço' se podem considerar 'heróis' já que, como foi escrito, isso engloba todas as situações daqueles que tiveram que se afastar dos seus círculos de amigos, de familiares, de trabalho, de estudo, etc.

É claro também que depois cada um viveu diferentes situações, diferentes grau de perigosidade intrínseca, diferentes provações e aí a graduação da 'heroicidade' teria que ser medida por essas diferenças.

Pode-se ainda reduzir mais o âmbito do 'herói' restringindo-o àqueles que, sob perigo, cometeram actos dignos de registo, como resgatarem um camarada de uma situação difícil, reagirem ao fogo de forma a 'safar' uma outra situação difícil, desenvolverem, de algum modo um acto de coragem perante a adversidade, etc.,

Há ainda a possibilidade de se 'taxar' de 'herói' aquele que se distinguiu na 'arte de matar', aquele que mais 'inimigos' matou, que mais 'assaltos' com 'sucesso' efectou, etc....

Por isso digo "heróis há muitos", é preciso é sabermos de que se está a falar.

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

É interessantíssimo assistir a esta fértil discussão à roda do sentido da palavra herói : a capacidade de matar, a generosidade, o espírito de sacrifício, a coragem para dizer não...
O livro enquanto narração de feitos importantes relativos à guerra colonial, com a nomeação dos seus atores principais, pode dar mais um contributo para o entendimento daquele estúpido conflito. Se se pretender, com esta publicação, idolatrar uns e ofuscar outros, então o livro não terá grande valor... mesmo assim deve ser lido porque não somos inocentes.

Um abração
carvalho de Mampatá

Henrique Cerqueira disse...

Camarada Melo e restantes Tertulianos
Eu só dei o exemplo daqueles"Cobras"e não é pelo facto das farras ou bebedeiras,mas me pareceu que há diversos postes atráz que é sempre publicado fotos dos "oficiais da farra" e ao mesmo tempo dão a entender que havia uma disciplina militar altramente rígida naquela unidade,ao ponto de obrigarem os soldados do bar a estarem fardados como um "Vulgar"empregado de mesa dum bar de hotel.Tambem não tenho nada a haver com isso,só que a quantidade de fotos publicadas fáz lembrar o exebicionismo de poder que existia em algumas patentes militares em detrimento da boa estratégia de disciplina e camaradagem entre superiores e suberdinados. Alem disso nnão considero essa postura ~como ato heroico ,que era essa a questão inicial.
Quanto aos Cobras de Guilege não tenho duvidas que foram tão bons soldados como na maioria das companhias de combate espalhadas por toda a Guiné.
Desculpem se firo alguma susceptibilidade,mas o "Barrete só o enfia a quem servir"
Caro António Melo um abraço
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Camaradas:

Não sejamos tão "fundamentalistas"... Se fizerem um pesquisa no Google, encontrarão inúmeras localidades deste país a expressão "rua Heróis do Ultramar" ou até "Praça Heróis do Ultramar"...

Nos anos 60/70, as câmaras municipais homenageavam, desta forma, todos os combatentes da "guerra do ultramar", ao batizar as novas artérias que se iam abrindo, na sequência da expansão urbanística... O mesmo aconteceu no tempo da I República: veja-se o número de terras, onde há uma "Rua dos Heróis da Grande Guerra" (referência à participação portuguesa na I Guerra Mundial),

As toponímica mantiveram-se, apesar da fúria saneadora que ocorre sempre que há mudanças de regime...

Aqui a palavra "heróis" é utilizada no sentido coletivo, mais amplo, e mais anónimo, a que se refere o António Melo... Nesse aspeto, concordo, "todos fomos heróis". É uma homenagem a toda uma geração de combatentes portugueses, a nossa geração.

Quanto ao livro do Nuno Castro, era bom primeiro lê-lo...

Luís Graça disse...

... Peço perdão, não é Rua Heróis da Grande Guerra, mas sim Rua dos Combatentes da Grande Guerra... ou Avenida...



M@rtin'5 disse...


Acerca da questão HEROIS e COMBATENTES, sempre desenvolveu na sociedade civil um certo misticismo, nomeadamente por parte daqueles que não estiveram envolvidos, de forma mais ou menos directa, nos acontecimentos

No Concelho de Odivelas, com sete freguesias, só três, menos de 50%, têm referências na sua toponímia à questão. Curiosamente nem um só monumento existe no concelho a combatentes, pelo menos do meu conhecimento e/ou pesquisa. Nem a MILITARES nem a BOMBEIROS

Freguesia de Famões
Rua Heróis do Mar
Rua Heróis de Portugal

Freguesia de Odivelas
Rua Combatentes da Grande Guerra
Rua Combatentes 9 de Abril
Avenida Combatentes do Ultramar
Rua Heróis de Chaimite
Praceta Heróis de Naulila
Rua Heróis do Ultramar

Freguesia de Olival Basto
Rua Heróis dos Dembos
Rua Heróis de Mucaba

Rua ou Avenida dos Bombeiros
Caneças
Odivelas
Pontinha
(localidades com Corporação de Bombeiros Voluntarios)

Anónimo disse...

Esclarecimento do António Melo:

Caro camarada Carlos

No quero que mal me julguem por isso aqui me encontro de novo para esclarecer que, o meu desacordo nao e nada contra a D. Maria Teresa Almeida , contra os camaradas que ai relatam sus vivencias o contra a divulgacao do livro no blog mais faltaria ser eu que decida o que se deve o nao divulgar pelo contrario vos agradeço o vosso valioso e altuivo trabalho,mas sim contra o titulo do mesmo a relaçao que tem com a sinopse que li e o que foi a minha vivencia .
E para que conste quero dar os meus parabens ao autor da obra literaria a D. Maria Teresa Almeida e aos nossos camaradas tertulianos que deram o seus pareceres te agradesco que lhes faças chegar o conteudo deste se possivel.

Caro amigo Carlos um abraço para todos os tertulianos
E para ti um muito especi

Antonio Melo disse...

Caro amigo Helder Valerio concordo com tu comentario.
Mas na verdade me senti um pouco, porque tu parodeias com o tema e para mim mesmo na distancia no tempo e sao ja 40 anos mas a prossiçao vai por dentro e por muito que queira a guine levo-a no sangue e no coraçao vivi ai os meus melhores e piores dias da minha vida.
E quanto a palavra herois nao a retiro porque esta no mais amplio sentido, no coletivo e sem nomear a nada por isso os ex militares e combatentes do ultramar sao os meus herois e ai estas tu como o meu heroi como para muitos o seu heroi pode ser o Cristiano Ronaldo para outros o Fidel Castro e ainda se pode falar de duzentos ou trezentos mais cada cabeça sua sentença e cada um seu heroi por isso para mim estas tu e tus camaradas e a mim deixame sonhar com os meus herois .
Quanto a parodiar com a frase do grande Vasco Santana pelo menos termina porque esta incompleta e eu nao necessito que me asobiem para beber agua .
um abraço a todos os tertulianos e um especial para ti.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... a título informativo reproduzo, na parte que interessa, recente email que recebi de um jovem ex-jornalista >
data: 18 de Setembro de 2012 18:24
assunto: €€€ estórias do Ultramar €€€
Não há de facto registo do menino enquanto jornalista no activo e isso explica-se porque... Não o é! Já foi, e [...] segundo a nota biográfica constante no link [ http://m.wook.pt/ficha?id=14039145 ], aquele "gold digger" já foi isto aquilo e aqueloutro mas por agora não é nada. Vive actualmente nos Estates a tirar um mestrado - diz ele.
Inclusivamente desmente uma informação veiculada pelo próprio naquela apresentação por e-mail, pois nesta nota diz que se trata do seu primeiro livro... Ora então, e a biografia do ex-padre, deitado pela própria Oficina do Livro?!
Portanto, resta aguardar [pelo dia 01Out2012] para folhear umas páginas e ver se se conseguem espremer umas lágrimas com o melodrama.
__

Antonio Melo disse...

caro amigo e companheiro JCAS muito obrigado pela informaçao nao sabes o que te agradesco uma vez mais obrigado e um grande abraço
Antonio Melo

Unknown disse...

Buenas héroes .
Pase por aquí, hace un tiempo que no leía vuestro página y mi sorpresa fue leer, que alguien que cojio un dia una palabra bastante digna ( héroe ) y si saber el significado de ella , se pudo a escribir sobre dicha.

Lo primero introducir que mi portugués es bastante poco , pero llega a alcanzar la lectura y comprensión de esta, pero la escritura lo llevo diferente.

Mi nota será corta y breve pero clara , héroe , .... Amigo es aquel que un día tuvo que por obligacion que salir de su país para luchar por ello, sin saber si volvería a ver a su familia, sin saber si algún día podría llegar a su casa . Como salieron los héroes referidos, pues amigo mío sin despreciar sus estudios , su edad, su forma de ganar la vida ,le explico...Héroes fueron aquellos que como mi padre y todos que estuvieron dando su vida , su tiempo , su sangre, por su país.
Amigo sigo respetando su profesión pero dignese a cojer un arma a ir a un país deferente al suyo y luche por ello a cambio de no saber si vuelve vivo o muerto en ves de cojer algun tipo y medio de comunicación y criticar.... Todos como Ud, (ellos ) Sera un HEROE

Sin más un saludo a todos los héroes .

Lucia Bento