domingo, 12 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10254: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (9): Operação Tábuas

1. Terceira estória, de mais uma série de três, dos Fidalgos de Jol, enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), em mensagem do dia 2 de Agosto de 2012:



ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (9)

Operação “Tábuas”

Felizmente para a minha Companhia, a questão das minas nunca chegou a ser um verdadeiro problema. Sabíamos da sua existência, temíamo-las, mas foi um autêntico milagre nunca termos feito accionar qualquer engenho.

Sendo o Chão Manjaco uma região essencialmente de passagem para os elementos do PAIGC, penso que esse terá sido o principal factor para tão poucos registos relativamente a minas. Falava-se até (obviamente sem qualquer confirmação oficial) que em tempos houve uma tentativa de minar alguns trilhos utilizados pelo inimigo, mas alguns dias depois as minas haviam sido levantadas e, no local, estaria a seguinte mensagem espetada num pau por parte do PAIGC: “ Se continuarem a minar os nossos trilhos, nós também minamos os vossos. Parem!”

Sinceramente foi algo em que na altura me foi difícil acreditar, pois mais parecia um daqueles episódios de guerra contados pelo Raúl Solnado, mas o que é certo é que, como já anteriormente referi, durante toda a comissão não houve qualquer registo de incidentes com minas.

Assim, foi com certa surpresa, mesmo já no fim da comissão, que fomos “obsequiados” com a notícia de termos de ir levantar um campo de minas antipessoal existente na região de Pepantar, mais propriamente na Bolanha de Ponta Vicente, sobre o qual só sabíamos da sua existência através de um croqui já muito antigo e, obviamente, desactualizado.

Chegados ao suposto local, foi com muita dificuldade que, dadas as alterações do terreno e dos pontos de referência assinalados, conseguimos chegar a alguma conclusão. Importa salientar que o referido campo não fora montado por nós, e que já ali se encontrava há alguns anos.

Tentando seguir todas as regras que nos haviam sido ensinadas para estes casos (mas sem a devida prática) e, na ausência de verdadeiros especialistas na matéria (sapadores), lá fomos tentando identificar os possíveis locais onde as nossas “amigas” deveriam estar, porém sem resultados práticos. Ao fim de algum tempo lá encontrámos dispersas, mas já muito deterioradas, duas das famosas tabuinhas (se bem me recordo do tipo dos caixotes de madeira da margarina), sob as quais as mesmas se deveriam encontrar, mas quanto a elas, “népia”.

Como é lógico começámos a ficar algo baralhados e preocupados com a situação, pois por acção das águas da bolanha, as mesmas poderiam já não se encontrar nos locais onde supostamente deveriam estar. Assim, por uma questão de segurança, abandonámos o local antes que pudesse ocorrer alguma tragédia, pois o mais provável era tanto eu como o Alferes que à minha frente seguia com o croqui, já termos passado por cima de alguma, além de que já nos encontrávamos expostos no local há bastante tempo. Qual picagem qual quê, quanto a minas, nada…

Segundo nos explicaram mais tarde, das três uma, ou os nossos “amigos” do PAIGC tê-las-ão levantado /neutralizado em devido tempo, ou a acção corrosiva das águas acabou por as deixar inoperacionais (graças a Deus…) visto tratarem-se de minas antipessoal metálicas já com muitos anos, ou então poderiam ter sido de facto arrastadas para um local diferente devido a alguma corrente mais forte das águas da bolanha. Sendo minas metálicas, sinceramente na altura achámos uma situação pouco provável.

Não sei bem o que mais tarde ficou decidido fazer, mas falava-se na possibilidade de solicitar a presença de sapadores, e também de se abrir fogo para o local para provocar o possível rebentamento das minas, para o caso de elas efectivamente ainda lá estarem.

Que me desculpem os especialistas na matéria (minas e armadilhas), se eventualmente cometi aqui alguma incorrecção, mas é desta forma que me lembro deste insólito (ou não) acontecimento.

Foi assim que, sem minas, acabámos por ficar apenas com duas velhas tabuinhas nas mãos.


Jolmete, Junho de 1972 > Trilhos do Pioce

Jolmete, Junho de 1972 > Traseiras do meu abrigo

Jolmete, Julho de 1972 > Bolanha de Gel

Jolmete, Julho de 1972 > Trilhos de Gel

Jolmete, Junho de 1972 > Junto a um bagabaga

Jolmete, Novembro de 1972 > Bolanha de Ponta Vicente

Jolmete, Novembro de 1972 > Preparação para recepção aos piras
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10240: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (8): Nada de "mariquices"

4 comentários:

Anónimo disse...

ola augusto tudo bem achei graça a tua historia mas essa de formarem para receber os piras foi demais tens que perguntar ao teu irmao se tanbem fizeram o mesmo para me receber se o fizeram depressa se esqueceram eles pulvam de alegria por termos chegado mas do pira salta nao se esquecram um abraço faneco

Anónimo disse...

Olá Camarada e Amigo Faneco.
Tanto quanto eu sei, no Pelundo não fizeram nada disto. O estar perto da CCS nem sempre dava abertura a este tipo de coisas. Isto foi mesmo uma brincadeira. Também nós pulámos de contentamento quando recebemos os nossos substitutos. Foi uma sensação de alegria e alívio indescritível (obviamente para nós). Ainda me lembro de cantar "Periquito vai no mato, oh lé lé lé, a velhice vai no Bissau, oh lé lé lé lé"...
Um Forte Abraço.
Augusto Silva Santos

Manuel Carvalho disse...

Caro amigo Augusto

Não sou muito conhecedor em assunto de minas, mas essas taboinhas eram as tampas de umas minas de madeira retangulares que o PAIGC usava e bastante na nossa zona e no meu tempo. Tivemos dois militares da2366 e pelo menos um milícia sem uma perna. Era uma coisa que nos preocupava e muito. No entanto que me lembre nos trilhos não ponhamos minas.Montamos sim nesses locais de passagem algumas armadilhas com granadas defensivas em cacho e o fio de tropeçar. Esse campo de minas em Ponta Vicente de que falas não fomos nós que montamos.
Um grande abraço
Manuel Carvalho
Ccaç 2366 Jolmete

Anónimo disse...

Olá Manuel Carvalho,

Também não sou nem fui perito neste área. Posso-te até dizer que uma ocasião me recusei a montar umas minas de origem americana denominadas de Claymore (porque eram parecidas com as garrafas de whisky com essa marca de levar no bolso), precisamente porque não me sentia (não estava) suficientemente preparado para o fazer. Mais tarde até obtive conhecimento de que era algo que estava proibido pela convenção de Genebra. Era uma arma terrível com um grande raio de acção e amplitude(minas de superfície para montar em árvores ou em trilhos, tipo emboscada com comando à distância)) Foi e é algo que ainda me mete muito respeito.
Se não foi a vossa Comp.ª que as montou, julgo que também não tenha sido a que fomos render, pois a informação de que disponhamos é que essas minas já lá estariam há alguns anos, daí toda aquela confusão que relatei. Quanto às tabuinhas, és capaz de ter razão.
Lembro-me que elas já estavam muito deterioradas, e não tinham qualquer identificação. Não dava para perceber bem de quem seriam, mas em princípio pensamos serem nossas, por estarem mais ou menos nos locais assinalados no croqui. Um Grande e Forte Abraço
Augusto Silva Santos