segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9511: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (9): Circo... e bombas que não eram de carnaval ... em 1974


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Presume-se que fosse uma brincadeira de Carnaval... Dois militares parodiam a PM - Polícia Militar... O Eurico Corvalho † podia ser o terceiro a contar da esquerda,  pelo menos é alguém que parodia a figura do capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garantiu-me uma vez o Nuno Rubim, que foi seu camarada da academia (O Nuno era de um curso anterior ao do Eurico)... Mas o Zé Brás,  que também o conheceu, em Mejo e Guileje,  diz que não... (LG).

Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). (Fotos do José Neto † , reeditadas por Albano Costa). Todos os direitos reservados.


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime,1967/69) > A RTX - Rádio Televisão do Xime, em ação, no Carnaval de 69...  


 Foto: © Manuel Moreira (2011)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Que a guerra não rima com carnaval, isso toda a gente sabe. Na Guiné, em tempo de guerra não se limpavam armas...No carnaval de 1970, 9 de fevereiro, lembro-me de ter levado porrada da grossa.  No mesmo dia, embarcava para a Guiné o Cap Mil Art Jorge Picado, deixando mulher e quatro filhos... 

Outros, eram capazes de se desenfiar por umas horas, em dia de carnaval (ou noutro dia qualquer), por uma boa causa como a de ajudar os camaradas a comer um cabritinho assado:  estou-me a lembrar do Tomás Carneiro, o nosso camarigo açoriano, que no Carnaval de 1973  fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou  Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos de Polibaque...

Em suma, não sobrava tempo (e muito menos ainda disposição) para "brincar ao carnaval"... É possível que, num ou noutro sítio, num ou noutro tempo, houvesse quem arranjasse tempo e pachorra para se mascarar, reinar, parodiar, brincar... Estou-me a lembrar dos foliões da CART 1613 (Guileje) ou da CART 1746 (Xime) de que publicamos  fotos acima... O ser humano é imprevisível... Tragédia, drama e comédia, podiam acontecer no mesmo dia, e até em dia de carnaval...

Fui ao Diário do António Graça de Abreu (AGA) mas lá não há referências ao Carnaval. Minto: há uma, mas é irónica... Em contrapartida, um mês antes, tinha passado por  Cufar o circo!.. Podem achar surreal, mas houve pelo menos uma companhia de circo, em deambulação pela Guiné, no 1º trimestre de 1974... Esteve em Cufar, no dia 25 de janeiro de 1974... Nesse ano o carnaval, foi a 26 de fevereiro... 

Por gentileza e generosidade do nosso camarigo AGA, aqui ficam aqui mais dois  excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).


(...) Cufar, 25 de Janeiro de 1974

A companhia do “Circo Sevilha” chegou a Cufar para um grande show destinado às nossas Forças Armadas e à população nativa. De manhã cedo, o Nordatlas trouxe os artistas e os adereços, veio buscá-los à tardinha, de regresso a Bissau. O exército pagou aos talentosos artistas, deu-lhes cabrito assado para o almoço, forneceu o público.

O circo serviu para distrair, dar fantasia à dureza dos dias, adoçar-nos a boca cheia de temores e angústias amargas.

O que é um circo? Quem são os homens que fazem um circo? Para que serve um circo?

Juntam-se as pessoas num grupo, cada uma delas capaz de executar um truque ou habilidade, ou de colaborar na realização de diferentes números, difíceis, fantásticos, surpreendentes. Os artistas, o prestidigitador, o músico do trompete, a “partenaire” do equilibrista, o carregador de aparelhos para dentro e fora da pista, os animais, os palhaços.

O circo. Música de tchim-pó-pó, o movimento e a cor, os saltos no ar, lantejoulas, garridice, a fantasia, alegria com vislumbres de verdade, tristeza com laivos de exultação e festa.

O circo. Momentos de espanto e de magia, mas o gato com rabo de fora. Gente que ganha e gasta a vida. Povo real, os trajes coçados pelo uso, os corpos deselegantes e cansados, as meias rendadas rotas, os truques velhos, o espectáculo pobre.

Boquiabertos, assistimos ao retrato original do que também somos.


(...) Cufar, 25 de Fevereiro de 1974

Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...)

[Foto acima: Máscara bijagó, Bubaque, 13 de dezembro de 2009. Foto de João Graça]

 _____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos

5 comentários:

Luís Graça disse...

40 anos depois, o carnaval em Bissau é outro e é uma grande festa... Leio no portal noticioso, em português, do Luxemburgo, bomdia.lu, com data de 8 do corrente:

Guiné-Bissau: Carnaval com preservativos portugueses
Portugal

Portugal ofereceu hoje à Guiné-Bissau 300 mil preservativos, numa altura em que a Comissão de Luta conta a Sida estava em "rotura de stock" e quando se aproxima o carnaval, época em que o produto é mais procurado.

"Chega num momento importante, porque o contexto em que vamos entrar, carnavalesco, de azáfama, é também de alguns desvios em comportamentos de risco que precisam de ser prevenidos. Mas também num momento em que sofríamos de carência, quer para prevenção em geral mas também visando as metas que devemos atingir, no âmbito dos nossos compromissos internacionais de luta contra Sida", disse Huco Monteiro, presidente da Comissão de Luta contra a Sida (CNLCS) da Guiné-Bissau.

O compromisso é de "zero novas infeções" até 2015. Atualmente Huco Monteiro não dispõe de estatísticas sobre novas infeções mas sabe que há "uma redução drástica". "A tendência para a redução de novas infeções está confirmada. No ano de 2010 tivemos 25 por cento menos de incidência", disse Huco Monteiro.

O responsável reconheceu que a meta para 2015 é "apenas um lema" mas adiantou que é preciso trabalhar nesse sentido, de reduzir a atual prevalência de 3,3 por cento, e para tal não são só necessários os preservativos.

"São importantes porque nos ajudam a preencher a lacuna da prevenção junto de populações de risco, profissionais de sexo, jovens, mesmo qualquer um de nós que às vezes sucumbe às tentações. Mas precisamos de ter mais fidelidade, dar mais garantia nas transfusões de sangue, garantir que as mães infetadas não transmitam o vírus aos seus filhos", disse.

A Guiné-Bissau consome anualmente cerca de cinco milhões de preservativos, com Portugal a contribuir com 25 por cento das necessidades (mais de um milhão), uma ajuda que a CNLCS agradece. "Vamos fazer o melhor uso desses preservativos, a começar já com um plano de distribuição com vista ao carnaval, mas também fazer chegar os preservativos nos cantos mais recônditos" do país, disse Huco Monteiro.

Guilherme Zeferino, adido para a cooperação portuguesa, lembrou na cerimónia de entrega dos preservativos que Portugal tem vindo a apoiar a Guiné-Bissau desde 2008 e disse que a CNLCS pode continuar "a contar com Portugal nesta matéria, seja em termos de donativos de preservativos seja noutras áreas, como a da sensibilização".

O responsável pela cooperação portuguesa explicou também que no mesmo contentor em que chegaram os preservativos chegou material destinado ao setor da Educação, "prioritário também para a cooperação portuguesa, de acordo com as prioridades também do governo".

São centenas de mesas e cadeiras destinadas a uma escola de educação especial, de surdos-mudos e cegos. "Portugal é o único parceiro que intervém nessa área da educação especial", frisou.

Uma parte das mesas e cadeiras destina-se, adiantou, às oficinas de língua portuguesa, que a cooperação instalou junto dos liceus públicos. A prioridade serão as oficinas de Canchungo, Gabu e Bafatá, na zona leste.
__

Fonte:

http://www.bomdia.lu/

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Já li o "Diário" do António G. Abreu em 2007 e achei muito interesse em tudo o que lá está relatado.
Hoje, a esta distância, continuo a achar muito instrutivo e esclarecedor o que lá está escrito, a 'quente', em 'cima do acontecimento', com a genuinidade das observações e conceitos 'à data' do autor.

Quanto a estas coisas do Carnaval são muito interessantes e curiosas mas, tal como já em tempos relatei, para carnaval chegou-me o de 71. O Luís Borrega lembra-se bem, pois foi uma das três vezes em que ele esteve perto da 'senhora da foice', como ele diz, quando o rebentamento na caserna se deu perto dele e se lembra de lhe passar à frente uma bota com um pé lá dentro...

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

Circo em Cufar !!!1

Há gente muito sortuda.
Porque é que não foram a Gadamael ?
Iam de heli. até Cacine que nós iamos lá buscá-los.
O único divertimento que tínhamos, era um cozinheiro que fazia umas "palhaçadas", só que numa flagelação ao entrar em voo no abrigo levou com estilhaços nos glúteos e ficou sem um dedo de uma mão.
Ficamos sem "palhaçadas", perdão sem circo.
Não há (havia) direito.
Aqui fica o meu protesto.

C.Martins

Anónimo disse...

Glen Alpine laser treatment rosacea

Also visit my blog post: Fultonham rosacea treatment

Anónimo disse...

tennis elbow home remedy treatment

Also visit my site :: quickest way to heal tennis elbow