sábado, 7 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9324: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (3): Homilia do Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim, em Viana do Castelo, a 6/5/1970, na missa da benção dos guiões, antes da partida (Benjamim Durães)

Fonte: Excertos de História do Batallhão de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972. (*)


Anexo ao Capítulo I da História da Unidade >

CERIMÓNIAS DE DESPEDIDA > 06.MAIO.70


 O dia amanheceu chuvoso em Viana do Castelo. Foi o dia marcado para oficialmente a Cidade se despedir do BART 2917. Foi o dia em que cada Unidade recebeu o seu Guião.


Igreja de São Domingos – 10, 30 horas


Na Capela-Mor as entidades de Viana do Castelo que quiseram honrarem com a sua presença:

- Reverendíssimo Arcipreste do Julgado Eclesiástico de Viana do Castelo;
- Governador Civil do Distrito;
- Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo;
- Comandante Militar;
- Capitão do Porto de Viana do Castelo;
- Comandante Distrital da GNR;
- Presidente da Junta Distrital;
- Delegado do INTP;
- Comandante Distrital da PSP;
- Comandante da Secção da Guarda Fiscal;
- Comandante Distrital da Legião Portuguesa;
- Senhoras do Movimento Nacional Feminino local;
- Senhoras da Cruz Vermelha Portuguesa;
- Delegado Distrital da Mocidade Portuguesa;
- Delegado Distrital da Mocidade Portuguesa Feminina;
- Comandante do Batalhão de Caçadores Nº 9.


Estranhos a Viana do Castelo, [eram] apenas o Comandante do RAP 2, Coronel de Artilharia Neto Parra, a quem pelo telefone foi pedido que representasse o Comandante da Região Militar do Porto que,  intimidado pela chuva ou pela distância, brilhou pela ausência, e o Capelão da Região Militar do Porto.

Presente na vasta nave, o Batalhão assistiu à “Bênção dos seus Guiões”,  seguida de missa celebrada pelo nosso Capelão, Alferes dos Serviços Religiosos Arsénio Chaves Puim

À homilia o nosso Capelão Alferes Graduado Arsénio Chaves Puim  [foto à direita] disse:

“Amigos e Companheiros:


"O problema fundamental do homem não é ser oficialmente cristão. O cristianismo existe em razão e em função da verdade e do bem objectivos e não é, portanto, verdadeiro e bom porque é cristianismo, mas é cristianismo, porque é verdadeiro e bom.


"De resto, o cristianismo é essencialmente um espírito e uma vida, uma mentalidade e uma conduta efectiva, que não aceita monopolistas nem detentores absolutos.


"O problema fundamental do homem também não é ser oficialmente cristão, na medida em que isso pode implicar desvio da verdade e do bem, e até cobardia e falta de personalidade, além da falta de estudo e procura. O problema fundamental dos homens, penso que é um problema de seriedade e verdade, de coerência consigo, de autenticidade humana e realização da missão de vida.


"Cristo apareceu num determinado ponto do curso da história humana e, num programa de autêntico revolucionário, destroçou erros, descentralizou frases legalistas, focalizou as grandes virtudes do amor e da justiça e aperfeiçoou o âmbito dos conhecimentos e da Fédos homens.

"A Igreja adoptou, ou melhor, nasceu desse Cristo e pregou-o. Os povos aceitaram-no ou guerrearam-no e todos, em movimentos de adesão ou combate e heresia, influenciando-se mutuamente, têm contribuído para o desenvolvimento progressivo da verdade evangélica e a realização mais precisa e renovada do espírito de Cristo no Mundo, que é de Fraternidade na Liberdade, Acção na Justiça, Paz no Progresso.

"No fim de contas, todo o Mundo e todos nós, Cristãos ou não, assumimos muito do espírito cristão e encontramo-nos num ponto de convergência, não só pelo respeito e amor mútuos, mas na posse da verdade essencial.

"É por isso que aqui estamos todos nesta Missa e que eu ouso confiar na compreensão daqueles que, porventura, em circunstâncias de maior espontaneidade, não estariam aqui presentes neste momento.

"A Missa é de facto, na sua origem, essência e história, um acto do culto católico, que não pode ser número de, programa acomodado sem efeito a propósito ou, ideologias que não sejam a prestação pura de honra ao Pai da humanidade e com Cristo incarnado e sacrificado, e a comunhão da Palavra e do Pão de Deus.

"Julgo porém que, segundo o que disse, esta missa será um acto de grande profundidade existencial e estimulante solidariedade humana e religiosa para esta comunidade, que todos nós formamos - ”O Batalhão 2917”.


"Deixamos com saudades as nossas famílias, estamo-nos a despedir deste simpático povo de Viana do Castelo, e em breve deslocar-nos-emos para a Guiné, onde vivemos juntos dia a dia, pisando as mesmas dificuldades e sacrifícios, realizando a mesma vida, com uma nova família, onde todos formarão um, cada um viverá para todos e todos para os outros.


"Esta hora de missa deverá bem sintetizar, consolidar e intensificar esse espírito de comunidade que nos une, assim como os altos ideais humanos e cristãos, que são apanágios de todos os homens de boa vontade em quaisquer circunstâncias.


"Os exércitos também têm a sua mística altamente humanitária, que não a guerra, essa nunca poderá ser um ideal ou valor em si mas a defesa do direito de todos, a garantia da liberdade dos povos, a consecução da paz justa, o compromisso apenas com verdade.


"O Batalhão 2917 viverá rectamente esta missa e a sua comissão de serviço na Guiné se para todos pesar um desejo sério de sermos homens mais perfeitos, uma comunidade militar autêntica ao serviço dos outros (da África Negra) e construirmos um Mundo melhor.”


Que assim seja!
____________

Nota do editor:


(*) Vd. último poste da série > 6 de desembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães)

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