sábado, 16 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8113: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (3): Que rica é a nossa Tabanca (1) (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de  10 de Abril de 2011:

Carlos Vinhal
Como ultimamente tenho tido mais tempo, vou escrevendo umas coisinhas. Como já percebeste pelo título acima, não podia deixar de escrever algo para a nossa Tabanca que está de parabéns por ter ultrapassado já os dois milhões e meio de visitas. Brevemente chegará aos três milhões, disso não tenho dúvidas.

Escrevi desta forma porque dia a dia a visito, ficando assim a saber mais histórias dos meus camaradas e eles a saber de mim.

Fico muito grato à Tabanca Grande por este tempo que me tem dispensado, especialmente a ti Carlos, pois tens sido o meu Editor, e sei bem o trabalho que te tenho dado.

De uma coisa podem ter a certeza, a nossa Tabanca é Grande, e eu irei contribuir para que ela seja cada vez maior.

Deixo um abraço a todos os tertulianos, em especial a todos os que aqui passam muito tempo das sua vidas,
sendo o Carlos um deles.



QUE RICA É A NOSSA TABANCA, foi o Tema que escolhi...
Albino Silva




QUE RICA É A NOSSA TABANCA (1)

Que rica é nossa Tabanca
está como nunca esteve igual
com Histórias de camaradas
eu faço dela o meu Jornal.

Dois milhões e meio de visitas
este número já ultrapassado
pois cada vez são muitos mais
em querer ver o nosso passado.

Que rica é nossa Tabanca
com camaradas para a visitar
lendo o que outros escreveram
e depois também eles contar.

Que rica é nossa Tabanca
com a certeza de não haver igual
pois por mim a considero e é
a verdadeira História de Portugal.

Que rica é nossa Tabanca
tenho orgulho em a visitar
pois nos conta somente a verdade
do nosso tempo de Ultramar.

Que rica é nossa Tabanca
e tão Grande que ela é
sendo mesmo especial
para quem esteve na Guiné.

Que rica é nossa Tabanca
que ao contar nossa História
conta tudo o que é verdade
e nos alivia a nossa memoria.

Que rica é nossa Tabanca
que nos mostra tanto que ler
mostra-nos fotos do passado
e até muitos filmes para ver.

Que rica é nossa Tabanca
que nos conta coisas daquela terra
o que cada um por lá passou
com tantos anos de guerra.

Que rica é nossa Tabanca
com testemunhos do passado
que lendo ainda alguns casos
me deixam muito emocionado.

Que rica é nossa Tabanca
por camaradas como eu
fazer dela o nosso arquivo
de um passado que não esqueceu.

Que rica é nossa Tabanca
a que jamais quero esquecer
só fico triste com imensa pena
não ser todo o País em a ver.

Que rica é nossa Tabanca
e tua mensagem aqui cabe
para mostrar ao pobre País
aquilo que nem sequer ele sabe.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8075: Blogpoesia (142): O que me fizeste Guiné (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8101: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (2): Como o tempo passa! ... (Rui Felício, CCAÇ 2405, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

Guiné 63/74 - P8112: A minha CCAÇ 12 (17): 14 e 15 de Fevereiro de 1970: Op Bodião Decidido, com a CCAÇ 2404 (Mansambo) e a CART 2413 (Xitole) em Satecuta, na margem diireita do Rio Corubal: morto um guerrilheiro e apreendido um RPG2


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > Meados de 1970 > Três furriéis da CCAÇ 12 (Em primeiro, plano António Branquinho, do lado direito; em segundo lado, da direita para a esquerdaTony Levezinho e Arlindo Roda), mais o Fur Mil Enf José Alberto Coelho,  +em primeiro plano, à esquerda, por ocasião de uma coluna logística Bambadinca- Xitole... Os quatros posaram para a fotografia  junto do memorial aos mortos da CART 2413 (Xitole, 1968/70), uma companhia com quem a CCAÇ 12 fez diversas operações no seu sector, entre elas, a Op Bodião Decididio, a seguir descrita. Esta subunidade, que será substituída pela CCART 2716 (1970/72), teve 4 mortos, a saber (e de acordo com a lápide constante da imagem acima):


(i) Sold At Manuel de Sousa Branco, natural de Areosa, Rio Tinto,  Godomar, CART 2413/BCAÇ 2852, morto em combate, 25/10/1968.  Os restos mortais estão no cemitério da sua Freguesia Natal (segundo a completíssima  lista publicada pelo portal Utramar Terraweb, relativa aos mortos da guerra do Ultramar do concelho de Gondomar; acrescente-se: não só a mais completa como a mais fiável da lista dos mortos da guerra do ultramar, disponível na Internet);


(ii) Sold At Joaquim Gomes Dias Vale de Ossos, natural de Fradelos, Vila Nova de Famalicão, morto por afogamento em 7/11/1968. Está sepultaddo no cemitério da sua Freguesia  Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);


(iii) Sold At Crispim Almeida da Costa, natural de Monte Calvo, Romariz, Santa Maria da Feira, falecido por doença em  3/4/1969 doença, e sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);


(iv) Sold At Mário Ferreira de Azevedo, nascido em Cavadas, V ermoim, Maia, falecido também por doença, em 22/12/1969, e sepultado no cemitério concelhio (Fonte: Portal Ultramar Terraweb).





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969 ou princípios de 1970 >   Aspecto geral do aquartelamento... Esta foi outra subunidade com a qual a CCAÇ 12 também fez várias operações, como a Op Bodião Decidido, abaixo relatada. Como fez com a sua antecedente, a CART 2339 (1968/69), que construiu de raiz este aquartelamento.





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969 ou princípios de 1970 >  Descarregamento de sacos de uma viatura GMC... Todas as colunas logísticas aos aquartelamentos a sul de Bambadinca e a norte do Rio Corubal (Mansambo, Xitole e Saltinho) paravam obrigatoriamente aqui... Daqui também partiram diversas operações, com a CCAÇ 12, tanto no subsector de Mansambo como no do Xitole.




Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1968/70) > Finais de 1969, princípios de 1970  ou meados de 1970 > Nicho com a imagem da Virgem Maria, e os dizeres "Senhora  Protege a CC 2404".


Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados







Guiné > Zona leste > Sector L1 > Mapa do Xime (1961) > Escala 1/50000 > Detalhes, a posição relativa de Satecuta, na margem direita do Rio Corubal, parte do triângulo Galo Corubal - Seco Braima - Satecuta... A leste, a estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho e o destacamento da Ponte dos Fulas (que era guarnecido, em Fevereiro de 1970, por forças da CART 2413, do Xitole). A verde, as posições das NT (fora da imagem: Mansambo, a norte; Xitole, a sul).


A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graç


(8) Fevereiro de 1970


(82) Fevereiro de 1970 > Op Bodião Decidido: uma operação com sucesso na área de Satecuta





Foi realizada em 14 e 15 de Fevereiro de 1970 para uma batida à área de Satecuta até ao Rio Corubal, por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), CART 2413 (Xitole) (**)  e CCAÇ 12 (1º, 2º e 4º Gr Comb), constituindo respectivamente os Destacamentos A, B e C, num total de mais de 200 homens (7 Grupos de combate).


Recorde-se que a CCAÇ 12, constituída por soldados africanos e quadros e especialistas metropolitanos - estes de rendição individual- ,  era uma unidade de intervenção, sediada em Bambadinca, às ordens do BCAÇ 2852, até Maio ou Junho de de 1970, e depois do BART 2917, até ao final da comissão dos quadros e e especialistas metropolitanos, em Fevereiro de 1971).




Tratou-se de um patrulhamento ofensivo com emboscadas nas regiões de (Vd. mapa do Xime):


(i) Mansambo, Culobó, (Xime 4H6-46), Seco Braima, Culobó, (Xime 4H6-46),


(ii) Xitole, Ponte dos Fulas, Satecuta, Bissau Novo, Benate, Ponte dos Fulas, Xitole…


Um ano atrás, por ocasião do planeamento da Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969), o comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) descrevia assim a situação do IN na área de Galo Corubal - Sactecuta - Seco Braima:


"(...) Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, atrvés do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser feito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

"Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog." (...)



De acordo com o plano estabelecido para a Op Bodião Decidido, os 3 Dest saíram de Mansambo e Xitole às 5h00 do dia D 14 de Fevereiro de 1970]), percorrendo a estrada Xitole-Mansambo até ao ponto de encontro, que atingiram cerca de 3 horas depois (área de Culôbo, a sul da Ponte do Rio Jagarajá). 


Para saírem àquela hora de Mansambo, os 3 Gr de Comb da CCAÇ já se tinham deslocado umas largas horas antes, de Bambadinca para Mansambo. Tal significou que alguém teve de picar a estrada e montar segurança na ZA da CCAÇ 2404. Nessa noite (de 13 para 14), obviamente ninguém dormiu. Tal como não dormiu na noite seguinte… Soldados e quadros da CCAÇ 12 eram um bando de noctívagos e sonâmbulos (tendo passado muitos milhares de horas em emboscadas nocturnas ou em vigília, antes de partir para o mato, às 4 da madrugada)… Estávamos então em plena estação seca…


Após uma rápida reunião dos Comandantes dos Dest, iniciou-se a progressão a corta-mato, em direcção à região Xime 4B5-58, onde fizeram paragem para descanso e almoço, entre as 12h00 e as 16h00.  Pelas 17h00 do dia 14.  o local foi atingido o local escolhido para pernoita e montagem de emboscadas nocturnas (em Xime 4A8-48). 


Repare-se como escassos quilómetros em linha recta, nas matas da Guiné, levavam um dia a percorrer em corta-mato…Quando o sol estava a pique, não havia outro remédio senão procurar a sombra protectora e a fresquidão da orla da mata, circundante de uma bolanha ou lala, até às 4h00 da tarde… Homens e bichos reduziam ao mínimo a sua penosa actividade fisiológica…


Verificou-se, através de vestígios, que o IN tinha reconhecido o trilho utilizado pelas NT durante a Op Navalha Polida , em 2-3 de Janeiro de 1970, na regiãode Seco Braima), embora não tivessem sido detectadas quaisquer minas ou armadilhas. Seco Braima era um dos vértices do temível triângulo (ou península) Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (aí justamente onde vai desaguar o Rio Pulom).


Às 4h00 da manhã do dia D + 1 (ou seja,  15 de Fevereiro), os Dest continuaram a progressão até atingirem um trilho muito batido na região Xime 4 F2 – 29. Aí ficou emboscado o Dest B (CCAÇ 2404), reforçado por 1 Gr Comb do Dest C (CCAÇ 12), enquanto os outros Dest seguiram em direcção a Satecuta.


Pelas 7h00, o Dest B (CART 2413) avistou 1 grupo IN de 15/20 elementos, tendo-o deixado aproximar-se. No momento oportuno, e denotando grande disciplina e sangue frio, os homens da frente abriram fogo,  causando 1 morto deixado no terreno (um roqueteiro),  e feridos prováveis. Houve um gasto mínimo de munições (1 dilagrama e 1 carregador de G-3). Foi apreendido ao IN um RPG-2 (LGFog) e várias granadas.


O IN dispersou imediatamente e flagelou o Dest B quando alguns elementos deste foram à zona de morte a fim de verificar os resultados colhidos.


Os Dest A e C foram também flagelados com fogo de morteiro e armas automáticas, não reagindo para não revelar a sua localização exacta e movimentando-se apenas para conseguir estabelecer ligação com o Dest B.


Uma vez que toda a população e elementos IN da área (península  Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima) tinham ficado alertados, devido à troca de tiros, as NT após uma batida muito rápida retiraram de forma a evitar quaisquer emboscada de outros grupos IN vindos de Seco Braima ou Galo Corubal.


O ponto de reunião inicial (Culôbo) foi atingido cerca das 10h00 do dia 15 de Fevereiro, regressando depois as NT aos seus aquartelamentos, uns às 11h30 (CART 2413, Xitole) e outros uma hora mais tarde (CCAÇ 2404, Mansambo, juntamente com a CCAÇ 12, que depois seguiu para Bambadinca em coluna auto).


Constatou-se que o IN, depois da Op Navalha Polida, tinha redobrado de vigilância, patrulhando constantemente a região entre Seco Braima e Galo Corubal a avaliar pelos trilhos feitos.


Verificou-se também que por vezes executa tiros à distância na tentativa de localizar as NT e posteriormente montar-lhes embocadas, especialmente no regresso. No presente caso, as NT não tiveram qualquer reacção pelo fogo, o que malogrou as intenções do IN.


Transcrição da Mensagem 676/C COM-CHEFE (REP/OPE): “COM-CHEFE manifesta seu agrado realização Op Bodião Decidido e resultados obtidos”


Em geral, o Com-Chefe só mandava mensagens destas quando havia grande ronco: no mínimo, apreensão de material de guerra, prisioneiros ou mortos IN, confirmados no terreno. Os burocratas da guerra do ar condicionado, em Bissau, sabiam que, por sistema, os operacionais, os do mato, tinham tendência para amplificar e até hiperbolizar os seus feitos heróicos e contabilizar baixas no papel que não tinham qualquer correspondência no terreno… Em suma, todos, do alferes ao tenente coronel, queriam ficar bem na fotografia... Por causa das dúvidas, os pára-quedistas do BCP 12 fotografavam os cadáveres, quando havia tempo e vagar para isso…


(83) Op Leão Nómada: Biro, 24 de Fevereiro


A 24 de Fevereiro de 1970, efectua-se outra operação a nível de Batalhão, a fim de executar um golpe de mão conjugado com emboscadas em linha e batida na área compreendida entre o Rio Samba Uriel, o limite da ZA das CART 2413 e CCAÇ 2404 e estrada Xitole-Mansambo.


É de notar que neste sector (L1) qualquer operação implicava a afectação de importantes meios humanos: no mínimo, dois destacamentos, 6 grupos de combate, duas ou mais companhias... A desproporção de meios era flagrante: levávamos entre 150 a 250 homens, para andar à caça de 15 a 30 guerrilheiros (menos de um bigrupo)... Esta região tinha sido. um ano antes,  palco de uma megaoperação, que mobilizara 1200 homens, entre miliatres e carregadores: Op Lança Afiada, de 8 a 18 de Março de 1969 (vd poste da I Série,  de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal).


Das declarações prestadas pelo prisioneiro Festa Na Lona (capturado em 21 de Janeiro, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única), ficou a saber-se que o IN tinha um acampamento na região de Biro, junto à margem direita do Rio Bissari depois da confluência com o Rio Samba Uriel. Os efectivos eram estimados em 30 elementos, divididos em 2 grupos de 15 e dispondo de Mort 60, LGFog e armas automáticas.


A Op Leão Nómada  foi realizada por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), a 2 Gr Comb, e da CCAÇ 12 (2º e 4º Gr Comb), formando o Dest A; e ainda pela  CART 2413 (Xitole), a 2 Gr Comb reforçados (Dest B).


O prisioneiro Festa Na Lona serviu de guia. No decorrer da acção, quando as NT progrediam na região de Galoiel/Biro, ouviram tiros de reconhecimento e aviso feitos pelo IN.


Encontraram-se trilhos batidos (especialmente o trilho assinalado na carta que conduz à foz do Rio Bissari e daí à região de Galo Corubal, apresentando indícios de ser utilizado por pequenos grupos IN em acções de patrulhamento) e grandes extensões de capim queimado, mas as NT não conseguiram localizar o acampamento IN.


No mínimo temos de reconhecer a coragem e a coerência dos combatentes do PAIGC que, mesmo sob as duras condições (físicas e psicológicas) de cativeiro, eram capazes de nos ludibriar, a nós e aos nossos guias (fulas e mandingas), de modo a pôr a salvo os seus camaradas e a população afecta à guerrilha...Já vimos como, em operação anterior, a Op Boga Destemida, outro prisioneiro, Jomel Nanquitande, balanta,  conseguira fugir, debaixo de fogo, algemado e provavelmente ferido (*)... Houve mais casos destes no Sector L1 (já aqui relatados: estou-me a lembrar da Op Anda Cá, na região de Madina/Belel, em 22/23 de Fevereiro de 1969, vd. depoimento de Beja Santos)...


Nunca cheguei a saber qual foi o destino dado ao Festa Na Lona, provavelmente recambiado para a região do Gabu, para ser de novo interrogado e forçado a servir de guia às NT... (Se é que a sua história era verdadeira e consistente, o pertencer a uma unidade do Gabu e estar na região do Xime a passar... férias!).


Menos de ano e meio depois, em Julho de 1971, as NT (incluindo a CCAÇ 12, forças de Mansambo - CART 2714,  e do Xitole - CART 2716 ) voltam a Satecuta... A Op Quadrilha Sagaz já aqui foi relatada... De batalhão para batalhão, as operações pareciam ser feitas a papel químico...


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Fontes consultadas:

História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. pp. 28-29.Policopiado


História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado

Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito



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Notas do editor:


(*) Vd. último poste da série > 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)


(**) CART 2413:  Independente, foi mobilizada pelo RAP 2. Partiu para a Guiné em 11 de Agosto de 1968 e regressou a 18 de Junho de 1970. Esteve em  Fá Mandinga e Xitole. Comandantes:  Cap Art Raul Alberto Laranjeira Henriques; Cap Inf José Medina Ramos. Por seu turno, a CCAÇ 2404 (Mansambo) fazia parte do BCAÇ 2852.

Guiné 63/74 - P8111: FAP (65): Falando do nosso destacamento em Nova Lamego (Gil Moutinho)



1. O nosso Camarada Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav - BA12 -, Bissalanca, 1972/73, régulo da Tabanca dos Melros, enviou-nos em 14 de Abril a seguinte mensagem.
Camaradas,
Falando do nosso destacamento em Nova Lamego, para além de contar as minhas experiências, também fazer algumas considerações “em jeito”de comentário ao poste P7807 do nosso Tenente [António Martins] de Matos, publicado na Tabanca Grande.


Malta da FAP na BA 12 em Bissalanca

Já foi referido que por um período de 1 semana, eram destacados meios aéreos para N. Lamego, que consistiam em uma DO, um Héli e um Hélicanhão, com três pilotos, dois mecânicos e um atirador do canhão (não sei se foi sempre assim e desde quando).
Curiosamente na minha caderneta de voo (é o único auxílio da minha memória) constatei que, quase em fim de comissão, fiz duas semanas seguidas, não me recordando minimamente das razões para tal.
Tudo isto para que houvesse proximidade às Tropas no terreno e evitar as demoras de uma deslocação da Base.
Só era destacado um piloto, quando já tivesse alguma experiência do TO da Guiné e quase sempre um miliciano, pois os do quadro, mais velhos (não necessariamente mais experientes no Ultramar) tinham quase sempre família e residiam na cidade, não sendo escalados, salvo excepções.
Se a memória não falha, um dos pilotos teria que ser sempre um oficial (faria parte das NEP), mesmo que não fosse mais antigo e experiente no TO.
A FA estaria assim à altura, com oficialato, para dignas relações com as FT e respectiva colaboração sendo de véspera programado toda a actividade aérea, excepto para as evacuações por motivos óbvios.
A excepção eram as evacuações, pela manhãzinha, porque de véspera já não era possível. O meu primeiro contacto com o Leste, ainda muito pira, foi numa viagem a Pirada e ia correndo tudo muito mal (ver no blogue especialistas da BA12, o poste 1040, de 14 de Junho de 2009).
Eu de DO, para além de evacuações, deslocava-me onde fosse necessário e por indicações das chefias das FT em sintonia com as regras acordadas para a colaboração com a FA.
Nessas viagens, habitualmente eram visitadas as Companhias no mato a partir da sede do Batalhão pelo Comandante respectivo e, para além deste, transportávamos víveres frescos, carga geral e o sempre apreciado correio, para além de outros militares em deslocação.
As viagens eram sempre de curta duração e mesmo acumuladas dificilmente esgotavam as horas disponíveis.
Quando tínhamos evacuações é que se fazia muitas horas de pilotagem, pois cheguei no mesmo dia a ir duas vezes a Bissau e tudo somado a perfazer 5 horas seguidas.
Claro que à noite, porque estávamos soltos, se calhar nos excedíamos do normal. A manhã podia começar com o pequeno-almoço na varanda do Mounir, quase em frente dos nossos alojamentos, onde se começava com ovos mexidos e salada de tomate, acompanhado com chá frio e café com mezinha.
Por vezes tínhamos sobremesa com fruta fresca e chocolate (onde é que já ouvi isto?) nos fundos do estabelecimento do nosso amigo (só nos recomendava que lavássemos com sabão no fim).
Também aqui ele cozinhava, eventualmente, alguma caça que o canhão abatia para os esfomeados.

Insiro esta foto esclarecedora (soldado condutor do Exército, Olímpio, eu, Direitinho, Vítor Afonso e Cardoso de cócoras. Falta o mecânico da DO, podia ser o Falcão, Pascoal ou outro).

Nunca me preocupei com o excesso de horas para além do pré definido, eu gostava muito de voar, com 20/21 anos tudo é possível, e percebia que o meio aéreo era importante para as tropas no terreno.
Nunca me senti usado com excesso de horas, pois em todos os momentos éramos comandantes da aeronave e tínhamos regras bem definidas para cumprir se o quisesse, e tinha o manche na mão (faca e queijo).

Nunca me senti um rapazito, sim um rapazinho que tendo feito 20 anos a 5 Março 72, embarquei a 6 Abril. Tinha contudo uma formação de cerca de ano e meio de cursos e tirocínios, rigorosamente igual à dos oficiais do mesmo curso, base para evolução adquirida na permanência na Guiné. Tinha mais-valia a experiência e capacidade de cada um, que propriamente o posto.

Recentemente, eu como muitos outros, comecei a conviver, nos blogues, tabancas e tertúlias, com outros ex Combatentes de outras armas, nomeadamente do Exercito, e comecei a conhecer melhor a realidade dos apelidados “burakos”, o que na época não aconteceu pois muitas vezes nem chegava a parar o motor do avião (nas evacuações acontecia) ou permanecíamos pouco tempo, não havendo tempo para grandes convívios sendo sempre muito bem recebido, um reconhecimento da nossa colaboração, nomeadamente nas evacuações e transporte de correio.

Descarregando os sacos de correio...

Havia locais (bu...rakos) que nos recebiam duma maneira quase surreal. Lembro-me de Guileje onde nos recebiam com bebidas na pista (nada de álcool), pensava eu que um barman de casaca branca, mas o Cor. Coutinho disse-me que era uma bajuda.

Do libré tenho a certeza, não sei onde. Alguém me ajuda? Na base de Bissalanca, o SPM (Serviços Postais Militares) tinha permanentemente um camião, estrategicamente estacionado, e sempre bem fornecido, que atento às movimentações de saídas de aeronaves nos solicitava o transporte de correio em sacos para os nossos destinos.

Agora olho com mais respeito e admiração para estes combatentes de todos os “bu...rakos” da Guiné.
Fui educado, em novo, a respeitar os pais, os mais velhos, os professores e as autoridades, e na tropa os superiores.

Agora respeito mais os outros valores: competência, personalidade, honestidade, etc e não os galões, títulos, canudos e cargos imerecidos. Isto vem a propósito do malogrado T. Cor Brito, onde para além do posto, também era competente e justo.

Um dia também me atrasei no começo de uma missão, cerca de meia hora a mais de cama, não em destacamento, e na chegada da mesma fui confrontado pelo meu chefe de esquadra, capitão x, e a minha desculpa não foi aceite, mesmo tendo cumprido a missão na íntegra.

Resultou na perda de uma viagem extra, bónus, de Nord à Metrópole, que por escala e antiguidade, era concedida aos pilotos e outros, para alguns lugares disponíveis, e mesmo sendo cansativa, sempre eram alguns dias em casa. Na altura fiquei triste e tentei demover da decisão o chefe do Grupo Operacional T. C. Brito.

Andei dois dias a rondar o seu gabinete sem coragem para o abordar (Os chefes, o respeito e a timidez!). Não consegui e só mais tarde é que aceitei e compreendi que ele não iria alterar a decisão/recomendação do Capitão. Respeitava-o como homem e como chefe.

Um abraço,
Gil Moutinho
Fur Mil Pilav da BA12

Fotos: © Gil Moutinho (2011). Todos os direitos reservados
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P8110: Comemoração do Dia do Combatente em Lagoa (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2011:

Ao Camarigo Carlos Vinhal com cordiais saudações.


Lagoa – Algarve comemorou o “Dia do Combatente,” no passado dia 9 de Abril de 2011, desta feita com pompa e circunstância.

O Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes levou a cabo as comemorações do Dia do Combatente e da passagem do 93º Ano da Batalha de La Lys, cerimónias que tiveram lugar no dia 9 de Abril de 2011, pelas 10,30 horas, no Largo dos Combatentes da Grande Guerra, em Lagoa, e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

O evento contou com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, bem como de entidades públicas e privadas, e com o seguinte programa:

10.20 horas - Chegada dos convidados ao local da Cerimónia e apresentação de cumprimentos, dos quais tendo observado:

Foto 1 – Recepção aos convidados, estando na esqª. e de costas o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio, ao centro o Presidente do Núcleo o Capitão Ap. Paulo Neto e na dtª. o Coordenador da logística do evento o Sargento-Mor de Cav. Fernando David.

Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio;
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Rui Correia;
Presidente da Junta de Freguesia de Lagoa, Francisco Martins;
Representante do Presidente da Câmara M. de Portimão, Vereador Jorge Campos;
Representante Comandante do Regtº. de Infantaria nº 1-Tavira, Major de Infª Oliveira;
Representante do Comandante do Destacamento da GNR de Silves;
Representante do Comandante do Posto da GNR de Lagoa, Cabo Aprovado Almeida;
Comandante do Bombeiros Voluntários de Lagoa, Vítor Rio Alves;
Comandante Interino dos Bombeiros Voluntários de Portimão, José Mestre;
Assistente do Agrupamento nº 511 do CNE de Lagoa, Padre José Nunes;

10.30 horas - Início das Cerimónias:

Foram dados toques regulamentares a cada passagem da Cerimónia, efectuados por elementos da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão.

Foto 4 – Grupo da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva e também sendo sócio da Liga dos Combatentes.

Foto 5 - Portas–Bandeira do Núcleo de Lagoa – Portimão e da Liga dos Combatentes
Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, CCav 742, Zala e Nambuangongo, Angola - 65/67 e o Fuzileiro Jacinto Guerreiro (Combatente em Angola e Moçambique)

Por parte do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes, Capitão Aposentado Paulo Neto, foi feita alocução e de onde foram retirados excertos:

Foto 6 – O Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, Capitão Aposentado Paulo Neto, sendo o palestrante. Da esqª. três camaradas da Associação Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira, Sargento-Chefe do RI 1 - Tavira, Major Oliveira, do RI 1- Tavira, Presidente da C. M. Lagoa Dr. José Inácio, Membro da Direcção do Núcleo Engº Rosa Silva, Sargento-Mor de Cavª Davide (Coordenador do Evento), Portas - Bandeira, Sargento da GNR Aposentado Deodato Pais, Fuzileiro Jacinto Guerreiro, Camarada da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra – Portimão e Camarada da Associação de Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira.

- A Liga dos Combatentes, a que nos honramos de pertencer, em cerimónias da responsabilidade da Direcção Central e dos Núcleos Regionais, comemora hoje em todo o País uma das suas datas mais significativas, a Batalha de La Lys, na Flandres, Norte de França e durante a Grande Guerra 1914/18.

- Em 09 de Abril de 1918, a 2ª Divisão Portuguesa, integrada no XI Corpo de Exército Britânico, sofreu um dos mais duros reveses da nossa História Militar. Aconteceu que o Exército Alemão desencadeou na zona da frente que guarnecíamos um muito vigoroso e sistemático bombardeamento com fortíssima concentração de artilharia, durante mais de 03 horas consecutivas, tendo disposto 10 Divisões de Infantaria frente aos 20.000 homens da 2ª Divisão do Corpo Português.

- Quero manifestar o nosso muito agrado, por ter pela primeira vez presente nestas cerimónias uma força militar do Regimento de Infantaria Nº1 – Tavira, o que significa especial empenho do Comando no relacionamento com os Núcleos e com a Sociedade Civil.

-Peço-lhe Sr. Major Oliveira, que transmita ao Sr. Coronel Comandante do RI 1, que tomamos a devida nota dos meritórios esforços de inter-acção com as populações da área da Unidade e também no campo das actividades culturais.

Prestação de Honras Militares em Parada, por um Pelotão do Regimento de Infantaria Nº1 – RI 1-Tavira e estando sob o Comando da Alferes Rodrigues.

Foto 7 – Sob o Comando da Alferes Rodrigues, o Pelotão está em posição de descanso arma.

As entidades oficiais foram convidadas a fim de depositarem coroas de flores, na base do Monumento em honra dos Combatentes oriundos do Concelho de Lagoa e falecidos no Ultramar Português, 1961/74. Seguindo-se o toque a mortos e salva de tiros.

Foto 10 – Deponde a coroa de flores, Presidente da C.M. Lagoa Dr. José Inácio, logo o Presidente do Núcleo Capitão Apº Paulo Neto e segue-se o Major de Infª Oliveira.

Foto 11 – Pelotão em posição de execução para a salva de tiros, em memória dos Combatentes falecidos.

Foto 12 – Em sentido e em continência pela memória aos mortos.

11.00 horas – As Entidades Oficiais deslocaram-se ao Cemitério de Lagoa, tendem deposto flores nas campas dos Combatentes oriundos da Freguesia de Lagoa, que combateram na Grande Guerra -1914/18 e no Ultramar Português.

Foto 13 – Aquando o Presidente do Núcleo Capitão Apos. Paulo Neto (em 1º plano), colocara flores na campa do Sold. Firmino A. Marques, que foi Combatente na Grande Guerra - 14/18. O repórter da Tabanca Grande é o último lado direito.

Foto14 – O Soldado Serafim Branco, C.Caç.2511, Angola 69/71, colocando Flores na campa de um Combatente do Ultramar e o ex-Fur. Mil. José Júlio Nascimento o municiador das flores.

Foto 15 – Capitão Apo. da GNR Domingues Garcia, depondo Flores no Jazigo de João B.Castelo Branco e o ex-Fur.Mil. Araújo Marcos, C.Caç.111, Ambrizete, Angola 61/63.

Foto 16 – Vice-Presidente da C.M. Lagoa Rui Correia, depondo uma flor no jazigo de seu pai, que falecera quando exercia funções de Presidente da Câmara M. de Lagoa.

Foto 18 – Assim ficou o Monumento, o qual edificado para perdurar em memória dos Combatentes falecidos no Ultramar Português – 1961/74 e aguardando uma visita dos que têm a felicidade de estarem vivos.

Do Presidente do Núcleo de Lagoa – Portimão, da Liga dos Combatentes, foram ditas singelas palavras e que se transcrevem:

- Por fim uma palavra de grande reconhecimento e gratidão à Câmara Municipal de Lagoa que nos acolhe, pelas atenções que nos têm dispensado e pela valiosa colaboração que tem prestado a este Núcleo ao longo dos anos. Sic.

- Esperamos manter e até melhorar o nosso relacionamento com a Câmara Municipal de Portimão.

Cumpre-me ter presente o notável desempenho desta Câmara na Grande homenagem Municipal ao saudoso Coronel Armando Maçanita, Herói Nacional, nosso Presidente de Honra. Sic.

Cordiais mantenhas para todos os Camarigos.

Com um Abraço
Arménio Estorninho
CCaç 2381, “Os Maiorais de Empada,”
Guiné 68/70
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7795: Álbum fotográfico do Arménio Estorninho (CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70): Cherno Rachide e a festa do fim do Ramadão, Bissau, 1970

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8109: O Alenquer retoma o contacto (5): O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá (Armando Fonseca)

1. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 9 de Abril de 2011:

Caro camarigo Vinhal,
Aqui estou mais uma vez a contar mais um capitulo da minha vivida história, para ser publicada para conhecimento de toda a tabanca, se acaso a julgar digna disso. deixo à vossa consideração.


O Alenquer retoma o contacto (5)

O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá

Depois de, em Ganturé, existirem as condições mínimas de sobrevivência para a instalação das tropas que aí permaneciam, o Pel Fox 42 juntamente com tropas recém chegadas à Guiné e com um Pelotão de Milícias rumou até Sangonhá a 21 de Março de 1964, a fim de aí ser instalado um novo aquartelamento.

Como de costume segue-se a capinagem, a vedação de arame farpado em volta da tabanca, que seria agora um quartel, a colocação de cavaletes para instalação dos candeeiros a petróleo (petromaxes), a que alguns “valentes” iam dar pressão de ar durante a noite, sempre que necessário.

Também era norma que quando chegávamos a um novo local não se consumia água da que ali existia sem ser certificado de que ela estava em boas condições de utilização, assim, recorria-se sempre ao aquartelamento mais próximo para nos abastecermos desse precioso líquido.

Então no dia 23 pela tarde lá vamos nós a Guilege encher os reservatórios de água regressando já ao lusco-fusco, aquela hora em que já não se vê muito bem mas também ainda não é preciso acender faróis.

Assim o IN que decerto nos vigiava não deu pela chegada dos carros da Cavalaria e entenderam ser muito fácil um ataque às tropas recem instaladas para mais que a maior parte tinha as pernas muito brancas o que indiciava pouca experiência naquelas andanças e que se tornaria uma tomada do local com a maior das simplicidades.

E, então pelo meio da noite de 23 para 24, qual não é o espanto do sentinela que se encontrava do lado da estrada que liga a Guiné-Bissau à Guiné-Conacri quando vê aparecer um grupo de guerrilheiros pela estrada acima, descontraidamente a aproximar-se da entrada trazendo uma metralhadora e outros armamentos parecendo que passeavam. Essa sentinela chegou a estar confundido sem saber se devia atacar ou esperar julgando que eles se vinham entregar às nossas forças.

Entretanto quando eles se encontravam a cerca de vinte metros do arame, a sentinela que se encontrava dentro do granadeiro reagiu e fez uma rajada que despoletou um ataque feroz, à volta da aquartelamento. Havia mais duas metralhadoras iguais à que aquele grupo transportava, cuja foto envio, e várias outras armas mais ligeiras, aquelas "costureirinhas" que quase todos conhecemos.

As nossas tropas reagiram e o tal grupo procurou uma elevação no terreno e instalaram-se para fazer fogo sobre nós, mas como os nossos carros tinham um grande poder de fogo, depressa o anulamos, isto com a ajuda do comandante da milícia, visto que a certa altura devido à proximidade do IN não se sabia muito bem de quem eram os tiros se das nossas tropas se do IN. Depois de anulado esse grupo cuja maioria ficou lá assim como o respectivo armamento, que se encontra no museu militar, todo o ataque foi sendo anulado e o IN retirou em debandada.

Ao raiar da aurora fomos então fazer o reconhecimento, e do grupo que fora avistado estavam seis mortos, a metralhadora, pistolas-metralhadoras e pistolas e um rolo de corda. Depois de examinados os outros locais de onde vieram os piores ataques restavam montes de invólucros e os vestígios das metralhadoras terem sido arrastadas no final do ataque, pelo que se deduziu que o cordão encontrado seria exactamente para atar ao suporte da metralhadora para que um dos intervenientes recuasse para local seguro e puxasse a metralhadora no final do ataque, caso este corresse mal como foi o caso, só que neste caso não houve tempo para a execução dessa operação.

Passada esta primeira confusão, permanecemos em Sangonhá até 23 de Junho, continuando a manter as devidas precauções e a segurança das tropas aí instaladas, até que eles atingissem a maturidade para se defenderem a si próprios.

Depois de Sangonhá seguiu-se Cacoca que ficará para o próximo episódio.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7877: O Alenquer retoma o contacto (4): Depois de Guileje, seguiu-se Ganturé (Armando Fonseca)

Guiné 63/74 - P8108: Notas de leitura (229): Visão - África, 30 anos depois, reportagem de Pedro Rosa Mendes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
Não se pode fazer vista grossa à reportagem publicada no número especial da Visão “África 30 anos depois”, com data de 2005.
Pedro Rosa Mendes mostrou os seus créditos, soube olhar e escutar.
É um trabalho de grande qualidade, a despeito de alguma informação enviesada e deficitária.
Vamos assim enriquecendo o nosso acervo informativo, para uso luso-guineense.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau numa reportagem de Pedro Rosa Mendes (2005)

Beja Santos

A Visão assinalou com uma publicação de grande envergadura o 30º aniversário da independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa, em 2005. O jornalista e escritor Pedro Rosa Mendes e o fotógrafo Luís Barra cobriram o acontecimento numa reportagem de indiscutível significado. Vale a pena sintetizar o que ali se escreveu.

Pedro Rosa Mendes começa por observar que, ao contrário do que repetidamente é dito, Amílcar Cabral foi alvo de uma longa morte, ao longo de mais de 30 anos. Essa Guiné envolta em tantos nomes: “A todos responde e em todos se esconde. Nome paterno Escravo, nome de exílio Santiago, nome de padrasto Portugal, nome de solteiro Kaabú, nome de Pátria Pindjiquiti, nome de guerra Boé, nome de quintal Moscovo, nome de regime Traição, nome de deus Irã, nome de palácio Ladrão, nome de tabanca Porco, nome de bolanha Fome, nomes de festa Vinho, Palma, Mancarra, nome de fortuna Maomé, nome de insulto Burmedjo, nome de código Preto Nok, nome de gala Amílcar, nome de família Guiné. Nome próprio: Bissau”.

Não é fácil tocar no verdadeiro rosto do país e do povo, este é pacífico e afável, percorre-se pelo lúmpen de Bissau com verdadeiro à-vontade, no entanto a classe política e os seus partidários entregam-se a uma violência brutal, sem limites, sucedem-se em cadeia as deposições, as conspirações e as purgas. É verdade que há uma violência que vem de longe, precede a presença colonial portuguesa. Autóctones, invasoras e ocupantes, têm-se dilacerado ao longo dos séculos. É um texto bem escrito, à altura de um romancista de gabarito que ainda recentemente nos deu um romance de altíssima qualidade “Peregrinação de Emmanuel Jhesus” cuja acção decorre em Timor Leste. Pena é que de vez em quando, acaloradamente, profira dislates ou imprecisões históricas. Amílcar Cabral não foi assassinado por jagunços, como ele escreve, mas sim por guerrilheiros que ainda hoje não se sabe a mando de quem. Amílcar Cabral não enfrentou nem eliminou um motim no I Congresso do PAIGC, em Cassacá, enfrentou sim um conjunto de torcionários, como vem descrito, de forma convergente, por autores irrecusáveis como Luís Cabral ou Aristides Pereira. Mas é verdade, como o repórter escreve, que muitos dos crimes perpetrados ficam na impunidade: “A única justiça na Guiné é feita pelas próprias mãos: Nino afastando Luís Cabral; Ansumane Mané expulsando Nino para o exílio; Kumba Ialá permitindo que as patentes balantas eliminassem Ansumane; os militares derrubando Kumba e matando, por sua vez, um ano depois, o líder deste golpe, o general Veríssimo Seabra…

Bissau na década de 60, a guerra longe e perto
(Fotografia o Arquivo de Fotografia de Lisboa – CPF/MC)

Nesta vertigem, desenha-se uma particularidade da política guineense: as vítimas de golpe reservam-se o direito de voltar ao cargo. Basta que não se deixem matar”. O repórter anota que o Estado está cada vez mais volátil, a própria soberania está tão frágil e permeável que permite a influência descarada dos países vizinhos. E observa: “Paradoxo guineense, a geração que lutou nas matas rapidamente se esqueceu de onde vinha a sua força e para onde ia a sua coragem. O horizonte de um povo inteiro foi encolhendo dentro do seu pequeno país. A Guiné foi-se acantonando em Bissau. Nino Vieira e a sua corte geriram o país como um grupo económico mais ou menos informal e mais ou menos oficioso”. Nino exerceu uma ditadura paternalista em conluio com os seus homens de confiança, tutelava os negócios da cerveja, da castanha de caju, da vida portuária, das telecomunicações, como qualquer outro Grande Irmão mandava censurar as imagens enviadas a partir da RTP em Bissau. Um país frágil, em que a marinha tem os seus poucos barcos encalhados e a Força Aérea deixou de voar há muitos anos, os 6 MIG ficaram rapidamente no chão por falta de peças.

A ausência de memória histórica impressiona nacionais e estrangeiros: “A casa onde Amílcar Cabral nasceu, em Bafatá, está em ruinas há muitos anos – desde que o PAIGC ficou com a custódia do imóvel. É, basicamente, uma latrina ocasional. De outro local histórico, em Madina do Boé, onde o PAIGC proclamou unilateralmente a independência, em 1973, resta apenas outra ruina, engolida pelo mato”. Pedro Rosa Mendes conversou com Carlos Schwartz (Pepito), falou-se do projecto museológico de Guileje, hoje uma realidade singular num mundo de amnésia histórica.

Os meninos guineenses continuam a olhar esperançados para o futuro
Uma linda fotografia de Luís Barra

Numa viagem ao interior do PAIGC, de algum modo ainda hoje a coluna vertebral do país, o repórter recorda as execuções, o desaparecimento da documentação histórica fundamental, as lutas fratricidas. Fala no massacre dos Comandos e refere o número de 40 mil, certamente que lhe deram uma informação errada, este número refere-se a todos aqueles que combateram à sombra da bandeira portuguesa. O PAIGC da luta acabou por se envolver na gestão do aparelho colonial, juntou-lhe uma estrutura securitária e repressiva dirigida por figuras sinistras, inesquecíveis como António Buscardini, os irmãos Baciro e Iaia Dabó, basta lembrar a desumanidade com que foram tratados Paulo Correia e outros alegados conspiradores presos em Outubro de 1985.

A reportagem termina com uma peça de excelência intitulada “Braima, o menino de Amílcar”, Pedro Rosa Mendes conversa com Saco Sambó, filho de guerrilheiros que adquiriu elevadas competências militares em Cuba e na Rússia. Quando regressou à Guiné em 1987, disseram-lhe que não havia lugar para doutores, pediu para sair das Forças Armadas, dedicou-se à formação. Acha o PAIGC irreconhecível e comenta: “É inevitável fazer uma comparação entre a Guiné e Cuba. Lá, a Revolução triunfou, apesar de ser feita por analfabetos, ou quase. Depois do triunfo, todos foram responsabilizados e obrigados a estudar. As coisas eram muito claras: um herói da luta podia ocupar um cargo, mas tinha um período de tempo para se ir preparando para essa posição, porque havia objectivos definidos. Cabral cria o mesmo sistema na Guiné. Mas aqui essa política de quadros não funcionou. Os dirigentes e, com eles, os responsáveis de segunda linha, eram totalmente ou quase analfabetos. Mesmo entre os universitários houve muitos que nunca acabaram a sua formação (…) O que se passou depois da independência é que a ignorância se somou à corrupção, à ambição e ao individualismo. O Kumba Ialá queimou uma oportunidade e, no fim, estamos todos no mesmo saco. Hoje, a sociedade guineense não tem referências. Vive em anemia. Os líderes jogam com a pobreza. As pessoas querem verdade. E é de verdade que precisamos na Guiné”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8093: Notas de leitura (228): Poemas, de Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8107: Antigos combatentes do ultramar (1): (i) Processos por Acidente ou Doença em Serviço; (ii) 500 medalhas comemorativos por levantar... (António Costa)

1. Mensagem de António José Pereira da Costa, com a qual abrimos um nova série com informações que interessam aos antigos combatentes do Ultramar, em geral, como por exemplo assuntos relacionados com saúde e protecção social, apoio psicossocial, legislação, associações, eventos diversos, etc.


Data: 10 de Abril de 2011 11:15
Assunto: Processos por Acidente ou Doença em Serviço Relativos a Antigos Combatentes do Utramar


Camaradas


Creio que o blog poderá servir para divulgar o recente despacho do Gen CEME sobre esta matéria.


Deixa de haver a obrigatoriedade de o requerimento ser entregue no Arquivo Geral do Exército, podendo sê-lo em qualquer U/E/O do Exército.


Foi normalizado o requerimento a apresentar. Há apenas dois tipos, consoante o ex-combatente pretenda a "Organização de um Processo por Acidente ou Doença" ou "Revisão do Processo por Acidente ou Doença".


O número de passos para a elaboração do processo foi consideravelmente reduzido e há obrigação de cada entidade interveniente informar o interessado do envio do processo à entidade seguinte, de modo a que se saiba sempre onde é que o processo está a ser trabalhado.  


Nos casos em que tal foi possível, fixaram-se prazos para que as diligências sejam feitas.
Assim, o processo correrá mais célere, no Exército, competindo depois às entidades civis as últimas e decisivas diligências.


Nova Linha:


Descobri que no Arquivo Geral do Exército há mais de 500 medalhas comemorativas par serem levantadas pelos respectivos requerentes. Efectivamente, aquelas medalhas só terão valor para o próprio para demonstrar que "esteve lá".

Mas se foram requeridas não seria boa ideia serem levantadas? As medalhas em causa têm, como seria de supor, uma passadeira com os anos que o ex-combatente esteve em TO. Daqui resulta que, normalmente, não podem ser entregues a outro,a não ser que tenha estado no mesmo TO e na mesma altura, o que é, por vezes, difícil de suceder.


Esta questão tem que ver com a "nova" problemática da dignificação dos ex-combatentes.
Por mim, penso que a procedermos assim não estaremos "isentos de culpas no processo"... 
Como se dizia antigamente: "À consideração superior"


Um Alfa Bravo do

Guiné 63/74 - P8106: Facebook...ando (10): Efemérides: 9 de Abril de 1970, o meu regresso a casa (Raul Brás, CCAÇ 2381, Os Maiorais de Empada, 1968/70



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 2381 (Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) >  O Raul Rolo Brás empunhando algures o cartaz, em pano de lençol (?) ou serapilheira (?), com o seu nome e o topónimo da sua terra natal, Salavessa, que levaria consigo no N/M Niassa, no regresso a casa, e que voltaria a desfraldar no dia 9 de Abril de 1970, no cais de Alcântara, para que os seus familiares e amigos o conseguissem mais facilmente localizar no meio de uma multidão de centenas e centenas de cabeças de homens fardados... Um engenhoso sistema de sinalização...

Foto: © Raul Brás (2011). Todo os direitos reservados.




1. Adpatação de duas mensagens e uma foto inseridos na nossa página do Facebook  [, Tabanca Gran de, ] pelo nosso camarada Raul Brás, ex-sold condutor auto, a propósito do seu regresso, e dos seus camaradas da CCAÇ 2381 (Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), a casa, no N/M Niassa (Bissau-Lisboa, de 3 a 9 de Abril de 1970)... Há 41 anos...

O Raul é natural de Salavessa, concelho de Nisa, distrito de Portalegre. Nasceu em 18 de Abril de 1946 (vai portanto fazer 65 anos dentro de dias). É casado. Vive no Seixal.

(i) Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais de Empada, Guiné. Fez hoje, dia 3 de Abril de 2011, quarenta e um anos, que foi o dia do seu embarque no cais de Bissau, pelas 10 horas da manhã, no Navio Niassa com destino à Metrópole, com o seu dever comprido.

(ii) Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais de Empada Guiné: Faz hoje, dia 9 de Abril de 2011, quarenta e um anos, que pelas dez horas da manhã, no cais de Alcântara Mar, este símbolo desta foto [, este cartaz com o meu nome,] foi desfraldado, no convés do navio Niassa, para que os meus familiares e amigos se apercebessem do local onde me procurar… Há tanto tempo que ansiava por este momento, e como é bom recordar o passado e darmos a conhecer estes momentos a quem não passou por eles

Um abraço do tamanho da Guiné, a todos os que estão ainda com vida. Dos que ficaram do lado de lá, e dos que partiram de cá, ficam as nossas recordações e lembranças.


Raul Brás

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7693: Facebook...ando (9): Notícias do pessoal da CCAÇ 6, Bedanda, dos camaradas António Teixeira, Mário Bravo, Pires, Luís Nicolau, José Vermelho, Bastos, Pinto de Carvalho, Vasco Santos, Ayala Botto (1971/73), mas também do Hugo Moura Ferreira (1966/68), nosso camarigo da primeira hora