sábado, 5 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7902: Notas de leitura (213): Jardim Botânico, de Luís Naves (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2011:

Queridos amigos,
É bem agradável entrar numa livraria e encontrar um romancista português que se embrenha no terrível conflito político-militar 1998-1999 e escreve um belo romance. Luís Naves nasceu em 1961, é repórter e escreve sem a nostalgia do combatente. Devemos ter orgulho nesta escrita e neste multiculturalismo.
Uma saudação muito especial a este Luís Naves, um novo tipo de camaradagem da e com a Guiné.

Um abraço do
Mário


Jardim Botânico (1):
Um belo romance português sobre o conflito guineense de 1998-1999


Beja Santos

Por vezes, o repórter afeiçoa-se aos lugares onde, por dever e inerência da velocidade dos despachos, passa meteoricamente; acontecimentos há que forçam a um olhar mais demorado, a expectativa acicata a curiosidade, reproduz as perguntas, estimula a imaginação. E, mais tarde, numa vazante imprevista, o jornalista começa a preencher com paciência a tela vazia. Temos romance, o que visto e ouvido é o barro trabalhado da fantasia que arrebatou o captador de notícias.

Luís Naves é jornalista e fez reportagens na Guiné-Bissau, Paquistão e Coreia do Norte. “Jardim Botânico” é um romance que tem como palco a Guiné-Bissau durante o conflito que estalou em Junho de 1998. Ainda hoje a Guiné-Bissau não se recompôs deste cataclismo. Mas naqueles dias, as populações puseram-se em fuga, acirraram-se ódios, em espiral sucederam-se os dramas. Para quem tudo aquilo observava, aquelas catástrofes humanas podiam despertar o tal barro da fantasia. Luís Naves tomou nota dessa gente à deriva, registou todo esse tempo de incerteza, a começar por uma capital cercada onde um ditador fantasmático foi forçado a admitir que o seu poder absoluto fora absolutamente contestado. “Jardim Botânico” é um belo romance, merece ser apreciado, ficciona superiormente um tempo de dilúvio que ainda hoje mantém um povo traumatizado (“Jardim Botânico”, por Luís Naves, Quetzal Editores, 2011).

Há qualquer coisa de realismo mágico no arranque da obra: “Uma misteriosa forma de medo ocupa a mente daqueles que viveram situações assustadoras. O medo, por ser contagioso, pega-se de um homem a outro ainda mais depressa do que as banais constipações. Pode ser por contágio instantâneo ou propagar-se como doença silenciosa, com a lentidão que usam os micróbios. O medo é sempre extravagante, como os chapéus de senhora, os vestidos de noite e a vegetação subtropical. Quer dizer, tem aparência firme, mas na realidade consiste num impulso que se decide num instante”. O que para o caso interessa é que no dia 9 de Junho de 1998 quando um cortejo de carros oficiais se dirigia para o aeroporto começou um tiroteio. Houve mortos e começaram as retaliações. O medo tomou conta daquela gente, da apatia ou da disfarçada indiferença, passou-se para o pânico e daí as colunas de civis em fuga, como se lê no romance: “Tudo o que tinha rodas avançou rumo ao interior (jipes, camiões, toca-tocas, bicicletas e carrinhos de bebé). Mas o grosso da coluna marchava. Havia mulheres de trouxa à cabeça e crianças agarradas à saias; um formigueiro em marcha, com fanatismo de insecto: os do meio sem saberem porque seguem aquele caminho, os da frente nunca se sentindo os da frente; pois que cada um vai atrás do outro, esse outro de ainda outro, e assim sucessivamente, numa correnteza. Viam-se pernas finas e pés descalços, braços empunhando objectos inúteis, um rádio, a ruína de um motor, ripas de madeira, colchões, pedaços soltos, a cadeira viajando no topo do monte de roupa, como se fosse um trono. E foram vistos velhos de mãos vazias caminhando em sentido oposto; veteranos da guerra colonial, que se dirigiam para os quartéis em torno do aeroporto. Foi assim que os rebeldes engrossaram as forças. Crescia a maré da fuga, vinha o refluxo do passado. É no meio do pesadelo que se ouvem os silvos, os estrondos, a multiplicidade dos disparos. Edifícios a desfazerem-se, desmembrados pelas nuvens das explosões, refugiados a chorar, num espectáculo dantesco muitas pessoas conseguiram embarcar no Ponta de Sagres, que partiu rumo a Dakar. Começara o conflito político-militar. O barco atraca, é altura do romancista apresentar personagens: Daniel está no cais, é ali que repara numa ruiva com aspecto de solidão abandonada, ela é a médica russa, o seu nome Ana. Ela está indocumentada, tem um passaporte soviético caducado. Estão os dois à deriva, ambos decidem voltar à Guiné, conseguem formar um grupo, marcham em direcção ao desconhecido. Mais personagens estão apresentados. Por exemplo, o doutor Fonseca: “Era um mulato gordo, com os dentes desalinhados e um sorriso simpático. Trabalhara como secretário do Estado e era ligado ao presidente. Dois anos antes, tinha sido afastado do poder mas mantivera-se no partido e ainda morava numa das boas casas do centro da cidade. Agora, tentava montar um negócio de importações, mas fora surpreendido pelo golpe militar quando estava quase a convencer um sócio senegalês a investir numa empresa mista”. Há outras figuras como Nelo, a mais famosa voz da rádio em Bissau, uma sua prima que leva um ramo de flores, de nome Maria Adilia, vai participar no enterro da filha. Viajam num sept-places, foi difícil negociar o preço para levar aquela gente até à Guiné. Seguem-se as peripécias da viagem numa terra esvaziada, aqueles corpos humanos, suados, vão colados uns aos outros. Cabe aqui uma descrição da crueza de todo aquele território, daqueles estados de alma, daquela natureza dominada por um calor anestesiante: “Entraram de novo em campos infindos, sem movimento; na terra esvaziada, havia por vezes manchas de capim seco; um rasgão de nuvem branca como se fosse um risco numa folha azul, o ar rodopiava e surgia uma miragem, ao fundo, zona tremente que se mistura com o horizonte, dando a impressão de uma lagoa distante. Durante quilómetros, a estrada serpenteava por bizarras colinas amarelas, terra de areia, mais plana e sem árvores. Depois, muito devagar, chegaram a uma paisagem denominada por grandes pedras partidas, rocha visível, como se o esqueleto do mundo tivesse emergido das profundezas da carne. Pararam. O silêncio. Não havia ninguém nas bordas da estrada. À volta, arbustos ligeiros, rastos. E sobre o resto pairava o reflexo das ondas de pó, entre branco e transparente, que a luz pesada do sol incendiado transformava em véu asfixiante”.

Mais peripécias, desta feita negociações com guardas senegaleses que afirmam que o motorista não pagou o seguro. Já saíram de Koldá, estão perto da fronteira. É nisto que aparece Ferreira Gomes, o sócio de Daniel. A viagem prossegue, chegam a Bafatá.

Como diz o autor, “Esta é a história de 4 pessoas no meio da catástrofe humana”. Era preciso que alguém escrevesse sobre aquela guerra e todos aqueles dramas que, bem vistas as coisas, foram uma curta notícia durante alguns dias em certas agências noticiosas. É uma história onde o medo pesa. E, talvez a coisa mais importante, há que saudar o jornalista e o repórter português que enfrenta com grande galhardia este desmedido jardim botânico que é a Guiné.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7899: Notas de leitura (212): Angola 61 - Guerra Colonial - Causas e Consequências, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7901: Convívios (296): Pessoal da CCAÇ 3518, dia 4 de Maio de 2011, no Funchal (Daniel de Matos)

1. Mensagem de Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1971/74), com data de 2 de Março de 2011:

Prezado Camarada
Agradecendo a respectiva divulgação no blog, quando possível, junto envio os dados relativos ao convívio que iremos realizar em Maio próximo, no Funchal.

Um abraço
Daniel de Matos
(Os Marados de Gadamael)


CONVÍVIO DA COMPANHIA
DE CAÇADORES INDEPENDENTE 3518

“OS MARADOS DE GADAMAEL”
GUINÉ 1971-1974
37º ANIVERSÁRIO DO REGRESSO



No FUNCHAL (Madeira), DIA 14 DE MAIO



HOTEL JARDINS DA AJUDA
(RUA NOVA DO VALE DA AJUDA)

INSCRIÇÕES de preferência até 15 de Abril:

Contactar:

J. Gouveia, 4º pelotão, tel 966 856 171 ou 291 522 924

Jarimba, 3º pelotão, tel 963 757 509

Manuel Teixeira, 1º Pelotão, tel 962 811 224, ou 291 623 567 entre as 19h30 e as 21 horas
e-mail: teixeirabelmira@homail.com

Reserva de quarto no próprio Hotel, até 15 de Março (opcional, diária 50 euros). 

Contacto: Sr. José Fernandes
tel. 962 307 053 ou 291 708 000; fax 291 708 001

Concentração às 16 horas junto à Câmara Municipal do Funchal (Praça do Município) ou às 18h30 horas junto ao Hotel Jardins da Ajuda
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7878: Convívios (211): XXII CONVÍVIO DO BCAÇ 2884, em 28 de Maio na Régua (José Firmino)

Guiné 63/74 - P7900: Agenda cultural (113): Apresentação de Lugares de Passagem, de José Brás, sábado, 12 de Março de 2011, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras em Montemor-o-Novo

Leva-se ao conhecimento da tertúlia mais uma apresentação do livro Lugares de Passagem, do nosso camarada José Brás, desta vez na sua terra natal (ou melhor, adoptativa), Montemor O Novo, no próximo dia 12 de Março de 2011, sábado, pelas 16h30, na Livraria Fonte das Letras, Rua das Flores,  em Montemor-o-Novo.


CONVITE


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Notas de CV:

Vd. postes de:

7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa

11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7588: Lugares de Passagem, de José Brás (1): Carta aberta a um amigo (José Brás)

12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7596: Lugares de passagem, de José Brás (2): Amigos e camarigos presentes na sessão de lançamento, em Loures, 6 de Janeiro de 2011
e
14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7891: Agenda cultural (112): Convite para o lançamento de Mulher Grande de Mário Beja Santos, no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18h30 na Livraria Bertrand Chiado

sexta-feira, 4 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7899: Notas de leitura (212): Angola 61 - Guerra Colonial - Causas e Consequências, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2011:

Queridos amigos,


Interessante e decepcionante, é o comentário curto após a leitura de um documento que devia requerer mais exigência aos investigadores. Enfim, uma corrida apressada para aparecer nos escaparates em cima do acontecimento do cinquentenário.
Dalila Mateus, veremos noutras recensões, é uma estudiosa dos arquivos da PIDE, talvez sem rival. Mas não se pode tratar tão ligeiramente o universo das consequências e desenvolvimento da guerra que mudou o curso da história de Portugal.
Trata-se de uma investigação de grande fôlego, é uma atribulada maratona que requer paciência e cabeça fria.


Um abraço do
Mário


Angola 1961: causas e desenvolvimento da guerra colonial

Beja Santos

“Angola 61, Guerra Colonial: causas e consequências, o 4 de Fevereiro e 15 de Março” é título da obra assinada por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus (Texto Editores, 2011). Trata-se de uma investigação que tem o reconhecido mérito de proceder ao levantamento dos acontecimentos da guerra em Angola predominantemente à luz de uma fonte até agora muito pouco consultada na generalidade deste tipo de estudos: os arquivos da PIDE.

Os autores procuram a compreensão do início da guerra mediante o enquadramento dos seus antecedentes mais próximos, a África de 1960, o processo da independência do antigo Congo Belga, dando-nos uma água-forte do colonialismo praticado em Angola. Em seguida, reconstroem a revolta da Baixa de Cassange, descrevendo as condições de opressão, exploração e miséria dos cultivadores de algodão. Segue-se a resposta em termos de terror preto e branco. A apreciação do levantamento do 4 de Fevereiro e a sublevação do 15 de Março têm uma interpretação singular graças à consulta dos arquivos de Salazar e da PIDE, assentará aqui um dos aspectos mais significativos desta investigação. Com efeito, há um uso e recurso de fontes de grande importância e nalguns casos temos verdadeiras novidades interpretativas. O major Rebocho Vaz, comandante da 4ª Companhia de Caçadores Especiais faz um relato contundente da actividade da COTONANG, temos aqui um libelo dos trabalhos da cultura do algodão, sujeitos a uma exploração desenfreada. São postas em equação as diferentes versões do 4 de Fevereiro de 1961, a primeira grande acção pró-independentista, o início da guerra colonial. Quanto ao 15 de Março, a PIDE e as autoridades administrativas não foram apanhadas de surpresa, os autores documentam minuciosamente as responsabilidades da UPA e a resposta ao terror negro.

Na segunda parte do livro (Consequências e Desenvolvimentos da Guerra Colonial), os autores enveredaram por trilhos de investigação e tratamento da documentação fazendo leituras perigosamente abreviadas, se não mesmo levianas ou pretensiosas. Não há nada de novo sobre a resposta do regime de Salazar e a descrição do chamado “golpe Botelho Moniz”. O chamado “caso Deslandes” é uma originalidade, é bem provável que venha a dividir os historiadores. O general Venâncio Deslandes, novo Governador-geral de Angola, aparece como um visionário, um heterodoxo do regime, e Adriano Moreira como um conformista, um ultra e um perfeito sicário de Salazar. Seguem-se descrições apressadas sobre a posição dos EUA e a aproximação do regime de Salazar aos regimes racistas da África austral. Quanto à evolução e efeitos da guerra colonial, somos atirados imprevistamente para o agravamento dos teatros de operações da Guiné e de Moçambique.

De novo, somos convocados para as informações que a PIDE vai fornecendo às direcções políticas e militares, com destaque para os acontecimentos que envolveram Guidage e Gadamael. Ao tempo, Fragoso Alas, responsável pela delegação da PIDE na Guiné envia uma carta à Direcção-Geral: “Praticamente perdemos a vantagem da Força Aérea e não dispomos de meios aéreos que possam constituir força de dissuasão ou que nos permita castigar duramente as bases de apoio. Temos de encarar como possível que o PAIGC venha, em curto prazo de tempo, a estabelecer novas áreas libertadas e a dificultar ou impedir o trafego aéreo e até mesmo aniquilar algumas guarnições, que agora passam a não poder contar com o apoio aéreo para as defender, evacuar os feridos ou reabastecer”. Nesta mesma altura, o inspector Galante, chefe do posto de Leiria da PIDE, envia para a Direcção-Geral uma informação sobre a situação militar na Guiné. Diz ter obtido, “de fonte fidedigna”, a notícia que o general Spínola se preparava para deixar a Guiné, território que se encontrava numa situação crítica. O general informara um amigo de que “a situação era de tal gravidade que esperava se desse um colapso” tendo advertindo o governo para tal hipótese. E prevendo a impossibilidade de resistir ao poderio militar do PAIGC, teria mesmo “tentar entabular negociações com o grupo de Amílcar Cabral”. Depois de, em Setembro de 1973, os guerrilheiros do PAIGC terem atacado uma coluna entre Teixeira Pinto e Bissau, a PIDE envia para Lisboa um comentário cáustico, dizendo que a inércia dos militares portugueses é praticamente total.

A enumeração dos efeitos da guerra colonial aparecem num relato quase telegramático, com todas as desvantagens que este tipo de olhar apressado acarreta. Aliás, o texto da conclusão repete, em grande parte, dados já expostos no elenco das causas e consequências.

Se é de indiscutível importância direccionar todo este tipo de investigações mergulhando nos arquivos de Salazar e da PIDE, não deixa de causar surpresa como uma investigadora com os créditos de Dalila Mateus correr como gato pelas brasas sobre as causas e consequências da guerra colonial. Não se pode perante o “acontecimento histórico mais importante da segunda metade do século XX português” fazer uma leitura exaustiva dos acontecimentos que ocorreram exactamente há 50 anos atrás, através de um olhar cuidado e, quiçá, original e de seguida amontoar elementos consabidos com uma relativa leviandade e irrelevância, não se pode aceitar que a massa dos dados implicados se sujeite a uma versão redutora de 14 anos de guerra que parecem levar inexplicavelmente à génese e triunfo do Movimento das Forças Armadas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7883: Notas de leitura (211): Antologia Poética da Guiné-Bissau (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7898: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (3): O malogrado Fur Mil At Inf Luiciano Severo de Almeida (CCAÇ 12, 1969/71)


 .
Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca >  1970  >  Em destaque o malogrado Fur Mil At inf Luciano Severo de Almeida,  da CCAÇ 12, que morreria, em circunstâncias violentas, depois de regressar à metrópole. Até agora tínhamos apenas um ou duas fotos dele. Alguém privou com ele, depois da sua/nossa pasasagem à vida civil ? Não sei em que data morreu nem por quê... Vivia na margem sul do Tejo. Na última foto, a preto e branco, reconheço o Alf Mil Abílio Machado, da CCS/BART 2917 (1970/72), o nosso querido Bilocas. É o primeiro à esquerda, frente ao Luciano.  Lembro-me do Luciano como um "puto reguila e temperamental"...

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7895: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (2): O fatídico dia 13 de Janeiro de 1971

Guiné 63/74 - P7897: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 1 de Março de 2011:

Caros amigos e Camaradas
Junto segue um texto acerca do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, do Concelho de Loures, à época, que publicarão caso achem oportuno e de interesse.

Vai com conhecimento às Câmaras Municipais de Loures e Odivelas, cujo território era na altura, Loures.
Em BCC segue para os camaradas que estiveram na Guiné e dos quais disponho de contacto electrónico.

Abraço fraterno e camarigo para todos
José Martins

Esfera Armilar - Símbolo da Universalidade

© Foto José Martins


Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures

No dia 8 de Dezembro de 1929, Domingo e Feriado Nacional – Festa de Nossa Senhora da Conceição e Padroeira de Portugal desde 1640 - a população do concelho de Loures, manhã cedo, começa a dirigir-se à Praça da Liberdade onde, em tempos existiu o Palácio do Marquês da Fronteira, conhecido por Casaréus, destruído por um incêndio e onde, em 1916, foi erigido o actual edifício da Câmara Municipal.

Inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

O então concelho de Loures, criado em 26 de Julho de 1886, era composto pelas freguesias de Apelação, Bobadela, Bucelas, Camarate, Fanhões, Frielas, Loures, Lousa, Sacavém, Santa Iria de Azóia, Santo Antão do Tojal, São Julião do Tojal e Unhos (ainda não tinham sido criados as freguesias de Portela, Prior Velho, Santo António dos Cavaleiros e São João da Talha), assim como as freguesias de Caneças, Odivelas e Póvoa de Santo Adrião, que hoje constituem o concelho de Odivelas (as freguesias de Famões, Olival Basto, Pontinha e Ramada foram criadas posteriormente).

Na Presidência da Republica Portuguesa estava o General António Óscar Fragoso Carmona, nomeado em 26 de Novembro de 1926, sendo o décimo primeiro Presidente da República Portuguesa e o primeiro do Estado Novo, sendo-lhe atribuída a patente de Marechal em 1947.

Recente era o Ministério (designação à época de Governo), o 52º, presidido pelo General Artur Ivens Ferraz, que foi nomeado e tomou posse em 08 de Julho de 1929 e foi exonerado em 21 de Janeiro de 1930, pouco mais de um mês depois deste acontecimento em Loures.

Voltando à Praça da Liberdade, mais concretamente ao jardim nela existente, que se encontrava engalanada e cheio de povo. Ao centro, da autoria do Senhor Fernando Soares, foi erigido um “monumento aos mortos da Grande Guerra, pertencentes ao Concelho. O monumento é simples, mas expressivo. Sobre alvenaria, simulando uma trincheira, está colocada uma peça de artilharia ligeira, apontada para o céu; junto dela, no rebordo da trincheira, espreitando o inimigo e pronto no último desforço, o sobrevivente do baluarte heróico; à retaguarda, inanimado, um camarada seu que dera já a vida na peleja” (excerto da noticia inserta n’O POVO, Diário Republicano da Tarde, do dia 9-XII-1929, página 4).

Pormenor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra - Loures
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011


Na frente do monumento, o nome daqueles que tombaram na Flandres, na Bélgica e em África:

• Manuel Pereira Félix, Soldado nº 128 do Batalhão de Telegrafistas de Campanha, natural de Bucelas, tombado em França.
• Joaquim Carlos, Soldado nº 720 da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Bucelas, tombado em França.
• Vicente do Nascimento, Soldado da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Bucelas, tombado em África.
• António Bruno dos Santos, Soldado nº 321 da 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia de Guarnição, natural de Fanhões, tombado em África.
• Joaquim Simões Castelo, Soldado nº 1204 do 1º Grupo de Companhias de Administração Militar, natural de Fanhões, tombado em França.
• José Lopes Gameiro, Soldado da 1ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 5, natural de Loures, tombado em França.
• Pedro Manuel Pereira, 1º Cabo 329 da 2ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 2, natural de Póvoa de Santo Adrião, tombado na Bélgica.

Nomes dos Combatentes caídos na Grande Guerra do Concelho de Loures
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011

• Dionísio Pedro Mendonça, Soldado nº 316 da 4ª Companhia de Artilharia 1, natural de Póvoa de Santa Iria, tombado em África.
• José Rodrigues Beira Alta, 1ª Cabo nº 1931 do 1º Grupo de Companhias de Administração Militar, natural de Santo Antão do Tojal, tombado em França.
• Narciso Dias de Carvalho, Soldado nº 370 do 1º Companhias de Sapadores, natural de Santo Antão do Tojal, tombado em França.
• Jorge Alves, Soldado nº 758 da 3ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria 1, natural de Unhos, tombado em França.
• António Francisco Rosa, Soldado de Cavalaria 4, natural de Loures, tombado em África.

O monumento foi levantado graças a subscrição pública, como era habitual, com o apoio da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, do Governo Civil e da Comissão dos Padrões de Guerra.

A Comissão dos Padrões da Grande Guerra nasceu, em 3 de Dezembro de 1921, numa reunião levada a efeito na Sala Nobre da Escola do Exército estando presentes alguns combatentes sob a presidência do General Manuel de Oliveira Gomes da Costa, comissão que, durante quinze anos, procederia ao levantamento dos Padrões da Grande Guerra, não só no espaço metropolitano, mas também nas ilhas e colónias, além de vários monumentos no sector português, na Flandres. Promoveu as cerimónias de 9 de Abril e 11 de Novembro; organizou o museu de oferendas ao Soldado Desconhecido, no Mosteiro da Batalha; tomou parte na trasladação dos restos mortais do Soldado António Gonçalves Curado, do Regimento de Infantaria nº 28 (Figueira da Foz), tendo sido o primeiro militar português a cair no primeiro conflito mundial em 4 de Abril de 1917. Os seu restos mortais chegaram a Vila Nova da Barquinha, de onde é natural, ficando sepultado no monumento/sepultura que foi erigido na povoação, quando chegou em 31 de Julho de 1929. A Comissão foi extinta em 10 de Novembro de 1936.

O Monumento frente aos Paços do Concelho.
© Foto José Martins – Fevereiro de 2011

A comissão Administrativa da Câmara Municipal, tendo à frente o 33º presidente, o Senhor Francisco Marques Beato (com mandato de 2 de Julho de 1926 a 6 de Outubro de 1931), procedeu à recepção dos convidados, no edifício da edilidade, acompanhando os mesmos para a tribuna de honra, erigida junto ao monumento cuja estrutura lembrava um castelo medieval, constituída pelos senhores Capitão Olímpio de Melo, em representação do Ministro da Guerra Coronel Amílcar Barcinio Pinto; Tenente Côrte-Real, representando o Ministro da Marinha Capitão-de-mar-e-guerra Luís António de Magalhães Correia; o Governador Militar de Lisboa, General Domingos de Oliveira; o Governador Civil de Lisboa, Tenente-coronel João Luís de Moura; o Comandante do Grupo de Artilharia Pesada nº 1, Coronel Monteiro de Barros, além de outras personalidades civis e militares.

Junto ao monumento a inaugurar, destacava-se o Estandarte da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, provavelmente dos primeiros actos oficiais a que esteve presente, já que foi aprovado e autorizada a sua utilização em 16 de Março de 1929, pela Portaria nº 5255.

No coreto já tinha tomado lugar a Banda Militar do Regimento de Sapadores de Caminho de Ferro. As corporações de Bombeiros Voluntários de Loures, Fanhões, Odivelas e Bucelas marcavam lugar na inauguração, alguns, muito provavelmente, na qualidade de bombeiros e combatentes, assim como as colectividades União Pinheirense, Academia Recreativa de Sacavém e Sociedade Zambujense. A Escola Agrícola da Paiã, assim como outras escolas do concelho, fizeram-se representar com alunos a professores.
Como era natural e previsível, os combatentes de Lisboa, Loures e Arruda, fizeram-se representar, largamente, pelos seus elementos, que tomaram lugar frente ao monumento.

Descerrado o monumento, que se encontrava coberto por um grande pano, com as cores nacionais, as bandas presentes executaram o Hino Nacional, seguido pelo terno de clarins que tocaram a marcha da continência. Os combatentes presentes levaram a mão ao peito, em continência/preito de homenagem, perante o esforço de todos os que tomaram parte no conflito e em sinal de respeito à memória dos que tombaram em campanha.

O Combatente Capitão Bastos Reis, no uso da palavra.
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

Como era hábito, hoje em parte caído em desuso, todos os homens descobriram a cabeça. No ar evolucionava um aeroplano do Grupo de Esquadrilhas de Aviação, que lançou flores e ramos de oliveira sobre o monumento e a população.

O Capitão Bastos Reis, em representação dos combatentes de Arruda dos Vinhos, disse: “a cerimónia que hoje se realiza neste concelho representa o pagamento de mais uma prestação da grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra, para com os seus concidadãos que, para honra de Portugal, perderam a vida nos campos de batalha de África e França. É este concelho que, dentro do distrito de Lisboa, tem a honra de pagar a segunda prestação dessa grande divida”.

Combatentes prestam homenagem aos camaradas caídos durante o conflito.
© Foto “Loures a preto e branco”, com a devida vénia

[Curiosamente estas palavras continuam actuais, apesar de terem sido proferidas há oitenta e dois anos e passadas que foram duas guerras, e muito principalmente em relação às últimas campanhas, em que Portugal esteve envolvido em África.]

Continuando a sua intervenção, recordou os momentos duros passados em campanha, as agruras das batalhas, o matraquear das metralhadoras, os rebentamentos dos obuses, o efeito dos gases asfixiantes, que ainda, nessa altura, minavam por dentro os militares atingidos, causando-lhes a morte prematura.

Afirmou, ainda, o orador: “a delegação que ali representava viera a Loures cumprir, apenas um dever” e incentivava os combatentes a juncar de flores, todos os anos, este monumento, em preito de homenagem e gratidão pelo sacrifício daqueles que tombaram pela Pátria Portuguesa.

Dirigindo-se às mães, dos combatente tombados, exaltou o seu sacrifico ao doarem um filho à Pátria, dizendo-lhes que eles seriam honrados pelas gerações futuras e que, para sempre, seriam lembrados como heróis.

Às crianças, instou-as a estudar a história deste país, para que conhecessem os heróis que, quando foram chamados, responderam Presente.

Usou também da palavra o Capitão Médico Bastos Reis, exaltando a memória dos que caíram na guerra, interpretando o seu sacrifício como das maiores manifestações de Amor Pátrio e à Liberdade.

Terminada a cerimónia, os convidados retiraram-se para os Paços do Concelho, onde foram obsequiados com um “copo de água”.

Desde que fizemos da zona a nossa residência habitual, e já lá vão mais ou menos trinta anos, nunca me apercebi que tivesse havido, junto a este monumento, qualquer cerimónia.

No entanto, há fotos que atestam que esses acontecimentos tiveram lugar. Os nossos camaradas de armas “avoengos”, não esqueçam que muitos dos nossos avós participaram neste conflito, aqui vinham prestar a sua homenagem aos que tinham tombado na guerra e aqueles que, lenta mas progressivamente, a morte levava para outros destinos, deixando sempre a saudade nos que ficavam.

E o pedido do Bastos Reis, o Capitão residente em Arruda dos Vinhos e que proferiu o primeiro discurso no acto de inauguração, já foi esquecido?

Sabemos que houve outras guerras – a II Guerra Mundial - na qual oficialmente não estivemos envolvidos, mas foram, na altura, destacadas tropas para as colónias, mormente Angola, Moçambique e Timor, e para as ilhas dos Açores e Cabo Verde, que se previa que fossem alvo de “cobiça” tanto pelas tropas aliadas como do eixo, para serem usadas como plataforma operacional.

Recordo, aqui e agora, num texto que escrevemos há já alguns anos, o último combatente português da I Grande Guerra a deixar-nos, com a idade de 107 anos:

No rescaldo da Batalha de La Lys - 9 de Abril de 1918 – é feito prisioneiro, pelas tropas alemãs, o Soldado José Maria Hermano Baptista (n. 1 de Maio de 1895 † 14 de Dezembro de 2002). Durante o combate foi ferido pelo que, impossibilitado de retirar cumprindo as ordens recebidas, se manteve nas trincheiras combatendo, até que foi aprisionado. Foi transportado para o Hospital de Friedrichsfed com uma perfuração na perna esquerda e lesões no braço esquerdo. Depois de recuperado foi transferido para o campo de prisioneiros da mesma cidade, onde lhe foi atribuído o nº 97.346. De regresso a Portugal, após a sua libertação, em 4 de Agosto de 1919 passou à disponibilidade e foi promovido ao posto de 2º Sargento por feitos em combate.

Este um dos muitos exemplos daquelas que nos precederam na defesa da Pátria e nas nossas próprias famílias.

Mais tarde, entra os anos de 1961 a 1974, muitos jovens ofereceram a sua juventude, como regularmente aconteceu na história deste país, para entregarem o corpo às balas, na defesa dos valores que lhes indicavam como valores inalienáveis.

Nós, os combatentes de ontem e de hoje, também respondemos a esse apelo e vimos, e quantos de nós não foram os receptadores das suas últimas palavras, de muitos camaradas a deixarem a vida pelas terras de África.

Deste concelho, que tinha a mesma dimensão e composição quando o Monumento acima referido foi inaugurados, muitos militares partiram. Uns não voltaram; outros foram procurar novas oportunidades noutros lugares, outros ainda, aqui encontraram a oportunidade que esperavam, ou não, mas por cá ficaram.


Combatentes dos Concelhos
De Loures e Odivelas

É, pois, a esses, os que nesta terra ficaram e os que para cá vieram, que nos dirijimos. É tempo de se “dar vida” ao velho monumento, velho de quase 82 anos, de “dar cumprimento” às palavras do capitão Bastos Reis que falou na “grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra” e “incentivava os combatentes a juncar de flores, todos os anos, este monumento” e, com o pensamento nos nossos camaradas

• Florêncio Rosa Capela, Soldado Condutor, natural da freguesia de Santa Iria Azóia, morreu devido a acidente de viação em 10 de Outubro de 1961, em Angola.
• Fernando dos Santos, Soldado Condutor, natural da freguesia de Sacavém, morreu devido a doença em 06 de Março de 1962, em Angola
• Francisco José da Purificação Chaves, Soldado Condutor, natural da freguesia de Loures, tombado em Combate em 24 de Janeiro de 1964, na Ilha do Como na Guiné.
• Rui de Jesus Neves, Soldado Armas Pesadas, natural da freguesia de Moscavide, tombado em Combate 15 de Abril de 1964, em Angola.
• Vasco José Ferreira Lourenço, Soldado Explorador Observador, natural da freguesia de Bucelas, morreu devido a afogamento no Rio Geba em 07 de Outubro de 1964, na Guiné
• Dionísio Rocha Lourenço, 1º Cabo Mecânico de Armas Ligeiras, natural de Pirescoxe, freguesia de Santa Iria Azóia, tombado em combate durante um ataque ao aquartelamento em 26 de Abril de 1966, na Guiné
• Júlio António de Abranches Nascimento, Furriel Miliciano de Infantaria, natural do lugar de Olival Basto, freguesia de Póvoa de Santo Adrião, tombado em Combate 19 de Janeiro de 1969, em Angola.
• Arménio Anjos Gonçalves, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Sacavém, morreu devido a doença em 20 de Junho de 1969, em Angola;
• Henrique Guilherme Costa Salvador, Soldado Condutor Auto Rodas, natural do lugar de A-dos-Cãos freguesia de Loures, tombado em Combate num ataque ao aquartelamento em 17 de Novembro de 1969, na Guiné;
• Joaquim Caetano Dias, Soldado Atirador, natural da freguesia de Ponte de Lousa-Loures, tombado em Combate 17 de Novembro de 1969, em Angola
• Adelino da Conceição Baptista, Soldado Infantaria, natural da freguesia de Camarate, tombado em Combate em 12 de Setembro de 1971, em Moçambique;
• Eduardo António Carvalho Gregório, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Santa Iria de Azóia, tombado em Combate 17 de Novembro de 1971, em Moçambique:
• Jorge Manuel de Oliveira António, 1º Cabo Cavalaria, natural da freguesia de Sacavém, tombado em Combate 19 de Fevereiro do 1972, em Angola.
• Fernando Modesto Ruas Pereira, Furriel Miliciano Piloto da Força Aérea, natural da freguesia de Moscavide, morreu devido a acidente em 23 de Abril de 1972, em Moçambique;
• António Luis Silva Pedro, 1º Cabo RD, natural da freguesia de Loures, morreu devido a acidente em 19 de Março de 1973, em Moçambique;
• Joaquim Manuel Duarte Henriques, Soldado de Cavalaria, natural da freguesia de Odivelas, morreu devido a doença em 21 de Setembro de 1974, em Angola;

que não regressaram das Campanhas de África de 1961/1974, que sugiro nos unamos numa homenagem sentida e simples, evocando estes nossos camaradas, no Domingo dia 10 de Abril de 2011 (Domingo da Ramos), junto a este monumento, deixando uma flor, a nossa saudade e o nosso respeito.

Se as autoridades civis chamarem a si a organização desta cerimónia, sugerimos que seja uma cerimónia sem discursos, onde todos e cada um deponham as sua flores e, se houver um clarim, que toque a marcha da continência, que no final, as vozes dos combatentes, roucas pela idade e embargadas pela comoção, entoarão o Hino Nacional.

Se mais ninguém estiver presente, eu, pelas 11 horas da manhã do dia 10 de Abril deste ano, no dia seguinte ao Dia do Combatente, deixarei junto ao monumento que perpetua a presença dos Portugueses na Grande Guerra na Europa e em África, uma flor e a minha oração em memória dos que tombaram pela Pátria desde 1139, desde a vitória de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique.

Loures, 23 de Fevereiro de 2011

José Marcelino Martins
Combatente na Guiné de 1969/1970
Morador em Odivelas
Sócio da Liga dos Combatentes nº 80.393
josesmmartins@sapo.pt
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7846: Em busca de... (156): Paula Simões, filha do Sold da CCAV 1482 (1965/67), César J. Simões, procura notícias de seu pai e dos seus camaradas (V. Briote / J. Martins)

Guiné 63/74 - P7896: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (76): Na Kontra Ka Kontra: 40.º episódio




1. Quadragésimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 3 de Março de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


40º EPISÓDIO

Chegado a Bambadinca, respirou fundo e foi logo saber da possibilidade de o levarem para Bafata. Foi-lhe dito que estava ali um civil, com uma carrinha de caixa aberta, que ia para Bafata e com certeza o levaria.

Enquanto esperava foi conversando com camaradas já seus conhecidos. Querendo saber pormenores da morte do seu amigo Dionildo é-lhe dada uma nova versão do que se passou no segundo ataque a Madina Xaquili, quando ele Alferes Magalhães já estava em Bafata. Foi-lhe dito que não havia a certeza do que aconteceu, em relação ao Dionildo naquela fatídica noite. Quando o ataque se deu havia, fora do “arame”, um grupo que incluía o Dionildo.

Continuando, foram dizendo que o corpo do Dionildo não chegou a ser encontrado. Que podia ter-se dado o caso de os guerrilheiros terem levado o corpo, ou até o Dionildo ter sido feito prisioneiro. O que é certo é que, possivelmente para evitar burocracias que na tropa são terríveis, o caso foi encerrado e o Dionildo foi dado como morto … e oficialmente enterrado. A tropa tem destas coisas…

Chegado a Bafata de boleia com o Senhor Dionísio Castro,  depressa retoma a sua vida de trabalho no quartel e passa a sair mais, dada a sua melhoria a nível psíquico. Torna a ir ao cinema e encontra o seu amigo Ibraim. Talvez por já terem passado mais de dois meses, desde o último encontro, desta vez o Ibraim parece ter esquecido tudo o que podia ter contra o Alferes e num “NA KONTRA” efusivo retomam a amizade, aparentemente perdida.

Nos dias seguintes dão longos passeios pelos arredores de Bafata tendo o Ibraim mostrado locais lindíssimos que sem um cicerone assim nunca um metropolitano lhe poria os olhos em cima. Num fim de tarde o Ibraim leva o amigo à tabanca do Nema para observarem uns enormes morcegos pretos, durante o dia pendurados numas árvores, que por essa razão poucas folhas têm. À hora a que chegam podem ver os morcegos a começar a abandonar os galhos onde se penduram aos cachos. Sobrevoam em voo rasante a superfície da água do rio Geba, que chegam a tocar uns cem metros mais à frente.

Tão depressa o Alferes pensa que eles vão beber água ao rio, depois de estarem durante todo o dia ao sol, como logo o Ibraim lhe explica que os morcegos ao tocarem a água não a bebem directamente mas se limitam a molhar os pelos do peito chupando depois essa água durante o voo.

Noutra ocasião, em passeio pela tabanca da Rocha onde Ibraim mora, este conta ao Alferes que tem uma nova namorada mas, tal como antes, não se abre muito sobre esse assunto. O Alferes não pode deixar de pensar que talvez o seu amigo o ache muito namoradeiro e portanto uma “ameaça”, dado que tempos antes o Alferes lhe tinha mostrado interesse em arranjar uma namorada africana. Chega-lhe a dizer que tem noiva na Metrópole e que até pensa casar em Março próximo. O amigo continua a remeter-se ao silêncio no que diz respeito à sua nova namorada.

Grande parte da tabanca da Rocha

Os dias vão passando e em determinada altura o Ibraim confidencia ao amigo que pretende ir para a Metrópole trabalhar. O pai, Régulo de Canquelifá, estaria disposto a ajudá-lo com dinheiro. O Alferes, medindo bem as palavras, pois não quer criar outra situação de melindre, diz-lhe que na Metrópole a vida não está fácil, principalmente para um africano e que ficaria lá totalmente desinserido do resto da sociedade. Enriquecer só com o fruto do trabalho será uma ilusão.

Pareceu ao Alferes que o amigo não gostou das suas advertências dado que nos dias a seguir deixou de o ver pelo cinema. Passam duas semanas sem o Ibraim ser visto. Avoluma-se no Alferes a ideia de que o amigo estivesse novamente agastado com ele.

Numa ida ao cinema onde ia ver o “Marnie” do Hitchcock, novo “NA KONTRA” com o amigo que explicou o motivo da sua ausência, concluindo o Alferes que o Ibraim não tinha nada contra ele.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7890: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (75): Na Kontra Ka Kontra: 39.º episódio

Guiné 63/74 - P7895: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (2): O fatídico dia 13 de Janeiro de 1971


Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca > 13 de Janeiro de 1971



Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca > 13 de Janeiro de 1971

Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca > 13 de Janeiro de 1971




Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca > 13 de Janeiro de 1971 > CCS/BART 2917 (1970/72) >  Quatro fotos do fatídico dia em que as NT caíram em duas minas A/C à saída do reordenamento de Nhabijões.

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Mensagem do Vitor Raposeiro (*):



Envio-vos algumas fotos do dia 13 de Janeiro 71, um domingo [ ?] que me ficou na memória pelas piores razões pois nesse dia ficaram feridos dois Furriéis (Marques e Fernandes) [, da CCAÇ 12,] e, se não me falha a memória, houve mais mortes e feridos a lamentar no rebentamento de duas minas, a primeira no burrinho que levava a comida para uma guarnição, já não me lembro qual, [Nhabijões],  e a outra numa viatura [ GMC,] que foi fazer segurança à zona do sinistro.

Talvez alguém tenha mais dados sobre o assunto que a mim me escapam. As fotos (**) foram tiradas à sucapa porque o comando [do BART 2917] não queria ninguém por perto.  


Vitor Raposeiro
______________

Notas de L.G.:


(*) 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7893: Tabanca Grande (268): Vitor Raposeiro, ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM (Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula, 1970/72)

(**) Vd. poste de 24 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5332: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (1): Em dia de anos do Tony Levezinho, lembrando o nosso Novembro negro (CCAÇ 12, 1969/71) 

Guiné 63/74 - P7894: Estórias avulsas (50): Encontro com o nosso Camarada Liberal Correia (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, enviou-nos em 1 de Março pp a seguinte mensagem:
Camaradas,
Envio resumo de encontro com o nosso camarada Liberal Correia. Se for de publicar é convosco. O Liberal, está agora em viagem por cá pois reside no Canadá, apesar de ser Açoriano Micaelense dos sete costados.
O Liberal Correia, já teve um contacto com a Tabanca Grande (ver o poste P3819 - Liberal Correia/José Martins).
Prometeu-me agora enviar as fotos de identificação, o que ainda não tinha feito dada a sua vida repartida.
Os meus contactos com o Liberal foram feitos através de notícias no blogue, onde chegámos à conclusão que tínhamos tido contactos nas empresas onde trabalhámos, ele na SATA e eu na TAP. Tendo frequentado o CISMI no mesmo turno embora em companhias diferentes.
E claro falamos do trabalho e das nossas antigas empresas e colegas, mas a conversa girou principalmente sobre a Guiné com a história da sua CART 676 em Pirada, Bajucunda e Paunca, e da minha CCAÇ 763. No entanto os momentos mais hilariantes foram os dos tempos passados em Tavira no último curso de 1963 do CISMI, de que passo a contar alguns episódios:
Nesse curso veio uma grande malta dos Açores, e como já chegaram a Tavira com três dias de atraso, foram todos parar à mesma companhia de instrução, a quarta.
É claro que este grupo ficou famoso no CISMI, a malta que por lá passou deve recordar-se das malandrices desta malta porreira e unida. Não vou aqui descrever as aventuras do "Arsene Lupin" que o Liberal descreveu a bandeiras despregadas, mas não posso deixar de relembrar à malta daquela altura, o célebre caso dos frangos.
Tinha certo dia, o sargento do rancho, Pernas Anão, determinado ser o almoço frango.
Só que, quando o Pernas Anão foi ver dos frangos, grande quantidade tinha desaparecido.
Grande bronca!
Segredo total! Mais tarde soube-se que a malta dos Açores tinha ido aos frangos do sargento do rancho, mas mantiveram-se unidos sem sair nada.
Outras aventuras de Tavira foram focadas, mas por agora espero que seja o Liberal Correia a quem envio um abraço, a contar as outras.


Liberal Correia e Esposa



Liberal Correia e Mário Fitas
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
22 de Fevereiro de 2011 >
Guiné 63/74 - P7843: Estórias avulsas (104): Passeio turístico a um acampamento do PAIGC em Satecuta em 1971 (Jorge Silva, ex-Fur Mil Art, CART 2716 / BENG 447, Xitole e Bissau, 1971/73)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7893: Tabanca Grande (268): Vitor Raposeiro, ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM (Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula, 1970/72)


Setúbal > 2009 > O Vitor Raposeiro, músico, guitarra eléctrica, do conjunto 4 Sixties


Guiné >  Zona Leste >  Sector L1  > Bambadinca > 1971 (?) > O Vitor Raposeiro dedilhando a sua viola... Fez parte, na segunda metade da sua comissão de serviço (individual) no TO da Guiné, do Conjunto Musical das Forças Armadas, para onde foi enviaado depois de passar por Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula.



 Guiné > Zona Leste > Sector L1  > Bambadinca > 1971 > CCS/BART 2917 (1970/72) > O Fur Mil Radiotelegrafista Vitor Raposeiro posando junto ao recém construído memorial da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuoel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971), em frente à escola primária e à casa da professora Dona Violete da Silva Aires

Fotos: © Vitor Raposeiro (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Duas mensagens  do nosso camarada Vitor Raposeiro, de quem já publicámos um primeiro poste com fotos do seu álbum (*)... As mensagens vieram  dirigidas ao editor L.G., com conhecimento ao Humberto Reis... Ambos fomos companheiros do Vitor, entre meados de 1970 e princípios de 1971, ou seja, ao tempo da CCS/BART 2917 (1970/72)... Com a ajuda do Humberto, "legendámos" algumas das fotos do álbum do Vitor que iremos divulgar, no blogue, em próximos postes... O Vitor, por seu turno, passa doravante a integrar a nossa Tabanca Grande. 



 (i) 15/11/2009:

Caro companheiro:



Por mero acaso encontrei o vosso blogue  acerca da história do pessoal da tropa que passou por Bambadinca em 1970/71.Ora acontece que eu estive em Bambadinca como Fur Mil Radiotelegrafista do STM durante esse período e sou possuidor de um vasto arquivo fotográfico desse período e de quem aí viveu (Fur Mil Levezinho e companhia)! (*)

O meu problema é a memória que me falta para me lembrar dos nomes de quem conheci, pois eu num processo de autodefesa varri completamente da memória esse período que eu considero que foi muito triste para muita gente.


Posto isto, lembrei-me que talvez lhe enviando as fotografias que eu encontrar, alguém se reconheça nelas,  o que seria interessante para a história daquele período da nossa vida comum. Aqui fica a minha ideia esperando que seja do vosso agrado.


saudações


Vitor Raposeiro
Ex-Fur Mil




(ii) 17/11/2009

Companheiros:

Primeiro de tudo queria esclarecer que eu nunca fiz parte das unidades que estavam em Bambadinca [CCS/BART 2917, CCAÇ 12, etc.). Eu era Fur Mil mas do STM , radiotelegrafista, que era colocado nas unidades para chefiar o posto de transmissões da mesma.

Foi asim que eu andei a saltar de lugar em lugar durante dois anos. Comecei a comissão em Aldeia Formosa (Quebo) depois passei por aí, por Bambadinca, e acabei em Bula, antes tendo pertencido ao conjunto [musical] das Forças Armadas,  visto que eu sou músico.

Junto uma minha foto minha em Bambadinca e outra de como eu sou hoje.

Se quiserem ver a minha banda,  é só ir ao Youtube > 4sixties. [
Vd. também Youtube > Vitor Raposeiro].

Saudações, Vitor


2. O Vitor tem conta no Facebook mas não parece ter muitos amigos da guerra... Na devida altura nós já lhe tínhamos feito o convite para ingressar na Tabanca Grande... Por qualquer razão, perdemos o "contacto" em finais de 2009... O Helder Sousa, por sua vez, já o tinha reconhecido como "vizinho" de Setúbal e camarada de especialidade...

(i) Comentário do Helder Sousa (*)

O Vitor Raposeiro!... Bem, assim não ia lá, sempre foi para mim o Vitor 'Caniços', nem sei porquê, era assim que os seus conterrâneos de Setúbal o chamavam e foi assim que para mim ficou, ainda eu não sonhava ir viver para Setúbal, onde também vive o Vítor, mas que lhe perdi o rasto.



Já faz algum tempo que em conversa com o Benjamim Durães [ que ele conhece bem] segui as pistas dadas poer ele mas foi infrutífera [a minha busca]. Agora já há mais esperança, é só ele ver este comentário e procurar contactar-me.

Aproveito para me antecipar nos esclarecimentos às dúvidas do Luís. Não,  senhor, o Vítor não pertencia a nenhum BCaç, estava lá sim com Fur Mil Trms STM, ou seja, pertencia aos 'Ilustres TSF' do STM, se bem que 'menos ilustres' porque esses foram os do meu Curso e ele foi do curso anterior. (...) Bem-vindo, Vitor! (...)

(ii) Comentário do L.G.:



Meu caro Vitor:

Como a gente costuma dizer, sem qualquer ponta de exagero nem de vaidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. É para isso que, de resto, cá estamos: para reconhecer e sermos reconhecidos, para procurar e ajudar a (re)encontrar velhos camaradas de armas...  



Ainda bem que nos topaste, por que vai ser o início de um belo reencontro...  Convivemos ainda uns bons meses, em Bambadinca,  lembro-me da tua cara, espero não me enganar...Há muita malta que passou por lá, no teu/nosso tempo, e que vais gostar de recordar, uns mais velhos (como a malta da companhia africana, a CCAÇ 2590/CCAÇ 12, a que pertenci eu, o Henriques, mais o Humberto Reis, o Levezinho, o Arlindo Teixeira Roda (que também em Setúbal), o Joaquim Fernandes, o Marques (que caiu numa das minas de Nhabijões, comigo, no azarado dia 13 de Janeiro de 1971), o Sousa (o Zé da Ilha da Madeira),  o 2º Sargento Piça, o 1º Cabo Cripto Gabriel Gonçalves, o falecido Luciano Almeida, e outros, de que já não te recordas, nem ninguém leva a mal se porventura esqueceste os seus nomes ...

Mesmo que queiras "pôr uma pedra" no passado, não vais decerto esquecer os bons momentos de camaradagem (camarigagem, como dizemos agora) por que passaste/passámos em Bambadinca... Em troca das tuas fotos, que já foram vistas e editadas por mim e pelo Humberto Reis, passas a integrar a nossa Tabanca Grande: o regulamento (as regras de bom viver e conviver) estão afixadas aí na coluna do lado esquerdo do nosso blogue. São regras  simples, permitindo a partilha mútua, entre camaradas da Guiné, das memórias (mesmo que fragmentadas) desse tempo. No teu caso, se tiveres segredos de Estado a revelar, melhor ainda... Passas a ser o "tabanqueiro" nº 481 (**)... Temos muita malta da zona leste, e em especial do Sector L1 (Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole, Fá, Missirá, etc.), mas também do Saltinho, Galomaro, Bafatá e por aí fora...

Quanto às fotos que enviaste,  vamos continuar a publicá-las, tendo criado um álbum só para ti, de que infelizmente, por lapso nosso, só saiu um poste...   Parabéns pela tua banda: que grande som, que grande batida, que grandes violas eléctricas !... Que saudades dos Shadows e dos Beatles!.. Que saudades dos bons velhos tempos!

Até à próxima, um Alfa Bravo. Luís
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P5332: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (1): Em dia de anos do Tony Levezinho, lembrando o nosso Novembro negro (CCAÇ 12, 1969/71) 


(**) Último poste da série Tabanca Grande 
>13 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7776: Tabanca Grande (267): Fradique Augusto Morujão, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71)

Guiné 63/74 - P7892: FAP (63): Ainda a propósito do malogrado Fur Mil Pil Frederico Vidal (1943-1964) (Manuel Amante / Carlos Cordeiro)

1. Informações adicionais dos nossos camaradas Manuel Amante e Carlos Cordeiro sobre o malogrado Frederico Vidal  (1943-1964) [, foto à esquerda] (*):


(i) Manuel Amante [, foto à direita, em baixo]:

Naquela época, em 64, havia ainda em Bissau poucos aviadores da Força Aérea, como então dizíamos. Muitos eram conhecidos. Este Furriel Vidal era um deles, por ser jovem, simpático e deambular muitas vezes pela bandas do Bissau Velho, onde havia muitas moças e o Zé da Amura, O Pireza , para umas ostradas e bifanas e o Café Bento para conversas. Era olhado com admiração por ser aviador. Pouco mais velho do que muitos de nós.


Na altura se disse que teria sido atingido por um único tiro de um "canhangulo" e da proeza do seu colega de voo em levar o avião até Bissalanca. Falava-se que era num Cabo Especialista e não um piloto, como agora vi. Manuel Amante

PS - Volto para dizer que me parece ser mais um Cabo Especialista que acompanhava o Aviador e que talvez não fosse uma Dornier 27 mas uma Auster. Foi um feito na altura porque se comentava que não era piloto. Mas muitos dos "aviadores" sempre permitiam aos Cabos Especialistas fazer uma mãozinha em voo...Caso fosse uma Dornier teria feito menos tempo de Cufar a Bissalanca.

(ii) Carlos Cordeiro [, foto à direita]:

De facto, há a informação, no excelente Ultramar.terraweb, do 2.º Sargento Alberto Pinto da Rocha, condecorado com a Cruz de Guerra (sem indicação de classe), em 1965. No blogue do Clube dos Especialistas da AB4 fala-se de um Sarg Aj Alberto Pinto da Rocha, que estaria, em 1970, em Negage [, Angola]. Informa-se também que morreu em 1992, num acidente no combate a um fogo. Deve, portanto, ser o mesmo deste feito heróico. Talvez o Senhor General se tenha enganado na indicação do posto.
Um abraço,

Carlos Cordeiro

PS - Acho que seria conveniente ficar-se com a informação o mais correcta possível. A única solução será procurar-se nas Ordens da Força Aérea o louvor que deu lugar, no ano de 1965, à Cruz de Guerra atribuída ao (então) 2.º Sargento Alberto Pinto da Rocha.

De facto, as fontes do Ultramar.terraweb para a listagem das condecorações são, para o Exército, as Ordens do Exército e para a Marinha e Força Aérea, o Diário de Notícias, dos meses de Outubro e Novembro de 1997. Não há, para estes dois últimos ramos a indicação da fonte original.

Haverá algum camarada disponível para consultar as ordens da Força Aérea do ano de 1965?
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7884: FAP (62): A morte do Furriel Mil Pil Frederico Vidal e a acção heróica do Alf Mil Pil Pinto da Rocha, numa DO 27, sob os céus de Catió / Cufar, em 24/2/1964 (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P7891: Agenda cultural (112): Convite para o lançamento de Mulher Grande de Mário Beja Santos, no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18h30 na Livraria Bertrand Chiado

1. Mensagem de Ana Ferreira do Círculo de Leitores, com data de 1 de Março de 2011:

Assunto: Convite - Lançamento «Mulher Grande» de Mário Beja Santos

Convite

O Círculo de Leitores e a Temas e Debates têm o prazer de convidar para o lançamento de Mulher Grande (Mindjer Garandi) de Mário Beja Santos no próximo dia 10 de Março, pelas 18h30, na livraria Bertrand Chiado, Rua Garrett, 73, Lisboa.

Lídia Jorge apresenta a obra


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7856: Agenda cultural (111): Apresentação do romance Mulher Grande (Mindjer Garandi) de autoria de Mário Beja Santos, Livraria Bertrand do Chiado, dia 10 de Março de 2011

Guiné 63/74 - P7890: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (75): Na Kontra Ka Kontra: 39.º episódio




1. Trigésimo nono episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 2 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


39º EPISÓDIO

Atravessam Matosinhos. Chegam junto da zona portuária, sempre agradável de se observar pela azáfama de todo aquele pessoal na transferência de mercadorias de e para os navios. Atravessam a ponte móvel para Leça e dirigem-se para a praia, descansam um pouco e continuam até à Capela da Boa Nova, local ermo mas cheio de beleza. Além da capela, só por ali existe o Farol da Boa Nova e um restaurante, magnífica obra do jovem arquitecto Siza Vieira.

A capela da Boa Nova em Leça.

Sentados num muro, têm uma longa conversa sobre o que poderá ser o futuro de ambos.

- Lembras-te do tostão que aquele miúdo nos deu naquele dia no largo da Sé?

- Sim lembro, responde. E beijam-se.

- Então já nos podemos casar.

A conversa continuou e acabaram por chegar aos pormenores do casamento: Casariam na Capelinha da Boa Nova. Almoçariam com os poucos convidados, só a família directa, no restaurante ali ao lado, edifício projectado pelo que foi seu professor, Siza Vieira. Fariam a tradicional viagem no carro dos pais, percorrendo toda a costa de Portugal até ao Algarve. As férias do próximo ano, a que ele ainda tinha direito, seriam uma boa altura para o casamento.

O restaurante projectado pelo Arq. Sisa Vieira junto à
capela da Boa Nova.

Com a sua vida sentimental estabilizada, poucos dias depois o Alferes Magalhães regressa à Guiné.

Desta vez o trajecto é feito de noite. Se a viagem para a metrópole era duplamente agradável além do mais por se efectuar de dia, agora, por razões contrárias é duplamente desinteressante. Na ilha do Sal, onde o avião faz escala, o nosso Alferes ainda pôde ver, ao lusco-fusco, os contornos dos morros vulcânicos que caracterizam a ilha.

Chegado a Bissau resolve não se instalar no Quartel de Santa Luzia, no tal quarto de oito camas onde a qualquer hora da noite pode ser acordado pelos camaradas que chegam e partem para o mato. Tenta o “Grande Hotel”, perto do Hospital, que diga-se, em tempos já tivera ar condicionado. Está cheio. Só consegue um quarto no “Hotel Internacional”, não longe daquele. Uma autêntica espelunca. Fica porém com um quarto só para si onde pode descansar à vontade.

Logo que pode vai aos Adidos marcar a passagem no Dakota para Bafata e aí fica a saber que o avião já está lotado. Dão-lhe Guias de Marcha para seguir pelo Rio Geba até ao Xime numa lancha de desembarque, uma LDG, depois para Bambadinca numa coluna de viaturas e finalmente noutra coluna para Bafata, já à vontade, sem problemas de guerra.


O Alferes Magalhães a bordo da LDG com destino ao Xime.

Em princípio fica um pouco preocupado por não ir de avião, mas pensando melhor: Na LDG não havia grande perigo pois a maior parte do rio tinha quilómetros de largura não podendo haver qualquer ataque. No chamado Geba Estreito, ao chegar ao Xime, aí sim já se estava ao alcance de uma qualquer arma inimiga, mas ali contava com a grossa blindagem da embarcação, o seu poder de fogo que incluía dois canhões “Bosfors” de 40mm e mais que tudo sabia que era sempre feita a segurança na margem direita do rio, na zona de Mato de Cão, por um pelotão de tropas nativas comandadas pelo seu camarada Évora Santos. Sabia que em tempos costumavam implantar minas na picada do Xime até à Ponte do Rio Udunduma, mas já há alguns meses que isso não acontecia pelo que também não ficou preocupado, tanto mais que à frente da coluna seguiria um grupo de picadores.

A LDG, onde vai o Alferes Magalhães, a chegar ao Xime.

Chegado a Bambadinca, respirou fundo e foi logo saber da possibilidade de o levarem para Bafata. Foi-lhe dito que estava ali um civil, com uma carrinha de caixa aberta, que ia para Bafata e com certeza o levaria.

Enquanto esperava foi conversando com camaradas já seus conhecidos. Querendo saber pormenores da morte do seu amigo Dionildo é-lhe dada uma nova versão do que se passou no segundo ataque a Madina Xaquili, quando ele Alferes Magalhães já estava em Bafata. Foi-lhe dito que não havia a certeza do que aconteceu, em relação ao Dionildo naquela fatídica noite. Quando o ataque se deu havia, fora do “arame”, um grupo que incluía o Dionildo.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

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