sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9254: Notas de leitura (314): Recortes da História da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2011:

Queridos amigos,
Estes “recortes” são de indiscutível interesse no que toca à história da Guiné-Bissau pós-independência. Não se conhece outro compêndio, na actualidade, com tão basta informação quanto às décadas mais recentes.

Quando encomendei a obra, a Fundação Fé e Cooperação, a organização não-governamental portuguesa operante nas áreas de educação para o desenvolvimento na Guiné-Bissau, enviou-me documentação referente às suas actividades e sugere a presentes solidários. Por 7 euros receberá um postal solidário que tem a ver com uma maleta de documentos para a Guiné-Bissau. Menciona-se concretamente: ofereça medicamentos às cerca de 19 mil crianças e 1600 mulheres grávidas atendidas nos centros de recuperação nutricional e casas da mães na Guiné-Bissau. Este presente irá contribuir para a significativa melhoria da saúde das mulheres e crianças guineenses.

Para mais informações contactar www.presentessolidarios.pt.
Para comprar os recortes, o ideal é fazê-lo através do email geral@fecongd.org.

Um abraço do
Mário


Recortes da história da Guiné-Bissau

Beja Santos

“Recortes da história da Guiné-Bissau 1900 - 2005” é um apanhado de dados históricos que podem ajudar a compreender cerca de um século da Guiné-Bissau. A obra foi coordenada por Catarina Lopes, numa edição da FEC – Fundação Fé e Cooperação, uma organização não-governamental vocacionada para actuar nas áreas da educação para o desenvolvimento e advocacia social (www.fecongd.org). A FEC trabalha estreitamente com a CIEE – Comissão Interdiocesana de Educação e Ensino, que é um organismo da Igreja Católica responsável pela coordenação da educação nas escolas geridas directa ou indirectamente pelas Dioceses de Bissau e Bafatá.

A obra tem dois prefácios, da autoria do escritor Abdulai Silá e do jornalista José Pedro Castanheira. O primeiro apela a que se decomponha o mito a favor do senso ou da consciência histórica, enaltece estes “recortes” por proporcionarem o momento de reflexão sobre o passado histórico da região, considerando que a publicação refere abundantemente os factos da história recente da Guiné-Bissau sem nódoas nem mágoas. O segundo considera esta iniciativa uma magnífica surpresa, ela preenche um vazio quase absoluto, aparece como um valiosíssimo e utilíssimo compêndio da história recente da Guiné-Bissau, de consulta obrigatória.

Depois de um enquadramento sinóptico que vai desde o Império do Mali até à conferência de Berlim, somos mergulhados na definição das fronteiras do território da Guiné, nas campanhas de pacificação e num aceso de lutas em torno do imposto de palhota. Na época, o comércio externo da Guiné aparece dominado por sete casas comerciais, com destaque para franceses, alemães, belgas e franco-ingleses, os portugueses estão francamente minoritários. Com a República, a Guiné é dividida em dois municípios e sete circunscrições civis.

Os grandes acontecimentos da segunda década giram à volta das campanhas de Teixeira Pinto e da obra deixada pelo governador Velez Caroço, a ele se deve o mérito de transformar um território meramente fluvial em terrestre. Os anos 30 ficaram marcados pelo regime de indigenato, pela Casa Gouveia ter ser sido entregue à CUF, em quem se delegou, em 1927, o monopólio da exploração dos recursos económicos da Guiné. Com os anos 30, emerge a mística imperial e conclui-se o trabalho da pacificação. Em 1945, a colónia tem um governador de grande categoria, o comandante Sarmento Rodrigues, entrou-se numa nova fase da colonização da Guiné por intervenções em diversas áreas: sanitária, científica, cultural, económica e social. De acordo com o primeiro recenseamento populacional da Guiné, em 1950, a população “civilizada” era composta por 8320 indivíduos e a restante população, os indígenas, eram cerca de meio milhão. É uma década em que vai vibrar uma onda de descolonização, Amílcar Cabral vai trabalhar no recenseamento agrícola e em 1955 um grupo de civilizados criou um movimento de independência, que teve uma vida efémera. O PAIGC tem usado a data de 19 de Setembro de 1956 como o momento da criação do PAIGC, a historiografia moderna contesta tal facto, mas no fim da década assiste-se à independência de muitos estados africanos e em 3 de Agosto de 1959 ocorre o massacre do Pidjiquiti, acontecimento emblemático que irá acarretar uma nova estratégia de actuação do movimento de libertação.

As décadas 60 e 70 estarão centradas na luta armada e na independência. Estes “recortes” têm muitas entradas de 1976 a 2005: fracasso do modelo pós-independência, golpes de Estado ou seus simulacros, afundamento económico, a chegada do multipartidarismo, a estruturação da dependência crónica da ajuda externa e em Junho de 1998 inicia-se um doloroso conflito político-militar tendo em campos opostos Nino Vieira e a Junta Militar dirigida por Ansumane Mané. Em Janeiro de 2000, Kumba Ialá foi eleito presidente, os conflitos militares não desapareceram, Ansumane Mané acabará executado, entrara-se numa nova era de instabilidade que culminará com o afastamento do presidente graças a um golpe militar tendo à frente o general Veríssimo Seabra. Sempre a viver na transitoriedade, e numa segunda volta de eleições presidenciais, Nino Vieira, que regressara depois de um exílio em Portugal é empossado na presidência. Mas não se fechou o ciclo das turbulências em que se encontra a Guiné-Bissau, um dos seis países mais pobres do mundo e em que dois terços da sua população vivem com menos de dois dólares americanos por dia.

Concluído este repertório de recortes, o compêndio agrega biografias de figuras representativas, desde Honório Pereira Barreto, passando por Amílcar Cabral e Vasco Cabral, até Malã Bacai Sanhá. Outra secção contempla figuras proeminentes das artes, cultura e sociedade, temos ali Berta Oliveira Bento (à frente da lendária Pensão Central), Braima Galissá, Carlos Lopes, Flora Gomes, José Carlos Schwartz, Odete Semedo, Tabanca Djazz e Tony Tcheka. O leitor é também brindado com uma importante bibliografia, indicação de sites e de organizações não-governamentais com inequívoco trabalho no terreno. Como em todas as obras deste tipo, aqui e acolá há algumas imprecisões que certamente irão aparecer corrigidas em nova edição.

Estes “recortes” passarão a ser propriedade do nosso blogue.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9231: Notas de leitura (313): Três Tiros da Pide, de Oleg Ygnatiev (Mário Beja Santos)

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