quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9243: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (32): Havia lavadeiras e... lavadeiras: o caso das minhas duas irmãs (Cherno Baldé)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P9226:

Assunto - Lavadeiras e lavadeiras...

Eu tive duas irmãs,  lavadeiras, filhas do meu tio,  com carácter e comportamentos bem diferentes.

A mais nova era muito esquisita, secreta, escorregadia, não gostava que ninguém (dos mais pequenos) lhe seguisse os passos e não dava boleia para entrar no quartel com sentinela à porta de armas. Não posso confirmar, mas entre nós, ela era suspeita de andar a fazer maquinações e prestar serviços extras aos seus patrões brancos, do tipo "lava tudo". Felizmente nada aconteceu de pior.

A mais velha e, também, mais bonita era a nossa preferida, pois nunca se aventurava dentro do quartel sem a nossa companhia e, ainda mais, levava sempre consigo, nas costas, uma criança emprestada de propósito para o momento. Quando entrava, nós também entravamos atrás dela, senão nada feito, e as sentinelas já a conheciam de sobra, não gostavam dela mas também não lhe podiam obstruir a entrada.

Seguíamos directamente para a caserna dos Furriéis. Sem cerimónias, e dentro dos quartos, a nossa missão era ficar junto da nossa protegida e gritar caso fosse necessário. Os patrões olhavam para nós com olhos de espantar crianças. As vezes, na vontade de nos afastar um pouco, havia quem nos oferecesse um pedaço de pão ou uma lata de conserva. Mas mesmo um pouco distanciados pelo engodo, ainda ouvíamos a voz inconformada da nossa irmã resistindo às apalpadelas:
- Dixa Furriel, dixa! Djubi mininu tchora!... (Deixa, Furriel, olha a criança a chorar).

Ela era, frequentemente, despedida por um e logo contratada por outro e invariavelmente eram Furriéis.


Era estranho esse comportamento das minhas irmãs, porquanto nas noites de luar, em grupos de idades,  cantariam louvando essas aventuras com os Furriéis em ritmos e letras herdadas de outras idades e de outros tempos:

"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"


(O Capitão pode ser o chefão
mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).

E não é que os Furriéis tinham mesmo jeito com as agulhas?! Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furriéis.

Muito obrigado à Maria Dulcineia por esta homenagem bem merecida às lavadeiras de todos os tempos e de todos os lugares. 


Um abraço natalício a todos,
Cherno Baldé


2. Comentário de Maria Dulcinea (NI)  (*)


 Amigo Cherno Baldé

Li o seu comentário com muita atenção, aliás li todos os comentários e desde já agradeço as palavras simpáticas que todos escreveram. No entanto queria comentar as palavras do Cherno e lhe dizer que,  quando li o seu artigo no P9085 "Memórias do Chico",  e em que publica a foto da sua mãe,  eu senti uma ternura imensa por ela, pois que aquilo que você descreve é precisamente o modo de vida que admirei nas mulheres da Guiné da altura com todas as dificuldades inerentes de um país em guerra, mas em que as pessoas se adaptaram tanto à presença constante dos militares como à sua constante rotação, pois que os militares ora estavam nas localidades, oram iam embora para a Metópole ou outros locais de serviço.


Em relação às suas irmãs serem "assediadas", eu considero que é uma situação triste, mas sem querer arranjar desculpas para esses actos dos militares, reconheço que era mais uma das situações provocadas pela estúpida situação em que os nossos Homens foram,  ao serem mandados para um território desconhecido sem terem tido um mínimo de formação sobre os usos e costumes das Gentes da Guiné.

Sei que os militares que foram para Companhias Africanas tiveram alguma formação de "Acção Psicológica" antes de ingressarem nas CCAÇ Africanas. Como disse e sem querer "branquear" maus comportamentos de alguns Homens,  eu tenho a certeza que hoje a maioria carrega as suas "culpas" e que valoriza de certeza todas as mulheres da Guiné tal como tem sido aqui comentado.

Cherno Baldé,  não estou aqui a ajuizar qualquer tipo de comportamento, estou isso sim a agradecer as suas palavras e a desejar uma vez mais um Santo Natal, a si, à sua Mãe, às mulheres da Guiné e a todos os tertulianos e TERTULIANAS desta Tabanca que,  como me diz o meu marido,  são uns tipos ainda "muito malucos" mas que é tão bom ter alguém que escreva, comente, ralhe... Quer queiram ou não, estão todos ligados uns aos outros pelo mesmo "cordão umbilical" que foi a GUINÉ.

Um beijinho para todos e Bom Natal


Maria Dulcineia (Ni)

__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)

(**) Último poste da série > 23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9085: Memórias do Chico, menino e moço (31): A minha Mãe Cadi representa a mãe africana em particular e as mães de todos nós em geral (Cherno Baldé)

15 comentários:

Luís Graça disse...

Cherno, meu amigo e meu irmãozinho:

Porque os nossos sistemas de parentesco são diferentes, bem como as respetivas nomenclaturas, diz-me se as tuas irmãs (para nós, primas direitas) são filhas do teu tio materno, ou tio paterno...

Interessantíssima, apaixonante, a questão que levantas, mas que não pode ser vista "a preto e branco" (como, de resto, tudo na vida)... A Dulcineia, com a sua outra visão, a de mulher "tuga", que conheceu a Guiné em tempo de guerra, já "matizou" o problema...

Cherno Balde disse...

Caros amigos, Dulcineia e Luis Graca;

Quero, antes de mais, agradecer as simpaticas palavras da nossa amiga e irma, Maria Dulcineia, a quem desejo muita saude e boas festas de Natal e de ano novo e dizer-lhe que pode ficar muito tranquila pois nao existe qualquer ressentimento nas minhas palavras.

Respondendo a questao do Luis, informo que se trata, efetivamente, de primas irmas, filhas do meu tio paterno, facto pouco relevante, porque na verdade todas as lavadeiras eram minhas irmas, de uma forma ou outra.

A proposito da nomenclatura, devo dizer que a nossa encontra-se numa avancada fase de mutacao, influenciado, provavelmente, pela nomenclatura ou cultura europeia.

Como facilmente poderao constatar, alias, como tem sido meu habito, nao existe nas minhas intervencoes escritas nenhuma outra intencao que nao seja de divertir e criar um ambiente de bom humor entre camaradas e amigos da mesma Tabanca. Mas, também para bom entendedor meia palavra basta, afinal sempre podemos trocar ideias e informacoes uteis, brincando.

Durante muito tempo a tropa, no seu reduto de arame farpado, foi para mim um laboratorio de observacao e de aprendizagem e acreditem que me diverti bastante nesse meio, e agora simplesmente apetece-me compartilhar, devolvendo algumas das imagens gravadas na altura que, espero, nao farao mal a ninguém.

Os meus amigos Furrieis, pelo menos, sabem do que estou a falar kkkkkk...

Um grande abraco,

Cherno Baldé

Cherno Balde disse...

PS:
Ainda, sobre a crianca emprestada, se se lembrarem bem, era habito que as lavadeiras levassem consigo uma crianca nas costas. Nem sempre se tratava do proprio filho, era ja em si uma forma de se protegerem de "desejos" nao desejados ou um pouco descomandados.

Cherno AB

Luís Graça disse...

Cherno:

Há, no teu texto, uma candura desarmante e ao mesmo tempo uma cumplicidade subjacente, própria de quem viveu, como um "rafeiro" - a expressão é tua - no quartel de Fajonquito, ao lado dos "tugas"... Foi a tua escola da vida, ou pelo menos, uma delas. Temos de arranjar maneira de publicar as "memórias do Chico, menino e moço", não só pela sua qualidade literária como sobretudo pela frescura, subtileza e ironia de muitas das tuas observações sobre os "tugas", e que são apontamentos "de primeira água" sobre o nosso comportamento, enquanto homens e militares...

Eu diria que estes textos (alguns muito circunstanciais, como este, resultantes de um simples comentário a um poste sobre as "nossas lavadeiras", não menos surpreendente, como o da Ni, mulher de um "tuga") fazem já parte integrante da "socioantropologia" do "homo lusitanus" em África...

Que delícia, o teu oportuno apontamento sobre as nossas lavadeiras (retirado da tua intimidade!), que me apressei a transformar em poste na tua série, de que sou fã... E dou-te os parabéns porque, mesmo "cão rafeiro", soubeste defender bem a honra e o bom nome das tuas manas (primas)...

Esta questão, que podia ser melindrosa, delicada e até mesmo um verdadeiro "tabu", é posta por ti de maneira descomplexada, não estereotipada, irónica, e com a sua pitada, q.b., de humor picaresco...

O teu piscar de olhos é o mesmo que havia no jogo de sedução (e de cumplicidade) entre "tugas" e fulas, pese embora as diferenças étnico-linguísticos, religiosas e culturais, entre os dois grupos... (Falar de "assédio", no caso das lavadeiras, é usar um "termo politicamente correto", que me aparece aqui deslocado: os militares portugueses, do meu tempo, sabiam de resto quais eram os seus limites; bem como as bajudas, nomeadamente, as fulas, que eram danadas para a "reinação"...).

Não esqueço, em Contuboel e Bambadinca (os dois aquartelamentos que conheci), a azáfama e até a excitação que representavam as tardes da entrega da roupa, lavada e "passada a sol", por parte das nossas lavadeiras... Eu acho que, na maior parte de nós, ficou uma enorme gratidão e até ternura pelas nossas lavadeiras... Eu tive uma mandinga, de quem já não me lembro o nome, e que era bonitinha e arisca - como a tua mana -, mas com quem tive sempre um trato correto. Sei que a mãe dela tivera um filho de um tuga, o que dentro da comunidadentre madinga devia ser objeto de forte censura social e moral...

Também sei de casos em que dessas simples trocas de serviço (e na maior parte dos casos, era só isso mesmo, a lavagem da roupa, que proporcionava um rendimento financeiro não desprezível para as famílias, no âmbito da economia de guerra), nasceram algumas bonitas amizades, já aqui evocadas no nosso blogue. Amizades, entre homens (militares) e mulheres (civis) que podiam ser bonitas, sem ter que ser "coloridas"...

Não sei se o Natal te diz alguma coisa, a ti, bom mulçulmano... De qualquer modo, aquim ficam as minhas melhores saudações natalícias, para ti, filhos, esposa e demais família extensa... Uma ano de esperança e de paz, para os nossos dois povos.

Luis

PS - E a propósito, o que é feito das tuas manas ?

Juvenal Amado disse...

Caro Cherno

Não todos aceitavam os abusos e excessos que por vezes havia e que se praticavam nas lavadeiras mais desprotegidas e dependentes do dinheiro do seu trabalho.
Recordo um acontecimento em que o nosso camarada Carlos Filipe foi protagonista, quando tentou acabar com o que ele achou demais à porta de armas.
Ainda lá estavam os «velhinhos» e entre brincadeiras e o mau gosto, ele fez frente a um soldado em defesa de uma bajuda. Resultado foi uns estalos e uns murros indo o Carlos parar ao chão.
Em Galomaro as lavadeiras não entravam no quartel e éramos nós que entregávamos e recebíamos a roupa ao arame.
Passar dos limites era fácil e praticamente sem consequências.

Um abraço

Cherno Baldé disse...

Caro Luis,

Esta tua curiosidade nasceu com a idade ou sempre foste assim?

As minhas Manas, hoje, ja sao mulheres grandes, donas de moranca e vivem felizes, no limite das condicoes ca da terra. Elas sempre sabiam que eu era um rafeiro la do quartel mas ainda nao sabem que seria capaz de as trair, falando de coisas intimas.

Bem, o conceito de assédio é vosso, europeu, mas ao que parece é ja global. Por mim gostar de uma outra pessoa, a empatia é sempre melhor que o contrario, desde que o acto seja feito com boa fé e seja consequente. Por exemplo, nas camionetas de Lisboa eu me sentia muito mal quando os outros (brancos/as) preferiam ficar de pé ao invez de se sentarem no banco ao meu lado.

Bem, é preciso dizer, também, que a ousadia e o atrevimento da tropa portuguesa para com as nossas mulheres nao era um bom exemplo para uma crianca.

Uma vez em Kiev, ja era adulto, tentei repetir o atrevimento, acariciando com as maos os seios de uma estudante que nao conhecia, gesto que me custou muito caro. Caso para dizer "kussas ta parci ma i kata djuntu" as situacoes podem ser parecidas mas nunca sao iguais.

Quase que me expulsavam da escola e tudo por causa de umas maminhas pequenas e moles que nem uma esponja.

Um abraco,

Cherno AB.

Anónimo disse...

Caro Cherno
Com que então andou lá pelas Russias a apalpar maminhas hem ??? e ainda por maldade não era lá grande coisa e quase lhe valeu uma expulsão...
Pois é os Homens não pode mesmo resistir não é???
Beijinhos NI (Maria Ducinea e não "Dulcineia)

Luís Graça disse...

Dulcinea, como a Dulcinea del Toboso, a quixotesca namorada do Don Quijote de la Mancha...

Peço mil perdões pelo atropelo... O nosso nome é o nosso nome, e é único... Mesmo que Ni seja para os amigos...

É um privilégio ter-te aqui connosco nesta caserna de gente da tropa que não fica atrás do Dom Quixote em "saudável maluqueira"...

Alberto Branquinho disse...

Cherno

Mais uma vez, ao acabar de ler o texto, fiquei suspenso a pensar na sinceridade, na perspicácia, na análise de mais uma situação e, uma vez mais, feita por alguém colocado do outro lado de uma realidade social. Gostei muito.
Também gostei que tenha sido colocado em post, apesar de correr o risco de poder vir a ser considerado... "politica e/ou socialmente incorrecto"...
Detesto estes "clichés", como o do "assédio sexual". Talvez muitos, muitos casamentos não tivessem acontecido se, ao tempo, se tivesse carimbado toda e qualquer "aproximação física" como assédio sexual. Só recentemente foi introduzido o Dia de São Valentim... (que funciona assim como "sober agent", afastando o risco de assédio, branqueando os "toques" físicos...).

Luís Graça disse...

Meu caro Cherno:

De inconfidência em inconfidência... até ao livro final!

Havemos de lá chegar!!!,,,

Mano, se não fossemos curiosos, nós, os humanos, ainda estaríamos na idade da pedra lascada ou Paleolítico... Ou nem sequer isso, já que a "pedra lascada" foi um sucesso tecnológico que mudou as nossas vidas...

Quanto ao "apartheid" (em Kiev ou em Lisboa), começa por existir nas nossas cabeças... mas temos que o combater, combatendo o "estereótipo" e o "medo do outro" que é diferente...


Mantenhas para as manas. Xicoração para ti. Alfa Bravo para os durões. Luís

Unknown disse...

Cherno Balde, caros amigos.
Independentemente do relato do Juvenal, já aqui (em outro Post) numa disputa quente de coments, eu escrevi expecificamente sobre esse assunto. A conclusão foi + ou - que não era-mos nenhuns santos, não me querendo alongar mais.
Mas, recentemente escrevi tambem derigindo-me a falsos patrioteiros, que amam, gostam, e não sei que mais a Guiné-Bissau e seu povo, que todas as 'alegrias' 'gozos' etç, só o tiveram, porque estavam em condições de guerra. Pois de contrário estariam a trabalhar de sol a sol nos campos e nas fábricas. E acrescento agora que no campo da sexualidade, seriam virgem mesmo em termos de 'acariciar' até muito mais tarde. E muita 'aprovação' para casar.
De resto gostei bastante da forma como expuseste a questão. Um abraço.

Cumprimentos para todos
Carlos Filipe

ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

Anónimo disse...

Caros Camaradas e "rafeiro" Cherno

Vou ser politicamente incorrecto.

A realidade era simples, as lavadeiras lavavam-nos a roupa por necessidade de sobrevivência e se algumas faziam uns "favores sexuais" era tão só pelo mesmo motivo.
Se esses fossem consentidos..qual era o problema.
Na altura condenava, e condeno, todas as situações que ultrapassassem o consentimento, isso constituía um crime.

Sobre os furriéis...deviam ter um índice maior de testosterona..só podia ser..ahhhh.

A minha lavadeira era muito "sexy"..devia ter 30 e muitos anos..sem arcada dentária e.. e.. adivinhem o resto..mesmo que tivesse vontade de a "assediar"..só de a ver..ficava sem vontade nenhuma..coitada da senhora e já agora coitado de mim..mas se pensam que em alternativa funcionava a "mão" ..enganam-se, porque não me lembro de fazer tal coisa, porque a minha testosterona,julgo eu,era toda gasta nas granadas de obus.

Ah..já me esquecia, também acredito que houve algumas "paixonetas" entre "lavadeiras" e "lavados".

Um alfa bravo

C.Martins

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Concordo com o A. Branquinho, penso que com a invencao desta terrivel arma do assédio, quase que (mataram) eliminaram as caracteristicas do animal que existe em cada homem.

Discordo do C. Martins segundo o qual as lavadeiras faziam o servico por necessidades de sobrevivencia. Nao é consensual. Primeiro é preciso nao generalizar, e em segundo lugar, é preciso conhecer os fundamentos da cultura que sustentam a existencia dos grupos sociais, dos povos.

Com isso quero afirmar, com conhecimento de causa que, no meio fula e muculmano, so raramente o dinheiro ganho nesses trabalhos de lavadeiras seria utilizado no sustento das familias, pese embora a sua existencia precaria e de extrema pobreza. No caso estou a falar concretamente dos fulas e mandingas.

A vida social, politica, cultural e economica de um muculmano, um pouco a imagem do Cristao, esta rigorosamente marcada por linhas de conduta muito rigidas que tentam separar dominios bem ou mal definidos de: sagrado/profano, licito/ilicito, puro/impuro...

Infelizmente e ao contrario do que seria logico esperar, todo o dinheiro ganho em servicos e/ou operacoes suspeitas, dificeis de controlar a origem (que, diga-se de passagem, nao era muito), nao devia servir de bem/alimento licito, dai que muitos pais, mesmo precisando, simplesmente, ignoravam e nem queriam saber de rendimentos vindos de suas filhas ou irmas lavadeiras. Isto surpreende, nao é? Mas é verdade, elas (as lavadeiras) podiam sim utilizar o dinheiro para si na compra de roupas e outras coisas pessoais, e muitas faziam-no simplesmente como pretexto para se aproximar dos brancos, pois também queriam conhecer esse (diabo)animal branco e nao havia outra forma porque nao eram assim tao livres como os rapazes.

Ja li, algures, a historia do Carlos Filipe a quem tenho uma grande consideracao e estima, que nao sendo um Santo quis, todavia, ser correcto e solidario.

Um abraco amigo,

Cherno AB.

Luis Faria disse...

Caro Cherno

Sabia que os Furriéis eram considerados "pau para toda a obra"!

"E não é que os Furriéis tinham mesmo jeito com as agulhas?! Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furriéis."

Desconhecia era que fossemos cantados,como dizes, por belas "Bajudas":

"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"

(O Capitão pode ser o chefão
mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).

Ainda bem,sinal que nos estimavam.

Um abraço,BOM NATAL
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Cherno

Quem sou eu para contestar o teu argumento,com o teu saber de experiência feito.
Acontece que durante a guerra, com muita pena minha e devido às próprias contingências, não me foi possível saber e compreender melhor, a cultura, usos e costumes,do teu povo,nomeadamente dos fulas.
Em 98, quando fui pela segunda vez à Guiné,como voluntário da AMI, pude compreender melhor, se bem que continuo a ser um ignorante.
Sobre o tema em questão, passei por alguns constrangimentos, da minha parte claro, quando em determinadas situações notava a languidez..o sorriso matreiro..e até, porque não, a insinuação..mais não era do que pretender conhecer o que era desconhecido, estranho,(o branco) e daí a atracção, tal como nós latinos pelo que é nórdico e vice-versa, e já agora nós "tugas" por tudo o que seja igual ou diferente, que nisso não somos nada esquisitos..feitios.

Por último,desafio-te a dar-nos umas lições de etnologia da Guiné, porque estou convencido que a grande maioria de nós, pouco ou nada sabe da tua terra.

Um grande abraço

C.Martins