sábado, 17 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9218: Efemérides (81): Como os acontecimentos de Goa, Damão e Diu foram vividos em Luanda (Antº Rosinha)

1. Comentário do nosso camarada António Rosinha (que, em 1961, era Fur Mil do Exército Português em Angola), ao poste P 9202 (*)

Torcato, a 19 de Dezembro de 1961, estavam praticamente todas as unidades de mãos sobre a cabeça. E só a 18 tinham começado os aviões a ameaçar a sério.

Falam ex-furrieis milicianos, participantes, de 73 anos de idade, hoje.


Pouco depois dessa data, em Luanda batiam-se palmas a discursos inflamados, aplaudindo a resistência dos nossos heróis de Goa (, de mãos na cabeça, ) e fazia-se recolha pública de dinheiro para aquisição de um porta-aviões para substituir o Afonso de Albuquerque que os indianos tinham afundado.

Do meu salário de furriel foi-me descontada uma quantia, que não me lembro de quanto, mas voluntariamente, tás-a-ver!

Salazar mentiu e mandou mentir com todos os dentes, e conscientemente pouca gente de nós engolia todas as petas do Botas. Antes pelo contrário, mesmo quando dissesse algumas verdadeiras, já se ficava de pé atrás. Mas a história um dia virá dizer se eram mentiras necessárias para resistir ao que se sabia que aí vinha, e foram mentiras oportunas, ou antes pelo contrário.

Uma coisa é certa, poucos alferes milicianos e furrieis milicianos se propuseram a escrever como tu, Torcato, fizeste com a tua guerra. E isso era preciso, para ajudar a compreendermos melhor, como fomos nós, a nossa geração, no seu todo.

Ficou pelo caminho Goa e São João Batista de Ajudá (**) e o Mapa-Cor-de-Rosa. (***) 

Cumprimentos
Antº Rosinha
_______________

(**) Hoje Museu de História de Ouidah, República do Benin

Fernando Ribeiro, no seu blogue, A Matéria do Tempo, escreveu em 10 de Janeiro de 2007 o seguinte sobre o Forte de São João Baptista de Ajudá (Ouidah):

 (...) "Este é o Forte de São João Baptista de Ajudá, situado em Ouidah, na República do Benim, que foi erguido no séc. XVIII para servir de entreposto e de protecção militar ao tráfico português de escravos para o continente americano e Caraíbas. 

" Esteve na posse de Portugal até depois da independência do Daomé (como a República do Benim se chamava então), tendo sido abandonado e incendiado por ordem de Salazar em 1961, ano em que o Daomé decidiu ocupá-lo. Foi recuperado das cinzas ainda na década de 60 e nos anos 80 foi objecto de novas obras de restauro, as quais foram pagas pelo Estado português.

"O forte é agora um Museu de História daquela região de África, de onde foram tantos os escravos que dela partiram que ela era chamada Costa dos Escravos. O sítio do museu na Internet merece uma visita, ainda que só esteja em francês e em inglês. É pena que não esteja também em português, pois as raízes de milhões de afro-brasileiros estão naquela parte do mundo, donde os seus antepassados saíram em condições ultrajantes". (...)

Na Wikipédia, atribui-se à Fundação Calouste Gulkenkian a obra de recuperação do forte, que ocupa(va) um espaço de 2 ha: (...) "A anexação (em 1 de Agosto de 1961) foi reconhecida por Portugal em 1985, tendo os trabalhos de recuperação e restauro sido desenvolvidos em 1987, com orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian" (...).

3 comentários:

Luís Graça disse...

Alguém se lembrava já do Forte de São João Baptista de Ajudá ?... Aqui fica para os mais jovens um excerto da entra sobre "Ouidah", na Wilkipaedia (em inglês):


(...) "Until its annexation by Dahomey in 1961, São João Baptista de Ajudá was probably the smallest recognized separate modern political unit: according to the census of 1921 it had 5 inhabitants and, at the moment of the ultimatum by the Dahomey Government, it had only 2 inhabitants representing Portuguese Sovereignty who tried to burn it rather than surrendering it.

"Only in 1975, after the Portuguese Estado Novo regime has been overthrown due to the Carnation Revolution at Lisbon, did the annexation of the fort by Dahomey (now renamed Benin) gain official Portuguese recognition. This was followed by the forts' restoration, which was paid for by Portugal. The fort is a small square with towers at the four corners. It comprises a church and officers' quarters. The Fort of São João Baptista de Ajudá now houses a museum.

"Bruce Chatwin’s book The Viceroy of Ouidah (1980) is a fictional retelling of the life of Francisco Félix de Sousa, the Sousa family founder in Benin and that of his powerful local descendants, dealing also with the subject of slave trade with Brazil". (...)

http://en.wikipedia.org/wiki/Ouidah

Luís Graça disse...

Na realidade, o ano de 1961 foi um "annus horribilis" para o Governo Português (e para Portugal): 4 de fevereiro de 1961 (Luanda), 15 de Março de 1961 (Norte de Angola), 1 de Agosto de 1961 (São João Baptista de Ajudá), 17 de Dezembro de 1961 (Índia Portuguesa)...

Torcato Mendonca disse...

##Torcat Mendonca deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão po...":

QUE ESTAS MEMÓRIAS NÃO SEJAM APAGADAS

FALAR VERDADE É NECESSÁRIO SEMPRE!

Vivíamos, quando se deu este acontecimento, debaixo de uma ditadura. Só assim se compreende as Ordens enviadas ao Governador -Vassalo e Silva - e os acontecimentos posteriores.
Este é um exemplo de outros lá passados

Torcato Mendonça
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Sem me meter na parte editorial, penso contudo não ficar suficientemente explicito o porquê deste escrito do Antº Rosinha.

Não me incomodo pessoalmente. Mas quem lê, ficará informado do porquê do Rosinha se me dirigir. Está o número do Poste e irão á procura? É, quanto a mim o risco de se transformar um comentário em Poste e, mais, acrescentar algo ou tirar ilações sobre o assunto tratado de forma explicita ou, possivelmente, implícita.

Em politica, de um discurso ou intervenção tira-se um bocadito e serve para arma de arremesso...ele disse...pois disse mas dentro de terminado contexto. Não é este o caso. O que se passou em Angola foi dramático. Se o Rosinha viveu isso pode escrever ou sobre os golpes e atitudes criminosas praticadas por dirigentes guineenses.,.,.Cabral, Nino...etc

Não vou falar sobre a invasão Indiana ou o fim da "Feitoria" de S.João Baptista. O meu comentário é breve mas suficiente para dizer:vivemos num regime despótico e abjecto...(agora passou-me a História de nosso País em relâmpago até 17/12/11...raios...)
Ab T.