sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9170: (Ex)citações (164): Furriel, turra é preto e vaca é branca!... (Henrique Cerqueira)

1. Comentário,  de Henrique Cerqueira  (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), ao poste P9116 (*):

Caros Camaradas:

Na verdade em quase todos os destacamentos havia episódios como o do Ferraz,até porque havia por parte das populações, em especial pelos chefes de tabanca, uma regra, mais ou menos imposta pelo PAGC, para que boicotassem o mais possível o abastecimento de bens aos militares. 


Daí ser muito difícil a compra de galinhas ou outros bens alimentares. Assim sendo,  e de quando em vez, para "desenjuar" da bianda, ou do esparguete, lá se tinha que recorrer à habilidade,tal como aconteceu uma vez no Biambe.

Certo dia ao cair da noite andavam alegres vaquinhas a passear num terreno junto ao arame e um Furriel,  com a sua G3,  apontou,disparou e acertou.

Grande escândalo,  as vaquinhas nunca eram de ninguém, mas nesse dia apareceu o Abdul que era chefe de Milícia,  a reclamar.Todos foram ao Capitão e o Furriel justificou do seguinte modo:
- Ó Abdul, há dias atrás fomos atacados pelo IN,  agora estava a olhar para o arame e apareceu-me um turra e disparei...

E o Abdul, muito espantado,  responde:
-Mas..., Furriel,  turra é preto e vaca é branca!!!
- E depois?...- retorquiu o Furriel.  - Eu de noite não distingo cores.

Bom,  ele,  Abdul,  lá vendeu a vaca morta e o pessoal lá conseguiu uns bifinhos fresquinhos.

Este comentário é uma treta mas é verdadeiro por tal nem sequer é digno de polémicas ou julgamentos. Foi mais uma das nossas aventuras da Guiné. (**)

Um abraço para todos

Henrique Cerqueira

PS - Quanto à dificuldade de comprar animais lá na Guiné,  era mesmo por imposição dos elementos do PAIGC. Pois que em Bissorã e no Biambe haviam manadas imensas e,   sempre que procurávamos os donos,  eles respondiam invariavelmente que eram dum primo de Bissau... 

Mais tarde,  em Bissorã,  para comprar uma cabra,  eu dirigi-me ao administrador local e este obrigou um produtor a vender e aí o mesmo me explicou que era mesmo por imposição (clandestina,  claro) que o PAIGC fazia às populações,   ameaçando com represálias.

___________________

Notas do editor:

4 comentários:

Anónimo disse...

Achei muita graçaa esta descrição que me fez recordar uma semelhante, em Aldeia Formosa e onde os mantimentos estavam prestes a acabar, no que se referia à carne. Encontráva-me numa missão da alerta, nas chamadas "Bases de Operações". Houve a necessidade de transportar para Bissau um ferido e já na pista o piloto avista uma vaca que pastando no terreno ao lado se dirigia na direção da pista.Um militar disse ao piloto já temos carne, vou dar-lhe um tiro e pode descolar. Depois cá me arranjarei com o dono da vaca. Eles não comem as vacas mortas por um tiro, só quando são sangradas. E foi assim que o rancho foi melhorado nos dias seguintes. Mª Arminda enfª paraqª

manuelmaia disse...

Caro Henrique,

Aquilo que afirmas é a pura realidade e todos nós passamos por situações similares...
Recordo que uma vez capturamos dezassete "vacas IN" após incursão em zona do inimigo. trouxe-mo-las para o quartel e mal chegados,já estávamos a receber uma mensagem para as levar de novo para lá da bolanha onde as apanháramos...
Como a hora era já tardia,ficaria para o dia seguinte tal tarefa...
Entretanto,nessa mesma noite,um sentinela abateu duas no "curral " improvisado,alegando exactamente o mesmo que o vosso furriel...turras ao arame...
No outro dia,manhã cedo,lá fomos cumprir a missão de soltar as ditas em local perigoso.
Mas as duas abatidas serviram para melhorar o rancho...
abraço
mm

Valentim Oliveira disse...

Pois""" pois!! Esta faze-me lembrar o gamanço do galo em plena tabanca de Farim. depois de churrascado na boa brasa com o pirípi na dita tasca,aquilo foi um Deus te avias a virar copos com o grande sargento Albino.

caçador disse...

meus caros camaradas eu claro nao estive na guiné mas estive em angola nao sei se era muito diferente mas em angola.nao tinha nada disso nós em 10 minutos escolhiamos a carne que queriamos comer isto no mato e longe de qualquer vila ou canzala ai nós saiamos e escolhiemos a carne mais macia podia ser um burro do mato zebras ou javalis ou galinhas de angola tinha de tudo coelhos nada faltava pacaças eram aos montes só a carne era dura e a gente nao matava só se mataria se fossem novas conhecimento nenhum só pelo tamanho e abraços