terça-feira, 15 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9050: (Ex)citações (157): A relação comandante operacional/subordinado nas companhias de quadrícula (José Manuel Dinis)

1. Comentário de José Manuel Dinis ao Poste P9041 (*)

Viva o Chico e o restante tabancal!

O Chico tem mostrado de diferentes pontos de vista, o seu interesse e sagacidade, relativamente aos militares portugueses envolvidos na guerra que a todos condicionou. Vem agora lançar um desafio: o de avaliarmos sob o aspecto da humanidade a relação dos capitães com as companhias em quadrícula.

Designou-se, de quadrícula, a malha de aquartelamentos que deviam garantir a segurança nos territórios em luta. Tornava-se mais ou menos densa, conforme os índices de população, a preservação de meios de comunicação, e a intensidade da luta. Não havia um critério rígido.

Já sobre as relações dos capitães com os seus subordinados, pode dizer-se muita coisa, porque tratando-se de comunidades relativamente autónomas,que podiam extravasar do âmbito de relações de um chefe de um serviço com os seus subordinados, a ligação dos capitães aos comandados pode ou deve ser apreciada de muitos pontos de vista, que resumo a: níveis de equilíbrios psiquícos, níveis de segurança e de relações internas, níveis de organização administrativa, níveis de relacionamento com as esferas militares de que dependia.

Dentro de cada nível poderemos considerar outros itens de avaliação, que no conjunto nos permitirão aferir sobre a real capacidade de intervenção do comandante para o bom desempenho da companhia.

Do meu ponto de vista, e já o tenho comentado, houve grandes falhas na organização piramidal que, pontualmente, estimularam o alheamento dos interesses colectivos, e permitiram o desenvolvimento de acções egoístas e de afastamento ao interesse maior, em última análise, o interesse público, neste caso, uma relação do interesse nacional com o dos militares que serviam nas companhias.

Como nota final: o papel de cada capitão era de muito mais variada e premente responsabilidade, do que o da maioria dos oficiais superiores, que no remanso dos gabinetes lidavam como especialistas, sem as urgências e as necessidades que em cada dia se faziam sentir nas companhias. Deste ponto de vista, acho que os capitães não foram devidamente acompanhados, por isso distinguiram-se positiva, ou negativamente, conforme as suas formações pessoais de carácter, conjugadas com a experiência e capacidade de adaptação ao meio. (**)

Abraços fraternos
JD
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Notas do editor:


(...) Entre nós há um provérbio que diz que os mais velhos são como as lixeiras, sítios/espaços para (des)carregar as mazelas e...o lixo dos outros. Na língua Fula chamam-lhe "Donha" e em crioulo é “Muntudo”, ou seja a capacidade de sofrimento na humildade.
Estas observações me levam a uma tese (questionamento) que lanço à discussão de todos e em especial ao meu irmão de Contuboel, Luís Graça na qualidade de antigo combatente e sociólogo:
A forma (modelo de base) como as companhias (de quadrícula) eram formadas, estruturadas criava laços de união (ver cumplicidade) tão fortes que, por sua vez recriavam, no conjunto do pessoal, uma espécie de confiançaa/dependência exclusiva e quase paternal nos comandantes como única forma de alcançar reais sucessos no teatro de operações ou de, pelo menos, conseguir sair do inevitável sem grandes prejuízos. (...)

(**) Último poste da série > 15 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9046: (Ex)citações (156): A recensão a Pami Na Dondo foi feita não ao livro mas à pessoa do autor (Mário Fitas)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Zé Dinis

A questão lançada pelo nosso amigo Cherno acabou por colocar alguns dos 'tabanqueiros' a esclarecer o entendimento da 'quadrícula' e também o relacionamento entre os subordinados e os comandantes, qualquer que seja o nível que se considere, especialmente os 'capitães'...

A questão da 'quadrícula' parece ser fácil de explicar e o teu contributo, como outros que já li, ajudam de facto ao entendimento do 'desenho'.

Já a questão do tal relacionamento, mais propriamente dependência ou interdependência, é mais difícil pois é mais subjectivo e além disso, no que ao comando diz respeito, nem sempre houve continuidade de presenças no mesmo local. Isto se nos centrarmos na figura do 'capitão' mas pode mudar de figura se tivermos em conta outra chefia mais directa, mais próxima, como 'alferes', 'furriéis' e até 'cabos'...

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Viva Helder,
Vou tentar ser claro e breve: um comentário quase sintético pode não ser muito abrangente quanto à matéria analisada, mas cingiu-se aos tema dos capitães, porque corresponde ao desafio lançado pelo Chico.
Aliás, eram os capitães de cada companhia as pessoas que mais poderiam influenciar o bom ou mau rendimento de cada uma. Se um capitão que formou e acompanhou uma companhia teria, pela sua competência, experiência e qualidades, oportunidade para desenvolver um muito bom espírito de grupo,já teríamos que relativisar a apreciação de um capitão de substituição, apesar de alguns substitutos poderem ter dado melhores provas do que os substituídos.
Quanto à origem da expressão quadricula, admito que resulta do aspecto gráfico das cartas geográficas, com meridianos cruzados em forma de sucessivos quadrados, através dos quais se lêem as latitudes e longitudes (como uma folha quadriculada).
Um abraço
JD