sábado, 24 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8817: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (33): Um dia de Verão na Serra de Sintra (Felismina Costa)

 
1. Mensagem da nossa amiga e tertuliana Felismina Costa *, com data de 21 de Setembro de 2011:

Boa noite Editor e Amigo Carlos Vinhal
É apenas o registo de alguns momentos deste meu dia. Um dia emocionante, porque a emoção é uma companheira permanente na minha vida.
Aliás, a vida... emociona-me permanentemente!
Quando olho à minha volta, tudo me transcende. Tudo me merece admiração e respeito.

Se achar que não vale a pena ser editado, ignore simplesmente.

Um abraço fraterno e os meus agradecimentos pela sua paciência.
Felismina Costa



Recanto da Serra de Sintra, em dia Invernoso, que fotografei em 2009
Foto: © Felismina Costa (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Termina o Verão de 2011

O dia esteve fabuloso, de uma luminosidade fantástica!
Porque estou de férias, aproveitei a manhã, e, numa calma gostosa e descontraída, saí para viver o meu dia e olhar, com olhos de ver, cada pedra e relevo do meu Bairro.
Ao fundo da Rua cidade de Bruxelas, neste bairro onde habito há tantos anos, desfruto de uma vista maravilhosa sobre a serra de Sintra!
Ao longe, a uns dez quilómetros de distância, ela insinua-se alongada e assimétrica:

À sua direita, oferece-nos a visão fantástica do Palácio Nacional da Pena, que representa, segundo a wikipédia, (uma das melhores expressões do romantismo arquitectónico do século dezanove, no mundo.) Tão gostoso de ver, mesmo a esta distância, promovendo a visão imaginária de quem o habitou inicialmente.
Na sua assimetria, a serra, vista daqui, evidência relevos maternais, grandes seios, onde o sol se esconde ao fim do dia, e que eu, encantada, venho observar com frequência, feliz por poder fazê-lo.
Mas, hoje de manhã, desci a rua, fiz o pequeno circuito de manutenção (Abel dos Santos) e desci mais uma vez até à Ribeira. Havia uma paz, um sossego provinciano, difícil de imaginar por estas paragens!
Aspirei fundo a manhã gostosa!
Sorri para as árvores, para a relva molhada pela rega matinal, para as aves felizes nas margens da ribeira!
Olhei o céu…deslumbrada! Nem uma pequena nuvem se atreveu a manchar aquele azul velho, que todo o dia esteve em exposição permanente!

Sentei-me na esplanada. Pedi um sumo de fruta, peguei num livro que o Agostinho Gaspar teve a gentileza de me enviar, intitulado: (A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial) de Ana Bela Vinagre… e li. Digo-vos, as primeiras páginas, parecia ter sido eu a escrevê-las. Tão fiel está a descrição do que vivi e senti, quanto à guerra, e a toda a realidade contextual.
Arrepiei-me. Tive medo da emoção, por ter encontrado descrito com exactidão o que vivenciei. O tempo em que cresci. Foi… como se tivesse voltado… aquele tempo, vivendo todas aquelas realidades, saudosa apenas da família que tive, da infância e juventude que tive, do que perdi… Foi como uma viagem ao passado, a preto e branco. Senti frio, no dia quente.
Reagi. Fechei o livro, para ganhar ânimo, para continuar a lê-lo. Amanhã vou continuar a leitura.
Fechei na página 72.

Encetei o regresso casa. A meio do percurso, encontrei uma grande amiga e um enorme sorriso no rosto de cada uma e os braços abertos, expressando a alegria do encontro, foi um lenitivo fabuloso. Marcamos encontro amanhã no Shopping às 9h30 para tomar juntas o pequeno almoço e falarmos um pouco do que nos preocupa e nos alegra.

Ao final do dia, voltei novamente à Rua Cidade de Bruxelas. Não perdia por nada o espectáculo. Sentei-me numa pedra do rústico e pequeno jardim ali existente e esperei, que aquela bola única, descendo sobre a serra, se escondesse brilhando entre os seios da Terra-Mãe.
Senti uma paz única!
Sorri sozinha, emocionada, agradecida.
A serra ficou na penumbra. Tranquila, como uma mãe que aconchega os filhos ao fim do dia e os vê dormir sob a sua protecção…

Que grande dia, que fechou mais um verão das nossas vidas!
Nem uma folha bulia e a temperatura entre os vinte cinco, vinte e sete graus, convidavam a passear, a olhar a noite, que vinha a caminho, grande, misteriosa e sabedora.

Felismina Costa
Agualva, 21 de Setembro de 2011
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8669: Efemérides (54): 104.º aniversário de Miguel Torga (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 23 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8595: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (32): Hoje almocei com o Joaquim Gaspar (Joaquim Mexia Alves)

4 comentários:

Hélder Valério disse...

É verdade, Felismina, a "serra" é sempre inspiradora.
Tanto quanto é conhecido, as pessoas encontram nas serras, nas suas paisagens fortes, o mistério que emana do solo, da floresta, das pedras...
Desde tempos imemoriais que a 'serra da lua' é local de 'comunicação' com os deuses, e portanto, se uma boa leitura estiver servir de intermediário... tudo irá melhor.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Bonita despedida muito bem contada...
Um abraço

JMendes Gomes

Juvenal Amado disse...

Cara Felismina

Como sempre bem escrito pleno de sentimento.

Um abraço

Luís Dias disse...

Cara Felismina

A "Serra da Lua" convida mesmo à reflexão, a uma certa espiritualidade, à revelação de sentimentos, depois há aquele micro clima, aquela temperatura e tantos e tantos recantos misteriosos. Até Eça e Ramalho se inspiraram nela para escrever "O mistério da estrada de Sintra".
Um belo conto que a Felismina nos trouxe. Gostei imenso.
Um abraço
Luís Dias