domingo, 11 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8766: O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (2) (Magalhães Ribeiro)

O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra?
  (por Eduardo Magalhães Ribeiro)


1. Em 1974, Bissau fervilhava de gente de várias cores e povos, e toda a espécie de trânsito motorizado, deslocando-se entre os diversos estabelecimentos da cidade, tratando das suas vidas e outros negociando os seus produtos das mais variadas espécies e origens. Se bem me lembro, além dos portugueses e da população local guineense, cuidavam das suas rotinas e negócios: libaneses, indianos e cabo-verdianos.

Entre os objectos e equipamentos na moda então e, por isso, mais procurados por nós, contavam-se, tal como já referiu o nosso Camarada Helder de Sousa os uísques Old Parr, Monks, White & MacKay, President, Martin's e outras de uísque velho e/ou de malte, bem como os novos Passaport, J. Walker de 'labels' de várias cores, etc. Outros artigos que despertavam a nossa cobiça, eram os rádios e gravadores das marcas Sony, Aiwa e Grundig, bem como as máquinas fotográficas Reflex, Pentax, Canon, Casio e outras marcas japonesas.

Também o nosso Camarada Augusto Silva Santos acrescentou, que no seu tempo, estavam na moda: as máquinas fotográficas Olympus, relógios Cauny, whisky Antiquary, polos da Lacoste e Fred Perry.

O Luís Graça, ainda se lembra da grande procura dos isqueiros Ronson, óculos de sol Ray Ban e o uísque Old Parr.

Em 1974, o artesanato que mais me atraía era o que nos era oferecido em prata de Bafatá, mas continuava a grande procura de quase todos os artigos atrás mencionados, que tendendo para o fim do ano (com a rápida retirada do dispositivo militar português) se foram esgotando irreversivelmente.

Eu ainda consegui, antes de regressar, comprar vários artigos, tais como tapeçaria no Mercado Municipal, serviços de louça na Casa Gouveia e Manga de Ronco nos Cafés Portugal e Ronda. Desses artigos, que ainda por aqui andam hoje em casa, e dos quais anexo as seguintes fotos;


Máscara em madeira vermelha

Máscaras em madeira negra

Machadinhos em madeira e alumínio


Rolos de parede (Made in Japan)

Tapetes (creio que Senegaleses)

Tapete (creio que Senegalês também)

Serviço da café, com a foto da chinesinha no fundo das chávenas (Made em Japan)

Serviço de café (Made in Italy)


Artesanato diverso
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Nota do editor:

10 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Não esqueçam o DIMPLE, cuja garaffa tinha "três amolgadelas".

Ainda há pouco tempo vi garrafas à venda, mas com preços proibitivos.

José Marcelino Martins disse...

A Coca-cola tambem era uma novidade para os metropolitanos.
Em1970 ou 1971 "apareceu" uma embalagem "tipo refresco" dizendo ser Coca-Cola.
Varias experiências foram feitas, desde a água à gasosa, mas não se aproximava da original.
Só depois de 1974, veio para ficar.

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Magalhães

Estas tuas fotos, em complemento do artigo anterior, fizeram-me avivar a memória, bem assim como alguns dos comentários.

Realmente, dos pólos ou camisetas já não me lembrava, mas é verdade que também comprei pelo menos uma Fred Perry. Quanto aos relógios havia quem gostasse mais dos Ómega e dos Tissot (comprei um destes na casa Salgado e Tomé, dum tio do então Cap. Mário Tomé).
Das bebidas, o Zé Martins lembrou o Dimple de que depois vi fazerem-se muitos candeeiros com aplicação de 'abatjour' nas garrafas vazias.

Das estatuetas que mostras também tenho algumas em madeira preta. E trabalhos (roncos) com missangas. E pulseiras.

Quando regressei também lá vim com serviços de chá e de café do chamado "bago de arroz".

Uma outra coisa que carreguei e que já tinha trazido de Piche foram duas peles de cobra que foram destinadas a sapatos.

Abraço
Hélder S.

Luís Dias disse...

Caro Magalhães Ribeiro

Na verdade, na Guiné comprávamos muitos objectos que não tínhamos oportunidade de adquirir na metrópole, nomeadamente aos preços que lá se praticavam.
Tenho também estatuetas do tipo que apresentas na foto (trouxe montes delas, para distribuir pela família), machadinhas (símbolo da fertilidade - uma macho e outra fêmea), espadas e punhais fulas, anéis e alfinetes de peito ou para colar trabalhados em prata (Bafatá) e colares e pulseiras em missangas. Em matéria de bebidas tínhamos a Coca cola (Coke), que na metrópole não existia - só aquela que refere o José Marcelino Martins - e os Whisquies para todos os gostos e preços (Monks, President, Dimple, Logan, Martins, Balentines, Something Special, Antiquary, Old Parr, etc.). Como o Helder Valério também trouxe uma pele de jibóia,já curtida mas, mesmo assim, acabou por se estragar ao fim de alguns meses.
Saudosos tempos para esse tipo de compras.
Luís Dias

Anónimo disse...

Amigo Magalhães Ribeiro

Embora em 1963/64/65 não houvesse muitas ofertas dos produtos que mencionou, afora os whiskies, as máquinas fotográficas, binóculos, máquinas de filmar, em especial vendidas(se não me engano, na Casa Tauffik Saad perto da Amura).
Tenho um serviço de café irmão gémeo do que nos mostra em suas excelentes fotos, duas máscaras e dois bustos em madeira negra, e aquelas peças de artesanato que adquiri em Bedanda feitos dom o material dos involucros das balas, por sinal alguns muito mal executados, mas tinha dois muito bonitos que ofereci a amigos, quando cheguei á metrópole.
Há que não esquecer aqueles produtos que vinham da Africa do Sul, belos chocolates, leite creme e enlatados diversos, muito superiores aos nossos... á época.
Muito obrigado por ter-me feito recordar...
Rui Santos

antonio graça de abreu disse...

A "chinesinha" no fundo das chávenas de café japonês é tudo menos chinesa, mas sim uma gueisha, mulher servil e bem disposta, capaz de conceder todos os prazeres aos malfadados homens.
Esta mistura entre japonesas e chinesas acontece um pouco como do lado de lá, no Extremo Oriente, onde ainda fazem confusão entre portuguesas, espanholas, italianas.
Valha-nos a depuração da espécie, mulheres lindas, do Oriente/Ocidente, no fundo da chávena, na palma da mão, no leito perfumado e fresco!

Abraço,

António Graça da Abreu

Cesar Dias disse...

Camaradas, sugiro que na próxima concentração seja feita uma mostra dessa arte valorizada com mais de quarenta anos.

Um abraço

Anónimo disse...

Efectivamente, compravam estas peças para trazerem ~como recordação. Umas ofereciam aos pais e aos irmãos, outras, não eram capazes de oferecer, porque lhes diziam imenso. Tenho várias peças que o meu marido trouxe, expostas na minha casa. Sem saber porquê, continua guardada uma garrafa de wisky"na etiqueta diz de luxe", que nunca percebi porque nunca foi aberta, mas assim ficará.
Abraços
Filomena

Hélder Valério disse...

Pois é, Filomena, quase sem querer, quase todos acabámos por colocar nesta ou naquela garrafa de uísque a memória da nossa juventude.
De alguma forma a garrafa, intacta, poderia representar a nossa vida sobrevivida para a apreciar e daí não querermos quebrar esse elo.

Esse 'de luxe' pode ser de uma 'President'.

Também ainda tenho duas intactas desse tempo. Disse que era para cada filho. Vamos ver se a beberão à memória do 'velho' ou se as guardarão para perpetuar essa memória. A escolha será deles e qualquer decisão será sempre boa.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Amigo Helder,
Tem toda a razão quando diz que não sabe o que os filhos vão fazer com a respectiva "relíquia", eu também não sei o que as minhas filhas iram fazer com o mesmo "tesouro". Uma coisa sei, era uma recordação da Guiné que o meu marido tinha. Oportunidades, não faltaram ao meu marido para a abrir. Dois casamentos, nascimento de três filhas, baptizados de duas,primeiras comunhões de duas filhas, comunhão solene e confirmação da mais velha, mas nunca a abriu, por mim, fica como está e as minhas filhas que façam dela o que muito bem entenderem após a minha última viagem, até lá, continuará a fazer parte do "Património" da Guiné
Abraçoa
Filomena