sexta-feira, 15 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8559: Agenda Cultural (143): Cartas de Amor e Saudade, por Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais até ao dia 28 de Agosto de 2011 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2011:

Queridos amigos,
Recomendo vivamente um passeio ao Centro Cultural de Cascais, pode muito bem acontecer que encontremos nesta instalação de Manuel Botelho as cartas de amor, as recordações no nosso abandono, os nossos apelos afectivos, a nostalgia daquela expectativa que era a chegada do nosso correio.
Creio que Manuel Botelho venceu esta prova ao prodigalizar o amor posto à prova pela distância, dá-nos um retrato da vida incerta e da fragilidade dos vínculos. Aquele Nando que não escreve e que consome no coração da Lenita terá sido um pouco de todos nós, naquele tempo.

Um abraço do
Mário


Cartas de amor e saudade

Beja Santos

Um conceituado artista plástico, porventura aquele que mais tem trabalhado sobre a guerra colonial, com um olhar inovador e o recurso a diferentes estéticas no recurso da fotografia, do vídeo e da instalação, vem agora propor-nos uma viagem ao valor sentimental das cartas de amor trocadas entre o Nando e a Lenita, algo que se passou nos anos 60/70, é uma partilha de sentimentos, de relações de família, um poderoso testemunho de usos e costumes que permitem questionar o peso das cartas de amor entre alguém que ficou à espera de um namorado a viver num lugar chamado Bachile, algures na Guiné. “Cartas de Amor e Saudade” é o mais recente trabalho de Manuel Botelho, pode ser visitado no Centro Cultural de Cascais até 28 de Agosto.

Trata-se de uma instalação sui generis, o visitante entra num amplo espaço decorado com panos de tenda, simbolicamente uma antecâmara onde é possível encenar essas cenas de amor de dois seres humanos em dois continentes. Numa parede estão penduradas três impressões fotográficas, alguém escreve fardado para alguém que é um perfeito estereótipo das jovens dos anos 60, segue-se um maço de correio atado por cordel e depois a bandeira portuguesa enrolada. Num palco há dois projectores prontos a iluminar a protagonização da Lenita e do Nando, ela sentada, ele de bota em cima de um cunhete de munições.

Em termos de representação, é possível que ambos dissertem para as paredes, no afã de derrubar a distância. Nando escreve: “Amorzinho da minha vida, então como estás? Olha querida, o teu amor cá continua ao cimo da água neste barco monstro que corta as ondas sem piedade e cada vez nos separa mais. Queridinha, posso dizer-te que neste momento estou triste, e digo-te mais, até estou com os olhos rasos de lágrimas com tantas saudades que tenho de todos vós, do meu pai, da minha querida mãe, e tuas, pombinha querida, as três pessoas que mais adoro neste mundo, tirando Deus”. Lenita responde: “Sem ti, meu amor, tudo parece vazio e sem significado. Os únicos momentos menos tristes que tenho são aqueles em que te escrevo e em que recebo cartas tuas, nos outros passo a vida a representar uma boa disposição que não sinto”. Nando retoma o discurso: “Aqui não tem havido ataques, mas tal como em Bissau ouvem-se tiros e rebentamentos e há sempre muita tropa a entrar e a sair. Olha, sabes meu amorzinho, estamos a contar a ir em breve para uma terra que fica próximo daqui chamada Bachile”. Lenita escreve atemorizada: “Hoje de manhã contaram-me que em Teixeira Pinto tinham morrido dois majores, um capitão e um alferes e que também tinha ficado ferido um rádio telegrafista… Ainda não recebi qualquer notícia tua e estou o que se pode dizer desesperada”. Nando tranquiliza-a: “Gostava de saber quem foi o parvalhão que te deu essa notícia. Na realidade morreram três majores e um alferes, mas nem sequer foi nesta zona. Portanto, nada de susto, ok meu amor?". Lenita não esconde as suas preocupações, quer saber por que é que o Nando foi para o Bachile, quer pormenores sobre a comida, a água, o quartel, a falta de notícia corta-lhe o coração, terminando por dizer que é a noiva mais apaixonada do mundo. Nano volta à carga, fala-lhe no calor sufocante, na guerra que se ouve à distância. Deve ter mandado fotografias do Bachile à Lenita que faz comentários muito críticos. Revela ter ciúmes, não ande o Nando enfeitiçado por alguma preta ou mulata, di-lo abertamente: “De verdade que nunca beijaste nenhuma mulher daí, nem mesmo uma cabo-verdiana? Tenho medo, muito medo que me esqueças. Nos últimos tempos este pensamento assalta-me o espírito constantemente".

Nando e Lenita tratam-se ternamente, usam palavras como bichaninho, meu adorado noivo, tenho a tua fotografia bem junto de mim, sentem-se tristes e ao mesmo tempo felizes. Os meses passam, inevitavelmente os termos e a substância da escrita acusam o desgaste da distância, ela chega a falar nos antigos namoros do Nando, no Bachile ele tranquiliza-a. Ficamos a saber que a Lenita tem um trabalho muito rotineiro: “Tenho andado a tratar das facturas mensais dos clientes de Lisboa que são 490. É um serviço monótono e sem interesse nenhum, que me dá imenso sono". O Nando também não esconde a monotonia dos seus dias, fala nas chuvas torrenciais, desvela que há operações, há sofrimento, um alferes pisou uma mina, etc. Lenita queixa-se da falta de notícias, ele já não escreve duas folhas cheias ou até mesmo mais. Nando vai passar férias à metrópole, no regresso reinstala-se a melancolia da separação, falam ambos em saudades, em desespero, insistem obcessivamente no seu compromisso de noivado, ele imprime mais meiguice ao discurso: “Tu és a luz que alumia o meu coração, sem o teu carinho não consigo resistir”. Mas Nando é ciumento, pede para não ir a festas, pede para ter juízo, também ele anda cheio de ciúmes. Os meses passam, é uma toada de solidão, ambos dizem que andam com lágrimas nos olhos, ela reza, ele promete fazê-la muito feliz, quando a guerra acabar. Nando volta de férias, a entoação dramática entra no crescendo, ficamos a saber que ela está triste e vazia e ele procura ser carinhoso: “Morro de saudades meu grande amor, minha coisinha mais querida do mundo. E a propósito, como vai a coisinha querida? Tenho tantas saudades dela. Ai quando nos casarmos canichita querida”. Lenita começa a tomar Valium 5, Nando confessa que está a atravessar uma crise de saturação. E chega o silêncio, que vai enformar a instalação de Manuel Botelho. Lenita passou a ter um discurso dilacerante, pede ao Nando para escrever, torna-se patética: “Estou saturada da incerteza em que tenho vivido… nem quero pensar que continues a não escrever apesar de todos os rogos que te fiz. A mágoa que sinto é tão grande que me põe fora de mim. Desde que te foste embora passaste por várias fases. Ao princípio procedias como realmente procedem as pessoas que se amam de verdade. Depois, ao regressares à Guiné, tornaste-te mais ciumento, o que também era sinónimo de amor”. É um discurso desinsofrido, acusa-o de ter um coração frio como uma pedra, ela grita-lhe que não aguenta tanta incerteza, chega-lhe a suplicar para que o Nando lhe mande um telegrama a dizer que está bem. E chegamos ao ponto culminante, compete ao artista lançar a semente da dúvida: “Não imaginas como anseio o teu regresso. Tenho tanta gente à minha volta e no entanto sinto-me tão só!. Meu Deus, se vejo o dia em que desembarcarás no cais e correrás para mim, suspirarei de alívio e até crescerei um palmo por me ver liberta deste grande sofrimento”. Como manda a lei das cartas de amor e saudade, o autor não nos deixa vislumbrar o desfecho de tanto suspiro e de tanta espera.

Na apresentação deste texto pungente, o crítico João Pinharanda lembra-nos o Álvaro de Campos que fala de todas as cartas de amor são ridículas e que não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Isto como chamada de tensão de que o ridículo só é provável quando lamentamos o passado, bem ou mal vivido. O crítico terá razão quando observa que estas cartas podem ser perspectivadas como um retrato ideológico do Portugal de então e que agora, transformadas em obras de arte, questionam-nos numa dimensão que ultrapassa a metáfora: o que sentimos perante a possibilidade da nossa morte ou da morte do ser que amamos? Aqueles amores entre o Bachile e Lisboa (?) aparecem recortados, excessivamente encenados nas suas pequenas alegrias, espantos, aspereza de modos, súplicas persistentes, o puro terror das perdas. É por isso que apropriadamente são cartas de amor e saudade em tempos de guerra. É por isso que vale a pena recordar o que foi a juventude que viveu aqueles tempos de guerra.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8556: Em busca de... (170): Guiões das Unidades mobilizadas para a Guerra Colonial (Manuel Botelho / Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8519: Agenda Cultural (142): Apresentação do livro “CATARSE” do Capelão Militar Abel Gonçalves

23 comentários:

Luís Graça disse...

Ainda não fui, mas espero poder ir, até ao dia 28 de Agosto, ver esta exposição. Parabéns ao Manuel Botelho (que ainda não conheço pessoalmente), por dar "expressão plástica" às nossas memórias... Temos aqui falado muito dos poetas e ficcionistas, mas não dos artistas plásticos que, como ele, têm trabalhado esta imensa e rica matéria que são as memórias da guerra colonial, sem as quais não haverá história... Um abraço também ao Mário. LG

Torcato Mendonca disse...

Estou á espera de??!! e fui lendo e teclo. O Pessoa ou o outro Fernando tem razão Mário. As cartas de amor são ridículas.Se o não fossem porque teriam tanta beleza?
Quem as não escreveu, quem não sentiu que mentia, que estava a ser ridículo, que, sem aquilo, sem aquelas letras, aquelas palavras ditas, melhor, não ditas mas escritas estava a ir algo, talvez tudo do que de humano lhe restava.
Li, sou leitor e fã (diz-se assim?)do Antº Lobo Antunes li as cartas e aerogramas que ele escreveu á mulher. Não comprei, por pudor. Pensei conter um pouco de "voyeirismo" meu, apesar de terem sido publicadas pelas filhas. Ofereceram-me. Fiquei a conhecer melhor o homem. Tenho ali, a serem desgastadas as letras do "Quarto Livro de Crónicas". Uma delas tem a tal definição de Amigo e Camarada militar. Ah mas desviei-me e tomar o rumo não vale a pena. O que valeu a pena foram as cartas de amor que recebi e escrevi. Nada tenho e se tivesse não as releria. São de gentes que em minha vida passaram.Um dia esfumaram-se...será?

Agora estou meio"esquisito"...um homem também sente isto...vidas...

AB T.

Luís Graça disse...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos [Fernando Pessoa]


Meu caro Torcato: Isto não se aplica a quem escreveu aerogramas de amor.

Torcato Mendonca disse...

Não meu Caro Luís nunca se escreve um aerograma de amor. Eram inestéticos, não brancos e, para se escrever uma carta de amor, teria que ser feito em papel diferente, Ridículas em restos de humanidade a esvair-se em amores a partirem...por isso o meu "Desassossego" e parei, abalei,virei o leme. O outro o AlA é que parece ter escrito bate estradas e ares.Não ridículos?
Ab T (é madrugada e aqui vim,Que vício)

Anónimo disse...

Meus Senhores

Será que Pessoa é que descobriu, que todas as cartas de amor são ridículas?
E...serão ridículas?
Ou terão de ser ridículas, para serem, cartas de amor?
Não sei se lhes chamaria ridículas, se ternurentas!
porque há expressões que a ternura transforma, porque o que sentimos, ultrapassa as expressões criadas para generalizar os sentimentos que
somos incapazes de descrever.

Perdoem a intromissão meus amigos.

Um abraço para os dois.

Felismina Costa

Carlos Vinhal disse...

Caros camaradas
Álvaro de Campos referia-se só a cartas de amor porque:
1 - não se escreviam Bilhetes Postais de amor
2 - Se naquele tempo houvesse guerra colonial e os bate estradas, tenho a certeza de que ele se referiria também a aerogramas de amor.
Já pensaram que muitos militares que escreveram aerogramas de amor nunca teriam escrito uma carta de amor porque nunca estariam longe da sua amada?
Com respeito ao facto de as cartas de amor serem ridículas, perfeitamente de acordo, são-no porque a paixão tolda a razão, e nesta situação é tão bom ser ridículo.
Abraço
Carlos
Carlos

Anónimo disse...

Muito bem observado, meu amigo Carlos Vinhal!

O meu abraço vai agora para os três.


Felismina

Joaquim Mexia Alves disse...

Pois eu, meus camarigos, entendendo, ou tentando entender a intenção de Fernando Pessoa e as vossas digo, que as cartas de amor, os aerogramas de amor, os postais de amor, os, hoje em dia, sms de amor, quando sinceros e revelando sentimentos verdadeiros nunca poderão ser apelidados de "ridiculos".

Porque ridiculo significa:

Digno de riso zombeteiro; merecedor de escárnio.

2. Insignificante; que tem pouco valor.

s. m.



3. O que é ridículo.

4. Pessoa ridícula.

5. Zombaria, escárnio.

Ora o amor, dado a conhecer ao outro/outra, nunca é ridiculo, mas sim simples, puro, inocente, e por vezes até infantil, na sua forma de se expressar.

É que todas essas mensagens de amor, revistam-se da forma que revestirem, são para ser lidas pela amada, ou pelo amado, e não por aqueles que não vivem aquele amor.

Nunca uma amada ou um amado, acha ridicula a declaração, ou a mensagem de amor daquele que ama, porque se achar, é porque não ama.

Ridiculos são aqueles que as lêem e não conseguem descobrir nelas a beleza de um sentimento puro, transmitido mais pelo coração, do que pela razão.

Como podem eles perceber a beleza da mensagem se eles não amam aquele ou aquela que a escreveu.

Como ridiculos serão aqueles adultos que tentam falar com os bébes numa linguagem gutural.
Claro que não são ridiculos, mas apenas expressam uma ternura que vem do melhor do homem.

Repito o que disse ao inicio:
tento perceber a imagem poética das cartas de amor serem ridiculas, mas nem Fernando Pessoa, me leva a concordar que as cartas de amor são ridiculas.

Se o são também o amor é ridiculo, e sem amor, meus camarigos, então é que seriamos todos ridiculos.

Perdoem-me, mas divaguei!!!

Um grande abraço para todos

Anónimo disse...

Caro Mexia Alves

Também tenho que estar de acordo consigo.
Claro que estou de acordo consigo!
porque também não acho ridículas as cartas de amor.
Ridículo, é achar ridículo, o que o coração expressa ternamente.

O meu abraço é cada vez maior.

Felismina Costa

Carlos Vinhal disse...

Caro camarada e amigo Mexia Alves
O significado deste "ridículo" que refere o Álvaro Campos não existe no dicionário. Tu que és um homem de convicções, paixões, emoções, etc. sabes que o dicionário não define tudo, nem vale a pena procurar lá. O amor e a paixão provoca aquele "ridículo" que não se define, porque é quase íntimo, de coração para coração. Lindo não achais?
Grande abraço
Carlos

Joaquim Mexia Alves disse...

Caríssima Felismina, obrigado!

Meu caríssimo Carlos, amigo do coração.

Começei o meu comentário por dizer que tentava e até talvez percebesse o termo ridiculo usado por Fernando Pessoa e por vós.

Compreendo-o, mas não o aceito, nem mesmo ao Fernando Pessoa.

Há outras palavras que podiam exprimir esse espanto, essa inocência, esse quase "sem graça", ou mesmo quase "envergonhado", que exprime o seu amor, libertando-se afinal de toda a vergonha humana, para se sentir pequeno e grande perante o amor que lhe sai do peito.

Por ser homem de paixões, de convicções, de emoções, de sentimentos, é que me deixei "espraiar" por tão lindo tema.

Compreendo-vos, compreendo-te, mas para mim a palavra, não reflecte nem de perto nem de longe, o que é uma carta ou mensagem de amor verdadeira.

Nem reflecte sequer, para mim, o rubor facial daquele/a que se declara ou afirma o seu amor, só ou á frente dos outros.

O dicionário serviu apenas para concretizar o que queria dizer, e claro que não preenche tudo o que se quer dizer.

Mas este «porque é quase íntimo, de coração para coração.» como dizes não pode estar ligado ao ridiculo, pelo menos para mim, dê-se à palavra o significado poético que se quiser.

Bonita é esta conversa, á volta do amor!!!!

Obrigado por ela!

Um abraço do coração

Torcato Mendonca disse...

Vocês são uns românticos.
Havia lá gente, sem certeza absoluta, que escrevia diariamente á mulher ou namorada. O que diziam? Não sei. No meio do nada, certamente não iam falar do nada ou da guerra. Era gente fiel, gente que se foi para lá virgem...virgem voltou...
Bem, eu ontem estava á espera de sair e fui teclando. Como hoje estou á espera da Tourada. O LG estava ,no comentário virado para o artista plástico. Eu lembrei-me das cartas que escrevi, das que recebi e falei ou recordei alguém. Fiz e faço stop.não me flagelo. Recordei o escritor Lobo Antunes e as cartas dele. São documentos importantes (não só os dele) pois mostram o sentir, apesar da desumanidade que em muitos grassava e naqueles momentos talvez voltassem a ser um pouco eles. Seria? Creio que sim.
Como se falou de Pessoa e de um heterónimo, eu falei , estava ou fiquei inquieto, no livro que me marcou um pouco -o Livro do Desassossego.

As cartas, aerogramas e outras maneiras de guardar memórias são documentos,repito, importantes, íntimos é certo e, por isso mesmo difíceis de abordar. Nada tenho. Se tivesse não iria ler. são outras vidas e outros autores. Outros porque eu (e...) hoje o que terei a ver com o (as) de outrora?Nada ou muito pouco, eu. Do resto não falo claro.
Mas gostei do vosso romantismo, do vosso sentir. Continuem. Há um escrito ou dois meus por aí demasiados intimistas, demasiado.

Agora vou á Tourada.

Para vós todos, incluindo a Felismina, o meu abraço fraterno. Amem sempre e não se preocupem de ser ou parecer ridículos.

Ab T.

Anónimo disse...

Meus Amigos

Ainda ressuscitamos o Álvaro de Campos. Acho que já não se deve estar a sentir lá muito bem.
Já deve estar com dúvidas sobre as suas afirmações, mas pode ficar descansado, que cada um de nós, temos ideias próprias sobre o assunto.

Mais um abraço Carlos

Felismina

Anónimo disse...

Torcato

O seu comentário caía enquanto eu escrevia o meu, não o ignorei.

É bom falar com os meus amigos, sobre um tema tão do domínio humano, mas tão pouco abordado no sentido lacto do mesmo.

Peço desculpa pela minha intromissão e agradeço a vossa hombridade.

Aquele abraço amigo e despretensioso para todos da

Felismina

Anónimo disse...

Caro Torcato,
Essa de meteres tourada no meio de cartas de amor é pouco, como dizer... romântico!
Um abraço amigo do
Carlos Cordeiro

Carlos Vinhal disse...

Quanto "amor" não acaba em touradas.
Vamos ao sério.
Dizem que o amor é igual em todas as épocas, mas não o será por todas as condicionantes do desenvolvimento que permitem contacto diário mais íntimo, com os meios mais expiditos de comunicação, sei lá que mais.
Nós, velhotes românticos, falamos do amor do nosso tempo, como Álvaro de Campos falava do amor do tempo dele.
Para transversar a discussão, digo que cada um (e uma) viveu o seu amor, mais ou menos ridículo, mais ou menos trágico, com grandes sobressaltos e incertezas, muitas das quais acabaram em divórcios.
Viva o amor, sem tourada de preferência. E nunca se esqueçam que todo ele, o amor, é eterno enquanto dura.
Bom domingo praticando o amor.
Carlos

Torcato Mendonca disse...

De facto meter Tourada no meio de cartas de amor é, no mínimo parvoíce.Que falta de gosto.

Mais ia e está a dar Tourada na TV. Como aqui não a vejo ao vivo...olha vai a da TV.

Mas quanto romanismo escorre por aquelas praças...quantas caras lindas de mulheres se cruzam com os nossos olhares? Na TV não...olha meu caro é o que temos,

E vivam as cartas de amor. Havia um cantor que cantava uma canção... cartas de amor; quem as não tem...era o Eborense Francisco José? o dos olhos castanhos...belos tempos com canções, Touradas e mulheres "guapissimas" ...???
AB T.

Anónimo disse...

Os aerogramas enviados por mim não eram de amor...bem até tinha um amor secreto,mas a amada não sabia..eram mais de ternura ou amor filial...mentia despudoradamente à minha mãe sobre o que se passava (ía todos os dias à praia e não havia guerra nenhuma)...sobre os bolos que me enviou que só serviriam para andar à pedrada se faltassem as munições..mas estavam óptimos...sobre os chouriços que me enviou que estragou todo um saco de correio,devido aos trambulhões da lata onde íam acondicionados em azeite o que provocou uma pequena fuga deste, os quais nem sequer provei,dei-os aos que foram prejudicados...não tiveram correio mas comeram bom chouriço...era melhor não enviar mais porque chegaram completamente estragados.
Também havia um 1.ºsargento que enviava dinheiro à mulher,dizendo no exterior da embalagem "contém óculos"pois toda agente sabia que em gadamael havia umas excelentes lojas de "óptica".
Penso que o tema "amor" é um pouco redutor...claro que é ridiculo para aqueles que o não viveram ou vivem.

C.Martins

Carlos Vinhal disse...

Caro C. Martins
Aqui nunca foi dito que o amor é (era) ridículo. Começou-se pelas cartas de amor que são (foram) ridículas, se não, não eram de amor, e acabamos por dizer que o amor é ridículo.
Caro camarada, vivo a minha relação (como agora se diz) há 43 anos anos, 39 dos quais oficializados pelo Registo Civil, com uma "jovem" que me "acompanha" desde os tempos da Inspecção Militar, passando pela guerra colonial até ao aproximar de uma velhice anunciada. Claro que o amor não é ridículo, nunca aqui foi dito isso.
Grande abraço
Carlos

Anónimo disse...

Amigos,

A noite passada fui assistir, com a minha mulher, a um pequeno arraial de festa de Espírito Santo. A atracão da noite era o Rancho Folclórico Eira vindo de Newark, N.J. Dei por bem empregue o meu tempo. Sem dúvida um excelente rancho.

Do seu reportório destaco o Vira dos Namorados.

Perante tantos voltas e vivas ao vira, aproveitei para dar um pequeno beliscão na nádega da minha mulher que, prontamente, protestou.

- Não sejas ridículo. Alguém pode ver-te toleirão, disse ela. Mas aproveitou, como tantas vezes o fez, para apoiar o seu corpo no meu e eu acho que isso é ridículo.

Deitei o meu braço por cima dos seus ombros. A sua mão veio pousar sobre a minha. Ficaram ali juntas, porventura relembrando as cartas que escreveram uma à outra. Nada mais ridículo.

Quando chegamos a casa e nos deitamos ainda deu tempo para falarmos um pouco dos nossos filhos, das nossas netas, do arraial, do rancho. Falar dessas coisas a altas horas da noite é certamente ridículo.

Despedimo-nos para o sono retemperador com um beijo ridículo. É muitas vezes assim, mas nem sempre. Quando acontece ser diferente, nem por isso deixa de ser ridículo.

Logo, durante a missa em honra do Divino Espírito Santo, vou agradecer, sempre o faço, o momento em que escrevi o meu primeiro aerograma à minha madrinha de guerra. Já lá vão quarenta anos. Pura e simplesmente ridículo!

Amor?!...Mas que coisa…

Para vocês ridiculamente, porque não, me assino

José Câmara

antonio graça de abreu disse...

Amar, amar o amor,"transformas-se o amador na cousa amada, por virtude de muito imaginar", escreveu Camões, amar a mulher distante ou próxima que nos ilumina os dias, por carta, num abraço ou num beijo, na exaltação de todos os sentidos, como pode ser ridículo?....
Ridículos são os que não amam, os que não sabem amar. Ridículos são
os que um dia amaram uma mulher, por engano. Ridículos são os homens que passaram a amar (?) um homem.
O Fernando Pessoa, amante, era mesmo ridículo nos seus amores pela Ofélia Monteiro. Amava o quê? Que vida afectiva e sexual teve o excepcional poeta Fernando Pessoa?
Quase nenhuma. Pessoa m rreu semi-virgem, o que não o diminui como poeta. Pessoa era o que era.

Amar uma mulher, a deglutir com o palpar dos dedos ou os balanços do coração, mais a ternura nas palavras e nos corpos, beijar a mulher amada da cabeça aos pés, e ser beijado dos pés à cabeça. "Pelo orgasmo é que vamos", dizia o grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade".
O amor é a prosa, o sexo é a poesia. O amor, distantes, por carta, entre uma mulher e um homem, ou juntos, comendo-se, bebendo-se um ao outro, na cama, duas criaturas de Deus, inventados pela Natureza para se amaram.
Amar é uma das sublimes essências das nossas vidas.
Amar a mulher, companheira, amiga tolerante e mãe, raíz do nosso existir. Somos pessoas ou títeres?
Mas há quem não goste de mulheres.
Daí também um entendimento "ridículo" do relacionamento homem-mulher.


Entre Junho de 1972 e Abril de 1974, em Bissau, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, cheio de guerra à minha volta, escrevi 351 cartas e aerogramas a borbulhar em amor à mulher a que, pelo casamento, tinha unido recentemente a minha vida.
Ridículas as minhas 351 cartas e aerogramas endereçadas a uma mulher amada?
Felizmente tenho hoje todas as cartas comigo, nenhuma é ridícula.

Abraço,

António Graça de Abreu

Ps. Recomendo a leitura de uma das belas cartas de amor de toda a literatura portuguesa, um extraordinário aerograma que um apaixonado António Lobo Antunes enviou à sua esposa, do leste de Angola, em 1971. Está no livro organizado pelas filhas. Creio que já foi publicada no blogue, há uns anos atrás.

Torcato Mendonca disse...

Não, não José Câmara ou C.Martins e não só...

O que aqui foi dito é que as cartas de amor eram, poeticamente falando, ridículas. Na base estava a Arte Plástica de alguém, a critica de outrem,o poema de um heterónimo de Pessoa, o que acontecia a nós, jovens militares, em escritas de amores ao longe. Amores verdadeiros, menos ou nada verdadeiros que, aos poucos foram perdendo ou, felizmente para alguns, razão mais forte no seu existir. Eram Amores de namoradas, de mulheres esposas e jovens, de amigas sem obrigação definida, de madrinhas de guerra. Ainda o Amor filial, a Mãe, o Pai e, para quem tinha, os irmãos.
Complexa esta relação, este afecto em ,alguns,homens que da normalidade do seu viver antigo e normal, da sua humanidade se foram aos poucos apartando ou esquecendo. Outros nunca falaram do que lá passavam, do viver meio toupeira, do cheiro do sangue e pólvora, da dor, do choque sentido quando a presa cai, do camarada apanhado sem vida.Não.Era bem guardado.

Aqui falou-se do Amor, das Cartas de Amor em hino ao Amor e á falta que ele nos fez e,ainda hoje faz.
É a normalidade hoje.É, nem por isso damos e desses tempos de outrora já quase esquecemos...
Viva o Amor, haja Amor e que me interessa ou não se é ridículo se dura há décadas e deu frutos que geraram já outro fruto em amor...
Se assim não fosse porque se teria escrito tanto.Viva o Amor. BiBa!
Ab T

Torcato Mendonca disse...

Vim ver se tinha o comentário seguido.
Foi. Por cima estava o do Antº Graça de Abreu.Gostei e sou pelo amor livre...aí não, não entendo.
Parece-me que é necessário fazer uma "Série" (diz-se assim?) sobre esta temática do amor e do sexo nas N T.
É melhor não.

Assunto delicado, assunto em dois anos, mais mês menos m~es, adiado...
ou ás escondidas praticado com mulher aqui ou acolá e tantos problemas criaram...
Nada mais digo
Acrescento só que haviam autenticas esculturas de ébano, lindas e eu só vintes anitos...e o calor...