quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8462: O fim da picada: o reconhecimento do DFA (1): Os anos cansam e a burocracia enfada (Hugo Gerra, Cor DFA Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra [, aqui na foto à esquerda, quando jovem alferes, no da Guiné[], com data de ontem:


Data: 22 de Junho de 2011 17:58

Assunto: O Fim da Picada...armadilhada

Caros camaradas e amigos

Quando há umas semanas foi publicado no blogue um artigo sobre a realidade actual dos processos para considerar os ex-combatentes como DFA [Deficientes das Forças Armadas], salvo erro da lavra do Pereira da Costa (peço desculpa se não foi), fiquei de orelhas arrebitadas e com vontade de escrever qualquer coisa sobre o assunto.

Meio a brincar meio a sério, porque o assunto é melindroso, gostava de deixar agora o meu testemunho, que reflete um exemplo de muitos casos que conheci.

Sem tecer comentários.

Cronologicamente relatando "o fado" de um militar:

1969 ago 28 - Evacuação do HM Bissau para o HMP em Lisboa, pela Psiquiatria;

1969 nov 27- Presente à Junta Hospitalar Millitar; não é atribuida qualquer desvalorização;


1970 mai 08- Doença considerada adquirida em serviço de campanha;


1977 fev 22 –Requerimento do interessado a solicitar atribuição de desvalorização;

1980 abr 29-Indeferimento do requerimento,por já ter outra desvalorização;

2004 mai 05 – Clínica de Psiquiatria decide iniciar processo por Stress Pós Traumático (PTSD);

2005 jan 14 – Convocado para prestar declarações em Processo Sumário, tendo sido ignorado o que fora levantado em 1969;

2005 fev 10 – Ouvido em declarações, apresentando de novo as mesmas testemunhas já ouvidas em 1969

2010 mar 01- Processo segue da Secção de Justiça para Direção de Saúde;

2010 jun 10 – Autorizada a JHI no HMPrincipal;

2011 abr 11 – Recebe Guia de Marcha para Consulta;

2011 mai 18 – Consulta para atribuição de desvalorização, da doença porque fora evacuado da Guiné em 1969;

2011 jun 21 – Presente à JHI com atribuição de 30% de desvalorização, a somar aos 67% que tinha por ferimentos em combate;

O que se vai seguir não sei e, para ser franco já nem me interessa. Os anos cansam e a burocracia enfada.

Por mim,  missão cumprida. O Estado Português que fique com a indemnização que considero devida desde 1969.

Preocupam-me os nossos camaradas que padecem no corpo ou na mente as mazelas da guerra; será que têm pedalada para aguentar, ou dito de outra forma, será que merecem este tratamento?

Realcei as datas mais "interessantes" pelos anos decorridos entre cada evento.

Fiquem com um abraço grande do
Hugo guerra

6 comentários:

Pedro Neves disse...

Depois de termos conhecimento de mais este caso, é caso para relembrar que, "mal vai a Pátria, que assim trata os seus Filhos".
E não digo mais...

Anónimo disse...

Como não sei que comentário fazer, ou melhor, não querer escrever tudo que me apetece, fico-me por SEM PALAVRAS.

Depois lembro-me de um programa recentemente passado na RTP1 com o nome "Linha da Frente", lembro-me ainda de tantas outras coisas que não escrevo...

Um abraço,
BSardinha

Juvenal Amado disse...

Frase do dia (29/2011): Foi o Exército quem infernalizou a nossa vida (Clementina Rebanda)
Senhor Luis Graça: O meu marido não me infernalizou a vida. Quando conheci meu marido em Nova Lisboa, Angola, Armando Sérgio Rebanda, era uma pessoa educada e de respeito.Por isso, foi aceite na minha família. Se não tivesse sofrido um acidente no teatro de guerra, em Tite, Guiné, 1967, não tinha sofrido traumatismo craniano e hoje seríamos um casal feliz . Quem infernalizou a nossa vida foi o Exército Português que abandonou os Deficientes Militares, na saúde e na doença. (De notar este caso sete anos antes do 25 de Abril)

Limitei-me a colar este desabafo e acrescento que nós devemos ter vergonha de como as instituições tratam o povo Português veteranos ou não.
O Hugo desistiu outros ainda tentam e muitos morreram.
Mais uns anos e está resolvido o problema dos veteranos os outros sabe-se lá!!!!!!!!

Um abraço ao Hugo

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro camarigo Hugo Guerra e meus camarigos

Este é um exemplo, infelizmente entre "mil", de como o nosso país trata os seus filhos que lhe deram a vida.

Mas continuamos muito "contentes" com manifestações culturais e outras!!!

Já escrevi sobre estes assuntos!

Posso não fazer muito, mas não me hei-de calar.

Um abraço

Já agora caríssimos editores olhem que o Hugo é Guerra e não Gerra. Também a mim me acontece muitas vezes o teclado comer as letras. Um abraço

Anónimo disse...

Os nossos governantes estão há espera
que os Ex-Combatentes morram e já não vai faltar muitos tempo, nós somos um fardo muito pesado para eles, então vão gastar dinheiro connosco e depois como vai ser para eles e os seus boyes. Amigos e Camaradas ou nos reunimos todos numa Associação para que o Estado ainda olhe por nós, ainda somos muitos, ou então, jogamos a toalha ao chão e vamos para o nosso cantinho continuar escrevendo estes comentários.

Amilcar Ventura

Zé teixeira disse...

Amigo Hugo Guerra que em Mampatá ouviste um "festival turra" em Gandembel e nós gozamos contigo dizendo. É isto que te espera! lembras-te ?
Pois bem amigo, não foi lá naquele inferno, que tu, apesar do que por lá sofreste, ficaste marcado fisicamente, mas não tenho dúvidas que psiquicamente te marcou profundamente.
A resposta que os "patrões" da "pátria" te deram ao longo da vida demonstra bem quanto valemos para eles - ZERO, mas... se não fossemos nós, não estariam ontem / hoje, no poleiro.
Por ti e por tantos outros lamento os politiqueiros "caça a massa" que temos, que não honram os filhos desta Pátria que lhe deram suor, sangue, lágrimas e a própria vida, com o devido respeito - repara que nem sequer falam em nós.
Abraço fraterno do
zé teixeira