quarta-feira, 22 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8459: (Ex)citações (142): Em defesa do Hospital Militar Principal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70)

  1.  Comentário, de hoje,  do Armando Pires ao Poste P8455 (*) [ O nosso camarada Armando Pires foi Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70]


Conheci o Hospital Militar Principal, à Estrela, e o Anexo, na Rua de Artilharia Um, a Campolide, em dois momentos diferentes da minha carreira militar: primeiro como internado (Março a Maio de 67) e a seguir como enfermeiro (Junho/67 a Outubro/68).

 Em Outubro iniciei a formação do Batalhão  [BCAÇ 2861] e em Fevereiro parti para a Guiné. 

Vamos ao Hospital. 

(i) A Estrela [HMP], após o início da guerra, foi equipada  com o que de melhor havia e nela trabalhava obrigatoriamente a nata da classe médica portuguesa. 

(ii) O Anexo de Campolide funcionava como centro de recuperação para os mutilados, para os necessitados de apoio psiquiátrico e psicológico, também como linha de apoio a várias especialidades médicas da chamada "medicina geral", e ainda como "depósito de feridos ou doentes de guerra" em regime ambulatório PORQUE ERA PRECISO CRIAR VAGAS PARA OS CASOS MAIS GRAVES NO HOSPITAL PRINCIPAL. 

Sim, têm razão quase todos os comentários que aqui foram produzidos sobre o Anexo. Decrépito, sem dignididade hospitalar, refeitório de miserável qualidade alimentar e roupas militares próximo da indigência humana. 

Mas, atenção, o chamado serviço 6, no topo norte do Anexo, onde eram recebidos para convalescênça os mutilados, era um lugar à parte. DIGNO. E já agora o pessoal. Por favor, não confundir os militares que ali eram colocados em serviço de linha com o pessoal médico e enfermeiros.

Sim, de acordo, o Director era uma besta! 

E já agora, nada de exageros. Ali não eram despejados cadávares e feridos. Os mortos tinham uma capela enorme para os manter em ambiente de dignidade antes dos funerais. Os feridos iam sempre, em primeiro lugar, ao Hospital Principal. 

Muito, mas muito, haveria para dizer. Mas este é apenas o espaço de comentário e pareceu-me haver aqui algum exagero e alguma injustiça. Só isso. As minhas desculpas e o meu abraço camarada.

Armando Pires (**)
______________


Notas do editor:


(*) Vd.poste de 21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu gostava de fazer um comentário, Camarada Armando Pires por muito que digas, não há defesa a favor do Anexo por muito que se diga aquilo era do pior, eles estavam em completo abandono que tinha conhecimentos safava-se quem não tinha, se não morre-se da doença morria da cura, estive lá várias vezes a visitar o meu Irmão, e eu ouvia-os falar dos médicos dos enfermeiros, era tudo muito mau, a comida era intragável a maioria comia fora. Fico-me por aqui, mas gostava de ver mais testemunhos de que lá esteve.

Amilcar Ventura

manuel amaro disse...

Pois... pois, não!

Só estou aqui para escrever estas linhas, em nome da verdade, da minha verdade e em solidariedade com o Armando Pires.

Trabalhei, por duas vezes, entre 1967 e 1969, no HMP, na Estrela e fui em serviço meia dúzia de vezes ao Anexo da Artilharia Um.
"Aquilo", o Anexo, tinha uma "montra" terrível.
Voltei lá depois do regresso da Guiné, para visitar o Queba Sanhá, ex-comando, que se deslocava em cadeira de rodas.

Havia lá pessoas más? Certamente.

Piores que o 1.º Sargento do Quartel da Graça, em Tavira? Ou que o Cabo "xico" que recebia os mobilizados na RI16, em Évora?
Não acredito.

Os "meus doentes", tanto de Dermatologia, como de Neurocirurgia, que fui encontrando "por aí", ao longo destes anos, não têm esta opinião do serviço que lhes foi prestado...

Ao ler o que aqui se escreve sobre o pessoal do HMP e Anexo, quase me apetecia gritar... "eu não estive lá, não tenho nada a ver com isso... e fugir, enquanto é tempo".

Mas não. Eu estive lá. E também senti os problemas inerentes ao funcionamento daquele hospital.
E hoje estou preocupado com estas generalizações.


Um Abraço

Manuel Amaro

armando pires disse...

Meu Caro Amilcar Ventura.
Em nenhum momento do que escrevi encontrarás qualquer "defesa a favor do Anexo". Lê de novo, e de preferência com calma. O que eu disse é que tinha notado alguns exageros no que sobre ele se escreveu, e até pedi desculpa por isso.
E dei exemplos do que achei exagerado. Lê de novo o meu texto e constatarás quais. Afirmas -"médicos e enfermeiros, era tudo muito mau"- é uma opinião respeitável mas que não corresponde à verdade. Escrevi que estive lá em duas situações distintas. Estive lá internado e depois, por razões que não são para aqui chamadas, estive lá a prestar serviço como enfermeiro.
Conheci os dois lados do "problema".
E olha que estive lá, no HMP e no Anexo, 16 meses.
Para descrevermos quanto a guerra foi injusta, quanto nos fez sofrer, como fomos maltratados, como foram indignas as condições que muitas vezes nos ofereceram, como nos abandonaram depois de nós se terem serviço, para tudo não é preciso, creio, exagerar os factos nem, neste caso dos médicos e enfermeiros,injustamente, criticar os que deram o seu melhor. A verdade está no que passámos. Não precisa de nenhuma virgula para ser contada.
Aceita um abraço de sincera e verdadeira camaradagem.
armando pires