sexta-feira, 20 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8305: Parabéns a você (262): José Manuel (...), ou Adilan, o meu menino da Guiné, fez 50 anos em Janeiro deste ano (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67, com data de 18 de Maio de 2011:

Meus excelsos e esforçados "camarigos" editores:
Tinha prometido noticiar uma possível festa de aniversário do Zé Manel* mas a promessa "varreu-se-me" e só agora, ao revisitar certos Posts deste blogue, me dei conta do facto.
Bom, aqui vai agora a crónica ilustrada. Vai atrasada mas julgo que ainda a tempo, tempo que se menoriza em relação à essência do ato, permito-me assim pensar.
Se a vossa opinião for pela não publicação, tudo bem, aceito-a pacificamente.

Um grande abraço do
Manuel Joaquim


ANIVERSÁRIO DE ADILAN

Meus caros “camarigos”:
José Manuel (...), ou Adilan, o meu menino da Guiné, fez 50 anos em Janeiro deste ano. Sua esposa e filha(o)s resolveram preparar-lhe (sem o seu conhecimento) uma festa de homenagem para comemorar a data. Para tal alugaram, por um dia, o salão do Grupo de Instrução Popular de Amoreira (Cascais).
Foi nesta simpática coletividade que se desenrolou uma bela manifestação de amor, carinho, amizade, companheirismo e consideração pelo aniversariante. A surpresa que lhe fizeram foi grande. Compareceram umas boas dezenas de amigo(a)s e familiares. Foi um dia lindo: apetitosa comida (a africana sobressaiu), música, dança, um sketch divertido e alusivo ao homenageado no palco do salão, canções com letra adaptada ao ato, etc.

Também eu, que não conhecia uma boa parte dos convivas, me senti muito envolvido naquela festa, tanto pelo alvo da mesma como pela estima e consideração de que fui alvo. Eu, o “culpado” primordial de todas estas vivências por ter trazido da Guiné este “menino”, já lá vão 44 anos! Olhem, senti-me bem, MUITO BEM!

Foto 1 - O nosso “Zé Manel” entre os padrinhos Deonilde e Manuel (minha esposa e eu).

Foto 2 - Com as suas duas manas de coração, minhas filhas.

Foto 3 - “Primos”, é assim que se tratam mutuamente: o filho e as filhas do aniversariante com a minha neta e os meus netos.

Foto 4 - O meu neto mais novo com o seu tio Zé Manel

Foto 5 – Reunidos em semi-círculo à volta do aniversariante, os convivas (vê-se uma terça parte) preparam-se para lhe entoar homenagens e cantar os “parabéns”.

A festa foi linda!

Olho, com ternura desmedida, para este menino de quatro anos, raptado no mato para ficar a conviver com gente estranha nos quartéis da Guiné (ele que nunca, antes, tinha visto um branco!).

Olho para este menino de seis anos subindo o Atlântico a caminho de uma aldeia de Portugal, onde se tornou no menino de uma camponesa, na casa dos 50 anos, que nunca antes teria visto um preto à sua volta. Camponesa madrinha que assumiu profundamente a sua proteção e educação, como se seu filho fosse.

Olho para este menino com dez anos, nos arredores de Lisboa, afrontando um ambiente urbano totalmente desconhecido, sem medos.

Olho para este rapaz de 17 anos a voar para a Guiné, sozinho, sem referências locais, sem família a recebê-lo, mas com o entusiasmo juvenil de quem sente que tem um mundo a construir e acredita que é capaz de fazer algo de útil, por si e pelo seu país natal.

Olho para este jovem de 25 anos, ainda acreditando nos “amanhãs que cantam”, a melhorar a sua formação académica em Berlim-Leste na mira de se tornar num quadro político e técnico capaz de ajudar a desenvolver a sua Guiné.

Olho para este homem aos trinta anos, um pouco desconsolado com o caminho que o seu país lhe parece percorrer, a vir visitar-me e a passar umas férias por cá para matar saudades dos seus tempos portugueses. Vem decidido a voltar mas as dúvidas sobre o caminho seguido na vida política guineense aumentam. Assim, decide só voltar quando for portador de identidade portuguesa. O BI de cidadão português demorou dois anos a ser-lhe entregue, a vida política e económica na Guiné degradava-se a um ritmo veloz, a caminho do desastre (que pouco tempo demorou a verificar-se). Nestas condições, e na sua situação, concordo que só um “maluco” regressaria. E o meu menino da Guiné por cá ficou.

Olho para este meu “menino” e penso como teria sido diferente a sua vida se eu tivesse impedido o seu regresso à Guiné, aos 17 anos. Seria melhor? Teoricamente, sim. Mas o meu Zé Manel também seria outro, forçosamente. E eu gosto deste. Um cidadão de corpo inteiro, íntegro, trabalhador, solidário, pobre mas “limpo” e de “espinha” direita, um grande pai de família, um grande amigo. E é ainda mais uma coisa, também é uma figura sempre querida da CCaç 1419, a cujos convívios não falta. Como costumo dizer, ele não é meu filho, nem sequer adotivo, mas é irmão das minhas filhas e tio dos meus netos.

Esperamos, eu o Zé Manel, estar em Monte Real no próximo dia 4 de Junho. Foi com prazer, e de imediato, que aceitou o meu convite.

Um abraço
Manuel Joaquim
____________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7261: História de vida (32): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 1ª Parte (Manuel Joaquim)

12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8301: Parabéns a você (261): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519 (Tertúlia / Editores)

6 comentários:

Luís Graça disse...

Manuel Joaquim:

A gente olha para ti e para o teu "menino", e para a tua mãe, a tua mulher, as tuas "meninas", os teus netos... e conclui, com orgulho, que é uma grande família, e que são grandes seres humanos, e que são grandes portugueses...

Não é preciso ler um grande tratado, de mil páginas, sobre a educação, a família, o amor, a amizade, a paixão, a compaixão, a solidariedade, a humanidade, a portugalidade, o sentido da vida... Eu acabo de ler tudo isso numa página magistral, isto é escrita por um mestre... que não é apenas mestre de escola!!!

Manuel Joaquim, que orgulho em te ter entre nós, és um mestre da vida!...

Vamos conhecer, ao vivo, no dia 4, em Monte Real o teu "menino" e, claro, e convidá-lo a integrar formalmente a nossa Tabanca Grande!...

PS - Adilan, parabéns, que nunca são atrasados, por mais este aninho de vida!... Em meu nome e da toda nossa Tabanca Grande que, agora, depois de teres "dado a cara", podes integrar de pleno direito... se nos deres essa grande honra!

José Barros disse...

Amigo Manuel Joaquim

Como Gostava de pessoalmente dar um abraço ao teu menino de 50 anos.
Eu lembro-me dele menininho em Mansába.

Infelizmente, por razões várias, não vou poder estar em Monte Real.

Um grande abraço para vós ambos.

José Barros

Juvenal Amado disse...

Caro Manuel Joaquim

Ao ler as tuas palavras somos trespassados pelo o amor que delas transborda. Como te deves sentir bem e orgulhoso pela decisão que tomaste nada fácil de trazer contigo o «teu menino».
Olha muitas felicidades para ele e para ti que bem mereces.

Um abraço com admiração.

Anónimo disse...

Caro Manuel Joaquim

O seu Zé Manel, provoca...sorrisos felizes, sentidos.
Sorrio também, contagiada e igualmente feliz.

Preciso agradecer-lhe o seu altruísmo, que me provoca esta alegria.

Preciso dizer-lhe, que histórias destas...é necessário, conhecê-las, falar delas, sermos portadores de boas-novas.

Que BELA a foto de (uma terça parte, do grupo feliz!)

Obrigada Manuel Joaquim, por me permitir partilhar dessa felicidade, por ter fomentado tantos sorrisos felizes.

Os meus parabéns a toda a sua bonita família.

Aceite um abraço fraterno da

Felismina Costa


Felismina Costa

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Manuel Joaquim

Li, em tempos, interessadamente, a história do José/Adilan.
E, é claro, não fiquei indiferente a todo o seu desenvolvimemto.
Este seu aniversário, sendo mais um, foi aquele em que ele teve uma maior 'visibilidade' para além do seu círculo natural de amigos e familiares, já que contou com mais algumas dezenas dos camaradas que por aqui se revêm e que tomaram boa nota de todo o seu percurso.
Foi bom ele ter aceite o convite para ir a MMonte Real. Não corre o perigo de 'ficar na montra' pois seremos muitos e não haverá tempo suficiente para se dedicar a todos os amigos que por lá estiverem.
Ah, é verdade, e, acredita, pelo menos em termos de humanidade, os 'amanhãs ainda irão cantar', pode ser é outra música, outra letra...

Parabéns ao José/Adilan
Parabéns à família adoptiva.
Abraço
Hélder S.

Manuel Joaquim disse...

Para o Luís Graça e para o Hélder Valério:

Oh Luis Graça, ninguém te segura?! Deixas-me confuso com o teu comentário, fico todo "vaidoso" mas anda por lá algum exagero.
É verdade, estou contente com o que fiz, nada mais, apesar de não se ter cumprido a "promessa" feita em Mansabá, na última sessão de copos antes do regresso: "o Sarrico ainda vai ser presidente da república da Guiné"!
É óbvio que era uma provocação, ainda me lembro do gozo que me deu dizer tal frase naquela altura(!)mas ela não provocou mais que umas sonoras gargalhadas.
Um abraço


Oh Helder, é verdade, às vezes esqueço-me que usar certas expressões vira linguagem cifrada para muita gente ( não para ti, de certeza, neste caso).
Eu acredito nos amanhãs que cantam, (interpretação literal), aliás para mim este acreditar é uma condição de equilíbrio emocional.
"Os amanhãs que cantam", no contexto da história do Zé Manel, eram (ou são) outros e nesses amanhãs também já acreditei mas, hoje, vejo (ou sinto) que fanaram para não dizer que creio não poderem acontecer como resultado ...
... (eh pá, isto não é para aqui chamado, calo-me já!)
Um abraço