quinta-feira, 28 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8178: Controvérsias (120): Spínola, Amílcar Cabral, o Tarrafal, o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, os guineenses e os caboverdianos, nós e o blogue (Torcato Mendonça / Pepito)





Fotograma do documentário, produzido e realizado por Diana Andringa, em 2009, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta, que foi exibido pela primeira vez em televisão, ontem, na RTP1, às 23h00. Um dos ex-presos, caboverdiano, entrevistado (em 2009), comentando a notícia do assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1973. Qual o eventual papel dos tarrafalistas, guineenses, libertados no  tempo do Gen Spíonla, na organização e execução do assassinato de Amílcar Cabral ? O documentário de Diana Andringa, baseado em entrevistas com antigos presos do Tarrafal (1 português, e cerca de 30 guineenses, angolanos e caboverdianos),  não aborda  explicitamente esta melindrosa questão. (LG)





1. Texto organizado com base num comentário de Torcato Mendonça ao Poste P8165, originando por sua vez um comentário do seu autor, o nosso amigo Pepito:



(i) Torcato Mendonça [, foto
a esquerda, tirada no Fundão em 27 de Janeiro de 2007] 
, em comentário de 25 do corrente, ao poste P8165:



Caro Carlos Schwarz:


Actualmente tenho dificuldades de comunicação. Consegui ler o P8165. De facto, este Blogue do Luís Graça [& Camaradas da Guiné] tem contribuído muito para se falar e debater a "guerra da Guiné". Com um senão: quem aqui escreve, na quase totalidade, são ex-combatentes portugueses (incluo os guineenses que combateram com a farda de meu País). 


O PAIGC pouco ou nada diz. O Simpósio foi importante. Uma ilha a pender para um lado...?? Não cabe aqui debatê-lo nem a questão da  "guerra  perdida" e isso o Marechal Spínola sabia, disse-o e tentou inverter o curso normal da história das ditas potências coloniais.


O assassinato de A. Cabral deve ser procurado dentro do PAIGC,não ? Como o esclarecimento das divergências entre guineenses e caboverdianos.


A Op Mar Verde é um caso a estudar, como outros,  e daria excelente debates.


Boa Sorte para a AD. Abraço Torcato



2. Resposta, não publicada, do Pepito [, foto à direita],no mesmo dia:


Caro Torcato:


Concordo consigo quando diz que o assassinato de Amilcar Cabral deve ser procurado (acrescento eu, também) dentro do PAIGC. Estou à vontade para o dizer, pois defendi sempre que o golpe de 14 de Novembro [de 1980]  foi o golpe conseguido que falhou no assassinato de Cabral.


Talvez por minha ignorância militar, mas não conheço nenhuma vitória militar de Spínola. A única vitória, que não lhe nego, é política: ter apostado forte e conseguido maximizar o ponto mais forte e mais fraco do PAIGC, a unidade entre guineenses e caboverdianos. Foi aí, nessa luta,  que ele ganhou, que ele minou o PAIGC, infiltrou os seus agentes, dividiu,  organizou o assassinato de Amílcar Cabral.


Sou o primeiro a reconhecer que foram "militantes" do PAIGC que mataram Cabral, mas quem o mandou matar e organizou a sua entrada,  a partir do Tarrafal, isso poderia ter sido esclarecido se os dossiers da PIDE referentes ao Spínola não tivessem sido mandados retirar da António Maria Cardoso [, sede da polícia política até ao 25 de Abril]. 



Mais. Muito do que ainda hoje estamos a viver na Guiné-Bissau tem as suas raízes profundas no assassinato de Amilcar Cabral. O que me espanta é ouvir dizer que o Spínola nada tem a ver com o assassinato de Cabral, tanto assim é que "ele sempre o elogiou". Caro amigo, já ouvi a alguns dos implicados guineenses dizer o mesmo... Hoje em dia, até o Alpoím Calvão que bombardeou a casa de Cabral em Conakry na operação Mar Verde, nega que o tenha querido matar. Pois....



abraço

pepito




PS - Quanto à ilha a pender para um lado...que lhe respondam os militares e historiadores portugueses que estiveram no Simpósio [Interncaional de Guiledje].  


(iii) Novo comentário de Torcato Mendonça, de 27 do corrente:


Luís Graça


Faz chegar, por favor, a minha breve resposta, a possivel para quem está limitado com a Rede TMN. O computador é da Ana e noutro sistema. Em breve escreverei. Melhor em e-mail.


Spínola sabia que tinha que actuar assim. O assassinato de Cabral é assunto a ser tratado de outro modo. Nada me mete medo sobre tal ou outros assuntos. Assumo ter admirado o Marechal enquanto Com-Chefe na Guiné. Sabes isso. Da parte restante falaremos. Aquela guerra nunca seria ganha militarmente... Houve grandes combatentes de ambos os lados. Nem sempre utilizando os meios suaves... nem sei como se definia isso ou que importância terá para esta conversa entre nós.


Só dois pontos:

- Portugal vivia sob uma ditadura feroz. Os ultras e certos interesses económicos nunca suportariam uma negociação política. Marcelo era um Chefe de um Governo de fachada.

- Li e ouvi os vídeos do Simpósio. Conheço pela leitura e não só o trabalho da AD. Vai, logicamente além do que aqui tem aparecido no Blogue. É natural em quem se interessa por estes assuntos.

A "ilha estava inclinada" foi um modo de dizer como certos dirigentes actuavam...ou actuam.


Agradeço que encaminhes isto, caro Luís, para o Carlos Schwarz. Não  tenho endereços e o resto falha. Só o gosto por vocês, pelo blogue, pela Guiné e pelo o meu País me levam a tentar, quando posso e o sistema funciona, a escrever assim e a vir aqui,  religiosamente.
Abraço os dois. Através de um todos os camaradas do blogue; do outro o Povo daquela Terra vermelha e ardente que a mim ficou colada.


Abraço do Torcato (a verdade tem sempre muitas inverdades... a verdade pura é utopia).



2. Comentário do editor:  


Tanto o nosso amigo Pepito como o nosso camarigo Torcato autorizaram a publicação destes comentários feitos em registo off.


Mais concretamente o Pepito acaba de me mandar a seguinte mensagem:


Luis: Se considerares que tem interesse para os nossos bloguistas, publica.
abraço
pepito


PS - Gostei muito de conhecer os filhos do Zé Teixeira [que acaba de regressar da sua viagem à Guiné, onde foi recebido com grande alegria, reconhecimento,  gratidão, esperança e entusiasmo pelas gentes do Cantanhez] . Há uma nova geração (com os teus filhos) fora de série....

______________

Nota do editor:



Último poste da série > 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8128: Controvérsias (119): 10 de Junho: Ainda, o Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

8 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Este assunto continua envolto em bastante 'neblina'.
É claro que são várias as teorias que já foram avançadas e todas elas terão algum 'fundo de verdade' mas será simplista demais apreciar o ato em si, o momento, responsabilizar diretamente quem 'apertou o gatilho' sem descobrir quem 'apontou o alvo', quem (ou o quê) foi o verdadeiro 'mandante'.
E ainda há-de correr muita tinta e a 'neblina' não se dissipará totalmente.
Vai haver um momento (se é que ele não está já aí) em que isso se traduzirá numa questão de fé, quer dizer, cada um irá crer naquilo que quiser...

De qualquer modo queria aqui salientar a forma correcta como estes 'posts' e comentários abordam a questão.

Abraço
Hélder S.

Joaquim Mexia Alves disse...

Caros camarigos

Acho perfeitamente incrivel que se faça uma afirmaç~~ao destas:
«Foi aí, nessa luta, que ele ganhou, que ele minou o PAIGC, infiltrou os seus agentes, dividiu, organizou o assassinato de Amílcar Cabral.»

Entao nao ha documentos, nao uma prova, mas a afirmaçao faz-se sem deixar margem para duvidas.

Esta, perdoa-me Helder, nao e uma forma correcta de abordar a questao.

Um abraço camarigo para todos

A falta de acentos deve-se a qualquer coisa que o meu computador decidiu por "vontade propria"...

Joaquim Mexia Alves disse...

Esclareço:

A frase em questao nao e do Helder, mas sim do Carlos Schwarz.

Refiro-me ao Helder apenas por referir ser a esta uma forma correcta de abordar o assunto.

Um abraço

Hélder Valério disse...

Caros camaradas e amigos

O meu particular amigo Joaquim necessita e merece um esclarecimento que se pretende venha a ser 'esclarecedor', passe a redundância.

De facto, também eu 'torci o nariz' à leitura da frase que o Mexia refere, mas sobre isso até escrevi a propósito que na falta de cabais elementos que possam ser considerados provas inabaláveis acabaremos por ter sobre o assassinato de Amílcar Cabral uma atitude de 'fé', de 'crença', no que cada um quiser acreditar.

No entanto o amigo Mexia, embora pedindo-me perdão (que está concedido!), resolveu zurzir-me nas orelhas por ter escrito a frase "De qualquer modo queria aqui salientar a forma correcta como estes 'posts' e comentários abordam a questão.", associando uma coisa e outra.

Ora isso é injusto. A frase em questão está isolada, é um parágrafo autónomo e aparece ali como forma de prestar uma homenagem justa e merecida à forma elevada, civilizada, cordata, como os intervenientes visíveis (e estou a referir-me obviamente ao 'Pepito' e ao Torcato) esgrimem as suas opiniões, pontos de vista e argumentos, até por oposição a outras situações já ocorridas aqui no Blogue. Foi isso.

Foi apenas isso. Também é perfeitamente natural que um comentário escrito 'em cima do acontecimento', ao correr da escrita, normalmente sem ser relido, ao contrário de um texto ou artigo feito mais pausadamente, se possa prestar a mal entendidos mas, sinceramente, não acho que este seja o caso.

Portanto, amigo Joaquim, aceito humildemente mas não concordo com a crítica, esperando ter conseguido ser agora mais esclarecedor.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Camaradas,
Também me parece claro que a forma correcta se refere aos termos cordiais de ambos os interlocutores. Aliás, o Helder refere "a forma correcta como estes pots e comentários...", do que, tratando-se de raciocínios divergentes, enquanto tal não poderiam ser correctos em simultâneo e na apreciação da mesma matéria, pelo que a equiparação de "forma correcta" restringe-se à delicadeza de trato, salvo melhor opinião.
Abraços fraternos
JD

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros Helder e José Dinis

Julguei que nesta altura do campeonato já me conheciam minimamente.

Dizer que no meu comentário eu «resolveu zurzir-me nas orelhas» é algo que não me passou pela cabeça, e nem passa.

Chamei a atenção para o facto de se fazer um juizo no post sobre algo que não está documentado, nem pelos vistos há documentos sobre isso e se os há ninguém sabe o que dizem.

O Helder não se refere a essa frase e eu calculei na minha boa fé que lhe tinha passado desapercebida.

Ora portanto os posts pelo menos no que diz respeito á frase em qusetão não abordam de froma correcta o assunto.

O comentário do José Dinis vem contestar também como se eu tivesse proferido alguma injúria, ou ofensa.

Repito: julguei que já me conhecessem!

Aquilo que tenho que dizer, ou "zurzir nas orelhas" faço-o claramente, e não por meias palavras ou sentidos.

Apetecia-me dizer que não voltarei a fazer mais comentários, mas sou um homem de consensos e por isso, Helder se te ofendi, desculpa, a minha intenção não foi essa, nem pretendeu ser uma critica, antes pelo contrário, foi chamar a atenção para a frase que retira, quanto a mim a correcção ao texto.

Tive até o cuidado de em novo comentário vir explicar, talvez mal, o que queria dizer.

Um abraço para todos

Anónimo disse...

Meu Caro Joaquim,
No meu comentário não constatei qualquer ofensa ou injúria, pelo que não contestei alguma coisa.
O que fiz foi dar a minha interpretação sobre a frase que te impulsionou, mais nada.
Não vim a terreiro defender o Helder contra um ataque teu, pela simples razão de que não notei qualquer ataque, nem o Helder me pediu ajuda. Trata-se, apenas, e do meu ponto de vista, de questões interpretativas, que o teu segundo comentário não me pareceu esclarecer, na medida em que a "frase" (o último período do primeiro comentário do Helder) tem um sentido absolutamente distinto dos conteúdos dos posts. Dirige-se ao comportamento dos autores, como ele já esclarecera.
Não vem mal ao mundo.
E não penses baldar-te ao blog, porque aqui é que fazes falta e é onde gostamos de te encontrar.
Um abraço
JD

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Nestas alturas, em que um 'balão' qualquer de eventuais equívocos ou mal-entendidos parece querer começar a crescer, o melhor mesmo é esvaziá-lo logo antes que...

E foi isso mesmo que foi feito. Seguindo recomendações já aqui produzidas e que o mais elementar bom senso aconselha, escrevi directamente ao meu amigo Joaquim e tudo indica ter o assunto ficado esclarecido e 'arrumado'.

Portanto, 'não há caso'.

Abraço
Hélder S.