segunda-feira, 21 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7980: Blogpoesia (127): Não há poesia nos ares... (J.L. Mendes Gomes)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, (Como, Cachil e Catió), 1964/66), com data de 21 de Março de 2011:

Caros Amigos
Aqui vos mando, em anexo, a minha participação.
Um grande abraço
JMG


NÃO HÁ POESIA NOS ARES…

Ó carros,
Loucos e fumarentos,
Em desatino,
Pelas estradas;

Ó cigarros roucos
Que amortalhais de morte,
Os lábios rubros,
Talhados
Para a sorte de amar;

Ó atrevidas chaminés,
Sem fim, céu acima,
Que aspergis venenos,
Nos prados e nas boninas;

Ó esgotos, negros,
Pestilentos, como serpentes,
Das cloacas das oficinas,
Que vazais mixórdias,
Sem vergonha,

Nas correntes da água
Que escorria pura,
Das cumeadas albas
Da montanha,
P’rós oceanos;

Ó naves traiçoeiras
Que navegais escondidas,
No oceano infindo
Para lá das nuvens, bentas,
E devorais, sedentas,
As nascentes cristalinas
Das brisas meigas;

Ó central atómica,
Alapada,
Na toca dum deserto
Ou, arrogante,
No ventre da cidade…

És bomba de veneno
Que mata
A humanidade…
Medonha,
Como um relâmpago…

Ó obscuros caldeirões da química,
Tapados da hipocrisia
Do progresso, sem limites,
Onde o sábio, ignorante,
Pensando que tudo sabe,
Extermina, cego,
A sua vida e a do futuro…

Ó vinte séculos de existência,
Dum mundo farto,
De beleza e de riqueza,
A navegar, como navio, louco,
Em liberdade,
P’la mão do homem!…

Ó mar revolto,
Sem maresia…
Ó mar, sufocado…
Sem poesia
Quase morto…
Em agonia!
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7298: Cartas, aos netos, de um futuro Palmeirim de Catió (J.L. Mendes Gomes) (6): Funchal, 1964: As minas e armadilhas de Cúpido

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2011 > 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7979: Blogpoesia (126): Macau, na foz de um rio de pérolas (António Graça de Abreu)

Em tempo:
Recorrendo ao facebook, página do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes, completou-se o poema publicado neste poste que chegou incompleto ao nosso Blogue.
Carlos Vinhal
22MAR2011

4 comentários:

manuelmaia disse...

Caro Gomes,

Os meus mais sinceros parabéns pela força da tua poesia.
O meu imenso obrigado pelo que me foi facultado ler.
abraço
manuelmaia

Joaquim Luis M.Gomes disse...

Olá Manuel Maia


Muito obrigado pelas tuas palavras. O poema não chegou completo, por lapso, talvez meu. Mas podes vê-lo na página do facebook com o meu nome- joaquim Luís Mendes gomes.

Um grande abraço
JMG

Anónimo disse...

Caro Amigo,

Parabéns por não calar a razão que lhe assiste, em se manifestar contra o absurdo da complacência, por actos de lento homicídio colectivo!

Um Abraço

Felismina Costa

joaquim gomes disse...

hipsatiwToutinegra atenta, carregada de poesia!...Obrigado.
JMG