sexta-feira, 18 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7961: Blogpoesia (115): Aromas de Camabatela, Quando cheguei a Luanda (1) (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 17 de Março de 2011:

Carlos Vinhal
Como tenho vivido estes dias a pensar em tudo o que passei, quando estive em Angola, ou seja em Camabatela de 1958 a 1961, quis acrescentar ao relato que te enviei ontem, mais este extracto de um livro que ando a escrever, a que tenciono dar o nome de AROMAS DE CAMABATELA, que comecei há pouco tempo. Ainda só escrevi ainda 27 páginas com 12 versos cada, mas quero pelo menos ir até 150 a 180.
Isto é apenas para mostrar que ainda hoje, e já passados 50 anos, continuo a gostar de Camabatela, amando-a mesmo.
Como já disse, foi devido ao dia 15 de Março de 1961 que eu vim embora, mas sempre soube guardar na minha memória aquele passado que ainda me faz sonhar com ele, tudo porque as pessoas eram boas, e Camabatela era linda...
[...]
Obrigado por todo este trabalho que te vou dando, e deixa-me recordar, já que recordar é viver.
Abraços para todos os tertulianos porque cada vez mais fazemos a nossa Tabanca Grande ser maior, proporcionando bons momentos a todos os que cá nos vêm visitar e fazem dela o seu jornal diário, como acontece comigo.

Abraços especiais aos nossos chefes de Tabanca.
Albino Silva


Aromas de Camabatela
Quando Cheguei a Luanda (1)

Um abraço acolhedor
de Angola como tal
parece que me dizia
Luanda a capital .

Beleza que me encantou
Luanda linda eu dizia
ao passar na marginal
olhando a sua baía.

Cinco dias em Luanda
tudo era lindo e bom
mas o destino era o norte
então fui para a estação.

Era uma estação grande
igual só mesmo aquela
De lá partiam comboios
Para Malange e Benguela.

De comboio deixei Luanda
destino a Camabatela
Atravessando a floresta
e vendo Angola tão bela.

Do que aprendi na escola
não me enganei mesmo nada
e daquele comboio já via
a saltar a macacada.

O comboio em sua marcha
de quando em vez apitando
via tanta a bicharada
de um lado ao outro saltando.

O comboio pachorrento
pouco andava e então
parava para meter água
meter lenha e carvão.

A fumaça era tanta
que saía para o ar
o comboio ia andando
fartava-se de apitar.

Cheguei a Lucala e fiquei
bem juntinho à estação
o comboio foi para Malange
e eu mudei de direcção.

Quando deixei o comboio
em Lucala na estação
do outro lado da ponte
havia um bar e pensão.

Em Lucala estive três dias
somente para descansar
foi até arranjar boleia
para o norte me levar.

Era um bar bem arranjado
na esquina e junto a um rio
de dia sentia o calor
à noite cacimbo e frio.

No quarto onde dormi
improvisado também
era tão grande tão grande
pois era um velho armazém.

Naquele bar de Lucala
que foi escala na viagem
paradeiro de motoristas
que lá faziam paragem.

Tinha uma grande varanda
e era bom lá estar
ao lado da via férrea
em Lucala aquele bar.

Para mim era diferente
aquele ambiente vivido
naquela terra angolana
tudo era desconhecido.

Seguir destino à boleia
que depressa apareceu ela
depois de Samba – Caju
cheguei a Camabatela.

Ao chegar à nova vila
deparei com um jardim
lindas ruas suas casas
Camabatela era assim.

Era domingo de Junho
havia muito calor
sentia o cheiro a queimadas
do capim o seu odor.

(continua)
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7958: O 15 de Março de 1961 (Norte de Angola) foi há precisamente 50 anos (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7933: Blogpoesia (114): Medalha???, dedicado a um soldado metralhado (Manuel Maia)

Sem comentários: