terça-feira, 15 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7946: Notas de leitura (218): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Ainda hoje não entendo como se demorou tanto tempo a investigar os arquivos da PIDE/DGS para encontrar a natureza das suas actividades na guerra colonial. Melhor ou pior, estas delegações iam informando Lisboa, na fase inicial do desencadeamento da luta armada, da evolução da guerrilha, tipos de armamento, recrutamento, processos de intimidação, material de propaganda, etc. Como veremos mais adiante, a PIDE foi explicando para Lisboa com algum detalhe o que se estava a passar na Guiné, logo em 1962. Estas informações necessariamente que precisam de ser equacionadas com os relatórios dos governadores, dos comandos militares, testemunhos civis, etc. Importa não esquecer que os arquivos dos guerrilheiros também contam. Isto só para alertar que ninguém pode dar-se por satisfeito e poder dizer que o essencial sobre a guerra está escrito.

Um abraço do
Mário


A PIDE/DGS na guerra da Guiné

Beja Santos

Reconhecido pela crítica e pela investigação científica, “A História da PIDE”, de Irene Flunser Pimentel, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2007, é o tratado fundamental sobre a polícia política do Estado Novo. Irene Pimentel, que veio a ser galardoada com o Prémio Pessoa [, em 2007,], é uma investigadora indispensável sobre algumas instituições do Estado Novo e também obra de referência a sua fotobiografia do Cardeal Cerejeira bem como o seu trabalho “Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto”.

Na sua obra “A História da PIDE”, é-nos dado é relato minucioso da repressão exercida, os seus métodos, desde a vigilância, passando pela captura e pelo interrogatório até à investigação e instrução dos processos; ficamos a conhecer o perfil dos detidos políticos, a vida nas prisões, os julgamentos políticos, as relações entre a polícia política e o aparelho judicial e de igual modo é aflorada a relação entre a PIDE/DGS e as Forças Armadas, isto para já não falar sobre a vigilância sobre todos aqueles que, fora dos inimigos figadais do regime, revelavam qualquer dissidência social, política e até religiosa. Irene Pimentel declara taxativamente que não investiga este domínio da participação da PIDE na guerra colonial na justa medida em que fora feita uma tese de doutoramento sobre este tema: “A PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974”, por Dalila Cabrita Mateus, Terramar, 2004.

É sobre este trabalho que nos vamos debruçar, exclusivamente na orientação das actividades da PIDE/DGS no território da Guiné.

A autora dedica o seu trabalho “À memória do meu irmão, Raúl [Evaristo]dos Santos Cabrita, primeiro-sargento[, SAS,] da Força Aérea, morto em Março de 1967, na Guiné. E à memória dos angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e portugueses, vítimas do terror e da guerra colonial”. Dalila Mateus procurou três objectivos: conhecer tão profundamente quanto possível a organização da PIDE/DGS nas colónias; descobrir os contributos dados (em repressão, em informações para os militares e operações de natureza diversa) durante a guerra colonial; estudar as relações externas e internas da polícia política. Dentre as suas fontes, veio a revelar-se como mais preciosa os arquivos da PIDE na Torre do Tombo, estão ali depositadas informações estratégicas de valor incalculável para o estudo de toda a guerra.

No primeiro capítulo (“A PIDE/DGS nas Colónias”), há três matérias circunstanciais que nos interessa para o estudo da Guiné. O primeiro, tem a ver com a Operação Mar Verde, era responsável da PIDE/DGS na Guiné o inspector Matos Rodrigues que terá afirmado que “havia uma grande dificuldade no trabalho de informação”, os militares não disporiam de um serviço de informações credível e a delegação não tinha organização, não havia rede de informações internacional, não era possível exercer uma aturada vigilância sobre os guerrilheiros. Era tudo débil. Narra-se seguidamente a história de M, agente provocador na Guiné. M estabeleceu contactos com Rafael Barbosa e outros, apresentou-se como membro da Acção Revolucionária Armada (ARA), procurou recrutar “rapazes evoluídos” para a luta na Guiné, propôs-se mesmo ser o elo de ligação entre o PAIGC, a ARA e o PCP, arvora propaganda da União Revolucionária marxista-leninista. Com tanto espavento, ninguém lhe deu crédito.

Fragoso Allas virá a revelar-se a figura predominante da PIDE na Guiné. De 1968 a 1971, é adido comercial na missão de Portugal em Kinshasa, de 1971 a 1973 foi chefe da delegação em Bissau onde terá sido “mais fiel a Spínola do que à hierarquia da PIDE”. Um colaborador directo de Spínola disse de Allas: “Na Guiné, era o homem das missões delicadas, que estava dentro das coisas todas. Do Allas, tudo era possível.

No segundo capítulo (“A Repressão”), há uma referência ao campo de trabalho da Ilha das Galinhas, nele teriam estado mais de uma centena de presos políticos. Segundo a autora, em meados de 1969, foram transferidos do campo do Tarrafal para aqui 58 presos guineenses. Um dos transferidos, Bruno Dantas Pereira, considera o campo da Ilha das Galinhas ainda pior que o Tarrafal e nele morreram, segundo afirma, alguns detidos, vítimas de espancamento.

No terceiro capítulo (“As Operações”), cresce o número de referências à Guiné. Falando do assassínio de Amílcar Cabral, refere os planos de 1967, de 1969, 1970, 1971 e 1973. Começando pelo primeiro, diz Dalila Mateus que “Em 1967, na Guiné, o então chefe da delegação da PIDE, inspector Miguel António Cardoso, propõe ao director-geral um plano para suprimir Amílcar Cabral e furtar os arquivos do PAIGC em Conacri”. Ao que parece o projecto não tinha pés para andar e depois da substituição do inspector Cardoso o plano foi abandonado.

A “Operação Chèvre” data de 1969, envolveu várias colaborações, terá tido inclusive a participação de um diplomata senegalês. Fica-se sem perceber se é esta a tentativa de assassinato que Luís Cabral refere nesta data e que deu circunstância para várias execuções sumárias na região do Boé. Na Operação Mar Verde (Novembro de 1970) segundo Alpoim Calvão, se Cabral estivesse em Conacri, teria sido “seguramente eliminado”.

A questão no essencial continua nebulosa. No entanto, sabe-se que caíram obuses no Bairro onde vivia Amílcar Cabral. Spínola, no entanto, afirmou que dera ordem a Alpoim Calvão para trazer o líder do PAIGC vivo. Também não dá para entender como é que a autora diz soberanamente “Temos de concluir que o marechal Spínola faltou à verdade. Tal como terá faltado quando afirmou nada ter a ver com o assassínio de Amílcar Cabral”. O que acontece é que não há nenhuma prova, absolutamente nenhuma, de envolvimento da PIDE no assassínio de Amílcar Cabral, nenhum investigador encontrou qualquer documento probatório, manda o rigor histórico que o investigador não especule quando não pode provar.

Voltando aos factos, em 1971, a PIDE/DGS em Cabo Verde voltou a planear o assassínio de Amílcar Cabral, a polícia política contava com um antigo membro do PAIGC, um cabo-verdiano residente em Monróvia, na Libéria. Esta tentativa também não resultou. A PIDE, entretanto, vai coligindo informações sobre descontentamentos interétnicos e sugere a exploração de todas estas divergências.

Em Março de 1972, Cabral apresentou à direcção do PAIGC um documento contendo um plano de Spínola para decapitar o PAIGC, com três fases, trata-se de um documento incontornável na história do PAIGC.

Quanto ao assassinato de 20 de Janeiro de 1973, continua cheio de incógnitas. Não vale a pena invocar o testemunho de alguns conjurados, sabe-se hoje que todos estes interrogatórios decorreram numa atmosfera de horror, no todo ou na parte comparáveis aos mais sinistros que ocorreram em atmosferas totalitárias. Os testemunhos dos autores do crime valem o que valem. E não serve pôr em confronto o que sempre disse Spínola quanto ao seu não envolvimento e o que terá dito Fragoso Allas a Otelo Saraiva de Carvalho quando foi apresentar despedidas pelo fim da sua comissão de serviço na Guiné (“os tipos tinham ido longe de mais, porque a missão era só raptar e conseguir trazer Amílcar Cabral para Bissau como refém”).

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7934: Notas de leitura (217): Jardim Botânico, de Luís Naves (3) (Mário Beja Santos)

12 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não li, mas por este resumo pode-se concluir que na Guiné a pide andou todo o tempo aos "papeis", no que diz respeito a informações relevantes para as NT, o que não me surpreende.
Sobre a morte de Amilcar Cabral duvido que a verdade se saiba alguma vez.Se houve alguma influência ou decisão da parte Portuguesa, penso que foi a maior estupidez, porque se havia alguém que pudesse servir de interlucotor e com maior qualificação esse era sem dúvida Amilcar Cabral.
Para completar o meu comentário, quero realçar o seguinte; quem é que esteve nos bastidores das manifestações contra os cabo-verdianos em julho de 74 em Bissau ?

Anónimo disse...

ps.
PEÇO DESCULPA NÃO ASSINEI O COMENTÁRIO
C.Martins ex-artilheiro em Gadamael

Luís Graça disse...

Meu caro Martins:

Tens mais informações sobre as "manifestações contra caboverdianos em Julho de 1974, em Bissau" ? Quem Quem foi o promotor ? Quem estará estado por detrás e com que intenções ? Qual a dimensão dessas manifestações ? Um abraço.

JC Abreu dos Santos disse...

... citando:
- «investigar os arquivos da PIDE/DGS para encontrar a natureza das suas actividades na guerra colonial».
A "natureza" das "suas" actividades.
Importa-se de repetir?
É apenas para que se entenda, o que se pretende(u) "investigar": as "actividades" da PIDE?; ou as actividades do (então) IN?
E, daí, concluir o quê?
Que o regime tudo sabia e nada fez de útil para obviar o estado de guerra?
Que a PIDE trabalhou mal?; trabalhou bem, como lhe competia?; foi uma bandalheira informativa?
Pf, expliquem, tintim-por-tintim, aos vossos leitores que nada sabem destas coisas antigas...

Antº Rosinha disse...

Há uma frase dita em crioulo, que julgo que escrevo correto: "Mi ká sibi nada".

Esta frase era repetida por Nino Vieira quando derrubou Luis Cabral, e acusou este de assassinar os comandos africanos que lutaram contra o PAIGC.

Quando os jornalistas lhe faziam perguntas dificeis, ele dizia "que não sabia nada".

Foi uma norma no PAIGC ninguem se culpar pelos assassinatos de dirigentes.

Aconteceu isso agora com o próprio NINO, ninguem sabe quem foi.

Agora, os vários ADN,s políticos dos nossos "historiadores" portugueses, como a senhora Mateus e todos os outros, vai levar muitos anos para serem analizados e compreendermos.

Vá lá que ao fim de 36 anos um presidente da república se lembrou dá geração que enfrentou com muito sacríficio e muito sangue, mas com dignidade, "uns ventos históricos" que não foram propícios para ninguem.

Até aqui, os presidentes só se lembraram dos que foram enfrentar esses ventos para para lá dos Pirineus.

Esses, já começaram a "piar".

Anónimo disse...

Caro Luis Graça
Os manifestantes eram guineenses que se manifestaram durante dois ou três dias,já não me lembro das datas, inclusivé empunhando cartazes com palavras de ordem estilo "fora com os neo-colonialistas" "cabo-verdianos para cabo-verde" pareciam bem enquadrados e organizados.A "coisa" resolveu-se com umas bastonadas da PM, e no meu caso pessoal foi-me ordenado sair com um pelotão de intervenção do GAC 7, sem qualquer preparação para estas situações, resolvi mandar armar os soldados com G3 e muitas fitas para a HK, só para impressionar e "armar aos cucos", e a determinada altura quando a situação se complicou resolvi mandar dar umas rajadas para o ar (claro), o que surtiu efeito,fugiram que nem ratos, só que também assustei e muito(soube mais tarde)a população civil.Segundo as informações recolhidas,teriam sido quadros guineenses do PAIGC a instigar tal acção, mas certezas não tenho.Soube também que muitos cabo-verdianos abandonaram a Guiné nessa altura.
um alfa bravo
C.Martins

Anónimo disse...

... outra citação, desta feita extraída de uma "dedicatória", na qual a supra mencionada historiadora nos revela qual o 'leit-motiv' para a sua tese de doutoramento:
«À memória do meu irmão, Raúl dos Santos Cabrita, primeiro-sargento da Força Aérea, morto em Março de 1967, na Guiné. E à memória dos angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e portugueses, vítimas do terror e da guerra colonial.»
Tudo isto, num único fôlego!

Dalila Cabrita, nasceu em Viana do Castelo em 1952; está casada com Álvaro Mateus, nascido em Lourenço Marques em 1940, (conhecido militante do PCP, refractário ao serviço militar, apoiante 'de facto' dos ML's antiportugueses). A senhora, «licenciada em História e mestra em História Social Contemporânea», em 26Mar2004 doutorou-se – «pelo ISCTE "com distinção e louvor", em História Moderna e Contemporânea, na especialidade de História Política e Institucional no Período Contemporâneo» –, ao defender uma tese cuja súmula, editada pela Terramar em 464 páginas, epigrafou «A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961-1974)».
Através do trabalho daquela «investigadora do Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa do ISCTE» – muito saudada por tudo quanto é esquerda pura e dura –, e que «foi elogiado por todos os membros do juri, é retratada uma polícia política brutal. [...] A tese central do texto é que "houve nas colónias, durante a guerra, uma repressão em massa não só pela guerra, mas também pela própria violência da acção colonial". A eficácia da polícia política foi um dos aspectos que o historiador e dirigente do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas, destacou da tese. "Além de uma força policial era um corpo armado [...]", acentuou Rosas. [...] Dalila Mateus lembrou a forma como o Exército e até a administração tratava os "rebeldes". [...] Como exemplo um caso, que lhe foi relatado numa entrevista, de um governante que se esqueceu de centenas de pessoas fechadas em vagões de transporte durante duas semanas. [...] O juri mostrou-se também surpreendido pela forma como a tese demonstrava a "capacidade de fazer política externa" da PIDE.»; (in matutino 'Público', 27Mar2004 p.23).

Quanto à dedicatória, vejamos: Raul Evaristo dos Santos Cabrita (nascido em Senhor dos Passos, na freguesia de Rates do concelho da Póvoa do Varzim), quando em 1966 com o posto de 1º Sargento do quadro da Força Aérea Portuguesa, tendo sido mobilizado pela BA3-Tancos e pertencendo aos Serviços de Apoio e Segurança (Aérea), estava colocado na BA12-Bissalanca, adoeceu. Baixou ao HM124. Faleceu devido a doença. Em 16 de Dezembro de 1966. O que é um bocadinho diferente, de... «morto em Março de 1967, na Guiné». 'Gaffes' destas, por parte de uma familiar directa, e para mais qualificada investigadora, são imperdoáveis; tal como, também, a subsequente manipulação, interligando a causa do falecimento de seu irmão, a «vítimas do terror e da guerra colonial».
Ademais, mal se entendem quais as bases académicas e os objectivos científicos, da "tese" que a senhora – há sete anos – defendeu naquele doutoramento.
Costuma-se dizer que, da montra se vê o armazém; ou de outro modo, em termos da percepção "do outro", não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão.
Este, é mais um caso exemplar. Dos historiadores que há.

Abreu dos Santos (senior)

Anónimo disse...

Caro Camarada Abreu dos Santos
Sobre pseudo-historiadores de esquerda ou de direita estamos conversados,há muito poucos imparciais e com honestidade intelectual.
Penso que tenho autoridade moral para falar sobre a pide, porque estive preso durante oito dias e sofri a tortura do sono e alguma porrada.A função deles era perseguir e recolher informações das pessoas que fossem contrárias ao regime,por isso era natural que não fossem bem vistos e até odiados, mas a bem da verdade tenho que dizer que comparar a pide com gestapos, kgbs e quejandos é no meu ponto de vista altamente desonesto, assim como o regime anterior com ditaduras comunistas,nazistas,fascitas e até franquistas...bem o salazar foi um menino de coro...não,não estou a branquear nada,claro que é a minha opinião.Sobre as informações às NT dadas pela pide e especificamente ao período em que estive na Guiné e concretamente na minha ZO-- SEDE DO COP 5--GADAMAEL---FORAM COMPLETAMENTE IRRELEVANTES PARA NÃO DIZER NULAS.Provavelmente noutras ZOS E TOS poderam ter sido úteis.
Um alfa bravo
C.Martins
ps
ah.. estava em Cacine um agente da pide que era uma nulidade.Um dia resolveu meter-se comigo, numa das minhas idas a Cacine,a "coisa" esteve muito feia e ía acontecendo uma desgraça, mas ainda bem para ele e para mim, resolveu meter o "rabinho entre as pernas"...soube depois que houve uma alma caridosa que lhe disse que eu estava "apanhado do clima" e....estava mesmo...juro.

antonio barbosa disse...

Boa noite
è por estas e por outras que os Combatentes são permanentemente
repudiados pela classe Politica
somos ~´os que fomentamos a divisão
e a discórdia claro que não posso
generalizar mas que andam por aí umas mãozinhas de reaça andam,
tenham juizo pois se há coisa que não se pode mudar é a história de uma Nação, independentemente de gostar-mos ou não.
ANTONIO BARBOSA Ex Alf.Mil.Op.Esp
Guine 1973/74

antonio barbosa disse...

Para que não restem duvidas este comentario devera ser considerado
antes do que foi feito pelo camarada Abreu santos (senior)
assim está reposta a verdade
Cumprimentos
ANTONIO BARBOSA

JC Abreu dos Santos disse...

...errata, ao m/comentário das 12:33 de ontem, onde se lê...
«Serviços de Apoio e Segurança (Aérea)»,
... deve ler-se
«Serviço Geral»,
designação para militares da FAP sem qualquer especialidade, actualmente qualificados como de "Secretariado e Apoio de Serviços".

Anónimo disse...

Passados tantos anos a confusão em torno da morte do meu irmão Raúl Evaristo dos Santos Cabrita continua.
Ninguém da família sabia que estava em Bissalanca. Na altura foram-nas transmitidas informações diversas, que só nos causaram uma dor ainda maior.
Era muito jovem na altura.
Eram várias as informações postas a correr sobre a sua morte. Até a data que V. Exas. referem não confere com a data que nos foi transmitida oficialmente. Meu Pai não queria acreditar que o seu filho tinha falecido. E ainda hoje ouço as palavras de meu Pai, que incrédulo dizia:
" pode ser que esteja vivo, que venha, nem que seja sem uma perna ou sem um braço". O que meu Pai queria era que o filho voltasse.
No meio daquela dor horrivel, só esperava que ele estivesse vivo.
Hoje por acaso li o comentário que os senhores colocaram há muito na net. Não costumo ler blogues, nem responder sequer. Mas trata-se do meu irmão!
Fiquei surpresa com a novidade.
Para o livro «Purga em Angola» um militar da F.A. garantiu-me que foi morto por "fogo amigo".
O tempo passou, mas ele não está cá para responder a V.Exas., para esclarecer a família. Limitámo-nos a ouvir e a pensar o que é a GUERRA seja ela onde for. Sou a favor da PAZ, dos Direitos do Homem,e surpreende-me que militares Portugueses façam comentários, ofendendo a memória dos familiares daqueles que morreram, independentemente da forma como morreram.
Respeito imenso todos aqueles que vieram estropiados, traumatizados, e sobretudos aqueles que nunca voltaram para os seus e até aqueles que ficaram em solo da Guiné-Bissau.
Os comentários que possam fazer acerca da minha pessoa é-me totalmente indiferente, pois o que faço tento fazê-lo da forma mais honesta, correcta, sem partidarismos venham eles de onde vierem. Embora alguns dos senhores militares me queiram conotar com algo. Não me conhecem de facto, e ainda bem. Curioso, pois histotiadores estrangeiros têm-me moutra conta!
Depois do 25 de Abril ainda esperei por muito tempo que meu irmão voltasse.
Como podem fazer comentários acerca de pessoas que não estão cá para se defenderem?
Sempre tive e tenho em boa conta os militares portugueses. Mas ao ler este blogue há qualquer coisa que me magoa como portuguesa.
Lamento muito que de repente e sem querer as informações OFICIAIS não batam certas com as que escrevem, até porque no Natal anterior à morte de meu irmão em Março, ele conseguiu estar com a família, todos o vimos, por isso não podia estar hospitalizado na Guiné.
Peço desculpa aos senhores militares deste blogue, por não estar de acordo com V. Exas.
Dalila Mateus