sexta-feira, 4 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7896: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (76): Na Kontra Ka Kontra: 40.º episódio




1. Quadragésimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 3 de Março de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


40º EPISÓDIO

Chegado a Bambadinca, respirou fundo e foi logo saber da possibilidade de o levarem para Bafata. Foi-lhe dito que estava ali um civil, com uma carrinha de caixa aberta, que ia para Bafata e com certeza o levaria.

Enquanto esperava foi conversando com camaradas já seus conhecidos. Querendo saber pormenores da morte do seu amigo Dionildo é-lhe dada uma nova versão do que se passou no segundo ataque a Madina Xaquili, quando ele Alferes Magalhães já estava em Bafata. Foi-lhe dito que não havia a certeza do que aconteceu, em relação ao Dionildo naquela fatídica noite. Quando o ataque se deu havia, fora do “arame”, um grupo que incluía o Dionildo.

Continuando, foram dizendo que o corpo do Dionildo não chegou a ser encontrado. Que podia ter-se dado o caso de os guerrilheiros terem levado o corpo, ou até o Dionildo ter sido feito prisioneiro. O que é certo é que, possivelmente para evitar burocracias que na tropa são terríveis, o caso foi encerrado e o Dionildo foi dado como morto … e oficialmente enterrado. A tropa tem destas coisas…

Chegado a Bafata de boleia com o Senhor Dionísio Castro,  depressa retoma a sua vida de trabalho no quartel e passa a sair mais, dada a sua melhoria a nível psíquico. Torna a ir ao cinema e encontra o seu amigo Ibraim. Talvez por já terem passado mais de dois meses, desde o último encontro, desta vez o Ibraim parece ter esquecido tudo o que podia ter contra o Alferes e num “NA KONTRA” efusivo retomam a amizade, aparentemente perdida.

Nos dias seguintes dão longos passeios pelos arredores de Bafata tendo o Ibraim mostrado locais lindíssimos que sem um cicerone assim nunca um metropolitano lhe poria os olhos em cima. Num fim de tarde o Ibraim leva o amigo à tabanca do Nema para observarem uns enormes morcegos pretos, durante o dia pendurados numas árvores, que por essa razão poucas folhas têm. À hora a que chegam podem ver os morcegos a começar a abandonar os galhos onde se penduram aos cachos. Sobrevoam em voo rasante a superfície da água do rio Geba, que chegam a tocar uns cem metros mais à frente.

Tão depressa o Alferes pensa que eles vão beber água ao rio, depois de estarem durante todo o dia ao sol, como logo o Ibraim lhe explica que os morcegos ao tocarem a água não a bebem directamente mas se limitam a molhar os pelos do peito chupando depois essa água durante o voo.

Noutra ocasião, em passeio pela tabanca da Rocha onde Ibraim mora, este conta ao Alferes que tem uma nova namorada mas, tal como antes, não se abre muito sobre esse assunto. O Alferes não pode deixar de pensar que talvez o seu amigo o ache muito namoradeiro e portanto uma “ameaça”, dado que tempos antes o Alferes lhe tinha mostrado interesse em arranjar uma namorada africana. Chega-lhe a dizer que tem noiva na Metrópole e que até pensa casar em Março próximo. O amigo continua a remeter-se ao silêncio no que diz respeito à sua nova namorada.

Grande parte da tabanca da Rocha

Os dias vão passando e em determinada altura o Ibraim confidencia ao amigo que pretende ir para a Metrópole trabalhar. O pai, Régulo de Canquelifá, estaria disposto a ajudá-lo com dinheiro. O Alferes, medindo bem as palavras, pois não quer criar outra situação de melindre, diz-lhe que na Metrópole a vida não está fácil, principalmente para um africano e que ficaria lá totalmente desinserido do resto da sociedade. Enriquecer só com o fruto do trabalho será uma ilusão.

Pareceu ao Alferes que o amigo não gostou das suas advertências dado que nos dias a seguir deixou de o ver pelo cinema. Passam duas semanas sem o Ibraim ser visto. Avoluma-se no Alferes a ideia de que o amigo estivesse novamente agastado com ele.

Numa ida ao cinema onde ia ver o “Marnie” do Hitchcock, novo “NA KONTRA” com o amigo que explicou o motivo da sua ausência, concluindo o Alferes que o Ibraim não tinha nada contra ele.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7890: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (75): Na Kontra Ka Kontra: 39.º episódio

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