quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7808: FAP (61): Passageiro, de classe única, do Nordatlas, em viagem inolvidável de Bissau até Bafatá, via Nova Lamego, com lançamento de géneros por pára-quedas ao longo do percurso (Mário Miguéis)



Força Aérea Portuguesa > s/d > s/l > Um Nordatlas estacionado na pista...Segundo o nosso camarada (ex-Fur Mil Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/73), na Guiné, "o Nordatlas e o Dakota prioritariamente transportavam tropas e carga em volume elevado, também evacuações em que se justificava o seu uso e sempre só em meia dúzia de pistas". 



1. Comentário, bem humorado, do nosso camarigo Mário Miguéis (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, BambadincaSaltinho, 1970/72), ao poste P7802 (*)


Caros amigos/camaradas:

Para além de ter assistido, cá de baixo, a alguns reabastecimentos por pára-quedas a partir de Nordatlas, tive a "sorte" de, pelo menos por duas vezes, assistir ao mesmo tipo de lançamentos, mas do interior das ditas aeronaves. 

Aconteceu em viagens de Bissau para Bafatá - uma delas via Nova Lamego - comigo à boleia, tal como os géneros, que que foram lançados em três pontos distintos em cada uma das viagens. Quem lançava as encomendas pelo "alçapão" eram dois páras, devidamente equipados, não fossem, por acidente, sair amarrados à mercadoria. 

Entretanto, os pôdres Nordatlas voavam em círculo sobre os campos de lançamento - normalmente clareiras em plena mata, mas não muito distantes das bases a reabastecer - , proporcionando aos desgraçados passageiros de classe única um barulho ensurdecedor e enjoo generalizado, com toda a gente a vomitar ou perto disso. (Ainda hei-de escrever qualquer coisinha sobre a maior dor de ouvidos da minha vida). 

Nós, os tesos e desenrascados - leia-se inventivos - portugueses, até uma GMC eramos capazes de fazer voar, a tal obrigassem as circunstâncias.

Um abraço,

Mário Migueis



2. Comentário do Artur Soares [, foto à direita,] ao mesmo poste: 


Luís: na época das chuvas, nós, no XITOLE, também eramos reabastecidos pelo NORDATLAS, sobretudo de frescos e correio, porque nessa época das chuvas, a picada ficava intransitável.
Acontecia algumas vezes, os pára-quedas ficarem pendurados nas  árvores, o que era uma chatice.



Abraço
Artur Soares
(ex-Fur Mil Mec Auto,
CART 3492/BART 3873,
Xitole, 1972/74)

________________

Nota de L.G.:

2 comentários:

Anónimo disse...

Ganda avião, este barriga de ginguba.

Tive o prazer de voar numa destas aeronaves em Ago72, numa viagem Luanda /Cabinda.

Finalidade do voo; transporte de todo o material de guerra duma CompªCaç., armas ligeiras e munições, além de cerca de uma dezena de militares, pessoal responsável pela carga e alguns especialistas.

Boquiabertos, assistíamos a uma grande discussão entre um sargento(?)responsável pelo controlo da carga a transportar e o comandante daquela fortaleza, alferes?tenente?,já não consigo ter uma ideia bem precisa.

O sargento ainda com bastante material na pista, dizia ao piloto que não era possível carregar mais, este dizia que sim, o sargento argumentava que ia contra as normas, o piloto dizia que assumia a responsabilidade, aí começamos a ficar um pouco receosos, pouco é favor. O certo é que prevaleceu a palavra do piloto.

Já com todo o material carregado e o pessoal dentro do avião, sentados naqueles banquinhos de cintas, de costas para a fuselagem, o bicho parado e os motores a roncar lá fora, naquilo que nos pareceu uma eternidade. Finalmente lá começou a deslizar, os motores já não roncavam, arfavam. O pessoal silencioso como um sepulcro e eu perguntava-me, será que isto vai levantar? Primeiro devagar, devagarinho, depois um pouco mais depressa e os motores quase a desintegrarem-se, pelo menos era o que nos parecia, mas o certo é que aquela beleza foi-se erguendo no ar, com uma leveza e passados alguns minutos, voavamos algo desconfiados mas voavamos.

Bem depois fomos convidados pela tripulação, piloto e co-piloto a irmos dois a dois junto à cabine desfrutarmos do panorama, o avião voava a baixa altitude o que nos permitia ver todos os pormenores cá em baixo. Nessa ocasião já não havia receios, só confiança.

Voamos com toda a segurança, ou pelo menos foi essa a impressão que os pilotos nos conseguiram incutir, garantindo-nos que este era um dos aviões mais seguros(sic), pois se houvesse algum contratempo, teriam uma enorme autonomia como planadores. Mas que sei eu disto?

Só sei que teve um sabor muito especial voar neste pássaro, tão diferente, sem comodidades, mas efeciente e com dois tripulantes, muito, muito amaveis.

Parabéns ao barriga de ginguba, à FAP e aos melhores pilotos do mundo.

antónio almeida

Anónimo disse...

Caro António Almeida:
Ao contrário do que te terão feito crer (quem é que se podia fiar nos jovens e brincalhões pilotos-aviadores daquele tempo?), a informação que eu tinha é que o nordatlas, caso tivesse uma paragem de motor(es) em pleno voo, caía como uma pedra, isto é, de planador nada tinha (por isso é que ficaria durante mais de meia hora a aquecer e a testar os motores antes de levantar, enchendo de ansiedade os pobres passageiros). Talvez os nossos companheiros de tertúlia especializados na matéria possam satisfazer a nossa curiosidade, prestando aqui ou noutro espaço do blogue o esclarecimento que se impõe.
Cumprimentos,
Mário Migueis