terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7792: Estórias cabralianas (65): Os românticos... também mijam (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso querido camarigo Jorge Cabral, acabado de se reformar das lidas académicas, mas que ainda mantém  a banca de advogado na praça:

Data: 15 de Fevereiro de 2011 15:18

Assunto: Flagrante Delito Mijatório, os Nenúfares de Fá e o Alfero quase afogado


Amigos!

Fala o Luís, no grãozinho de loucura deste Alfero escrevinhador. Grãozinho? É mas é uma seara!

Aí vai "estória"!

Abraços

Jorge Cabral



2. Estórias cabralianas (65): Flagrante Delito Mijatório, os Nenúfares de Fá e o Alfero quase afogado

 Estava calor e todo o quartel dormia a sesta. Em cuecas, o Alfero urinava contra a parede (bem não urinava, mijava, pois na Tropa, ninguém urina, mija). Eis que um jipe se acerca. Nele, três alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas. Ainda a sacudir “o corpo do delito”, disfarça, cora, mas que vergonha (!). Claro, ninguém lhe aperta a mão. Elas são a filha do Senhor Brandão e uma amiga de Bissau, cabo-verdiana. Vêm visitar Fá. Chama o fiel Branquinho. Que os leve a todos para o Bar, enquanto ele se veste e se penteia. Regressa impecável. À paisana, de camisinha branca, calças azul-bebé.

Há muito pouco a mostrar. Fá já fora sede de Batalhões e Companhias, mas agora só o seu Pelotão o ocupa e as redondezas dos principais edifícios encontram-se minadas. Dão uma volta e, ao passar por uma ampla vala, que separa o Quartel de cima, do Quartel de baixo, as raparigas reparam que,  naquela vala inundada, cresceram formosos nenúfares.
- Tão bonitos - exclamam. 


Logo o Alfero mergulha. Porém a vala é funda. Perde o pé, escorrega, cai, estrebucha, mas sem nunca largar as aquáticas flores. Valeu-lhe o Preto Turbado, gigante soldado Bijagó, que o consegue agarrar pelo colarinho e o retira salvo da água pantanosa. Batem palmas as Jovens.

Recomposto, encharcado e cheio de lama, o Alfero deposita-lhes no regaço, qual Magriço de outrora, o troféu, pois… os nenúfares.

Beijam-no, sem receio de se sujarem.
- Que romântico! - dizem.

Olhem se fossem rosas, pensa o Alfero. O pior foi o início da visita. Que se lixe, conclui, afinal os românticos também mijam… 

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
______________




Nota de L.G.:


Últimos postes da série: 


9 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7251: Estórias cabralianas (64): O Avô, o Neto e os Heróis (Jorge Cabral)

(...) Mais um dia. Lá vou eu entalado entre os anafados peitos de uma dama e a gravata de um cavalheiro, que hoje fez greve ao chuveiro. O Metro segue cheio, mas há sempre lugar para mais um. Na Estação do Saldanha, é invadido por uma excursão de meninos, com a Mestra à frente (bem jeitosa, por sinal). São barulhentos os putos… e eis que um, apontando para mim, grita:
– Aquele ali, é da raça do meu Avô, é um Senhor Herói!. (...)


(...) Foi na Guiné que aprendi a contar estórias às Crianças. Comecei lá e nunca mais parei. Ainda ontem conheci uma Menina. Disse-me que tem um gato e eu falei-lhe das minhas duas moscas, uma de cama, coitada, cheia de febre… Em Missirá, na Escola, comecei com a Branca de Neve e os 7 Anões, mas logo desisti. (...)

 26 de Julho de 2010 > > Guiné 63/74 - P6787: Estórias cabralianas (62): À Tesão, Pelotão!... Este é o Alfero Souza, meu amigo (Jorge Cabral)


(...) Com o Pelotão [, o Pel Caç Nat 63,] em Bambadinca, preparando-me para arrancar para o Xime, eis que deparo, com um Gandhi,  de camuflado, que avança para mim com os braços abertos. É o Souza, com "z", meu amigo e camarada de Vendas Novas. (...)


(...) Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram. Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome. Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô! (...)


(...) Caro Luís,
nunca será demais enaltecer o teu blogue,
o qual nos tem permitido, principalmente recordar.


Como tu dizes,
fui um tropa desalinhado,
marginal
e quase sempre provocador,
características que mantive ao longo da vida. (...)

10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6364: Estórias cabralianas (59): Notícias do Ano 2050, quando formos todos UPV e morarmos num Velhil (Jorge Cabral)

(...) Tenho como sabem, uma máquina do tempo, na qual viajo ao passado. Porém hoje a máquina avariou e em vez de recuar os quarenta anos programados, avançou e eis-me aqui no ano de 2050. (...)

(..) Tenho a certeza que os primeiros cabelos brancos do Alfero lhe nasceram nos dias do Patacão.  No final de cada mês, deslocava-se a Bambadinca a fim de levantar o dinheiro para pagar os ordenados aos Militares do Pelotão e aos Milícias. Era o dia do Patacão, ansiado por todos e ainda mais pela multidão de credores, que desde manhã acorria ao Quartel. Usurários, Pré-Sogros e Sogros, Batoteiros Profissionais, Dgilas, Alcoviteiros, Fanatecas, Músicos… havia sempre alguém à espera que o Alfero liquidasse as dívidas dos seus homens. Todos devedores, incluindo o Alfero, que prometera pagar,  em prestações suaves, a conta do Fontória, onde em férias, numa noite, oferecera de beber a todos e terminara na Esquadra da Praça da Alegria. (...)


22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5522: Estórias cabralianas (57): As duas comissões do Alfero... ou a sua dolce vita em Bissau, segundo a Avó Maria e a Menina Júlia (Jorge Cabral) 

(...) A foto do Alfero, fardado de Alferes, no cais do Xime, comprova o que Avó Maria sempre disse. O seu neto Jorge deu-se muito bem na Guiné. Até porque, para ela, nunca saiu de Bissau, que devia ser igual à Lourenço Marques dos anos trinta, quando por lá passou. Essa a razão porque o Alfero, cumpriu simultaneamente duas comissões, uma em Fá e Missirá, outra na capital frequentando os bailes do Governador, os quais descrevia com pormenor em longas cartas, nas quais também falava das eloquentes homilias que ouvira na Sé Catedral. (...) 

(...) Alferes apanhado à mão? Helicópteros e Cavalaria Turra? Há uns dias telefonou-me o nosso Amigo Durães [, da CCS/do BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Estava em Setúbal, com um ex-cabo do Pelotão de Intendência de Bambadinca, o qual lhe jurava que o Alferes Cabral de Missirá havia sido, em 1971, apanhado à mão, quando regressava ao seu Destacamento. (...)

(...) Há mais de 30 anos, que montei Escritório [de advogado] na Passos Manuel, entre o Jardim Constantino e o Intendente. Um bom local, com velhos da sueca, sem-abrigo alcoolizados e fanadas matronas em pré-reforma. (...) 


11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4938: Estórias cabralianas (54): O Alfero e as mezinhas (Jorge Cabral)


(...) Nem um mês tinha de Guiné e já andava a experimentar todas as mezinhas recomendadas pelo Nanque. Bem, todas não. Nunca bebeu a primeira urina da manhã, remédio infalível para o estômago mas ainda no outro dia o receitou a uma distinta senhora, que calculem, se zangou com ele, por se pensar gozada. (....)


28 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4750: Estórias cabralianas (53): A estranha doença do soldado Duá (Jorge Cabral)


(...) Quando uma noite, em Missirá [, o último destacamento de Bambadinca, a norte do Rio Geba, no Cuor,] o Alfero passava ronda, ficou estupefacto, ao constatar que todos os Soldados de Sentinela se encontravam acompanhados das respectivas Mulheres.- Mas que se passa? – indagou…- É por causa da doença! O Duá apanhou a doença do Victor!- Doença do Victor? (...)


22 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4723: Estórias cabralianas (52): Em 20 de Julho de 1969, também eu poisei na Lua... (Jorge Cabral)

(...) Na Guiné, há mês e meio, mas já em Fá, havia nessa tarde muito calor. O pessoal dormia e toda a gente procurara a aragem possível. Em silêncio, o Quartel repousava… Eu porém, em tronco nu, saíra, a caminho da fonte mais pequena. Resolvera isolar-me, para escrever, calculem, um poema… Lá chegado, ainda nem escolhera um poiso confortável, quando vejo surgir, não sei de onde, um vulto de mulher, apenas com uns panos, caindo da cintura. (...)

7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4651. Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)


(...) Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador. (...)

Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ], e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral… 



3 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)




(...) - Meu Alferes! Meu Alferes! Já chegou o Senhor Abade! - O cozinheiro Teixeirinha, todo eufórico, gritava, à porta do meu abrigo.
- Abade - pensei comigo - , o Puím?

Magro, simples, humilde, o único Capelão que conheci na Guiné, viera de sintex e, antecipando-se, não esperara por ninguém, entrando no Quartel. Logo após o descanso, a missa foi celebrada, mesmo ao lado da Cantina, no local da Escola. Fiéis, sete, dois comungantes e o Padre, de paramentos verdes. (...)

9 comentários:

manuelmaia disse...

Caro Alfero Cabral,

Presumo que para não deixares créditos por mãos alheias terás presenteado as damas com qualquer coisa deste género...




Nenúfares que aqui estão,
belezas de encantar,
são rosas senhoras são,
formais convites p`ra amar...

Torcato Mendonca disse...

Alfero quer que sacuda , quer?
Pergunta a Cabo-verdiana...

Não ,não.
Responde, em meio sorriso, alfero J.
Já esgotei a micção...

Passeiam depois da cena do banho forçado.
Antes de saírem,deliciam-se a ouvirem os Cânticos Celestiais do Coro ,ensaiado pelo alfero, das "Bajudas de Fá"... Rossini...em lá menor...

Anónimo disse...

Caro Cabral e alfero
Se não fosse eu,estavas tramado!As meninas não te apertavam a mão nem lhe oferecias os nenúfares.Tu querias era brincadeira.Tiveste sorte não rebentarem as armadilhas aí colocadas - terias sido considerado um morto em "combate".Um heroi em decfesa das "donzelas" Um abraço
A. Branquinho

Anónimo disse...

É claro que o "nosso Alfero" não podia morrer em combate, pois que já estava "morto de amores" pela bajuda.

Como sempre, sensacional.

José Martins

Anónimo disse...

Um verdadeiro "ientlemen", o que para que não sabe é a tradução livre de gentleman em "pretuguês".

Grande e saudoso abraço Alfero
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Eu, o Torcato Mendonça e o Jorge Cabral (e também o Beja Santos) já aqui falámos desta família Brandão, que vivia numa "ponta", a entrre Bambadinca e Fá... Escreveu o Torcato:

"Luís Graça: não sei se a Ponta Brandão de que falas, se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné. Creio que por razões de ordem politica.

"Tenho disso uma recordação muito fraca. O vago-mestre parece que ia lá comprar vegetais. Passei lá uma ou duas vezes. O Velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres, mais velhos que nós. Falei com, pelo menos, um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona, etc.

"O Velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú, encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois, noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi... deslizava e queimava... e ele olhava... respirei fundo e soprei forte. Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei".

(Continua)

Anónimo disse...

Excrevi eu (Luís Graça):

Torcato: Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sargentod e mês, mais exactamente)... O Jaime, o nosso vague-mestre (da CCAÇ 12), batia região à cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...


O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...

Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou caboverdiana... A família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC...

E a propósito de civis de Bambadinca, soube pelo Dr. António Vilar - o médico do BART 2917, que sucedeu ao Mário Ferreira - que o Rendeiro ainda está vivo. Com cerca de 90 anos, vive em Murtosa, separado da esposa africana, que era filha de um régulo mandinga e que ele nunca nos mostrava. Era a mãe dos seus numerosos filhos... Jantei algumas vezes em sua casa... O seu chabéu era famoso... Em troca, ele queria saber coisas da vida do quartel...

Recordo-me de ele me ter dito que fora para a Guiné aos 17 anos... Terá nascido, portanto, em 1920.

(Continua)

Anónimo disse...

Por sua vez, o Jorge Cabral "ia lá tomar chá"...

"Confirmo.Fui visita assídua do Senhor Brandão, principalmente durante as férias da filha que trabalhava em Bissau. Era natural de Viana do Castelo ou da Póvoa de Varzim,já não me recordo bem.Teria na altura quase 80 anos, mais de 40 de Guiné e muitos filhos.

"A aguardente de cana era fogo...mas matava qualquer bicho, mesmo os imaginários...Abraço. Jorge Cabral"

Vd. poste 7 de Abril de 2010
Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (65): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/04/guine-6374-p6126-excitacoes-57-os.html

Luís Graça disse...

Os românticos também mijam, pois claro... tal como os homens também choram, e os heróis também têm medo, e os santos também desesperam, e os que não são santos também se acagaçam...

Jorge: ainda bem que a tua musa inspiradora deu sinais de vida... Ela (e tu que trazes, de vez em quando, a fazer chichi à nossa Tabanca Grande) é sempre bem vinda, como podes ver pelo comentários bem humorados aqui deixados pelos nossos leitores...