domingo, 13 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7773: Memórias de Mansabá (15): A construção dos destacamentos de Banjara e K3 (Ernesto Duarte)

1. Para as suas Memórias de Mansabá, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), em mensagem de 8 de Fevereiro de 2011, manda-nos mais este relato.

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (15)

DESTACAMENTOS DE BANJARA E K3

Nós tivemos uma vida muito ocupada, a zona era muito grande, íamos muitas vezes ao comando, e aqueles homens maravilhosos, vinham ter connosco, juntávamo-nos em grupinho, falávamos baixo, e depois só se falava na saída.

Um dia lá recebemos ordem para nos prepararmos, para irmos limpar a estrada Mantida / Banjara. Lá fomos e tirámos não sei quantas árvores, normalmente com os guinchos das viaturas até que chegamos a Banjara*. Dá-se o encontro com tropas de Bafatá, muitos apertos de mão, muitas fotos tiradas pelo serviços do Exército, um içar de bandeira, com tropas nossas e de Bafatá, e lá ficámos não sei se três se quatro dias, mais não deve de ter sido. Fizeram-se umas emboscadas, apanharam-se muitos civis, a quem deram conservas e disseram que a partir daquela altura tinham ali a tropa para defendê-los e auxiliá-los, para irem dizer aos outros e que viessem para junto da tropa. Penso que não veio nenhum.


Foto: © Alfredo Reis (2009). Direitos reservados.

Entretanto começa a funcionar uma lógica, Farim devia de estar para próximo, falava-se disso inconscientemente com uma certa naturalidade.

Um dia fomos todos chamados, muito às claras, em pleno dia e partimos de imediato, tendo-nos sido dito que iríamos para Banjara. Íamos lá para tomar consciência das condições que iríamos encontrar e o que teríamos que fazer para melhorar o espaço. Mais parecia um passeio, mas teve os efeitos desejados, quase desejados, os mais distraídos deixaram de falar de Farim e começaram a falar de Banjara, porém os mais conscientes perceberam que Farim era uma questão de dias.

Aquartelamento do K3
Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

E um dia, não sei quando, ordem levar os sacos com os camuflados, tudo o que era ferramentas, correntes, guinchos, muitas munições, muitas granadas de bazuka e morteiro 60 e 82. O grupo que foi fazer o golpe de mão saiu pela estrada de Manhau, a coluna e todo o material saiu alta noite já pela porta certa, foi longa a viagem mas calma, o golpe de mão tinha corrido bem e foi chegar e começar a cavar, a cavar o K3 (Saliquinhedim)**.

Eu não tenho poder nenhum, apenas sou um indivíduo que nunca foi sócio de nada, que também nunca se comprometeu com a religião e muito menos com partidos políticos, mas um fulano que além de nunca dizer nada para fazer jeito, tenta ser delicado. Tem outro grande defeito, que é gostar muito e muito da sua terra. Não tive problemas na tropa, não tive problemas na vida civil, dei sempre a cara e é nessa qualidade de cidadão pleno, que relembro aquele Pelotão de Sapadores que cavou connosco que teve tanta importância no abrir daqueles buracos, no cortar daquelas palmeiras, no colocar aquele arame farpado. A minha Companhia foi grande, enorme, nos ataques violentos que sofreu, no fazer os abrigos, cavar, cavar, mas teria sido muito mais difícil sem a colaboração daquele grupo de Sapadores.

Os ataques foram dois ao anoitecer, dois três dias depois de começarmos a nos instalar e dois, três dias depois, portanto tudo numa semana.

Foi impressionante a violência dos ataques, impressionante o barulho de tiros e granadas, das chamas das armas vistas de frente, do clarão do rebentamento das granadas, com outro ruído ensurdecedor, dos disparos das LDM, como disparo e o barulho na floresta; depois silêncio, silêncio, cavar, cavar, cortar mais e mais palmeiras e ir passear à cidade de Farim.

Se as granadas que caíram dentro do perímetro do aquartelamento têm rebentado todas, o número de baixas seria elevado, mas por mau estado, com cavilhas, sem espoletas e mal lançadas, ficaram muitas e muitas por rebentar.

Foi criado como um contributo para estabelecer a paz na zona. Deve de ter sido amaldiçoado, tinha um cemitério lá dentro, tendo o grupo Os Caveiras da minha Companhia caveiras verdadeiras às entradas dos abrigos, tendo causado grande zanga na dona Supico Pinto, presidente do MNF que nos visitou lá no K3.


Ernesto Duarte
____________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu...rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4211: Os Bu...rakos em que vivemos (6): Banjara, CART 1690 (Parte II): Lugar de morte (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)
e
23 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4995: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (5): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – O meu Bura… ko em Banjara!

(*) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7747: Tabanca Grande (266): Nuno Dempster, autor do poema K3, agora publicado em livro, ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 1792 (Saliquinhedim/K3, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, 1967/69)

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7767: Memórias de Mansabá (3): Uma ida ao Morés (Ernesto Duarte)

4 comentários:

Chapouto disse...

Companheiro e amigo Ernesto tocasto no meu pensamento a cerca de Banjara que não sai da minha cachimónia pelo que lá passei, fome sofrimento e acima de tudo psicológico.
Mas vamos a Banjara 26NOV65 ocupada pela Comp. 1426 de Bafatá passando por 54 abatizes desde Mansaina até Banjara e pela vossa Comp. passando por 18 aabatizes até Banjara onde nos encontramos por volta das 10H00 da manhã onde encontrei o 2º. Sargento Carvalho que era da minha Comp. transferido para a vossa, depois dos devidos cumprimentos deu-se o içar da Bandeira o meu Capitao ordenou que alguém fosse acima do telhado po-la eu ofereci-me e lá subi para cima da casa e me foi chegada já com um pau e uma corda que eu atei num barrote, começaram aí as passas de Banjara com a devida vénia e martírio para muitos.Uma ocupação sem um tiro, IN nem vê-lo, para quem dizia que era uma operação de alto risco ainda bem que foi o contrário as maiores dificuildades vieram depois
Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur.Mil.O.E. CCaç.1426 Guiné 65/67

Anónimo disse...

Camarigo Ernesto!
Quando nós (CCaç. 2753) chegámos ao K.3,-Saliquinhedim- após termos acompanhado e assegurado a protecção aos trabalhos de asfaltamento da estrada Mansabá-Farim,(mais própriamente até à margem esquerda do rio Cacheu, frente a Farim)integrando o COP 5 ou 6, já não me recordo bem,conjuntamente com a CART.2732 do Vinhal, e com uma Cª. de Comandos, creio que a 28ª. e uma Cª Pára 121 ou 122?, também já nao me lembro ao certo, lembro-me é do nome do seu Comandante, o Cap.Pára Mira Vaz, que mais tarde haveria de efectuar operações no Oio, com a n/C.Caç 2753, e até elogiar, está registado em relatório de operações, o desempenho desta Cº.Açoreana, na pessoa do Alf.Milº. Vitor Junqueira, membro da n/Tabanca, e que na altura comandava, e bem, 2Gr.Comb. nossos.
Mas voltando ao K.3 própriamente dito, aquilo quando lá chegámos para ficarmos lá em quadrícula, como dizia ás ordens do COP 5? - 6?-sediado em Mansabá,era mesmo um buraco quanto a instalações para 1 Companhia, tivemos que ser pedreiros, carpinteiros, trolhas eu sei lá, o V.Junqueira que diga, até nos caia a pele dos ombros, de carregar tijolo burro, e baldes de massa. Mas enfim lá nos desenrascamos, e lá conseguimos sobreviver cerca de 14/15 meses, até regressarmos a Mansabá, para rendermos a madeirense CARTª.2732 do C.Vinhal, também por lá já tinha passado o n/camarigo Jorge Picado, como seu Comandante ocasional durante pouco tempo, mas isso já não coincidiu connosco, a 2753.
Enfim, recuerdos...!

Mas vale sempre a pena,especialmente entre a n/camarigagem,... camarigagem? , estará bem escrito?...olha não sei, vocês entendem

Um abraço tamanho do Oio e do Morés junto.
F.Godinho (C.Caç.2753)

Anónimo disse...

´Fomos nós, a CCaç 1422 do BCaç 1858 que viemos a completar as instalações que vocês começaram e ali esteve a Companhia desde Fevº 66 (?) até ao final da comissão ABril de 67. Instalacões subterraneas, óbviamente. A minha secção tinha um buraco bem bom com duas ligações a outros dois buracos onde instalávamos a bazuca e o morteiro. Tenho uma foto que à entrada dizia,com garrafas de cerveja,"1421". Portanto Camarigo Ernesto provávelmente ainda nos encontrámos por lá e haveremos de nos encontrar por cá. Também estive em Mansabá ainda com os "Àguias Negras" e aí tomei conhecimento com a porra da morte pois que não mais esqueci aquela mina à saída de Manhau que vitimou o pobre do furriel Feijão que havia sido encarregue de me ensinar como era aquilo. Bom até outro dia.Um abraço do Veríssimo Ferreira, Fur.Mil. C/Caç 1422

Anónimo disse...

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