sábado, 12 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7771: Memória dos lugares (136): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (1)

1. Mensagem de António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 11 de Fevereiro de 2011:

Boa noite
Cá vão mais algumas fotos daqueles tempos idos, tirados "nha terra di no parente"

Sendo Bedanda uma localidade fácilmente acessível por via marítima, sobretudo graças aos caudais dos rios Cumbijã e do seu afluente Ungauriuol  (creio que é esta a forma correcta de se escrever, ou pelo menos é assim que aparece na carta militar), e que inclusivamente tinha um pseudo cais com acesso ao povoado, era natural que esse recurso fosse utilizado quer para reabastecimento da população e do aquartelamento, quer para escoamento dos produtos da terra, que praticamente se resumia à bianda.

Também era usado como meio de transporte para a população de e para Bissau.
Esse abastecimento era efectuado uma vez por mês, e o dia da chegada dos barcos era feriado local, ou dia de ronco como eles diziam.
Claro que um comboio marítimo de tamanha envergadura (ainda eram quatro ou cinco barcos civis), tornava-se absolutamente indispensável uma escolta que era efectuada pelos Fuzileiros Navais com as LDM's e com alguns sintexs.
Assim, quer no dia da chegada, quer no dia da partida, era também necessário um patrulhamento às margens do rio, para a segurança do comboio, patrulhamento esse que estava a nosso cargo, havendo também segurança aérea.

E preciso também referir que Bedanda estava dividida em dois polos distintos (geográficamente falando), estando a nascente o aquartelamento da CCaç 6 e uma tabanca, e a poente a povoação com duas ou três casas comerciais que disponibilizavam à povoação alguns géneros alimenticios, assim como diversos materiais de construção. No meio desses dois polos, estava a pista de aviação. De referir que no polo a poente existia um destacamento de um pelotão da companhia, e era por isso que todos chamávamos a esse local, o Pelotão. Era precisamente junto ao Pelotão que os barcos atracavam e onde se mantinham durante os quatro ou cinco dias necessários para toda essa operação.

As fotos que vos envio hoje são todas relativas ao que aqui está exposto.

PS: - Creio que neste caso não será necessário legendas para as fotos.
No entanto gostaria só de salentar que na foto B144 está o "Pelotão", onde se pode ver algumas das casas comerciais.
Na foto B37 estou eu e o meu grupo depois da chegada do patrulhamento aos barcos. Atrás de mim está o sempre fiel Aliú Djaló, que nunca me largava e na ponta esquerda, em pé, o Cabo Fernando, um dos melhores guerrilheiros e pisteiros que conheci (era práticamente o meu braço direito).
Na B105, quem aparece em primeiro plano é o cabo enfermeiro, que lamentávelmente não me lembro o nome ( se alguém me puder ajudar).
Na foto B114, ao meu lado (lado esquerdo na foto) está um Furriel do meu grupo que também não me lembro o nome. Sei que é de Setúbal (aparece novamente na foto B115). O outo é o cabo das transmissões. Na foto B119 pode ver-se bem a protecção aérea.

Um grande abraço para todos
António Teixeira



Localização de Bedanda. À esquerda da figura, na direcção Norte/Sul, situa-se a estrada Catió/Buba.

Foto B8

Foto B9

Foto B11

Foto B37

Foto B105

Foto B106

Foto B107

Foto B108

Foto B109

Fotos: © António Teixeira (2011). Direitos reservados.

Nota do editor:

Em próximo poste serão publicadas as 9 restantes fotografias enviadas pelo camarada António Teixeira, referenciadas na sua mensagem.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7732: Memória dos lugares (134): Algumas fotos da minha breve passagem pelo Pelundo (António Teixeira)

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7761: Memória dos lugares (135): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6 - 1972/73 (2) (Vasco Santos)

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro António Teixeira:
Caro António Teixeira
Devo referir que devo ter sido dos primeiro a comentar BEDANDA. Estive nessa região que calcorrei a pé por bolanhas,subi o Unguariuol de canoa, ía quase todos os dias a Cobumba, onde estava um cais com rampa, onde atracavam os NM maiores, a escolta era apenas dentro desses transportes, uma a duas secções, comandadas por um ou dois sargentos
Fiz sózinho cerca de 56 Kmts pela mata do Cantanhês. Na 4ªCªCaç, eramos apenas 3 a 4 alferes e um cap.
Estive nesses locais desde 20 de Set de 1963 a Ago 1964, fui alferes
e as povoações que o meu amigo fala
são Amedalai lá no alto, a companhia estava para leste dessa, em frente da casa do Chefe de Posto, havia um destacamento comandado por um sargento e eu comandava o pelotão que aboletava em Bedanda própriamente dita a cerca de 700mts do "cais" no Unguariuol, a norte, e a sul, o campo de aviação.
Fui flagelado no meu pelotão pelo menos duas vezes por mes, quer via morteiro, quer de ataques directos, quer de canhão sem recuo (penso) e de uma metralhadora .50,
conheço a região palmo a palmo e penso actualmente nela como se lá estivesse, minei em volta do meu aquartelamento com cerca de 28 minas pessoais e anti-carro adaptadas a antipessoal com cordões de tropeçar e garrafões de 10 litros cheios de invólucros e gasolina por cima (o detonador superior desactivei-o), e bem camufladas em arbustos naturais.
Vejo no google e reparo que há muito mais moranças e os campos estão cultivados, mas meu amigo num dos seus primeiros comentários
referiu que esteve numa operação nocturna no Unguariuol,junto do Nhai com o Figueiral a inspeccionar tudo o que era canoa.
Meu amigo, Nhai fica a cerca de 7 km ( de mata)do riozito que, no local mais perto de Nhai, deve ter cerca de tres metros de largo, deve ter-se por certo enganado.
O pequeno afluente do Cumbijã, distava cerca de 800 mts das povoações de Incala;
Rossum Hole; Caboxanque e mais duas aldeias que de momento não recordo o nome.
Pois, já tentei comunicar com o Figueiral via mail, mas "nepias"!
Gosto das suas fotos que acho magnificas, só tenho pena que no meu tempo só houvesse "caixotes" de fotografia.
Cumprimentos
Rui G.dos Santos
ex-alf-mil

Anónimo disse...

Que grande memória tens!Esqueceste-te de dizer que as batatas já chegavam sempre podres e,por isso,a ementa do almoço e jantar era sempre a mesma:bife de vaca com arroz,durante 2 anos.
O alferes do Pelotão era o Baltasar de Esposende.Vê se o descobres.Abraço.José Figueiral.

Anónimo disse...

Caro Figueiral
Bem dito por quem ainda comia batatas pois nós houve uma altura que não tivemos reabastecimento e tivemos que comer bacalhau com arroz, arroz com bacalhau,e por aí fora durante 36 dias seguidos, o que vale é que gosto de bacalhau e ía porvezes caçar rolas e eu e os meus sargentos comiamos rolinhas fritas ao pequeno almoço.
Voltei apenas para rectificat que Caboxanque fica mais para sudoeste 12 a 15 Kmts em linha recta e queria-me referir a Contumbum.
Tenho uma boa memória sim senhor, obrigado!
Uma vez fomos reabastecidos via aerea, mas os pilotos tinham medo de aterrar com os noratlas (ou coisa parecida) e então faziam a pista no sentido oeste leste e deixavam cair as caixas com batatas
cebolas, couves, cenouras, etc e claro partiam-se todas quando caiam, e ai estamos todos á procura de alimentos em volta da pista.
Estou apto a responder a tudo o que tenha ocorrido no meu tempo nessa região!
Rui G.Santos

Luís Graça disse...

Obrigado, António, por levares a tua máquina fotográfica para o mato, com os teus homens... E obrigado por decidires agora divulgá-las através do meu/teu/nosso blogue...

O que será feito dos nossos camaradas guineenses, dos teus, da CCAÇ 6, e dos meus, da CCAÇ 12 ? O que será feito de todos aqueles homens, nossos camaradas, brancos e pretos, que calcorrearam as bolanhas, as lalas, os tarrafos, as florestas-galeria, as rias, os rios do teu Tombali ? Ou do meu Xime e do meu Corubal e do meu Cuor ?

Daqui, do sul, de Alfragide (nome de origem árabe), vai um abraço do tamanho do Cumbijã ou do Geba ou do Tejo ou do Douro... Rios da nossa aldeia, do nosso mundo, que não passa de uma aldeia... Luís Graça

Anónimo disse...

So queixumes acerca da mandioca e, nos praças que comiamos apenas bianda com "mafe"? Mafe era um molho feito pelos n/cozinheiros que va la saber-se de que seria feito. Alguns opinavam que era dos craques da bolanha?? Enfim outros tempos. um abraço/vasco santos

Anónimo disse...

No comentário que fiz,refiro-me à memória do Teixeira,pois o texto do Rui Santos ainda não existia quando escrevi.Um abraço.José Figueiral

Anónimo disse...

Caro Teixeira

Que recordações! Ver aqui nestas fotos exactamente os mesmos trilhos que também calcorreei.

Na foto onde estás com o teu Grupo, vê-se ao fundo à esquerda um abrigo, com posto de sentinela em cima, que penso ser o abrigo onde eu dormia.

Um abraço

José Vermelho