quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7676: Bibliografia (35): Ninte Kamatchol: a história da capa de um livro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Nunca se recupera de uma relação feliz com uma escultura que é eminentemente bela, seja qual for a sua dimensão. Havia que se encontrar um elemento sugestivo para a história de uma heroína anónima com que eu espero encantar alguns leitores. Mostrei este Ninte Kamatchol, foi aprovado por unanimidade.
É com orgulho que vos transmito a notícia, é um pouco da Guiné numa história de uma Guiné que nos precedeu.

Um abraço do
Mário


"Mulher Grande" livro de autoria de Mário Beja Santos, a lançar no próximo dia 10 de Março de 2011, pelas 18,30 na Livraria Bertrand do Chiado, Lisboa


Ninte Kamatchol: a história da capa de um livro

Beja Santos

Na então Praça do Império (hoje Praça dos Heróis Nacionais) visitei, em 29 de Julho de 1968, o Museu da Guiné. A primeira carta que enviei à minha namorada, referi que era um museu cheio de obras de grande beleza, sobretudo na escultura em madeira, panaria e artigos em couro. Lamentava a falta de referências das obras, era um ambiente soturno, abafado, não havia documentação à venda, inclusive catálogos. E dizia expressamente que a arte Nalu e arte Bijagó eram esplendorosas, sobretudo um pássaro reduzido um corpo longilíneo, harmoniosamente suportado por uma base canelada. A partir dessa data, as minhas relações com o pássaro Nalu foram constantes e de paixão controlada. Distribuí pássaros Nalus pelos amigos e familiares, quando regressei em 1970, o mesmo aconteceu nas viagens de trabalho de 1990 e 1991. Claro está, pássaros de dimensão média ou até pequena. O Ninte Kamatchol é hoje um dos símbolos da Guiné, até constou das notas de pesos, logo a seguir à independência: para além da fantasia da forma, os animistas atribuem-lhe virtudes quase miraculosas como a de afugentador dos maus espíritos, protector do lar ou da família. Como cada um é livre de ver numa obra de arte o que lhe apetece, sempre tomei o Ninte Kamatchol como a ave que transborda e transporta felicidade, é um permanente levantar voo, ele olha-nos a perscrutar o nosso humor, como se nos pedisse: põe-te bem contigo e com o mundo.

Na viagem que fiz recentemente à Guiné, tomei a decisão de mandar fazer um Ninte Kamatchol à minha medida: em posição de voo, assente numa coluna que rematasse num plinto escavado, leve, para parecer despercebido. Fiz a encomenda antes de partir para Bambadinca e recebi-o no dia da partida, ao entardecer de 1 de Dezembro, encerado, sem brilho algum.

A Mulher Grande é o título de um livro que será lançado em 10 de Março e onde a sua heroína vive uma série de peripécias entre os anos 50 e 60. Não é por acaso que o livro se intitula Mindjer Garandi. Havia que encontrar elementos sugestivos, logo confessei que nada me ocorria para um vida venturosa e aventureira de cerca de 90 anos e com facetas tão díspares. Lembrei-me então do pássaro Nalu, esse portador da felicidade, esse limpa ódios e até abençoador de cerimónias fúnebres. O Ninte Kamatchol foi recebido com entusiasmo pelos gráficos que decidiram plasmá-lo na capa, como se mostra.

Os meus confrades muito me honrarão se assistirem ao lançamento desta Mulher Grande com ilustração de Ninte Kamatchol em 10 de Março, pelas 18.30 horas, na livraria Bertrand, do Chiado. A apresentação será feita pela escritora Lídia Jorge.

OBS: - Negrito da responsabilidade do editor 
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7659: Notas de leitura (193): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel Jesus Carreira Rei (Mário Beja Santos)

1 comentário: