sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restantes atabancados.
A minha ligação ao pessoal do Pel Rec, acaba por aparecer nas minhas estórias por causa de minha relação especial com eles, desde de a viagem do Porto para Abrantes.
Ainda não sabíamos que eu ia com eles para a Guiné. Aliás de todos os Condutores que vieram do RI6 comigo só eu fui para a Guiné.

Um abraço para todos
Juvenal Amado




Estórias do Juvenal (33)

O LÉO E A MACACA CHITA

Soldado Pel Rec e carteiro dos CTT na vida civil, não sei como foi parar a padeiro da CCS do 3872.
Não sei mas foi um bom padeiro.

Após a chegada a Galomaro, não tenho ideia que de lá tenha saído alguma vez, nem para ir a Bafatá. Era afável e amigo de praticamente toda a gente, digo praticamente, pois só o ouro agrada a todos e ele era como nós de carne e osso.

No trabalho diário de pôr na mesa dos camaradas o pão nosso de cada dia, estava dispensado de formaturas, reforços, ou qualquer outro serviço para além do seu.
Fardado sempre a rigor em calções e tronco nu, ficou barato ao Exército no que diz respeito ao fardamento.

Nunca negava um pãozinho a quem lho pedisse.

Por ordem do Comando, fazia uns pães pequenos individuais na vez do famoso casqueiro onde era normal retirar o miolo, que depois de amassado servia de arma de arremesso a um camarada para chatear.

O pão era pois saboroso, praticamente todo consumível e era também o ideal para levar nas rações de combate. Também na nossa cantina havia umas sandes de queijo ou fiambre, para nosso prazer e lucro da instituição. Isto era para quem tinha dinheiro vivo, pois ao contrário de outros quartéis do nosso batalhão, ali não havia fiado.

Penso que foi uma forma de poupar uns bons quilos de farinha e em vez de desagradar, como acontece quando os nossos superiores decidem economizar nalguma coisa, esta ordem foi de agrado geral.

Está claro que o Léo beneficiava de um estatuto que o fazia presente em tudo o que fosse petisco, que muita vez era cozinhado na própria padaria.
Com os seus ajudantes de padeiro, recrutados nos garotos da população assim ele de forma bem económica poupava o esforço físico para além do estritamente necessário.

Enfim ele estava feliz com a ajuda e os garotos, que comiam no quartel, recolhiam os restos que levavam para as suas casas também eram felizes.

Talvez o único aborrecimento sério tenha sido provocado pela sua macaco-cão Chita de seu nome. Tinha-lhe sido deixada pelo padeiro velhinho do 2912, ainda pequena, mas na altura desta estória já ela era adulta e grande, pois já foi para o final da comissão.

A Chita gostava de cerveja tanto como nós. Assim nós deixávamos no fundo da garrafa sempre um restinho, que ela bebia depositando depois a garrafa no fundo do bidão.

Está claro que ela apanhava monumentais bebedeiras e andava depois aos guinchos, agarrava a cabeça, ia de um lado ao outro da cantina para nosso regozijo.

Certo dia a Chita com os copos, decidiu pendurar-se nas árvores ainda jovens, que tinham sido plantadas na parada do quartel e que eram o desvelo do nosso Comandante Tenente Coronel J.M. Castro e Lemos.

Escusado será dizer que as pequenas árvores ficaram como se tivesse passado por elas um tufão. Braças partidas, desfolhadas e meio arrancadas eram a visão de um autêntico desastre.

Quem foi? De quem é a macaca?

Logo chegaram os nomes ao nosso Comandante. O castigo foi sem apelo. O Léo tinha que se livrar da sua Chita.

Abatê-la estava fora de caso. Ninguém era capaz de o fazer.
A única solução à vista foi enviá-la para Cassamba, onde estava um pelotão na altura que se não estou em erro do Dulombi, que tomaram conta dela e a traziam sempre que vinham a Galomaro.

Era ver o Léo com a macaca abraçada a ele e vice versa. Mais tarde trouxeram-na às escondidas para Galomaro, onde passou a ser vigiada e estando presa a maior parte do tempo.

Quando havia revista, lá um dos ajudantes de padeiro se escapava com ela para a tabanca.

Penso que o Léo a deixou ao seu substituto na padaria.

Infelizmente o nosso camarada veio a falecer pouco tempo depois do nosso regresso. Foi atropelado em Lisboa quando exercia a sua profissão de carteiro.
Recordo-o com saudade hoje.

Há 37 anos por esta altura, só pensávamos no regresso não sabendo, que ele nos deixaria pouco tempo depois.

Paz à sua Alma
Juvenal Amado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Juvenal Amado

Em Canjadude tivemos mais que uma história envolvendo os primatas, homem e macaco. Um destes dias vou narrar a do Dakar, que foi uma mascote da secção de transmissões.

É normal, que quando se estabelecem laços de proximidade entre animais em que um deles é de tenra idade e afastado dos progenitores, que por parte deste, se desencadeie instintivamente, a criação de padrões fixos de acção, (imprinting) ou seja, fixa-se e protege-se no outro (objecto que se mova ou animal) interpretando-o, como se fosse a sua mãe.

Sempre me atraiu o comportamento animal e fui muito influenciado, pelo Etólogo, Desmond Morris, ao ler o seu livro, quando estava em Canjadude – O Macaco Nu. Foi um livro, para a época, controverso e que gerou muita discussão, mas abriu novos horizontes para o avanço da etologia do ser humano, que obrigou a desencadear investigação.
Creio ter lido quase toda a obra do Desmond Morris; Homens e Macacos, O Macaco e a Arte, A Biologia da Arte, A Tribo de Futebol, etc. Mas nenhum me influenciou tanto como - O Macaco Nu, talvez por ser o primeiro que li do autor.

Um abraço e saúde para continuares a contar as tuas estórias.

José Corceiro

Anónimo disse...

Meu caro Juvenal,

Lamento a morte do teu camarada.

Durante o tempo que estivemos nos Destacamentos da Teixeira Pinto foi possível criar um autêntico Zoo.

Em Bassarel havia uma macaquinha bébé com um defeito no dedo médio de uma das mãos.

Quando a fechava, ficava com aquele dedo estendido...Por isso mesmo passava o dia a fazer-nos manguites. Para risada da malta!

Um abraço amigo,

José Câmara

manuelmaia disse...

JUVENAL,

O PADEIRO TEVE,INFELIZMENTE, O SEU FIM,PROVAVELMENTE NO EXERCÍCIO DA SUA ACTIVIDADE.PAZ À SUA ALMA.
RELATIVAMENTE À CHITA SER ALCOOLICA,EM BISSUM(UM DOS LOCAIS DE FÉRIAS QUE ME FOI PROPORCIONADO)
HAVIA UM MACACO CÃO,EUSÉBIO DE SEU NOME,QUE "ENFRASCAVA" QUE SE FARTAVA...
A TROCO DE UMA CERVEJA QUE SE LHE MOSTRAVA QUANDO ESTAVA PRESO,JUNTO À FERRUGEM,PEDIA-SE-LHE UM NHEC E ELE DE IMEDIATO CORRIA PARA A TABANCA ATÉ AGARRAR UMA GALINHA QUE TRAZIA PARA O QUARTEL LARGANDO-A SÓ QUANDO RECEBIA A CERVEJA...
abraço
manuelmaia

Luis Faria disse...

Juvenal Amado

Quantos afectos se transmitiam para animais ,que nos faziam sentir melhor em horas de maior solidão,como se pressentissem (?)os nossos estados de Alma!
Eu tive as minhas "Sheilinha e Belinha" que infelizmente me desapareceram!
Um abraço
Luis Faria

Luís Dias disse...

Caro Juvenal

No Dulombi também havia um macaco verde que pertencia ao "escrita" da Companhia. Não havia qualquer incómodo com ele, até porque muitos elementos da companhia possuíam animais de estimação como cães (diversos), gatos Furriel Gonçalves por exemplo(um deles julga-se ter sido abatido por ordem do nosso TC em Galomaro, por ter atacado a célebre gaiola dos pássaros do comandante),como o Furriel Jara (já falecido), que tinha um largarto - o Clemêncio - que o passeava na parada, etc. Aconteceu que nós tínhamos uma galinha e uns pintainhos que andávamos a criar para comer, é claro. Um dia vamos dar com o caramelo do macaco do escrita agarrar os pintos e a entreter-se a separar-lhes a cabeça do corpo. Sacana, com o alarido, conseguiu fugir para a árvore grande situada em frente ao refeitório, como te deves lembrar. A sentença do capitão foi simples - passar o macaco pelas armas. O Escrita não tinha coragem e pediu-me para ser eu a executar a missão. Tive pena, mas com um tiro de G3 certeiro o resto dos pintos ficaram a salvo das investidas do macaco.
Lembro-me do camarada padeiro. Paz à sua alma.
Luís Dias

Anónimo disse...

Amigo Juvenal o Jacinto da Graca Leo era natural dum lugar chamado Tom, Longomel, Ponte de Sor norte do Alentejo. Quando acabou a instrucao primaria foi para aprendis de padeiro ate que um familiar o levou para a REGIAO DE Lisboa trabalhar para os CTT. Pouco antes do estupido acidente que o vitimou tinhamos estado juntos no Barreiro onde viviamos a beber umas cervejas e a recordar os tempos passados em galomaro. Quanto a macaca ela viajou connosco so que dormiu durante os sete dias da viagem, fui eu que dei ao mecanico Pinto uma caixa de valium que a fez repouzar durante toda a viagem dentro dum saco de serapilheira. Um abraco do tamanho da Guine. Augusto Catroga

Anónimo disse...

Amigo Juvenal o Jacinto da Graca Leo era natural dum lugar chamado Tom, Longomel, Ponte de Sor norte do Alentejo. Quando acabou a instrucao primaria foi para aprendis de padeiro ate que um familiar o levou para a REGIAO DE Lisboa trabalhar para os CTT. Pouco antes do estupido acidente que o vitimou tinhamos estado juntos no Barreiro onde viviamos a beber umas cervejas e a recordar os tempos passados em galomaro. Quanto a macaca ela viajou connosco so que dormiu durante os sete dias da viagem, fui eu que dei ao mecanico Pinto uma caixa de valium que a fez repouzar durante toda a viagem dentro dum saco de serapilheira. Um abraco do tamanho da Guine. Augusto Catroga