quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...








Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Gr Comb > O Jacinto Cristina, soldado, municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10,7... Na foto imediatamente acima, o Cristina posa para a fotografia junto de um canhão s/r 75 mm, m/52 (se não me engano...); esta arma era meramente decorativa, já que estava, de  há muito,  inoperacional (no TO da Guiné, usava-se ainda os calibres 57 mm e 106 mm, este sobretudo montado em jipes, e destinado a defesa a aquartelamentos e destacamentos; era uma arma pouco popular, perigosa para as guarnições por causa do cone de fogo, um dos meus camaradas de Bambadinca, o Sargento Parente, morreu, no Saltinho, com um disparo inadvertido de canhão s/r 82 mm, uma arma muito utilizada pelo IN, tal como o canhão s/r 75 mm).


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Jacinto Cristrina, um bravo de Caium,  fez 61 anos no dia 14, domingo. Este fim de semana vai comemorar com a família. Infelizmente, desta vez, não poderei sentar-me à mesa, com ele, a esposa Goretti, a filha Cristina, o genro Rui Silva, a neta (a Princesa)... Mais a Alice, a minha cara-metade.  O petisco vai ser borrego assado no forno do padeiro, como só a Goretti sabe fazer. 

Não podendo aceitar o convite, por razões de agenda, prometo que, na melhor ocasião, quando lá passar,  por Figueira de Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo, sentir-me-ei honrado e feliz por lhe poder dar, ao vivo  o abraço de parabéns (ou o quebra-costelas) que ele merece, de camarada para camarada. 

Aproveitarei ao mesmo tempo para dar-lhe notícias do Carlos Alexandre, outro caiumense, natural de Peniche que nos veio esclarecer sobre a história da concepção e construção do monumentos aos mortos do 3º Gr Comb... Acabo, entretanto, de transmitir por telefone o essencial desta história extraordinária de amizade e de camaradagem dos bravos de Caium, à Goretti, já que o noctívago do Jacinto estava a descansar; sei também que o Carlos, depois da publicação do seu primeiro poste,  telefonou ao Cristina, mas que este ainda não viu a foto que prova, por A + B, que o referido monumento foi colocado no tabuleiro da ponte da  ainda no tempo da malta do 3º Gr Comb da CCÇ 3546; o Carlos não compreende e tem dificuldade em aceitar a amnésia que deu a estes caiumenses, e nomeadamente aos alentejanos Cristina, Sobral e Barroca. 

Tenho comigo o outro álbum fotográfico que ele me emprestou, em Setembro passado, e que está pronto para lhe ser devolvido, depois de seleccionadas as fotos que me interessavam. É desse álbum que retiro as imagens, digitalizadas por mim, que documentam uma outra faceta do Jacinto, a do municiador (e, às vezes, apontador) do morteiro 10.7 (*).

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Nota de L.G.: 

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Caiumense Cristina
Os votos de um Feliz Aniversário, já vão atrasados, no entanto aí vão eles.
Manga di saúde para Bó
Mantenhas
Luís Borrega
Caiumense Velhinho (1970/1972)

Luís Graça disse...

Luis [Borrega]:

Confirmas o calibre do canhão s/r que vem na foto ? Era um 75 ou um 57 ? Mera curiosidade, afinal não passava de um bocado de ferro velho, ali especado na ponte de Caium, para "enganar" o Zé Turra... Creio que já estava inoperacional no vosso tempo... Ou não ?

Também tenho impressão que, no cenário de guerra da Guiné, tinha utilidade para nós... Era muito mais utilizado pelo PAIGC nos ataques e flagelações aos nossos aquartelamentos, destacamentos e tabancas em auto-defesa...

Eu, que era apontador de armas pesadas de infantaria (e sabia tudo sobre morteiros e canhões s/r), a mim deram-me uma canhota, quando cheguei à Guiné...

Anónimo disse...

Curiosidade de quem nao fez a tropa !

Os numeros em geito de escala em redor do buraco/proteccao do apontador do morteiro
(disse bem ?)bem visiveis numa das fotos, serviam pra que fim ?

Nelson Herbert

Luís Graça disse...

Queria dizer: no cenário da guerra da Guiné, de contra-guerrilha, o canhão s/r, de tiro tenso, tinha POUCA utilidade para nós... A malta preferia o morteiro e o obus... Nunca vi nenhum canhão s/r a funcionar no leste. Para o PAIGC, pelo contrário, era uma arma indispensável nos ataques às nossas instalações...LG

Luís Graça disse...

Nelson:

Os números que tu vês, no espaldão do morteiro, fazem parte de uma espécie de tabela de tiro. Davam-te o ângulo de disparo. Havia pontos na carta militar da zona a atingir em caso de ataque (trilhos, margem do rio, picada...). A granada de morteiro podia levar uma carga suplementar para atingir maior alcance.

Eu sabia toda a teoria. Felizmente não pratiquei. E depressa esqueci. Nunca pertenci a uma unidade de quadrícula. Em vez do morteiro, deram-me uma G3...

Luís Graça disse...

Já agora, mais uma achega...O morteiro é definido como sendo uma "boca de fogo", de carregar pela boca (sic), destinada a lançar granadas em tiro curvo, de curto alcance (entre escassas centenas de metros e 10 km).

Arma da apoio à infantaria, desenvolveu-se, ao que parece, com a guerra das trincheiras, durante a I Grande Guerra Mundial (1914-1918).

Na Guiné, tínhamos um morteirete, de calibre 60 mm, que era uma arma temível, flexível, que terá feito grandes estragos ao PAIGC... Cada grupo de combate nosso (30 homens), tinha uma secção de morteiro/morteirete... Levava-se às costas, pesava para aí 10/15kg (com ou sem prato) e tinha um alcance de 1 km... O tiro era directo (com o alvo à vista) ou mascarado (por detrás de um baga-baga, uma árvore, etc.)... Tinha um apontador e um ou mais municiadores... Tinha uma cadência rápida...

O PAIGC também usava uma arma semelhante nos ataques a aquartelamentos e nas emboscadas às NT...

O morteiro que tu vês na foto é já uma arma pesada, com calibre 107 (mm), equivalente a uma arma de artilharia. É uma arma fixa, dita colectiva. Precisava de um espaldão ou abrigo (um buraco enterrado na terra, com paredes em cimento ou sacos de areia)... Devia pesar entre 250 e 300 kg. Podia fazer fogo para 400/500 m (mínimo) e 9 km (máximo), dependendo do ângulo de tiro e da carga propulsora da granada (que podia ser reforçada)...

Para saber mais, consulta:

http://banjo.dsi.uminho.pt/AcademiaMilitar/2002/PDF/Folhas_Avanc/GENER_MORTEIROS.pdf

Anónimo disse...

Thanks Luis..Deu pra compreender !

Em "miudo" um aspecto que sempre moveu a minha curiosidade, devido em parte a natureza letal da mesma...quica esteja errado-era a facilidade com que as bombas dos avioes eram por vezes expostas, em camioes abertos defronte a messe dos sargentos da Forca Aerea...como sabe meus vizinhos...

Era comum ver os tais longos camioes militares-de cor azul, a cor da forca aerea- com carregamento de bombas ( umas 10 a 20 pecas)estacionados a porta da messe..assim exposto..com a criancada brincando ao largo...

Calculo que na viagem de regresso a Base de Bissalanca, tenha virado habito dos motoristas desses camioes, estacionar a porta da messe, para uma cervejinha qualquer...Quem sabe ?

Hoje pergunto tal exposicao nao feria os codigos de seguranca ...que riscos contemplava... ou era tudo natural e da praxe ?

Nelson Herbert