quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)

QUISERA EU... (8)

Por Manuel Maia*

Quisera ter regresso à mocidade,
e ver com outros olhos realidade,
do mundo de mudanças tão tardias...
Quisera analisar com atenção
a fauna e flora belas, mesmo à mão,
sem medos nem cautelas doentias...


Quisera na Guiné ver finalmente,
projecto dum futuro bem presente,
rasgando, par em par, os horizontes...
Aposta no Turismo e Agricultura,
transformaria a míngua em fartura,
servindo `inda outras áreas como pontes...


Quisera no país ver um processo,
capaz e retumbante de sucesso,
motor de arranque a impor o tal sistema...
Turismo e Agricultura, já vos disse,
assim mundo quisesse e permitisse
Guinéu viver aspiração suprema...


Já chega de intestinas vãs disputas,
de caos, destruição, fraternas lutas,
espaço à intolerância é já nenhum...
P`la guerra hipotecado não avança...
país que se quer rumo à abastança
carece sim de opção p`lo bem comum...


E essa opção aponta um só sentido
o dar de mãos, fazer país unido,
gerir, correctamente, a aposta certa...
Na Educação, sucesso a base assenta,
com formação, processo se apresenta,
e um novo sentimento então desperta...


É urgente, é necessário e expectável,
premente, obrigatório, indispensável,
o acordar dum povo adormecido...
A instrução e o pão, fundamentais,
(a insistência aqui nunca é demais...)
impondo ao dirigente, o dirigido...


Quisera cumprir sonho que acalento
p`ra estar lá no Saltinho o tal momento,
de ver apregoado macaréu...
Perder-me em pensamento no remanso,
das águas de bolanha no descanso,
olhar as aves, contemplar o céu...


Quisera eu reviver caça à gazela,
em noite bréu ver silhueta bela
escapulir por entre o arvoredo...
Aos tiros disparados pelo Ginja,
sem que nenhum sequer a peça atinja,
seguiu-se a angústia, a dúvida, o medo...


A zona era onde o IN circulava,
a cada vez que a tropa atacava,
flagelação intensa, intimidante...
naquele dia a sorte foi presente,
p`raquela meia dúzia "inconsciente",
alferes, sargentos, mesmo o comandante...

__________

Notas de CV:

(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.

Vd. poste de 18 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6868: Blogpoesia (80): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (7) (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7242: Blogpoesia (84): Por vezes... Regresso lá (Juvenal Amado)

7 comentários:

Anónimo disse...

Manuel Maia!

Bonito e sentido este teu poema.

Obrigado pois... eu também lá voltei!

Agride de tal maneira a beleza daquela terra, que nos prende!

Gente tão boa e afável, que incompreensivelmente se vai detruindo.

Canta amigo canta, aquela terra que nos prendeu.

A tua poesia pode ser um impulso para que ainda a vejamos livre dos fastasmas que a encobrem.

Um abraço longo como o nosso Cumbijã

Mário Fitas

Juvenal Amado disse...

Pois é Manel Maia

Poesia no tempo passado e nos desejos presente e futuros.
É sina nossa amarmos a terra quer seja o Alentejo, que também retrata a Felismina quer aquele chão vermelho cantado aqui no blogue por tantos.
Seremos os construtores dessa beleza ou simplesmente espectadores?
Cá para mim tu és as duas coisas.

Um abraço

Juvenal Amado

Torcato Mendonca disse...

Manuel Maia

Só agora vi. Comentei a Poesia, o Amor da Amiga Felismina á Terra Alentejana e não li a tua poesia.

Li e reli claro. Aos Poetas tudo se desculpa e que interessa o macaréu ser no Geba ou no Corubal, ser visto do Xime ou do Saltinho?
Gosto e espero mais. A continuação.
Se não houvesse poesia na vida como seriam os nossos dias?? Para dias de absurdo bastaram certos dias em parte de nossa juventude vividos.

Abração Amigo do T.

Anónimo disse...

Caro Manuel Maia!


É preciso não deixar esquecer que...



"Já chega de intestinas vãs disputas

de caos, destruição, fraternas lutas

espaço à intolerância é já nenhum...

P'la guerra hipotecado não avança...

País que se quer rumo à abastança

Carece sim de opção p'lo bem comum...



São precisas muitas vozes, amigo!
E, se fossem só vozes...
gritaríamos mais e mais!

Obrigada por mais uma tentativa de acordar de consciências.
Sempre objectivo!

Um abraço de solidariedade com o propósito.


Felismina Costa

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu camarigo Manuel Maia

"Apenas" te deixo um abraço, porque o resto já tu bem sabes como sinto!

Luis Faria disse...

Amigo Manuel Maia

Cá estás,ainda bem.

Como já referi,não sou um "percebedor"de poesia.Em alguma sinto a mensagem. É o caso.

Um abraço
Luis Faria

Manuel Joaquim disse...

Camarada Manuel Maia

Gostei.
Reli ..., e voltei a gostar."Fixei".

Um abraço