sábado, 6 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7233: Memória dos lugares (109): Cabuca (António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523)


1. O nosso Camarada António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74, enviou-nos, em 5 de Novembro último, excelentes e raras fotos do seu bura… ko - Cabuca: Camaradas, Como tirei uns dias de férias, tenho navegado um pouco mais pelos blogues e veio-me ao pensamento parte do que passei na Guiné, nos longínquos anos de 1973/74, enfiado numa povoação chamada Cabuca.


A minha Companhia, era a 2ª do Batalhão de Artilharia 6523, cuja CCS estava sediada em Nova Lamego (Gabu). Cabuca era formada por uma tabanca situada no centro do aquartelamento, onde residiam oficial e aproximadamente 400 civis, zona habitacional essa circundada pelas nossas instalações militares.
O aquartelamento estava rodeado por uma vala circundante e 2 fiadas de arame farpado, com várias instalações que incluíam os nossos alojamentos, abrigos e uma caserna que era precisamente do meu 1º Grupo de Combate.
Além do pessoal da minha companhia, existia um pelotão de milícia que se destinava à protecção da população, que se dedicava, entre outros afazeres, a trabalhos agrícolas. Simultaneamente, também nos auxiliavam em missões de picagem dos nossos locais de percurso, salvaguardando assim a melhor circulação das colunas de reabastecimento.
Até Nova Lamego distavam apenas 22 km, muito complicados de cumprir e serpenteando a cerca de 15 km surgia-nos o Rio Corubal, que dividia o território da zona libertada (?) - o BOÉ -, pelo PAIGC.
Sempre fiquei pasmado com o escasso armamento para defesa do aquartelamento, pois apenas tínhamos como armamento, além das habituais G3 distribuídas a cada militar, 4 morteiros de 60 mm, 4 Bazucas de 88,9 mm, 2 Morteiros de 81 mm, 2 Metralhadoras BREDA M37 e 4 metralhadoras ligeiras HK 21. É claro que tanto os morteiros de 60 mm como as HK 21 faziam parte da dotação dos grupos de combate.
As missões de patrulhamento e protecção eram asseguradas conjuntamente com o pelotão de milícias, que era comandado pelo Abdulai Jaló.
Hoje, paro e penso que temos que enaltecer a coragem e força do SOLDADO PORTUGUÊS, obrigado a defender-se e a contra-atacar um inimigo extremamente bem armado e conhecedor do terreno, além de instruído e enquadrado por especialistas em guerrilha de origem cubana.
Lembro-me da estranha, angustiante e até revoltante sensação de impotência dos nossos soldados que, conscientes da sua inferioridade neste aspecto, não disparavam um único tiro quando das flagelações com foguetões 122 mm, pois com o tipo de armamento que possuíamos, ripostarmos ou estar quietos dava o mesmo resultado e ainda se poupavam umas munições.
Volto a frisar de que pasmo e me revolto com indignação, quando oiço e leio vozes menos bem informadas ou maldosas, que se atrevem a pôr em causa o bom nome do SOLDADO PORTUGUÊS, pois com as condições que nos foram dadas nos 13 anos de guerra só mesmo nós, com o típico poder de improvisação e espírito de sacrifício que nos é reconhecido, conseguimos superar as inúmeras vicissitudes que nos foram criadas na guerra.


Cabuca > Vista aérea Cabuca > BREDA M37 Cabuca > Morteiro de 81 mm Cabuca > Bazuca de 88,9 mm Cabuca > HK 21 Cabuca > Kalashnikov AK47 > A minha fiel companheira (emprestada por um Fur Mil da 38ª Companhia de Comandos infelizmente já desaparecido)
Cabuca > Eu, o Fur OpEsp/RANGER Medeiros e o Cmdt. do Pelotão de Milícias Abdulai Jaló, junto dos restos de foguetões de 122 mm com que fomos presenteados no aniversário do Capitão Franklin
Um Abraço do tamanho da Guiné,
António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER da 2.ª CART do BART 6523

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.Fotografia: © António Barbosa (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro António Barbosa

É curiosa a disposição da tabanca da população civil de Cabuca, em relação ao aquartelamento, que era circundada pelas instalações militares.
Em Canjadude a situação era bem diferente, onde grosso modo, existia um grande rectângulo cujo perímetro era protegido por duas barreiras de arame farpado, e praticamente com valas em todo o percurso. Esse rectângulo estava dividido ao meio, por duas estruturas de arame farpado, formando dois quadrados, contendo um as habitações civis e o outro as instalações militares.

Quanto a armamento, Canjadude tinha 5 bazuca, 5 morteiros 60mm e 3 morteiros 81mm, quanto ao resto era igual, como vês, não estávamos também muito bem guarnecidos…

Os militares de Canjadude, praticamente passaram todos por Cabuca, porque a força que protegia o destacamento de Cabuca era um pelotão da CCAÇ. 5, que em tempos estiveram distribuídos por diversos destacamentos, até se aglutinarem todos em Canjadude.
Eu embora nunca tenha ido a Cabuca, tenho fotos que foram tiradas lá, com uma das minhas máquinas, que empestei a um amigo que por lá passou.

Um abraço

José Corceiro

antonio barbosa disse...

Boa noite Jose Corceiro
Tanto quanto me é dado saber não existiam na Guiné muitos aquartelamentos parecidos com CABUCA, com o tabancal envolvido pela vala e instalações militares, pela história de CABUCA foi-me dado
a conhecer que passou como efectivo militar uma companhia, companhia essa CCAC3404 que nós rendemos em 73, isto pela intensificação da guerrilha no sector leste e simultaneamente
a retirada do BOÉ, ficando assim CABUCA como um dos baluarte na tentativa de travar as incursões do PAIGC que cambavam o Corubal em Almane Fonson, e nós com todas as
limitações conhecidas conseguimos dar conta do recado.
Um abraço do tamanho da Guiné

ANTONIO BARBOSA ex- alf.mil.Op Esp/
RANGER da 2ªCART/BART 6523